Ao teu gosto, poema de Nilza Murakawa de são Paulo

5º lugar no concurso Vinícius de Moraes, pelos 100 anos de nascimento do "Poetinha"!



AO TEU GOSTO

Só para deixar-te louco
Fui as outras, fui aquelas
Todas elas

Fui teu bem, teu mal-me-quer
Maria-sem-vergonha, camélia
Dama da tua noite
Tua moça casta, quase Amélia

Fui Bahia de todas tuas santas
Pimenta do teu gosto dendê
Fui teu prato quente
E teu crème brûlée

De salto alto, vestido colado
Fui serpente rasteira do teu cabaré
Fui balanço do teu samba
Batuque do teu candomblé

Égua de tuas milhas e quarto
Cria-dos-mudos versos teus
Teu tapete veludo de quatro
Fui segredo de tuas gavetas

Só para deixar-te louco
Em tua cena, mais uma vez, entrei
Feito borboleta madura
Voei sobre tuas partituras
Por entre as tuas pernas, pousei...

Dancei em teu trote de cavalo doido
Despi-me do trêmulo cetim
Provei do teu gosto particular
Senti a loucura do teu poema rabiscado em mim
E levado com teu morno mar...

Tantas vezes me esculpiste Vênus
Tal qual tua caneta, deitaste-me sobre a mesa
Molhando-me as partes acesas
Com tuas gotas musicais
Como chuva mansa, de tantos carnavais

Ainda ficou o rastro do teu uísque e fumaça
Em minhas cortinas e plumas
Ainda ficou o teu beijo
Em minhas espumas...

Pela casa, ainda ficou aquele teu incenso de rosa oriental
Nos meus cabelos, ainda um pouco do teu sal
Tua sombra em minhas paredes íntimas
Em minhas areias brancas, as tuas pegadas...

Ah, que saudade da verde luz dos olhos teus
Pela lira de Orfeu escorrendo
E pousando nos meus...


Nilza Murakawa

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