FLORBELA ESPANCA

Florbela Espanca


Florbela Espanca (1894 — 1930), batizada com o nome Flor Bela Lobo, foi uma poetisa portuguesa. Florbela viveu durante trinta e seis anos, teve uma vida tumultuada e cheia de sofrimentos, que eram transformados em poesias, cheias de erotização e feminilidade.

Florbela nasceu em Vila Viçosa, no Alentejo, Portugal. Foi já na Escola Primária que ela começou a assinar os seus textos Flor d’Alma da Conceição. Suas primeiras composições poéticas datam dos anos de 1903. Florbela foi uma das primeiras mulheres em Portugal a frequentar o curso secundário.

Florbela escreveu poesias e contos, um diário, traduziu diversos romances e colaborava com várias revistas e jornais, como Modas & Bordados (do jornal O Século de Lisboa), Notícias de Évora, A Voz Pública e outros, era uma autora com diversas facetas.

Sua poesia era quase sempre em forma de soneto, e principalmente com a temática amorosa. Os assuntos preferidos eram o amor, solidão, tristeza, saudade, sedução, desejo e morte. Além desses, escreveu um soneto patriota: “No meu Alentejo”, que era sua terra Natal.

Florbela publicou 6 livros de poesias, como “Livro de Mágoas”, “Charneca em Flor”, “Sonetos Completos”, 3 livros de prosa, diversas traduções como “Ilha azul”, “O segredo do marido” e muitos outros.

Florbela foi diagnosticada com um edema pulmonar, e com isso perdeu a vontade de viver. Tentou o suicídio duas vezes, inclusive na véspera da publicação de sua principal obra, “Charneca em Flor”, porém, não resistiu à terceira. Florbela faleceu em Matosinhos, de overdose de barbitúricos, no dia do seu aniversário, em 1930.




















VAIDADE

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...
E não sou nada!...

 "Tão pobres somos que as mesmas palavras nos servem para exprimir a mentira e a verdade."
 (Florbela Espanca)

FUMO

Longe de ti são ermos os caminhos,
Longe de ti não há luar nem rosas,
Longe de ti há noites silenciosas,

Há dias sem calor, beirais sem ninhos!
Meus olhos são dois velhos pobrezinhos
Perdidos pelas noites invernosas...

Abertos, sonham mãos cariciosas,
Tuas mãos doces, plenas de carinhos!
Os dias são Outonos: choram... choram...
Há crisântemos roxos que descoram...

Há murmúrios dolentes de segredos...;
Invoco o nosso sonho! Estendo os braços!
E ele é, ó meu Amor, pelos espaços,
Fumo leve que foge entre os meus dedos!...


SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!

É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...

É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente



"A vida é sempre a mesma para todos: rede de ilusões e desenganos.
O quadro é único, a moldura é que é diferente." 

(Florbela Espanca)

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