Acinte de Nilza Murakawa - São Paulo

Um dos dez melhores poemas do concurso Vinícius de Moraes, pelos seus 100 anos de nascimento!


ACINTE


Mandei-te mil vagalumes
Só para acender as luzes
Desta tua boemia de costume
E, assim, provocar-te mil vezes

Escancarei minhas janelas
Joguei tua aquarela
Não quero mais tuas cores
Coladas em mim e nas flores

Ah, estes teus olhos verdes
Que me prendem feito rede...
Este teu frescor de espírito
Que faz do meu corpo delito...

Não! Não! Tu não me levarás mais na conversa

Já desfiz o teu ninho, abrindo meus braços
Preciso me livrar dos teus sopros e amassos
Segurando-me na última pétala
Da minha decência sem mácula

Tuas tardes cor de flamingo
Teus dias favoritos de domingo
Encontros e aniversários
Já apaguei do calendário

Botei fogo na tua camisa tão venerada
Aquela branca e preta
Que deixaste esparramada
Na cadeira, perto das violetas

Borrei teu Di Cavalcanti
Com meu batom rutilante
Cor carmim proposital
Paixão, raiva, vendaval

Tirei a melodia do teu piano
Também desafinei teu violão cigano
Amassei teus rascunhos de música
Escondi tuas esferográficas

Teus mapas rasurei
Deixei-te sem trilha e caminhei
E para que te percas, enfim
Apaguei teu rastro de mim

Ontem, entretanto, achei teu maldito bilhete
Dentro do livro de Neruda
Junto, um raminho seco de arruda
Que, levemente, voou até o tapete...

Ah, este teu frescor de espírito...
Estes teus olhos verdes...

Pseudônimo :  Candy

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