'Os cinco suspeitos' conto de suspense de Marcelo Gomes

 



O narrador

Meu nome é Henry Johnson, sou herdeiro de Tomas Johnson, um famoso bilionário do petróleo.

Meu pai nunca foi uma pessoa amável, na verdade era um homem frio e cruel, após sua morte recebi de herança uma mansão, localizada em uma ilha ao sul da Noruega, seu antigo morador se chamava Arthur Shelby, um milionário excêntrico e misterioso.

Ao andar pela casa encontrei em um dos quartos um pequeno diário, ao abrir a primeira página percebi que tinha um nome com uma frase que dizia:

"A vingança é a cereja no topo do bolo e o sabor é doce e quente."

Seu nome era Cintia, comecei a ler e percebi que se tratava de uma história de vingança, em cada página ela contava em detalhes tudo o que havia passado em sua vida, desde seu nascimento até sua vida adulta.

Mas quem é Cintia e por que ela deixou o diário para que fosse encontrado? Perguntas sem respostas, mas ao ler essa narrativa vocês vão descobrir quem é ela e o significado dessa frase misteriosa e as respostas serão reveladas e narradas em cada capítulo. 

Boa leitura!

 

Capítulo 1 - A senhora Denver

 

Já passava das 17 horas quando a senhora Denver chegou ao café Vernon, estava acompanhada de seu cachorro Dixi, um Pinscher do qual nunca se desgrudava, ir ao café todos os dias fazia parte de sua rotina, mesmo sem nunca ter tomado uma xícara de café, pois sempre dizia que era alérgica, fato esse nunca comprovado.

O pedido era sempre o mesmo, uma xícara de chá com uma fatia de torta de maçã.

Seu nome de batismo era Gilda Denver, nome ao qual a mãe se orgulhava muito, pois fora uma atriz muito famosa em sua época, hoje aposentada devido à idade, já passava dos 80 anos, mas nunca revelou a idade verdadeira.

Antes de morrer sua mãe pode vê-la atuar numa peça de teatro, fato bem peculiar uma vez que a mesma interpretava a própria mãe. Nunca se casou apesar de ter namorado muitos atores em sua época, dizia que casamento era um tipo de prisão e ela foi feita para voar, precisava sua liberdade acima de tudo.

- Boa tarde Senhora, o de sempre? Perguntou o garçom.

- Sim meu caro, mas não se esqueça de trazer um pires com leite para o Dixi.

- Não vou esquecer Madame, com licença.

Uma jovem entrou no café com muita pressa, parecia estar atrasada para algum tipo de encontro ou reunião, parou no centro e buscou alguém com o olhar. Foi então que a senhora Denver acenou de sua mesa e a chamou pelo nome.

- Olga sua atrapalhada estou aqui.

Olga trabalha para a senhora Denver como secretária e relações públicas, além de ser sua companhia nas horas vagas, um trabalho nada fácil, em se tratando de Gilda Denver.

- Perdoe-me Madame, eu perdi a noção da hora e adormeci em cima dos livros.

- Você e seus livros de poemas, que desperdício de tempo!

- Não vai mais acontecer, eu prometo!

- Eu espero que não, você sabe como fico de mau humor quando estou ansiosa.

- Sinto muito mesmo, senhora Denver.

- Sente-se de uma vez, já está me deixando nervosa ver você como uma estátua falante à minha frente.

- A senhora já fez o pedido?

- Já faz quase 15 minutos, eu começo duvidar do atendimento desse lugar, uma xícara de chá e uma torta, o de sempre, ah, sem esquecer-me do meu amado Dixi, que deve estar com sede.

Um segundo de pausa seguido com uma exclamação de surpresa.

- Oh Deus, veja quem está parado no balcão Olga! É Oliver Flint, o famoso pianista alemão, um velho conhecido da família por assim dizer.

- Não o conheço senhora Denver, ele é muito famoso?

- Dizer que ele é famoso é até um insulto, é o maior pianista vivo deste século minha cara.

- Nossa eu nunca conheci um pianista em toda minha vida! Disse Olga com brilho nos olhos.

- Hoje é seu dia de sorte Olga e tenha bons modos, pois ele é muito refinado.

- Sim senhora, disse Olga sem graça.

- Onde se meteu esse garçom com meu chá? Meu Deus ali vem ele, já não era sem tempo meu jovem!

- Minhas desculpas senhora Denver, estamos sem pessoal na cozinha, dois funcionários estão com uma forte gripe, temos apenas uma funcionária no momento.

- Espero que isso não se repita, sou uma cliente de longa data deste estabelecimento e exijo um atendimento melhor.

- Não vai se repetir senhora.

- Me faça a gentileza e peça para aquele cavalheiro bem apessoado que está no balcão vir até a minha mesa, por favor...

- Sim senhora Denver, com sua licença.

Oliver se dirigiu até a mesa da senhora Denver e ao reconhecê-la abriu um sorriso de satisfação.

- Gilda minha querida, quanto tempo!

- Oliver, meu caro como você está elegante, não nos vemos desde o recital de Berlim, você lembra?

- Como não lembrar, você estava magnífica em um vestido azul, que por sinal roubou a cena.

- Você está me deixando envergonhada Oliver.

- E quem é essa bela jovem? Perguntou.

- Essa é Olga, minha assistente, ela estava louca para conhecer você.

- É um prazer minha jovem! Educadamente Oliver beijou a mão de Olga, que ficou vermelha e sem saber o que dizer.

- Me diga Oliver, o que o trás a Paris, algum recital?

- Não minha querida, na verdade eu recebi um convite de um excêntrico milionário para passar o final de semana em sua mansão, que fica numa ilha ao sul da Noruega.

- Mas quem é esse homem, você o conhece?

- Na verdade não, mas ele diz ser um grande admirador do meu trabalho e queria me conhecer, quem sabe pode surgir uma proposta de trabalho, quem sabe.

- E qual é o nome dele?

- Arthur Shelby, ele é um homem muito reservado e quase nunca sai de sua ilha.

- É algo bem inusitado na verdade, com um pouco de mistério, eu diria.

- Acho que sim, vindo de alguém que eu nunca conheci pessoalmente, mas sabe como são essas pessoas, muito dinheiro e poucos amigos.

- Com certeza meu amigo.

- Bom, eu preciso ir agora minha querida, foi um prazer revê-la e Olga, novamente, foi um prazer conhecê-la, passar bem.

As duas ficaram em silêncio enquanto Oliver se dirigia até a porta, apenas olhares de admiração, até que Olga disse algo inusitado.

- Esse é o tipo de homem pra casar.

- Não seja ridícula Olga, ele jamais iria olhar para você, se eu não os apresentasse, você é uma mulher comum e sem graça, esse tipo de homem gosta de mulheres inteligentes e sofisticadas, pare de sonhar.

- Desculpe madame Denver...

O garçom se aproxima com um envelope em mãos, pede licença e entrega para a senhora Denver.

- Alguém deixou esse envelope para a senhora na recepção, madame.

- Quem deixou?

- Foi um entregador senhora, ele não se identificou.

- Que estranho! Ninguém sabe que estou aqui. Abra e leia Olga.

- O remetente é Arthur Shelby madame.

- O mesmo Arthur que Oliver mencionou?

- Eu creio que sim senhora.

- Então leia rápido, o que está esperando?

- Aqui diz que ele está convidando a senhora para passar o final de semana em sua ilha, que fica ao sul da Noruega, o lugar se chama Ilha dos pássaros.

- Nunca ouvi falar dessa ilha, o que mais leia rápido.

- Um barco vai partir do porto, na sexta, às 15 horas, a senhora deve estar lá no horário indicado, pois é o último barco que vai até a ilha.

- Hum, um homem cheio de mistérios.

- A senhora não acha estranho receber o mesmo convite que o senhor Oliver e vocês dois estarem no mesmo lugar, como seria possível esse homem misterioso saber?

- Não quero sua opinião Olga, você não é paga para pensar, coincidências acontecem o tempo todo, além do mais você vai ter tempo para descobrir, pois vai comigo até essa tal ilha.

- Eu madame, mas eu não fui convidada.

- Você é minha assistente e aonde eu for você vai junto, se ele é tão esperto já deve saber.

- Sim senhora.

 

Capítulo 2 - Irmã Clarice

 

A irmã Clarice é diretora do orfanato Saint Mary, há mais de vinte anos, começou como freira e se destacou por ter um pulso forte e acreditar em um futuro melhor para as crianças, entre todos é conhecida como “Madrasta”, devido ao seu comportamento autoritário, alguns não gostam, mas outros a amam como a uma verdadeira mãe.

Lauren entrou correndo na sala de Clarice, estava sem fôlego e quase não conseguia falar.

Clarice levou um susto e chamou a atenção de Lauren com voz firme e brava:

- Você enlouqueceu menina, quase me mata de susto!

- Perdoe-me Madre Clarice, tem um homem na porta do orfanato com um envelope para a senhora.

- E isso é motivo para todo esse alarde? Por que ninguém recebeu o envelope?

- Ele só pode entregar em mãos, somente para a senhora, é particular.

- Santo Deus! O que pode ser? Volte para seus afazeres agora e não corra mais pelos corredores, não dê mau exemplo para suas irmãs.

- Sim senhora, com sua licença.

- Bom dia, sou a Madre Clarice você tem uma correspondência endereçada a mim?

- Sim senhora, é só assinar aqui, por favor.

- Pronto rapaz, tenha um bom dia.

Ao entrar em sua sala Clarice olhou o remetente e fez cara de surpresa, não conhecia o tal nome ali escrito, pegou um abridor de carta e rasgou o envelope, o mesmo convite que Oliver e Gilda haviam recebido horas antes. Abriu a gaveta de sua mesa e pegou uma pasta que continha nomes de famílias e doadores do orfanato.

- Bingo! Disse ela, em voz alta. Arthur Shelby um dos maiores doadores do orfanato, mas o que significa tudo isso?

- Hum, será que ele quer me fazer alguma proposta ou seria apenas um convite de cortesia? Não custa nada me ausentar por um final de semana, afinal preciso de um descanso.

- Rose, Rose, gritou ela.

Rose era assistente de Clarice, uma mulher de baixa estatura e acima do peso, mas muito prestativa.

- Com sua licença Madre.

- Entre Rose e feche a porta.

- Algum problema senhora?

- Na verdade não, apenas algo que surgiu para o final de semana, vou precisar que você fique no meu lugar por dois dias, você consegue dar conta de tudo Rose?

Seu olhar era de dúvida e fez com que Rose respirasse fundo antes de falar.

- Com certeza Madre Clarice, fique tranqüila, eu dou conta de tudo.

Muitas dúvidas estavam surgindo na cabeça de Clarice, em todos esses anos à frente do orfanato nunca tinha se ausentado, por que ela? O que um homem como Arthur Shelby iria querer com uma freira, suas intenções seriam boas ou ele estaria tramando algo que envolveria o orfanato? Clarice estava com um mau pressentimento, mas por outro lado sentia que nada devia temer, um homem que faz caridade só pode ter um bom coração, pensou ela.

Guardou o envelope e suspirou, em seguida sorriu e fez o sinal da cruz.

 

Capítulo 3 - Monique Silverstone

 

Em frente à boate "Love N Sex", um homem discutia com uma mulher que parecia muito bêbada, a mulher gritava e fazia gestos enquanto o homem tentava conter sua reação violenta. Em seguida surge Monique Silverstone, loira e alta, se fazia notar em qualquer lugar devido a sua beleza.

Monique olhou para a mulher e sem dizer nada deu um tapa em seu rosto, sem reação a mulher começou a chorar, enquanto Monique tirava de sua bolsa um cartão, em seguida estendeu a mão e disse:

- Pegue meu cartão, me ligue hoje ainda.

- Por quê?

- Eu sei que você quer entrar, mas está muito bêbada, vejo um grande potencial em você, se quiser trabalhar para mim, me ligue, agora vá antes que chame a atenção da polícia.

- Meu Deus Frank, essas mulheres estão cada vez mais doidas e sem controle hoje em dia.

- Concordo chefe.

- Caso aconteça mais alguma coisa me chame, vou estar no meu escritório.

- Sim senhora.

Monique estava em sua sala, quando alguém bateu na porta, era Frank e estava com um envelope em mãos.

- O que foi agora Frank? Outra doida na porta?

- Não, chegou um envelope para a senhora, ele insistiu em entregar em mãos, mas eu disse que a senhora estava ocupada, fiquei com medo de ser algum louco, sabe como é esse pessoal que costuma frequentar à noite.

- Fez bem Frank, deixe ver o que diz aqui, pode ir querido e obrigado.

Monique olhou o remetente e pensou, quem é Arthur Shelby? Nunca ouvi falar desse homem, um convite para o final de semana, em uma ilha? Isso só pode ser brincadeira. Ou seria algum cliente Vip? Talvez alguém que queira investir no meu clube, um sócio não seria má idéia nos dias de hoje. Abriu seu notebook e pesquisou o nome, para sua surpresa não encontrou fotos, apenas artigos sobre sua fortuna e causas filantrópicas. Estranho, pensou ela, mas se tratando de um milionário tudo é possível.

Monique tinha dúvidas sobre deixar o clube em um final de semana, afinal eram os dias de maior movimento e precisava de alguém de pulso forte para substituí-la, apesar de não ter um gerente na casa, ela confiava muito em Frank.

Monique lutou muito para chegar onde está agora, começou como garota de programa e acabou viciada em heroína. Mas conheceu um homem mais velho que acabou se apaixonando por ela, casou-se com ele e após sua morte herdou algum dinheiro que possibilitou-a abrir sua boate, hoje é rica e muito conhecida no ramo de entretenimento adulto.

A pergunta que fica é, o que essas pessoas têm em comum para serem convidadas por alguém que não os conhece, seria algum tipo de jogo ou teria algo mais?

Uma pergunta sem resposta e um fato curioso é que até agora não se sabe nada sobre a jovem Olga, seu passado é um ponto de interrogação e Oliver o pianista, por onde ele esteve todos esses anos? Faz muito tempo que ninguém escuta seu nome, como diz aquele ditado:

"Quem não é visto, não é lembrado..."

Perguntas sem respostas.

 

Capítulo 4 - O que se sabe sobre Arthur Shelby?

 

Arthur Shelby, o multimilionário excêntrico já foi um órfão, filho de pais imigrantes, nasceu na Noruega.

Quando tinha dois anos de idade os pais se separaram e ele ficou com a mãe, tempos depois os dois se mudaram para a França.

Quando sua mãe morreu, tinha apenas cinco anos e sem saber do paradeiro do pai acabou indo para um lar adotivo, mas nem tudo estava perdido, já que seus novos pais tinham um padrão de vida bem alto. Foi então que Arthur descobriu o valor do dinheiro, muito esperto e ambicioso começou a estudar direito e economia, anos mais tarde já estava cuidando dos negócios da família.

Por um curto período trabalhou com compra e venda de imóveis, aos dezoito anos já tinha um patrimônio considerável.

Com a morte dos pais adotivos, foi como ele realmente ficou rico, ao saber que o pai tinha deixado um seguro de um milhão de dólares em seu nome, Arthur quase surtou, aplicou o dinheiro e em dois anos já tinha duplicado o valor, em seguida abriu sua própria empresa tornando-se um dos homens mais ricos da Europa.

O motivo que ele se isolou em uma ilha ninguém sabe, dizem que se cansou das pessoas, mas isso é apenas boato.

Dizem que Arthur gosta de jogos, que alimenta seus desejos com a dor dos outros, mas nunca se provou nada. Jogos? Sempre que podia estava em algum cassino clandestino gastando seus milhões. Mulheres em sua vida eram como vento, apenas diversão nada mais, mas algo muito sério aconteceu em sua vida nesse sentido, talvez um grande amor que se perdeu ao longo dos anos, há boatos de que tinha um filho ou filha, algo também nunca confirmado por ele.

Que mistérios podem existir naquela ilha, o que nosso anfitrião pretende com pessoas tão diferentes, será que o seu passado está ligado com esses personagens?

Quem garante que ele fará uma reviravolta nas vidas, de um pianista, de uma atriz aposentada, de uma dona de boate, de uma freira e de uma assistente desconhecida. Quem são essas pessoas afinal, o que pensar sobre Arthur Shelby?

Novamente perguntas, ainda sem respostas.

A verdade é que ninguém conhece esse homem, apenas sabe-se o que ele quer que todos saibam, nada mais.

Afinal quem é Arthur Shelby?

 

Capítulo 5 - Estranhos que se cruzam

 

A senhora Denver observava o mar calmamente, as ondas batiam de leve na madeira que sustentava o Píer. Acariciando seu cachorro ela pensava em toda a imensidão que existe além dessas águas, mas o que mais intrigava seu pensamento era a tal ilha, o que ela encontraria por lá? Uma ilha é algum tipo de refúgio e também pode ser um último refúgio.Ilha, mar, morte e descanso, vagos pensamentos surgiam em sua mente.

- Onde está Olga? Pensou em voz alta, ela já deveria estar aqui.

- Viu só Dixi, não se pode mais confiar nas pessoas, se bem que ser pontual não é o forte de Olga.

Um carro se aproximou lentamente, um homem bem vestido abre a porta para uma bela dama vestida de vermelho, óculos escuros e chapéu de grife era Monique. A senhora Denver olhou de cima a baixo e fez cara de poucos amigos. Monique se aproximou e a cumprimentou.

- Boa tarde, sou Monique Silverstone, e a senhora quem é?

- Gilda Denver, atriz.

- Atriz que chique!  Não me lembro de ter visto a senhora em algum filme...

- Não sou de sua época, estou aposentada, faz muito tempo que deixei os holofotes minha cara.

- Mesmo assim é um prazer conhecê-la, uma atriz que surpresa!

-O que você faz da vida? Se é que posso perguntar.

- Não tem problema, tenho uma boate de entretenimento adulto.

- Oh, interessante, apesar de não sair muito de casa, aprecio uma mulher de negócios, mesmo sendo desse ramo.

- É impressão minha ou nós duas estamos indo para o mesmo lugar, a tal ilha do milionário misterioso, disse Monique tirando os óculos.

- Sim, correto.

- Que interessante, duas pessoas com vidas totalmente diferentes, mas surpresas fazem parte da vida.

- Agora que você mencionou, eu me pergunto, será que tem mais alguém?

- Eu espero que sim, pois fico entediada muito rapidamente e uma ilha deserta não faz parte do meu final de semana dos sonhos, estou acostumada com pessoas.

- Eu entendo, eu não preciso de muito, pois tenho meu amigo Dixi.

- Dixi? Ah, o cachorro... Começou a rir alto.

- Por que você está rindo?

- Perdoe-me, só achei engraçado por ser um cachorro.

- Deus, onde Olga se meteu?

- Quem é Olga? Perguntou Monique.

- Minha assistente, que por sinal está atrasada.

Um táxi estaciona perto do Pier, um homem elegante desce e caminha em direção as duas mulheres, é Oliver Flint, o pianista, ao vê-lo Gilda abre um sorriso.

- Oliver meu querido, que surpresa agradável!

- Realmente é bom ver um rosto conhecido, como vai Gilda? E quem é essa bela dama?

- Essa é Monique, nos conhecemos agora, ela é dona de uma boate.

- Monique Silverstone, muito prazer.

- Oliver Flint, pianista ao seu dispor.

- Um pianista, nossa cada vez fica melhor esse final de semana! Afinal teremos música para animar um pouco.

- Quem sabe eu toque algo para você, se tiver um piano na casa.

-Oh, Deus, finalmente Olga chegou!

Olga desceu do táxi derrubando a bolsa e quase caindo, o motorista a ajudou com a mala que parecia ter sido feita às pressas.

- Por onde você andou Olga? Estou aqui faz meia hora e nada de você aparecer, marcamos às 14 horas.

- Perdão senhora Denver, eu perdi a noção da hora.

- Normal vindo de você, essa é Monique e Oliver você já conhece.

- Quem é aquela vestida de freira, é algum baile a fantasia? Se for não estou preparada, disse Monique.

-Não sei, mas parece que realmente é uma freira, disse Oliver.

- É tudo que precisamos, uma freira meu Deus! Exclamou Oliver.

- Boa tarde, sou a Madre Clarice, estou no lugar certo ou me enganei, aqui todos vão para a ilha do senhor Arthur?

- Sim irmã, respondeu Monique.

- Oh, Deus que alivio, pensei estar no endereço errado!

- Bom, cinco estranhos com um mesmo destino, vai ser um final de semana interessante!... Disse com sarcasmo na voz a senhora Denver.

Um iate se aproxima do Pier, nele tem as iniciais AS, todos olham e imaginam ser do senhor Arthur, um homem desce e cumprimenta a todos.

- Sou o capitão Jones, vou levá-los até a ilha do senhor Arthur, podem embarcar por gentileza.

Ao passar pelo capitão a senhora Denver o questiona sobre a duração da viagem.

- Cerca de 1h45 min., até lá senhora.

- Obrigada capitão, não gosto muito de barcos, eu enjoo.

- Não se preocupe a senhora vai ter uma cabine exclusiva, pode descansar até chegarmos lá.

- Oh, que alívio saber disso! Obrigada.

 

Capítulo 6 - Águas turbulentas

 

Monique estava sentada perto da piscina, quando Oliver se aproximou, fumava um cigarro e bebia um Martini seco. Oliver ficou surpreso ao saber que ela fumava, hábito que ele tinha repulsa.

O iate era muito luxuoso com piscina e até uma sala de jogos, mais parecia uma casa flutuante.

- Você fuma minha querida? Estou surpreso de ver uma mulher tão bonita com um hábito tão feio.

- Se te incomoda tanto fique à vontade e dê meia volta, o iate é bem grande.

- Não, não é isso, desculpe se te ofendi... Eu não me importo a saúde é sua.

- Se é assim pode ficar.

- O que você acha disso tudo? Não soa estranho esse convite inusitado?

- Só vamos saber no momento que chegar lá, enquanto isso aproveite a viagem, aprecie o mar e sua imensidão, a tarde está linda hoje e se tivermos sorte veremos um belo pôr do sol.

- E se esse tal Arthur for um criminoso, um assassino frio ou um lunático que faz jogos com as pessoas? Eu não tenho um bom pressentimento.

- Pare com isso homem, que imaginação fértil você tem, tem certeza que você é um pianista e não um escritor? Meu Deus que negatividade!

- Perdoe-me Monique.

- Olga sua linda, junte-se a nós, Oliver está falando sobre teorias de conspiração, ele acha que estamos indo para a ilha do mal.

- Por que pensa assim senhor Oliver? Perguntou Olga.

 - Não é nada, são apenas bobagens que me vem à mente...

- Onde está à senhora Dever, nossa celebridade?

- Ela não está se sentindo bem, enjoa em barcos.

- Pobre mulher, vai perder o melhor momento, veja o sol que maravilha!

- É lindo! Disse Olga.

Alguém se aproxima com passos fortes, parece ter pressa.

- Desculpe incomodar os jovens, mas alguém pode me dizer quanto tempo vamos ficar nesse barco?

 - Eu escutei o capitão dizer para a senhora Dever, que a viagem deve durar mais ou menos 1h45 min. até lá. Respondeu Oliver.

- Obrigada meu jovem.

- Algum problema irmã? A senhora precisa de algo? Perguntou Olga.

- Não minha querida, está tudo bem, agradeço sua preocupação.

- Que mulher estranha! Chega dar medo. Disse Monique.

- Por que Monique? É apenas uma freira. Disse Olga.

- Tem algo estranho com essa mulher, ela não parece ser quem é de verdade.

- E eu que tenho imaginação de escritor, você também tem imaginação fértil Monique. Disse Oliver rindo.

- Pode ser, mas minha intuição nunca falha conheço as pessoas.

A senhora Denver começou a gritar pelo no nome de Olga, parecia histérica e ofegante até que se sentou em um sofá quase desmaiando.

Eles saíram correndo para ver o que estava acontecendo.

- O que aconteceu senhora Denver, você está passando mal, é o coração?

- Que coração nada sua burra! Dixi sumiu, eu tirei um cochilo e quando acordei ele tinha sumido.

- Ele não pode ter ido longe, afinal estamos em um barco no meio do oceano. disse Oliver.

- E se ele caiu no mar, pobre Dixi o que será de mim sem ele?

A senhora Denver começou a chorar feito uma criança com soluços.

Olga abraçou a senhora Denver carinhosamente, enquanto Oliver alcançava um lenço para enxugar suas lágrimas.

Monique estava parada bebendo seu Martini como se nada estivesse acontecendo. A irmã Clarice se aproximou querendo saber o que estava acontecendo.

- O que aconteceu, eu escutei vozes e alguém gritando, todos estão bem?

- Dixi o cachorro da senhora Denver sumiu, disse Oliver.

- Oh, Deus, posso ajudar a procurar, logo vamos achá-lo, tenha certeza.

- Você é uma mulher de fé, peça para Deus ajudar, por favor. Disse a senhora Denver com lágrimas nos olhos.

- Fique calma, nós vamos encontrá-lo, eu prometo.

- Não prometa nada e se ele caiu no mar? Disse Monique com sarcasmo na voz.

- Não diga isso Monique, não seja insensível, esbravejou Olga.

- Wow! Não sabia que você tinha esse lado selvagem Olga?

- Eu vou estar ali perto da piscina, nada me separa desse pôr do sol, muito menos um cachorro sarnento.

- Olga você fica com a senhora Denver, eu e a irmã Clarice vamos procurar por Dixi, nos encontramos aqui em meia hora.

Depois de meia hora os dois retornam sem Dixi, o que poderia ter acontecido com ele, será que Dixi foi vítima do mar gelado europeu ou alguém o escondeu em algum lugar do iate?

Perguntas que até agora estão sem respostas.

- Sinto muito senhora Denver, mas não encontramos Dixi, falamos com a tripulação e ninguém o viu.

- Meu Deus, pobre Dixi! Maldita hora que aceitei esse convite, eu poderia estar em casa com ele, vou me deitar um pouco, não me sinto bem.

- Eu ajudo a senhora. Disse Olga.

- Vou rezar por ele, falou Clarice.

Oliver caminhou até Monique e parando em sua frente disse:

- Como você pode ser tão insensível Monique, o que você tem dentro do peito uma pedra? Exclamou com raiva.

- Veja como fala comigo, não sou sua amiga e muito menos te dei intimidade para falar assim comigo, estou aqui para me divertir e não para bancar a babá de um cachorro, porque você não vai rezar com sua amiga freira? Deixe-me em paz!

- Não é essa questão Monique, tenha apenas um pouco de empatia pelas pessoas, não seja insensível, ela é uma mulher idosa que ama seu cão.

- Que seja...

Alguém bate à porta da cabine da senhora Denver, Olga estava sentada em uma poltrona conversando sobre o desaparecimento de Dixi, a senhora Denver não se conformava e continuava a chorar.

Olga abre a porta e se depara com um homem da tripulação.

- O senhor veio trazer chá para a senhora Denver, que gentileza!

- Foi o capitão que mandou, está preocupado com a madame.

- Mande agradecimentos a ele em nome da senhora Denver.

- Que gentileza do capitão! Sirva-me uma xícara Olga, preciso tomar um calmante com o chá.

Já começava a escurecer, quando o capitão avisou que estavam chegando, pediu que todos se reunissem na sala de jantar, queria conversar com todos antes do desembarque.

O iate encostou num deck muito bonito com mesas à volta e uma bela cobertura de vidro, tudo decorado com belas toalhas e vasos floridos, um luxo de brilhar os olhos, do alto podia ser vista uma escada que dava acesso à mansão e era algo além do previsto, tamanha a beleza do lugar.

- Estão todos aqui? Perguntou o capitão e em seguida dirigiu-se à senhora Denver.

- A senhora está melhor madame?

- Um pouco melhor sim, mas muito triste por não ter meu Dixi aqui.

- Sinto muito, vamos continuar procurando senhora.

- Podemos desembarcar? Perguntou Monique.

- Ainda não, preciso dizer algo para todos.

Houve um silêncio quase mortal, como se algo inusitado viesse nas palavras do capitão.

- Em primeiro lugar gostaria de dizer que foi um prazer tê-los à bordo, apesar do incidente com Dixi, eu tenho que dizer que nós vamos partir hoje mesmo e só retornaremos na segunda pela manhã, mais precisamente às 9 horas.

A ilha não tem sinal de celular e ninguém vai poder se comunicar com o continente até segunda-feira. Portanto, se acontecer algum incidente vocês estarão nas mãos de Deus, eu espero que tudo corra bem e que vocês se divirtam.

- Isso é um absurdo, eu não vou ficar. Disse a senhora Denver.

- Sinto muito senhora, mas não posso levar ninguém de volta até segunda às 9 horas, ordens do senhor Arthur.

- Você não pode nos manter aqui contra nossa vontade.

Sua voz agora era de quem não se importava com as consequências.

- Como disse senhora, não estou autorizado a levar ninguém, só cumpro ordens, sou funcionário do senhor Arthur, todos podem se dirigir ao deck, que alguém virá recebê-los, por favor.

- Isso não vai ficar assim, quando voltar farei uma queixa junto às autoridades.

- Como desejar senhora.

 

Capítulo 7 - A ilha e seus mistérios

 

A vista da ilha era linda e ao mesmo tempo imponente, parecia ter vida própria, a casa era moderna com um grande jardim e uma bela piscina com estátuas à volta, todos ficaram deslumbrados, menos a senhora Denver que ficou parada olhando o iate partir.

Um homem de certa idade apareceu e sorrindo deu boas vindas a todos.

A pergunta que todos queriam saber, era o senhor Arthur?

- Boa tarde, sejam todos bem vindos, meu nome é James e sou assistente do senhor Arthur.

- Onde está o senhor Arthur? Perguntou Monique.

- O senhor Arthur teve um imprevisto de negócios, mas vai voltar até domingo.

- Domingo? Isso é uma brincadeira? Exclamou Oliver.

- Não senhor, é a mais pura verdade, mas não se preocupem, ele deixou tudo pronto para vocês, ele espera que se divirtam e aproveitem os prazeres da ilha.

- Por mim está tudo bem, desde que eu me divirta, disse Monique.

- Podem deixar as malas no hall de entrada, que levarei para seus quartos e preparei um lanche de boas vindas para todos, podem se dirigir até a área externa perto da piscina, por favor.

- Eu preciso ficar com Olga, se possível, disse a senhora Denver.

- Não será possível senhora, mas o seu quarto fica ao lado do da senhorita Olga. Todos os quartos têm seus nomes na porta, espero que gostem das acomodações.

- Oh, assim é bem melhor, comentou com a mão no peito a senhora Denver.

- Eu não quero comer nada, estou enjoada, comentou a senhora Denver.

- Quem sabe uma xícara de chá madame? Perguntou Oliver.

- Eu acho que você tem razão, uma xícara de chá talvez me faça bem, Olga sirva-me.

- Sim senhora.

- Que lugar lindo, parece o paraíso de Deus!

- Paraíso ou não, aqui é para se divertir irmã, sem rezas e sermões, tire essa roupa e caia na piscina, viva um pouco. Disse Monique sorrindo.

- Eu acho que posso fazer isso, sou um ser humano e mereço um descanso.

- O que vocês acham de toda essa história de imprevisto, em pleno final de semana? Muito estranho! Comentou Oliver.

- Ele deve ser um homem muito ocupado, só isso, disse Olga.

- Eu acho uma falta de respeito, afinal foi ele quem nos convidou.

- Eu não quero saber, eu vim para me divertir, vamos irmã, mude de roupa eu espero você na piscina, vá rápido.

Irmã Clarice sorriu e em seguida levantou-se da mesa dizendo:

- Monique tem razão, não é sempre que temos um convite desse nível, somos filhos de Deus e merecemos essa graça concedida por ele. Com licença vou me trocar.

James se dirigiu até a mesa e informou que o jantar seria servido às 20 horas, na sala principal. E informou que as malas já estavam em seus devidos quartos.

- Sujeito estranho esse, parece querer nos agradar demais, isso tudo me parece suspeito.

- Ele está apenas fazendo seu trabalho, senhora Denver.

- Bom, eu peço licença agora, vou andar um pouco, quem sabe dou sorte e encontro um piano, não seria bom um pouco de música Olga?

- Seria maravilhoso Oliver.

- Você gosta de Oliver Olga? Eu notei como você fica perto dele.

- Não senhora, apenas admiro sua educação, é um bom homem.

- Eu já fui casada várias vezes Olga e sei quando existe atração entre um homem e uma mulher.

- Não se preocupe senhora, não vai acontecer nada entre Oliver e eu.

- Chega de bobagem! Ajude-me a encontrar meu quarto Olga, estou cansada, preciso de um cochilo antes do jantar.

Monique estava deitada e relaxando em uma cadeira, quando a irmã Clarice chegou, vestia um maiô preto bem discreto e estava com o cabelo preso com um rabo de cavalo.

Monique ficou surpresa ao vê-la.

- Nossa irmã, quase não a reconheci! Ficou bem em você esse traje de banho.

- Obrigada, não costumo mostrar meu corpo em público, tenho vergonha.

- Aqui você é livre, sente-se e aproveite essa tarde linda, vamos tomar uns drinks e nos divertir.

- Sim vamos.

Oliver andava pela casa com um ar de curiosidade, o lugar estava silencioso, apesar das risadas que vinham da piscina, parou em frente de um quadro muito bonito, parecia ser de um pintor famoso, mas não tinha assinatura, em seguida foi até uma porta no final do corredor, ao tentar abri-la notou que estava trancada, estranho, pensou, o que teria por trás dessa porta para estar trancada?

Ao chegar à biblioteca sorriu e seus olhos brilharam ao ver um lindo piano branco, parecia que nunca ninguém o tinha tocado.

Sentou-se e tocou uma nota, para sua surpresa já estava afinado, parecia que estava ali esperando por ele, sentiu um leve cheiro de charuto no ar, achou estranho, pois só estava ele na sala, sentia que estava sendo observado, olhou para um quadro na parede, onde um velho pirata com olhos sinistros o encarava.

- Olga me diga, o que você acha de tudo isso? Não é estranho Dixi sumir e depois o senhor Arthur não aparecer para nos receber em sua própria ilha?

- Eu acho que é tudo normal, tirando o sumiço de Dixi, mas acho que imprevistos acontecem, ele é um empresário rico e deve ter muitos assuntos para resolver. De fato há coisas estranhas aqui.

- Por que você está dizendo isso, o que tem de estranho aqui?

- Essa ilha, essa casa... Veja esses quadros senhora, parecem ter vida própria, eu me sinto observada aqui, desde o momento que chegamos eu sinto algo estranho e não sei dizer o que é.

- Eu estou com medo Olga e se acontecer algo com algum de nós? E se esse homem for um psicopata?

- Devemos ficar atentas a tudo madame, até sabermos quem é esse homem realmente e o que ele quer com todos nós.

Monique e Clarice estavam se divertindo muito, um pouco tontas após alguns drinques e muitas risadas.

- Veja Monique, aquela estátua parece se mover. Rindo muito, Monique respondeu.

- Acho que você já bebeu demais irmã.

- Quem é esse homem afinal? E que gosto inusitado ele tem, você sabia que ele é um grande apoiador de nosso orfanato?

- Sério irmã, que interessante você dizer isso, você o conhece?

- Não, eu nunca o vi pessoalmente. Colocou a mão na boca e soltou um arroto, em seguida riu muito.

- Coloque para fora irmã, deixe o ar sair, vai lhe fazer bem.

- Perdoe-me, como estava dizendo eu nunca encontrei o senhor Arthur, ele envia os cheques pelo correio e são bem gordos.

- Nossa que homem bom! Vou gostar de conhecê-lo.

- Eu tenho muito cuidado com esse tipo de coisa, não gosto de misturar vida pessoal com negócios do orfanato.

- Por isso nunca tentou conhecê-lo?

- Sim, prefiro assim.

- O que você acha de a gente dar um passeio na beira da praia, antes de escurecer? Perguntou Monique.

- Vá você, estou um pouco tonta acho que vou me deitar um pouco.

- Vejo você no jantar, então.

- Sim, cuide-se.

 

Capítulo 8 - Cinco à mesa.

 

Já passavam das 20 horas, quase todos estavam na mesa para o jantar, menos Olga e a senhora Denver.

- Onde está Olga e a senhora Denver? Perguntou Oliver.

- Eu não as vi à tarde toda, disse Monique.

- Eu fui me deitar um pouco, também não vi nenhuma delas.

- James, por favor, você pode chamar Olga e a senhora Denver? Perguntou Oliver.

- Sim senhor.

- Oh, vejam, elas estão chegando, disse James, quando estava saindo da sala.

- Finalmente nos deram a honra de sua presença, disse Monique com sorriso hilário.

- Peço perdão pelo atraso, eu adormeci, disse a senhora Denver.

- É verdade, eu fui chamá-la para o jantar e ela estava dormindo, disse Olga.

- Eu estou tomando remédios para ansiedade, por isso fico sonolenta, me perdoem novamente.

- Posso servir o jantar? Perguntou James.

Todos afirmaram que sim, James havia preparado pato assado com batatas ao vinho tinto, salada de atum e pães tostados com alho e queijo, além de um belo purê de abóbora, todos ficaram felizes com o cardápio.

- Uma bela refeição James, você que cozinhou tudo? Perguntou Oliver.

- Sim senhor, além de fazer a parte burocrática, também sou cozinheiro, sou formado em gastronomia, apesar de o senhor Arthur comer muito pouco, devido a sua agenda cheia, ele prefere lanches rápidos.

- O que você pode nos dizer sobre o senhor Arthur?

Oliver olhou para Monique, que colocou as mãos no queixo esperando por uma resposta.

- Não estou autorizado a falar nada senhorita, vocês terão a oportunidade de conhecê-lo, com licença estarei na cozinha se precisarem de mim.

- Bom dito isso, posso fazer uma oração antes de comermos? Perguntou a irmã Clarice.

- Se vai te fazer bem, vá em frente irmã, disse Monique bebendo um gole de vinho.

- "Obrigado Senhor por essa comida, abençoe essas pessoas e suas vidas. Nós agradecemos em seu nome, que sua graça nos conceda amor e paz. Amém."

- Lindo irmã! Disse Olga.

- Obrigada.

- Nossa está uma delícia! Nosso amigo sabe como cozinhar um pato ao ponto.

Oliver estava feliz em suas palavras.

- Falando nisso, eu hoje fui andar um pouco na beira da praia e pensei ter visto um homem nas rochas.

-Um homem Monique? Perguntou Oliver.

- Sim, parecia ser um homem, mas estava longe e eu posso ter me enganado.

- Estamos apenas nós e o senhor James na ilha? Indagou a senhora Denver.

- Quem nos garante que estamos sozinhos? Essa ilha é bem grande, pode ser alguém que more afastado da mansão, talvez um estranho que já more aqui e o senhor Arthur não conheça.

Olga tinha tom de dúvida em sua voz.

- É bem estranho e se for o próprio senhor Arthur? E se ele está nos observando sem sabermos, e está fazendo algum tipo de jogo psicológico com todos?

- É um bom raciocínio senhora Denver, mas eu acho que Monique havia bebido um pouco e acabou imaginando esse tal homem, por assim dizer.

- Você pode ter razão Oliver, havia bebido muito mesmo.

- Você tem certeza de que parecia mesmo um homem Monique? Perguntou Clarice.

- Eu conheço os homens irmã, convivo com eles todos os dias, sei quando vejo um, mas como disse Oliver, talvez seja minha imaginação.

- Hoje quando estava caminhando pela casa encontrei um piano, ele fica na biblioteca, mas...

Olga o interrompeu com um viva de alegria.

- Que maravilha Oliver, você vai tocar algo para nós?

- Sim, posso tocar depois do jantar, será um prazer.

- Deus que não seja aquelas coisas chatas, tipo Mozart ou algo do tipo!

- Não se preocupe, vai ser algo mais moderno no estilo jazz.

- Ótimo Oliver, adoro jazz! Disse a senhora Denver.

- Preciso dizer algo, no entanto, quando eu estava sentado ao piano eu senti que alguém me observava e tinha um quadro estranho na parede, parecia que ele me observava como olhos fixos e frios.

- Nós sentimos o mesmo, tem dois quadros muito assustadores no quarto da senhora Denver.

- E, além disso, senti um cheiro de charuto, quando estava lá, parecia que alguém estava fumando bem próximo a mim.

- Não sou só eu que estou alucinando. Disse Monique sorrindo.

- Esse lugar é muito estranho, também sinto uma energia negativa aqui, não me sinto muito â vontade. Disse irmã Clarice fazendo o sinal da cruz.

James retorna e pede um minuto da atenção de todos, queria dizer algo importante, todos fizeram silêncio e seus rostos ficaram sérios como se algo estranho estivesse para acontecer.

- Espero que o jantar tenha sido agradável, eu gostaria que todos estivessem na biblioteca às 20h30min. Tenho um recado do senhor Arthur para todos vocês, por hora é só isso, agradeço a atenção de todos, com licença.

- James, um minuto, por favor, nós estamos realmente sozinhos nessa ilha?

- Sim senhores, apenas vocês cinco e eu. Por que a pergunta?

- Nada e você acha que posso usar o piano que está na biblioteca? Por favor.

- Sim, claro que pode.

- Obrigado James, você é o melhor.

- Cada vez fica mais estranho, primeiro a ausência do nosso anfitrião e agora um recado que tem que ser dado na biblioteca, porque ele não disse aqui? Indagou Monique.

- Perguntas que talvez sejam respondidas na biblioteca, quem sabe o próprio Arthur não vai estar lá? Disse Oliver.

- É, quem sabe!

Pobre Clarice! Estava com voz de preocupação.

 

Capítulo 9 - O envelope começa o jogo.

 

Todos estavam acomodados na biblioteca quando James entrou, ele trazia em mãos um envelope vermelho, sem dizer nada colocou o envelope em cima do piano e olhando para Oliver apontou para o mesmo.

- O que isso quer dizer James? Perguntou Oliver

Todos se olharam sem saber o que dizer, um breve silêncio tomou conta da sala, até que James se dirigiu novamente a Oliver.

- Você não queria tocar piano, toque algo para nós.

- O que significa tudo isso? E por que tem um envelope em cima do piano?

- Apenas toque algo, quando terminar eu direi o que deve fazer.

Oliver tocou uma música, que havia aprendido quando esteve em New Orleans, uma mistura de blues com jazz contemporâneo. Foi um belo momento e todos aplaudiram.

- Uma bela apresentação Oliver! Você tem muito talento! Agora por gentileza você poderia abrir o envelope e ler o bilhete que está dentro? Pediu educadamente James.

- Por que eu James?

- O senhor Arthur pediu que você lesse o bilhete, apenas leia.

Oliver abriu o envelope e tirou o bilhete, deu uma olhada rápida e começou a ler em voz alta.

- "Como vocês já devem saber meu nome é Arthur Shelby, sou proprietário dessa ilha e seu anfitrião, vocês devem estar se perguntando, o que estão fazendo aqui e qual o motivo disso tudo? Bom, para começar todos vocês têm algo em comum e todos irão participar de um jogo, está mais para uma investigação, mas entendam como quiserem, cinco estranhos em um mesmo lugar, cinco estranhos e um segredo que une a todos, um de vocês cometeu um crime anos atrás, um crime imperdoável, essa pessoa não foi punida e hoje vive sua vida normalmente. O que os trás aqui é o seguinte: Vocês terão que descobrir quem é esse criminoso até a meia noite de domingo, aquele que descobrir primeiro leva um prêmio de um milhão de dólares, o criminoso vai ser desmascarado e pagará pelo seu crime, mas não se enganem, pois até que se prove o contrário todos são suspeitos, observem bem tudo e todos, você irão encontrar pistas na casa e fora dela, desejo uma boa caçada, vejo vocês domingo à meia noite.”

Assinado: Arthur Shelby.

- Eu me nego a participar dessa brincadeira boba, isso é um absurdo, ele está nos tratando como crianças!

- Por que Madame Denver? Perguntou James.

- Primeiro foi Dixi, depois a ausência do seu patrão, é muita falta de consideração!

- E a senhora não está interessada no dinheiro? Perguntou Monique.

- Não preciso de dinheiro, ganhei muito com meu trabalho.

- Isso é tudo que tenho a dizer, eu apenas sigo ordens.

- Já que estamos aqui, vamos jogar, vai ser divertido! Disse Monique.

- E se ninguém descobrir quem é essa pessoa, o que acontece? Perguntou a irmã Clarice.

- No domingo à meia noite será revelada a identidade do nosso criminoso, pelo próprio senhor Arthur, caso ninguém descubra a tempo.

- Hum... É um jogo bem interessante, que estamos prestes a jogar, uma caça ao rato, eu diria.

- Muito bem colocado senhor Oliver, mas agora preciso ir. Se me dão licença, desejo boa sorte a todos.

Cinco estranhos em uma ilha, um misterioso jogo onde todos são suspeitos, o tempo está correndo depressa.

Quem será o criminoso, e por que o milionário Arthur Shelby ainda não apareceu?

Perguntas sem respostas, ainda.


Capítulo 10 - Perigos na noite

 

Depois de discutir com James a senhora Denver foi para seu quarto, os outros se reuniram na área externa perto da piscina, algo estava incomodando Oliver.

Clarice se agarrava ao terço e rezava baixinho, enquanto Monique bebia mais uma taça de Martini.

Olga estava sentada perto da lareira, pensativa observava a todos.

Uma chuva fina começava a cair e o vento parecia mais frio do que de costume. A noite aos poucos se fazia presente, escura e silenciosa.

Podia-se ver nitidamente o medo no semblante de Clarice.

Oliver caminhava de um lado a outro, de repente parou em frente a Monique e disse.

- Como você pode ser tão fria Monique? Você parece que está em uma colônia de férias!...

- E estou na verdade, veja bem seu idiota nós estamos em uma ilha, um paraíso no meio do oceano, o que você quer que eu faça, que saia correndo atrás de pistas que nem sei quais são?

- Não ofenda o senhor Oliver Monique, disse a irmã Clarice.

 Ele é bem grandinho e sabe se cuidar, retrucou Monique.

- Tudo bem irmã, não se preocupe comigo, vou dar uma olhada na casa e quem sabe encontro algo que faça sentido.

- Aproveite e me traga um Martini, disse Monique às gargalhadas.

Um barulho acordou a senhora Denver, parecia alguém arranhando a parede, seriam ratos ou algo pior? Ela sentou-se à cama e chamou por Olga, sem respostas, pegou o celular, mas em seguida lembrou-se que a ilha não tinha sinal, levantou-se e foi até a porta. Olhou para o corredor vazio e gritou o nome de Olga mais uma vez. Olga subiu as escadas correndo e ao chegar no corredor encontrou a senhora Denver pálida e assustada.

- O que aconteceu senhora Denver?

- Eu estava dormindo e acordei com barulhos na parede, parecia que alguém estava arranhando, não sei ao certo, estou confusa.

- Talvez tenha sido apenas um sonho...

-Não, não, eu estava acordada... Silêncio Olga, escute isso... parecem latidos, é Dixi...

- Eu não estou ouvindo nada senhora.

- Preste atenção, são latidos... e se Dixi estiver trancado em algum lugar? Acho que era ele arranhando a parede.

A senhor Denver começou a chamar por Dixi e andar de um lado a outro, Olga não sabia o que fazer, apenas pedia calma.

- Parou Olga...

- O que parou senhora?

- Os latidos Olga, era Dixi, tenho certeza.

- Tudo bem senhora Denver, se acalme, vamos falar com James, talvez ele saiba de algo.

Oliver voltou à biblioteca, ficou intrigado com aquele quadro que parecia ter vida, talvez encontrasse alguma pista por lá, o piano à disposição foi algo inusitado e duvidoso.

Olhou em volta e novamente sentiu o cheiro de charuto, perto de uma estante havia um livro fora de lugar, como se alguém o colocasse pela metade, estava bem visível. Ele pegou o livro e havia um marcador em uma página, era uma partitura da canção Rondo Alla Turca, de Mozart, ele sentou-se no piano e começou a tocar, o quadro da parede se mexeu para o lado, Oliver parou e olhou fixamente para ele, atrás havia um papel grudado, com os dizeres:

"Não adianta você rezar se não terá nada a dizer, com a fé você vive, com a fé você fere..."

Estranho pensou ele, o que significa essa frase?

De fato era algo importante que ele não queria compartilhar com ninguém, guardou o papel no bolso e saiu.

Enquanto isso Olga conversa com James.

- James, por acaso o senhor Arthur tem um cão em casa? Perguntou Olga.

- Não senhorita, por quê?

- A senhora Denver ouviu latidos há alguns minutos atrás.

Impossível senhorita Olga, não temos nenhum tipo de animal na residência, pode ser algum animal que vive na ilha.

- Eu também acho que ela imaginou, o sumiço de Dixi a deixou meio perturbada.

- Compreendo senhorita, mais alguma coisa que eu possa ajudar?

- Não, obrigado James.

Quando Olga subia as escadas para ver a senhora Denver notou algo caído nos degraus, parecia uma presilha de cabelos antiga, na cor marrom, com desenhos de rosas brancas. Ela a pegou e logo imaginou que fosse da senhora Denver. Guardou no bolso e subiu as escadas.

Monique estava sozinha na piscina, já passava das 19 horas e ela continuava a beber, algo normal em sua rotina. Oliver apareceu de repente e perguntou:

- Monique, onde estão os outros?

- Eu vou saber, não sou a babá deles, sente-se e beba comigo, vamos fazer as pazes...

- Apenas uma taça, eu não sou muito de beber... não se preocupe está tudo bem, não estou bravo com você.

- Então vamos nos divertir, você não é o senhor certinho, que eu sei, existe um outro Oliver ai dentro pedindo para sair.

- Que seja, vamos beber...

Já estava escuro e mesmo com a luzes acesas aquele corredor que dava acesso à porta misteriosa que Oliver não conseguiu abrir, parecia mais sinistro hoje.

A irmã Clarice caminhava lentamente segurando seu crucifixo, a tal porta lhe chamou atenção, então parou e girou a maçaneta, desta vez estava destrancada.

Ao entrar ficou surpresa com o que encontrou, parecia um santuário, uma sala de oração, tinha um pequeno altar, com um enorme crucifixo e velas por todos os lados, não havia janelas e sim cortinas na cor roxa e apenas um banco de madeira com uma bíblia. Clarice parou em frente ao altar e fez o sinal da cruz, sentia que não estava sozinha, a sala era fria e escura apesar das velas. Ajoelhou-se em frente à cruz e apoiando-se no altar com as mãos juntas, rezou um pai nosso. Sentiu um calor em sua nuca e antes de se virar alguém tapou sua boca com um lenço, sentiu um cheiro estranho e logo perdeu os sentidos.

Na hora do jantar Oliver notou a ausência de Clarice, foi então que se dirigiu a James, que estava servindo vinho e conversava com Monique.

- James você viu a irmã Clarice?

- Não a vejo desde hoje à tarde.

- Ela deve estar indisposta e foi deitar um pouco, após o jantar vou até seu quarto ver se está bem. Deus eu já ia esquecendo de perguntar, achei esse enfeite de cabelo na escada, é seu senhora Denver?

- Não é meu Olga, pode ser de Monique.

- Eu não uso esse tipo de acessório, costumo deixar meu cabelo solto. Respondeu Monique.

- Monique se permite perguntar, notei que você tem uma mania ou seria um tipo de toque, reparei que você está sempre coçando os braços e também usa cremes, quase sempre, é algum tipo de doença?

- Que delicado da sua parte perguntar, senhora Gilda, mas eu posso contar sobre isso, não vejo problemas, quando jovem eu fui viciada em heroína, meus braços eram cheios de picadas e às vezes coçava muito, depois de muito trabalho e algumas clinicas, me livrei do vício, de um deles pra dizer a verdade, também sou alcoólatra, satisfeita madame?

- Sinto muito por você passar por isso, me perdoe, por favor.

- Tudo bem, isso é passado e você tem algum tipo de vício ou segredo para nos contar?

- Desculpe desapontá-los, mas não, meu único vicio era o trabalho, que hoje também é passado.

Oliver olhou para Olga e apontando pra ela fez uma acusação que a deixou envergonhada.

- Eu aposto que você Olga é uma mulher solitária, sem namorado e tímida, seu vício são os livros, acertei?

- Oliver seu bandido, que tipo de acusação é essa vindo de um cavalheiro como você? Disse Gilda.

Um breve silêncio fez-se no ambiente, até que Olga largou os talheres e sorriu para Oliver, em seguida disse em tom de ironia:

- Você está certo Oliver, não tenho namorado, mas não sou tímida e os livros sim, são uma ótima companhia,  pois eles além de educar, não se metem na vida dos outros, muito menos fazem piadas sem graça. Com licença preciso de ar.

Olga levantou-se rapidamente, estava muito brava e com lágrimas nos olhos, Monique soltou uma gargalhada e quase se engasgou com o vinho...

- O que eu falei de errado? Foi apenas uma pergunta, espantou-se Oliver.

- Pergunta?!...você fez uma acusação, que indiscreto você foi meu amigo! Disse Monique.

- Concordo com ela, foi uma falta de respeito de sua parte, vá lá agora e peça desculpas... Disse Gilda.

 

Capítulo 11 - Uma descoberta assustadora


Oliver foi ao encontro de Olga no jardim.

- Olga, preciso falar com você.

Olga virou-se com lágrimas nos olhos, passou a mão no rosto e suspirou.

- Perdoe-me Olga, fui um idiota por dizer aquilo, perdoe-me, por favor.

- Você sabe como machucar uma mulher, você é bom no piano, mas como homem você está abaixo...

- Eu sei e concordo, por favor, perdoe-me!

- Tudo bem, esqueça isso, vou ver se está tudo bem com a irmã Clarice.

- Quer que eu vá com você?

- Se você quiser pode vir...

Estava bem frio e o vento parecia cortar a noite, muitas vezes era iluminada pela lua, mas hoje o céu estava escuro e com muitas nuvens, um clima sinistro estava no ar, o que poderia acontecer?

Cinco estranhos em um jogo que pode ser mortal.

Olga bateu na porta suavemente, mas ninguém respondeu. Bateu mais duas vezes, agora um pouco mais forte, chamou por Clarice e não obteve respostas, decidiu então abrir a porta.

- Vou entrar irmã, com licença.

Para surpresa de Olga e Oliver o quarto estava vazio, a cama arrumada e nenhum sinal da irmã Clarice.

Oliver notou que em cima de uma pequena mesa havia uma imagem de um santo sem o coração.

- Meu Deus Olga... veja que imagem bizarra! Será que irmã Clarice gosta desse tipo de coisa? É muito estranho isso.

- E se isso foi colocado no quarto de propósito e se for uma pista, lembra o que dizia o bilhete? Vocês irão encontrar pistas pela casa.

- Mas onde está a irmã Clarice? Ela não pode ter sumido sem deixar rastros, algo está acontecendo nessa casa... Vamos falar com James, precisamos de respostas, disse Oliver.

Ao descer as escadas Oliver percebeu que a porta no final do corredor estava aberta, ficou intrigado, pois um dia atrás ela estava trancada. Então decidiu verificar.

- Olga aquela porta no final do corredor está aberta, ontem quando caminhava pela casa eu tentei entrar, mas ela estava trancada, você não acha estranho? Vamos verificar, quem sabe irmã Clarice pode estar lá dentro.

Oliver empurrou a porta lentamente, estava escuro e frio.

Olga apertou seu braço com força e apontou para o altar dizendo baixinho:

- É a irmã Clarice, parece que está rezando...

- Fique aqui na porta Olga, vou falar com ela, não queremos assustá-la.

Ao chegar perto Oliver levou um susto e deu dois passos para trás, pediu que Olga ficasse na porta e não chegasse perto.

- O que foi Oliver?

- É horrível Olga, ela está morta... morta meu Deus!

Olga levou as mãos ao rosto e começou a chorar, Oliver viu o seu desespero e a abraçou bem forte.

- Vai ficar tudo bem, não se preocupe...

A irmã Clarice estava de joelhos no altar sobre cacos de vidro, as mãos juntas e amarradas com arame farpado, sua boca estava aberta e a língua havia sido cortada, na cabeça uma coroa de espinhos, havia muito sangue. Foi seu último ato perante Deus, sua ultima oração, mas quem fez isso afinal? Um jogo que parecia inofensivo, agora se torna perigoso, quem teria matado a irmã Clarice e por quê?

- Vamos Olga, precisamos contar aos outros, acho que todos estamos correndo perigo, devemos encontrar um jeito de sair dessa ilha e avisar a polícia.

- James! Sim, ele deve ter matado a irmã Clarice.

- Não sabemos ainda, não temos provas para acusá-lo e que motivo ele teria para fazer algo desse tipo, ele nem a conhecia?

Uma discussão teve inicio quando Oliver se deparou com Monique sentada à beira da piscina bebendo novamente.

James não foi encontrado, agora temos um assassinato e um homem desaparecido, o que virá a seguir?

- Eu não acredito que você está bebendo de novo Monique? Disse Oliver com raiva em sua voz;

- O que mais eu posso fazer? Está um tédio esse final de semana.

- Você não tem noção do que está acontecendo?

- O que aconteceu, você estava chorando?

- A irmã Clarice está morta. Disse Oliver passando a mão entre os cabelos.

- Morta? É alguma piada ou faz parte do jogo?

- Não é brincadeira, ela foi assassinada, a encontramos em uma sala de orações, no final do corredor, foi muito assustador! Disse Olga.

- Que horror! Eu falei que vi um homem perto da praia, mas ninguém acreditou, precisamos sair daqui agora. Completou Monique assustada.

- É impossível sair agora, não temos nenhum barco para ir até ao continente e não temos sinal algum no celular, estamos às cegas, falou Olga.

- Onde está James? Ele deve saber como sair daqui, deve ter algum barco pequeno, em algum ponto da praia. Falou Monique.

Oliver preocupado disse:

- James sumiu Monique, estamos só nós agora.

Olga lembrou-se de Gilda:

- Deus a senhora Denver, preciso ir até

 ela.

Quando Olga entrou na casa encontrou James que disse:

- Olga, volte para cá o mais rápido que você puder, devemos ficar juntos e pensar em algo, não diga nada a ela por enquanto.

 

Capítulo 12 - Restam quatro...

 

O momento era de reflexão, restam quatro de cinco, quem vai sobreviver?

Será que o jogo virou peça de teatro criminal ou foi um fato isolado?

Quem é o homem misterioso que nossa adorável Monique viu na praia?

Perguntas que no decorrer dos fatos serão respondidas.

Gilda Denver desceu do quarto e encontrou todos na sala.

- O que está acontecendo, por que vocês estão com essas caras de espanto? Ah, já estava me esquecendo Oliver, encontrei essa partitura em cima de um móvel no corredor,  é sua por acaso?

Oliver pegou a olhou e disse:

- Eu não trouxe nenhuma partitura, deixe eu dar uma olhada, hum, interessante o que diz aqui! Na verdade não é uma partitura, mas sim um tipo de código usado no exército, eu estive numa guerra, sei ler esse tipo de coisa, deixe-me ver, hum, inusitado... Aqui diz, era uma vez cinco estranhos, um por um foram se se perdendo de seu rebanho... É uma piada, acho eu.

Olga rebateu:

- Ou uma pista Oliver...

- Eu não quero estar aqui para descobrir, vou para meu quarto que é mais seguro, e preciso urgente de um banho. Falou Monique.

Olga advertiu:

- Cuidado Monique, se ver algo estranho grite...

- Sei me cuidar menina...

- Cuidar por que Olga, o que está acontecendo aqui? Observou Gilda.

- Sente-se senhora Denver, precisamos conversar, disse Oliver.

- Onde está a freira, esqueci o nome dela... E James não deveria estar servindo o jantar? Disse Gilda olhando para todos os lados.

- É sobre eles que queremos conversar, Oliver você pode explicar a situação para ela, disse Olga.

- A situação é complicada senhora Denver, James desapareceu e infelizmente a irmã Clarice está morta.

- Como assim morta? E onde se meteu James? Isso é algum tipo de piada?

- Não senhora é verdade, ela foi assassinada e agora todos nós estamos em perigo, disse Olga.

 - Meu Deus, o que está acontecendo aqui, que tipo de jogo doentio é esse? Quero ir embora, Olga me ajude a fazer as malas.

- É impossível senhora, não temos como sair da ilha até segunda-feira, de manhã lembra-se? E não temos comunicação com o continente.

- Deus! Nós vamos morrer! Disse chorando Gilda Denver.

Monique resolveu tomar um banho para relaxar, estava cansada de drama, encheu a banheira e colocou alguns sais de banho, serviu uma taça de Martini seco, já estava na casa das doses perdidas, tonta e sensual com seu vestido vermelho, olhando-se no espelho começou a dançar sensualmente, bebeu seu Martini em um gole só, jogando a taça em cima da cama.

- Que se dane! Pensou. Sou linda e bem sucedida, não vou morrer nessa ilha de merda!

Tirou a roupa e foi até a banheira, passou a mão na água para ver se estava no ponto certo, quando escutou passos, antes de se virar sentiu uma pressão em seu pescoço, um homem misterioso usando máscara de esqui e roupa preta agora pressionava sua garganta com um cinto, ela se debateu, mas ele era mais forte, com um puxão levantou seu corpo batendo sua cabeça no espelho, seu rosto ficou cheio de cortes e começou a sangrar muito. Monique não podia enxergar nada e nem gritar, pois sua voz não saia, sufocando-se aos poucos foi perdendo os sentidos, até que seu corpo amoleceu, o homem misterioso então a jogou em cima da cama e com uma faca de caça desferiu vários golpes em seu peito, o sangue jorrava na parede tamanha a fúria que era golpeada.

Pobre Monique estava morta, sua beleza agora era uma mera lembrança!

Quem será a próxima vítima do homem misterioso com máscara de esqui?

Oliver decidiu ir até à praia tentar encontrar algum tipo de embarcação, que eles pudessem usar para fugir, pediu que Olga ficasse com a senhora Denver na biblioteca e trancasse a porta, abrindo só para ele.

Estava escuro na rua, sem luar e frio. Oliver andou até a parte norte da ilha, mas não encontrou nada, foi então que viu uma pequena cabana com luz acesa, talvez tenha alguém... pensou. Quem sabe é o homem que Monique viu, ele pode ser um morador da ilha, um pescador? Pensou Oliver.

Bateu na porta e ela se abriu. Era uma pequena casa com uma cama, um fogão a lenha e na mesa tinha vários objetos estranhos, faca de caça, uma máscara de esqui e um caderno.

Oliver pegou o caderno e começou a ler, nele estava o nome de todos e suas peculiaridades.

- Deus o que é isso? Pensou ele. Fechou o caderno e saiu às pressas. Andou alguns metros e sentiu uma dor na perna como se algo o tivesse atingido, caído no chão colocou a mão em sua perna e viu uma flecha que atravessara seu músculo, a adrenalina era muito alta fazendo com que ele não sentisse dor, olhou para a cabana e viu um homem parado observando-o.

- Quem é você? Gritou ele.

- O que você quer com a gente?

Agora a dor atingiu um estágio alto, começou a gemer, enquanto o homem misterioso se aproximava, mas não conseguia ver seu rosto devido à máscara, ele parou encarando Oliver, então colocou uma nova flecha em seu arco e apontou para seu peito. Oliver pediu para não morrer, mas o homem disparou sem piedade, Oliver cuspiu sangue, enquanto a flecha atravessava seu peito, estava feito! Nosso pianista agora vai tocar em outro plano.

O assassino colocou uma corda em seu pescoço e saiu arrastando Oliver até a cabana.

- Senhora Denver eu preciso ver como está Monique, se Oliver voltar diga a ele que volto em alguns minutos... Disse Olga.

Gilda recomendou:

- Tenha cuidado Olga, não me deixe muito tempo aqui sozinha, por favor.

Olga a olhou e sorriu saindo rapidamente...

Olga entrou no quarto de Monique, mas não a encontrou, estava um pouco escuro, chamou pelo seu nome, mas tudo estava silencioso.

Escutou um barulho de água, então resolveu ir até ao banheiro, bateu na porta e entrou. Tentou soltar um grito, mas sua voz não saiu, para seu desespero lá estava Monique, nua e enforcada, com um cinto preso no chuveiro e o rosto cheio de sangue, com vários cortes no peito, mas o que mais apavorou Olga foi ver que no lugar de seu coração havia um buraco vazio. Ela quase desmaiou, mas conseguiu se recompor e correr em desespero. Um detalhe que Olga não percebeu foi o que estava escrito na parede com sangue:

"Você nunca amou e nunca vai amar, você não merece um coração", temos uma assassina e poeta que gosta de exibir seus pensamentos.”

 

Capítulo 13 - O último ato

 

Olga chegou à biblioteca e parou frente à porta, assustada e pálida viu que a mesma estava encostada. Empurrou levemente e chamou o nome da senhora Denver, soltou um grito forte ao ver Oliver sentado em frente o piano, os pulsos em cima das teclas como se estivesse tocando, mas o que mais impressiona é que suas mãos haviam sido amputadas, a cabeça levemente para frente como se tivesse caído no sono, em cima do piano e um outro bilhete. Olga se aproximou com lágrimas nos olhos, pegou rapidamente o bilhete e começou a ler desesperadamente. Nele dizia:

"Querida Olga estamos chegando ao último ato desse jogo, as peças estão quase em seus lugares, falta pouco para você descobrir a identidade de nosso criminoso, vá até a área externa, tem alguém esperando por você, não se preocupe, pois todas as suas perguntas serão respondidas, inclusive quem sou eu." 

Olga pensou na senhora Denver, o que podia ter acontecido com ela, pobre mulher velha e indefesa.

Na parte externa perto da piscina estava a senhora Denver, sentada em  uma cadeira amarrada e com uma venda nos olhos, ela correu gritando seu nome, tirou a venda e começou a desamarrá-la.

- Quem fez isso senhora Denver?

- Um homem usando uma máscara, ele tinha uma faca e disse que se eu não fizesse o que ele queria, ele mataria você.

- Precisamos sair daqui agora, Oliver está morto senhora Denver e Monique também, só restou nós duas.

Gilda apavorada disse:

- Meu Deus, nós vamos morrer!

- Não vou deixar você morrer, não se preocupe vamos achar um jeito de sair dessa ilha maldita. Eu vi uma luz ontem quando estava na praia, parecia de uma cabana, você vai ficar no quarto trancada, enquanto eu vou verificar, não abra a porta em hipótese alguma e espere por mim.

- Você vai voltar Olga, promete?

- Sim senhora Denver, eu vou voltar, vá agora depressa.

Agora o tempo estava correndo, apenas duas mulheres indefesas à mercê de um assassino anônimo, um jogo onde apenas pode haver um vencedor, pistas inconclusivas, dúvidas e perguntas, que ainda estão sem resposta, pobre senhora Denver! Sozinha e agora indefesa, a esperança está na jovem e destemida Olga.

Quando e onde nosso assassino frio e cruel vai atacar? Quem vai ser a próxima vítima do nosso homem misterioso?

A noite foi caindo e nada de Olga voltar, cansada e depois de tomar alguns comprimidos para ansiedade a senhora Denver adormeceu.

A casa estava silenciosa, mas algo despertou a senhora Denver, ela abriu os olhos e olhou para a janela, já havia amanhecido, pulou da cama e foi até ao corredor, estava ofegante e ansiosa, pois estava ouvindo os latidos novamente e parecia que agora eles vinham do andar de baixo. Sem hesitar saiu correndo pelas escadas, os latidos vinham da sala de estar.

- Dixi! Gritou ela ao ver o cachorro amarrado ao pé da mesa.

- Dixi, Dixi... por onde andou seu danadinho?

- Quem fez isso com você, será que foi aquele homem malvado?

- Senhora Denver, aproximou-se Olga.

- Olga minha querida, achei Dixi.

- Eu percebi, fico feliz por você.

- Onde você se meteu garota, fiquei esperando por você quase a noite toda, você está bem, conseguiu encontrar ajuda?

- Infelizmente não senhora, acho que vamos ter que esperar até segunda pela manhã mesmo, mas eu tive uma ideia...

- E qual seria essa ideia, se trancar em um dos quartos até o amanhecer?

- Não exatamente, a senhora lembra de quando Dixi sumiu, eu acho que alguém que estava no iate o trouxe de bote salva-vidas, alguém ou o próprio assassino e se ele está ainda na ilha, o bote também deve estar, é questão de tempo até acharmos ele.

- É verdade Olga, você é muito esperta menina, deveria ser detetive. Mas por que ele deixou Dixi aqui para que eu o encontrasse, seria algum tipo de armadilha?

- Eu acho que ele está brincando com a gente, faz parte desse jogo doentio dele. Por enquanto estamos a salvo, eu acho que ele só age à noite, é uma suposição, não devemos baixar a guarda e ficar alertas.

- Você já parou para pensar que esse tal assassino possa ser o senhor Arthur. Disse Gilda.

- Já pensei sobre isso, senhora Denver, é bem estranho ele não voltar até agora e James desaparecer de repente, é tudo um jogo bem pensado, mas o que nós fizemos para ele, por que todo esse circo armado? Tudo é bem estranho!

- O que fazemos agora Olga?

- Vamos pensar em algo e depois quero dar uma olhada na biblioteca, eu acho que tem algo por lá que ainda não vimos, uma pista talvez, mas antes preciso cobrir o corpo de Oliver, não quero que a senhora o veja daquele jeito.

- Pobre Oliver, tão jovem e talentoso!...

Olga cobriu o corpo de Oliver com um lençol, enquanto a senhora Denver esperava no lado de fora com Dixi, uma lágrima escorreu, em seu rosto, não conhecia muito Oliver, mas já tinha sentimentos em relação a ele desde o primeiro dia que o conheceu na cafeteria,

Com a voz embargada chamou a senhora Denver, que ficou surpresa ao vê-la enxugando as lágrimas.

- O que foi querida, você está triste por Oliver?

- Não é nada não, a poeira me dá alergia, só isso.

- Não minta para mim Olga, eu notei que você estava gostando de Oliver e eu sinto muito mesmo, vocês seriam um belo casal.

- Eu sei, o que mais me deixa triste é que não tive tempo de dizer a ele.

- Não se preocupe, ele sabia e acho que também gostava de você.

- Agora não importa, fique sentada no sofá, senhora Denver, vou dar uma olhada e ver se encontro algo que nos ajude a entender tudo isso.

Olga começou a vasculhar as gavetas e livros, mas não achou nada que pudesse ajudar, foi então que escutou um barulho vindo da cozinha, fez sinal de silêncio para a senhora Denver, e falando baixinho disse:

- Fique aqui em silêncio, e tranque a porta por dentro, não abra se não for para mim, a senhora entendeu?

- Sim Olga, tenha cuidado...

Olga caminhou lentamente até a sala, estava vazia e silenciosa, mas os barulhos ainda vinham da cozinha. Ao chegar perto da entrada de serviço levou um susto, havia ratos em cima das panelas, ratos enormes e gordos. Ela se aproximou da mesa e notou que algo estava cozinhando em uma das panelas, ao abrir a tampa soltou um grito de pavor. Um coração humano misturado a duas mãos fervia dentro de uma água escura e nojenta, Olga saiu correndo em direção à biblioteca. Em seu desespero caiu batendo a cabeça em uma pequena mesa no corredor, a batida foi muito forte e fez com que ela desmaiasse.

Antes de tirar qualquer conclusão pense bem, com Olga inconsciente quem vai cuidar da senhora Denver, será que nosso assassino vai agir nas sombras ou ele vai aproveitar a situação e terminar o jogo antes do esperado?

Agora eu começo a me perguntar, será que estamos perto do fim ou ainda teremos alguma surpresa de última hora? Perguntas ainda sem respostas.

Será que ainda teremos um último ato ou as cortinas irão se fechar com a saída do elenco do palco?

Sem sinal de Olga e cansada de esperar a senhora Denver decide sair da biblioteca, com Dixi no colo, ela caminha silenciosamente até a sala de estar, nenhum sinal de Olga. Apenas o silêncio como companhia, ela não sabe o que fazer e nem para onde ir, mas ela não está sozinha e logo vai encontrar a verdade que a trouxe até essa misteriosa ilha.

Ao chegar à sala de jantar Gilda sentiu cheiro de café e ficou surpresa ao ver a mesa posta com cinco lugares como se todos fossem participar.

James apareceu com uma bandeja de chá, simpático cumprimentou a senhora Denver educadamente.

- Bom dia senhora Denver, venha se sentar à mesa e traga Dixi, fico feliz que a senhora o encontrou.

- O que significa isso tudo James e onde está Olga?

- Não se preocupe senhora em breve os outros irão aparecer para o café da manhã, acho que perderam o sono ou estão mortos de cansados.

James sorriu ironicamente. Gilda sentou-se enquanto James lhe servia uma xícara de chá.

- Me diga James, isso faz parte do jogo, é tudo uma grande encenação ou eu estou sonhando?

- Que jogo senhora? Ah, fiz chá de maçã o seu preferido.

- Obrigada, mas eu não quero chá, quero respostas.

- Eu quero lhe pedir um favor, enquanto os outros não chegam, a senhora poderia ir até a cozinha chamar Olga? Ela está fazendo um omelete, disse que é seu preferido, mexido com pimenta e bacon.

- Que ousadia a sua, vá você, não sou sua empregada.

- Eu acho melhor a senhora ir, antes que aconteça algo com Dixi, isso não é um pedido.

James cortava uma fatia de queijo, enquanto olhava fixamente para ela, a faca não era de cozinha e sim de caça.

A senhora Denver sentiu um calafrio na espinha e levantou-se rapidamente indo em direção a cozinha.

Ao chegar encontrou Olga servindo um prato de omelete, ela olhou para

a Senhora Denver e sorriu.

- Olga você bateu a cabeça, tem um corte feio perto do seu olho, o que aconteceu, por que você não voltou? E James está agindo como um psicopata, estou apavorada, ele ameaçou Dixi.

- Fiz seu omelete Gilda, como você gosta, ah, esqueci que tem um ingrediente especial, espero que você goste, vamos...

- Por que está me chamando de Gilda, você ficou louca ou perdeu o respeito com toda essa loucura que estamos vivendo?

Olga segurou Gilda com força e olhando nos seus olhos disse:

- Ande sua velha rabugenta, os outros estão esperando, não seja mal agradecida.

Gilda olhou para Olga com lágrimas nos olhos, não podia acreditar no que estava acontecendo.

Ao chegar à sala ficou branca e quase desmaiou, James estava parado ao lado da mesa sorrindo e sentados como se estivessem vivos estavam, Oliver, Clarice e Monique. Três cadáveres à mesa, uma reunião macabra e assustadora. Gilda tentou fugir, mas Olga a segurou pelo braço e fez com que ela se sentasse à mesa, ela fechou os olhos, mas Olga bateu em seu rosto forçando-a a olhar tudo. Em seguida James trouxe o prato principal, ovos mexidos com bacon e carne picada de coração humano, mais precisamente o coração de Monique.

- Coma tudo e não reclame, se não quem vai se dar mal vai ser Dixi, eu fiz com muito carinho e amor, quer saber o ingrediente especial?

Bateu novamente em Gilda. Responda sua bruxa velha, olhe para os outros, você quer ficar como eles?

- Desculpe Olga, sim, sim... qual o ingrediente especial?

Gilda estava chorando de soluçar.

- Coma um pouco, quero saber se está bom...

Gilda provou um pouco e balançou a cabeça dizendo sim...

- Você está comendo o coração de Monique, o coração que ela nunca deveria ter, pois era fria como o inverno.

Gilda olhava para James e pedia ajuda.

- James, quem é James? Meu nome é Arthur Shelby.

Gilda arregalou os olhos de pavor.

- É impossível, Arthur está viajando, você é louco!

- Louco é uma palavra bonita se você analisar todo o cenário que construí só para ter você aqui.

- Eu? Por que eu, quem é você afinal e o que eu fiz de errado para você? Olga por favor, me ajude.

- Meu nome não é Olga, eu me chamo Cintia Shelby e Arthur Shelby é meu pai.

Gilda olhou para Arthur como se não estivesse entendendo nada.

- Você não lembra de mim não é Gilda? Você não lembra do jovem que você abandonou, quando virou uma estrela de cinema?

O jovem que amava você, o pai da sua filha que você escondeu e deixou em um orfanato. Você foi tão cruel que escondeu sua gravidez de mim, claro que você faria isso, imagina a grande Gilda Denver, a estrela em ascensão grávida de um Zé ninguém, você foi egoísta e só pensou em você, em sua carreira. Mas eu jurei me vingar, eu trabalhei muito e me tornei um empresário de sucesso, sempre acompanhando seus passos, cada filme, cada festa lá estava eu de olho em você. Quer saber como eu encontrei Cintia?

Claro que você não quer saber, mas eu vou contar mesmo assim. Naquela noite eu encontrei o teste de gravidez, mas eu não disse nada, eu esperava que você me contasse, eu até pensei em comprar flores, mas você cuspiu em minha cara me jogando na sarjeta. Daquele dia em diante eu observei você, eu ficava horas na rua cuidando você, esperando seu próximo passo, até que naquele dia no hospital, eu vi Cintia ser levada por uma freira, e quem era essa freira? Irmã Clarice. Certa vez fui até o orfanato na intenção de adotar uma criança, mas tive medo de não poder dar tudo que Cintia precisasse, então mudei de ideia, mas sem antes saber que a irmã Clarice era um carrasco para as crianças.

Cintia me contou das surras com varas com espinhos e as rezas de joelhos em cima de cacos de vidro. Um verdadeiro monstro que usava Deus como desculpa para punir. Mas quando Cintia completou dezoito anos ela saiu por conta própria do orfanato, depois de anos de tortura ela estava livre.

- Eu não sabia eu juro, por favor, me perdoe Olga. Cintia deu um tapa no rosto de Gilda e disse:

- Meu nome é Cintia sua estúpida!

- Eu espero não ser interrompido novamente Gilda, se não vou pedir para Cintia cortar sua língua e dar a Dixi, acho que ele vai apreciar uma língua mentirosa.

Bom, depois de um ano trabalhando em bares Cintia conseguiu emprego de secretária em um teatro e foi lá que ela conheceu um jovem pianista chamado Oliver, no inicio ele foi educado e cordial, mas aos poucos ele foi mostrando um lado mais atrevido, vivia tentando levar Cintia para sair, mas ela sempre dizia não, foi então que certa noite aconteceu algo que mudaria a vida de Cintia. Todos já tinham ido embora e Cintia estava arrumando sua mesa para sair, quando Oliver se aproximou, ele como sempre flertou com ela, Cintia pegou sua bolsa e quando se levantou Oliver a agarrou, como ele era mais forte, nada ela pode fazer, ele arrancou sua calcinha e a estuprou em cima da mesa, quando terminou colocou as calças e a chamou de vadia, ela tinha apenas vinte anos. Cintia entrou em depressão pedindo demissão do teatro, sem dinheiro foi despejada de seu apartamento indo morar na rua, mas certa noite caminhando pela rua e pedindo dinheiro encontrou uma bela jovem, que na época era uma prostituta muito conhecida na região, seu nome era Monique.

Foi então que Monique viu em Cintia uma oportunidade de ganhar dinheiro, ela se aproximou de Cintia que estava frágil e desesperada fazendo um convite para ir morar com ela, no início estava tudo bem, até que certo dia Monique apareceu com um cliente no apartamento, mas o cliente não era para ela, mas para Cintia, obrigou-a fazer sexo com ele em troca de dinheiro e moradia, não sem antes injetar heroína em suas veias o que a deixou fora de si. Daquele dia em diante Cintia ficou viciada em heroína e fazia programas todos os dias, Monique acabou virando uma agenciadora de mulheres e logo tinha seu próprio bordel, Cintia era uma de suas garotas. Certa noite Cintia estava com um cliente e teve uma overdose de heroína, Monique em vez de levá-la ao hospital mandou seus capangas alargarem em um beco escuro e sujo para morrer.

Eu estava lá naquela noite, eu era um dos clientes de Monique e na hora que eles a deixaram no beco eu estava chegando ao local, então eu esperei eles irem embora e me aproximei do beco, quando cheguei perto levei um susto, pois reconhecei seu rosto na hora, eu a coloquei em meu carro e a levei ao hospital, ela ficou uma semana em coma, depois disso eu a levei para uma clínica de viciados onde ela passou seis meses.

Com os exames de sangue do hospital pedi um teste de paternidade e confirmei que era Cintia, eu a havia perdido de vista, quando ela saiu do orfanato. Depois disso a levei para morar comigo e foi assim durante anos, até que um dia ela me perguntou quem era sua mãe, eu contei tudo e ela ficou bem chateada, eu vi em seus olhos a tristeza misturada com raiva.

Um dia ela me olhou e disse, eu quero me vingar de todos papai e eu perguntei quem eram e ela disse, minha mãe e todos que me fizeram mal.

Agora todos estão aqui juntos reunidos à mesa, não é uma bela maneira de rever velhos amigos Gilda?

- Olhe seu pianista favorito, acho que ele não vai mais poder tocar e Monique tão linda e fria como um cadáver e irmã Clarice sempre rezando, que mulher de fé!

Gilda estava chorando com as mãos no rosto, Cintia agarrou seus braços e disse para ela olhar.

- Eu quero que você veja, olhe bem para seus rostos pálidos e sem vida, você está feliz agora?

- Não, por favor, perdão eu peço em nome de Deus, eu não quero morrer.

- Morrer? Quem disse que você vai morrer? Bom eu não decidi ainda, mas quem sabe eu mude de ideia, quem sabe eu mate apenas seu cachorro Dixi?

- Não faça isso, ele é um animal inocente.

- Bom, o que você acha de a gente brindar esse encontro em família com um bom champanhe papai?

- Ótima ideia minha filha, Gilda você vai brindar com a gente, com certeza, afinal não é todo dia que uma mãe encontra a filha depois de anos.

- Você quer me envenenar? Acha que eu não sei...

Cintia se aproximou de Gilda e a abraçou por trás beijando seu rosto enquanto dizia.

- Não seja bobinha mamãe, nós todos vamos beber do mesmo champanhe, não seriamos loucos de beber algo envenenado.

- Eu escolhi o melhor para você Gilda, um champanhe digno de uma atriz premiada, pegue a taça querida e vamos brindar, levante a taça e brinde com a gente minha querida, aos anos perdidos e que essa união dure ainda muitos e muitos anos.

Arthur e Cintia beberam, enquanto Gilda ficou apenas olhando para a taça, foi então que Arthur chamou sua atenção:

- Beba querida, se estivesse envenenada eu teria morrido e Cintia também, beba logo.

Gilda tomou um gole e sorriu sem graça, enquanto Arthur servia mais um pouco.

Foi então que ela começou a suar e tossir, se sentia tonta e sua visão ficou turva, antes de desmaiar disse a Arthur:

- Você me envenenou seu maldito, mas como pode ser? Vocês beberam da mesma garrafa, sua voz era calma e fraca.

- Você tem razão minha querida, não havia veneno no champanhe, o veneno estava em seu copo, ao encostar a sua boca a saliva misturou-se ao veneno fazendo com que ele fosse absorvido rapidamente pelo seu corpo, sem vestígios e sem gosto algum, uma jogada de mestre.

Enquanto perdia os sentidos Gilda ainda pode desferir palavras de ódio contra Arthur:

- Seu maldito! Vejo-te no inferno.

Gilda estava morta, agora de cinco apenas um ainda respirava, apenas uma peça em um jogo onde o peão derrubou os muros que cercavam a rainha má.

Cintia olhou para Arthur e sorrindo disse:

- Bom é isso, que tal uma partida de xadrez papai?

- Por que não filha, mas desta vez não vou deixar você ganhar, os dois se olharam sorrindo.

FIM

 

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