Capítulo 1
- Veneno de cascavel
O senhor Harris havia morrido na madrugada do
dia 13 de outubro, em uma terça-feira, quando me ligaram, já passavam das 2
horas da manhã, mas eu não podia fazer nada por ele, pois já estava morto há
algumas horas.
Ao ver o
corpo constatei que fora uma morte natural, talvez um ataque cardíaco devido
seu histórico de saúde, mas algo me chamou a atenção quando examinei seu
pescoço, uma pequena marca que mais parecia uma picada de algum inseto, talvez
uma aranha, em volta estava bem vermelho e sua pele tinha um tom escuro, algo
só visto em casos de envenenamento, então olhei ao redor de sua boca e notei
que tinha um tipo de secreção, com certeza ele tinha se engasgado ou expelido
algo.
Como disse
típico de envenenamento, mas para ter certeza teria que esperar a confirmação
do legista. Algo ainda mais estranho notei ao olhar em volta de sua cama,
queria encontrar alguma coisa fora do comum ou talvez até encontrar algum tipo
de animal peçonhento, talvez um tipo de aranha venenosa, mas ao olhar para um
bidê ao lado da cama notei um pequeno objeto, e ao examinar levei um susto, era
um chocalho de uma serpente, mais precisamente de uma cascavel, estava fresco
como se tivesse sido tirado da serpente há algumas horas.
Pensei
sobre o que isso estaria fazendo no quarto do senhor Harris, ele não tinha
cobras em casa, então peguei um lenço e sem tocar no objeto o enrolei e guardei
em meu bolso. Mas algo ainda estava para ser revelado, um pequeno bilhete
estava no mesmo bidê em cima de um livro, fiquei curioso e decidi abri-lo.
O que dizia
me soou bem estranho e ao mesmo tempo interessante, se referia à espécie de
serpente chamada cascavel e dizia:
"Balanço
meu chocalho e te alerto para o bote, posso sentir seu calor e minha picada
pode te provocar muita dor, meu veneno te sufoca e faz teu coração parar, por
isso eu te digo não me provoque..."
Que
estranho pensei, então guardei o bilhete junto com o lenço e o chocalho, me
dirigi à família e informei que a principio ele morreu dormindo, mas só teria
certeza depois da autópsia do legista.
Um carro me
esperava na entrada para me levar em casa. Ao chegar procurei não fazer muito
barulho, pois já passavam das 3 horas da manhã e não queria acordar minha
esposa, tirei meu sapato na entrada e pendurei meu casaco, mas ao abrir a porta
do quarto, Marta me olhou e sorriu dizendo:
- Já chegou
querido, pensei que só voltaria pela parte da manhã?
- Por que
não está dormindo Marta? Disse.
- Perdi o
sono, logo que você saiu, fui até a cozinha e fiz um chá, depois me deitei e
comecei a virar de um lado a outro na cama e não consegui dormir, então resolvi
ler um livro.
- Muito
bem, mas já está tarde, vamos dormir estou cansado.
- Me conte
como foi, ele está morto ou foi alarme falso?
Marta era
uma mulher muito curiosa e falava demais, às vezes tinha que ser interrompida
pelo Dr. Martin, gostava também de fofocar e quase sempre ficava sabendo de
tudo, antes mesmo do Dr. Martin chegar a casa.
- Está
morto Marta, o que mais quer saber? Disse ele em tom de deboche.
- Qual a
causa da morte, aposto que foi um AVC, aquele homem comia muita porcaria e
estava acima do peso, eu avisei sua esposa, mas ela não me escutou.
- Marta
pode parar de falar um pouco, estou cansado e quero dormir, amanhã conversamos.
- Está bem
querido, boa noite. Como está Carmen? Ela tem uma saúde fraca.
- Boa
noite, Marta... Disse ele.
Já passava
das 8 horas quando o Dr. Martin acordou, vestiu um terno e foi até a cozinha
tomar seu café, Marta já estava sentada na mesa lendo o jornal do dia.
- Bom dia
querido, dormiu bem? Fiz seu café.
- Obrigado
Marta, dormi sim.
- Não saiu
nada no jornal sobre a morte do senhor Harris.
- A família
quer sigilo, nada vai ser divulgado até que o legista confirme a causa da
morte.
- Eu pensei
que você sabia a causa da morte, você não examinou o corpo?
- Sim
Marta, mas não tenho certeza é apenas uma avaliação superficial, não posso
atestar nada sem uma autópsia.
- E quando
você vai saber querido?
- Talvez
hoje à tarde, vou até a clínica e depois vou conversar com o legista.
- O que
você acha de eu ligar para Carmen, saber como ela está?
- Não faça
isso, por favor, não é uma boa hora, eles querem privacidade, respeite.
- Só queria
ajudar querido.
- Não se
preocupe, eles vão ficar bem, preciso ir agora tenho muito que fazer hoje.
- Mas você
nem comeu nada, apenas tomou um pouco de café.
- Não estou
com fome Marta, preciso ir e não ligue para a Sra. Carmen, por favor.
- Está bem
querido, não vou ligar, não esqueça o casaco está frio lá fora. Disse Marta.
Encontrei o
legista no corredor, estava vindo do seu almoço e já passava das 14 horas,
acenei com a cabeça e ele veio em minha direção.
- Boa tarde
Dr. Martin. Disse ele sorrindo.
- Alguma
novidade da autópsia?-Perguntei.
- Sim tenho
algo a lhe dizer, vamos até ao necrotério preciso que o senhor veja o corpo.
A sala
estava bem fria e o silêncio era assustador, o senhor Harris estava em uma mesa
com um lençol branco cobrindo seu corpo até o pescoço, o reconheci logo que
cheguei. Walter o legista tirou o lençol e aquela imagem quase me revoltou o
estômago, apesar de ser médico nunca tinha visto alguém aberto daquele jeito,
minha especialidade é clinico geral por isso minha reação foi de repulsa.
- Desculpe
Doutor, mas precisava mostrar os órgãos internos, só assim o senhor vai
entender.
- Não tem
problema, depois de uns minutos vou ficar bem, qual a causa da morte?
Perguntei.
- Veja o
estado dos órgãos internos, veja como o tecido foi afetado, algo visto apenas
em envenenamento por picadas de cobras. O veneno necrosou o tecido e fez todos
os órgãos pararem, causando insuficiência respiratória e parada cardíaca, eu
fiz um teste com o sangue e o resultado foi morte por envenenamento, para ser
preciso, veneno de cascavel.
- Meu Deus,
por isso tinha aquele guizo em seu bidê, mas quem o deixou lá, me diga meu amigo
como pode ser veneno de cobra se não havia nenhuma em seu quarto.
- Tem algo
que notei em seu pescoço, algo que me deixou bastante intrigado, uma pequena
marca de picada em tom avermelhado, se fosse uma cobra teria dois orifícios,
então a conclusão que cheguei é que alguém injetou algo em seu pescoço, a marca
é de agulha de uma pequena seringa, quem fez isso injetou o veneno direto em
sua jugular.
- Então ele
foi assassinado. Martin estava surpreso com a revelação.
- Não estou
dizendo isso Doutor, é apenas minha teoria, mas com certeza o senhor deve
informar à família e talvez a polícia, as evidências mostram que alguém injetou
veneno em seu corpo, agora a polícia deve investigar o motivo.
- Entendo,
acho que isso é um caso para a polícia, eu já fiz minha parte agora é com eles.
- Quem fez
isso entende de répteis, certamente é alguém que adora serpentes.
-Com
certeza meu amigo.
Estava em
meu consultório, quando minha assistente avisou que um policial queria falar
comigo. Acredito que, depois de conversar com a família do senhor Harris, eles
tenham feito contato com a polícia e meu nome deve ter sido mencionado, pedi
que ele entrasse e cancelei a consulta das 15 horas.
- Boa tarde
Dr. Martin, me chamo Eddie Mase, sou detetive da Scotland Yard.
- Boa
tarde, pode se sentar e fique â vontade, quer um chá ou um café?
- Não
obrigado, estou bem.
- Em que
posso ajudá-lo detetive? Perguntei.
- Soube que
o senhor falou com o legista e conversei com a família do senhor Harris, que me
disseram que suspeita que o senhor Harris tenha sido assassinado, isso é
verdade?
- Sim, a
princípio achei que era morte natural, mas encontrei um bilhete no quarto junto
a um guizo de cascavel, o senhor conhece essa cobra?
- Sim
conheço, mas um guizo...
- Sim, e
depois tive a confirmação do legista de que a morte foi por envenenamento, e
para ser mais preciso, um veneno de cascavel injetado diretamente no pescoço
por uma pequena seringa.
- Então,
realmente temos um caso de assassinato, onde está esse bilhete e o guizo?
- Está
comigo aqui no meu consultório, deixe ver onde coloquei... Aqui, pode ficar com
eles acho que vai ser bem útil na sua investigação.
- Interessante,
parece um tipo de charada o que escreveu, foi bem específico quanto ao método
usado para matar, o bilhete e o guizo mostram que ele queria que todos
soubessem que foi uma cascavel.
- Foi o que
pensei quando vi o guizo, e depois de ler o bilhete tive certeza.
-O senhor
comentou com alguém sobre esses itens que encontrou?
- Não,
apenas agora com o senhor.
= A família
não sabe e nem o legista?
- Não.
- Vamos
deixar esse detalhe somente entre nós Doutor, não quero que isso caia em mãos
erradas, muito menos a imprensa, não quero alertar o assassino e pela minha
experiência ele vai matar de novo.
-Pode
contar comigo detetive.
Capítulo 2
- O homem das serpentes
Eddie falou
para o comissário que iria visitar o Instituto de Pesquisa de Répteis naquela
manhã, ele me questionou do por que e se tinha certeza de que era um caso de
assassinato, pois a imprensa já noticiava a morte do Dr. Harris como ataque
cardíaco, eu disse-lhe que sim, que tinha uma pista relacionada aos itens
encontrados na cena do crime, além da confirmação do legista de que ele fora
envenenado.
-
Envenenado? Ele disse.
- Sim
senhor, veneno de cascavel.
- Se foi
uma cobra então ele deve ter sido picado por ela.
- Não
comissário, o veneno foi administrado em seu pescoço enquanto dormia por meio
de uma seringa, a cascavel nunca esteve no local do crime, e pela minha
intuição é alguém que entende muito de serpentes venenosas, mas quem fez e o
motivo é o que vou descobrir.
- Muito bem
Eddie, faça o seu trabalho e pegue esse assassino.
- Sim senhor,
é o que farei.
- Me
mantenha informado.
Resolvi
pegar um táxi e atravessar a cidade, pois chovia muito naquela manhã, gosto de
caminhar, mas devido às condições climáticas optei ir de carro.
O motorista
queria conversar, mas eu não estava muito receptivo, por isso inventei uma
desculpa dizendo que estava com dor na cabeça e queria ficar em silêncio, ele
entendeu e me pediu desculpas, ao passar por uma loja de antiguidades pedi que
ele desse uma parada.
- Volto em
5 minutos disse a ele.
Na vitrine
tinha um guarda-chuva com cabo de madeira em formato de um cisne, era bonito e
de muito bom gosto, resolvi entrar e comprar o tal guarda-chuvas, mas para
minha surpresa não era apenas um simples guarda-chuvas, era uma imitação e
quando puxei o cabo se revelou uma bela espada que brilhava feito uma estrela,
o atendente me disse que esse item era de um homem muito rico e que tinha
muitos inimigos, por isso se parecia mais com uma bengala do que um
guarda-chuva, decidi levar, pois além de ser algo que pode me salvar no futuro
daria um pouco mais de classe na minha aparência. Ao voltar para o táxi o
motorista se virou para mim e disse:
- Belo
guarda-chuvas o senhor comprou.
- Não é um
guarda-chuva, e sim uma bengala feita por encomenda.
- O senhor
tem algum problema de saúde?Perguntou.
- Não,
podemos ir agora, estou atrasado.
-Sim claro,
me desculpe,sou um pouco intrometido às vezes.
Ao chegar
ao instituto de pesquisas notei uma placa que dizia:
"Só
entre com hora marcada!"
Então
lembrei que não tinha marcado hora, mas se tratando de uma investigação de
homicídio, acho que não vou precisar de um horário marcado.
A
recepcionista me recebeu com um sorriso no rosto, muito simpática e educada
perguntou meu nome e a hora marcada de minha visita.
- Não tenho
hora marcada, sou Eddie Mase detetive da Scotland Yard, estou aqui para falar
com um especialista em serpentes venenosas.
- Sinto
muito, mas não posso deixar o senhor entrar sem hora marcada, são normas do
Instituto.
- Veja bem
minha cara, não estou aqui de visita e sim investigando um caso de homicídio,
envolvendo uma serpente venenosa, por isso preciso de informações de um
especialista.
- Vou falar
com meu superior, pode sentar-se e aguardar senhor Mase.
- Obrigado.
Fiquei
sentado ali imaginando o que teria tão especial nesse lugar para só visitar com
hora marcada, quem mais iria se interessar por répteis além de estudantes de
veterinária?
Após alguns
minutos a recepcionista retornou acompanhada de um senhor com um jaleco branco,
parecia ser alguém importante, pois estava sério e tinha um crachá em seu peito
com os dizeres, diretor geral, seu nome estava logo abaixo, Charles W. Harris.
- Boa
tarde, sou o Dr. Charles em que posso ajudá-lo detetive? Disse ele ao estender
a mão e cumprimentar Eddie.
- Muito
prazer, Eddie Mase da Scotland Yard.
- O que o
trás até nosso humilde Instituto?
- Desculpe
perguntar, mas o senhor é irmão de Jonathan Harris? Disse Eddie.
- Sim é meu
irmão mais velho, que Deus o tenha.
- Sinto
muito pela sua perda, estou aqui por causa de seu irmão.
- O que meu
irmão tem a ver com a polícia, tem algo que eu precise saber?
- Sim
senhor, podemos falar em particular? Perguntei gentilmente.
- Mas é
claro, vamos até a minha sala, por favor.
A sala do
Dr. Charles era simples, mas aconchegante, alguns quadros da família e de
viagens pelo mundo, em sua mesa em uma bela moldura estava seu diploma, ao
olhar para o diploma perguntei:
- Qual a
sua especialidade Dr. Harris?
- Sou
formado em medicina veterinária, cientista formado e especialista em doenças
infecto contagiosas, mas minha paixão são os animais e principalmente os
répteis, é daqui que saem todos os antídotos para ataques de animais
peçonhentos, já salvamos muitas vidas detetive.
- É um belo
trabalho Doutor, é por isso que estou aqui, vim saber um pouco mais sobre
serpentes.
- Onde a
morte do meu irmão se encaixa em tudo isso?
- O seu
irmão foi assassinado Dr. Charles. Sua expressão foi de surpresa, seu rosto
ficou pálido de repente.
- Deus,
você tem certeza disso?-Perguntou com voz embargada.
- Absoluta Doutor,
os exames mostram que ele morreu por falência dos órgãos devido ao veneno de
uma cascavel, injetado através de uma seringa em seu pescoço, mais precisamente
em sua jugular, a morte foi em minutos.
- Isso é um
absurdo, meu irmão não tinha inimigos.
- É o que
estou tentando descobrir, por isso preciso de sua ajuda, mas é sigiloso ninguém
pode saber que se trata de seu irmão.
- Eu tenho
a pessoa certa para ajudar você, um jovem cientista brilhante chamado Thomas,
ele entende tudo de serpentes venenosas, é encarregado do setor de antídotos.
- Eu posso
falar com ele agora?-Perguntei com entusiasmo.
- Mas é
claro que pode, vou levar você até ele.
Thomas
estava em uma sala de vidro extraindo veneno de uma cobra, parecia um tipo de
serpente venenosa, mas não sou especialista e não saberia dizer o nome.
O Dr.
Charles bateu no vidro e fez sinal para Thomas vir até nós. Thomas era um jovem
nerd, usava óculos e era muito magro, parecia estar doente tinha olheiras e
tinha uma aparência cansada.
- Thomas,
esse é Eddie Mase, detetive da Scotland Yard, ele precisa que você o ajude em
um caso que ele está trabalhando, um crime que ocorreu e envolve uma serpente
venenosa, mais precisamente uma cascavel.
- Hum... A
minha serpente preferida, cheia de mistérios com aquele guizo hipnotizante uma
bela criatura.
- Vou
deixar vocês conversarem, tenho muito trabalho e Eddie antes de ir me procure.
Disse Charles.
- Obrigado
por enquanto, Dr. Charles.
- Crotalus
Durissus, disse Thomas.
- O que
isso quer dizer? Perguntei curioso.
- É o nome
científico dado a cascavel detetive, a cobra que mais mata e mutila nos Estados
Unidos.
-
Interessante, mas o que você pode me dizer sobre o veneno, como uma pessoa pode
ter acesso a algo tão perigoso.
- Alguém
que trabalhe aqui, ou que colecione espécimes de cobras em casa.
- É fácil
comprar uma cobra dessas por aqui?
- Não, é
proibido apenas no mercado negro você pode comprar e o valor é altíssimo.
- Mas é
preciso ter conhecimento nessa área, saber a dosagem e como extrair o tal
veneno, uma pessoa sem esse conhecimento poderia se machucar, ser picada e
morrer.
- Com
certeza, se é esse o caso quem fez isso entende muito de serpentes, é alguém
muito bem instruído, ele sabe o que está fazendo.
- Que tipos
de cobras vocês tem aqui? Perguntei, queria saber o máximo possível sobre esses
animais.
- Todos os
tipos de cobras peçonhentas, as mais letais que existem estão aqui, cascavel,
mamba negra, naja, víbora, cobra marrom, todas que o senhor possa imaginar.
- Deus, não
me imagino trabalhando aqui.
- Elas são
lindas detetive e se não forem incomodadas são inofensivas.
- Não tenho
tanta certeza assim, em quanto tempo o veneno de uma cascavel age no organismo
de um homem?
- Depende
de vários fatores, o tamanho, peso até a idade, a quantidade de veneno injetado
e o tempo de socorro, o veneno da cascavel é muito poderoso, ocorre a necrose
dos órgãos em pouco tempo e sua picada é muito dolorida.
- É
assustador, não gosto de cobras.
- Entendo a
maioria das pessoas não gosta, mas elas são essenciais para o ecossistema.
- O que
acha que ele quer dizer com esse bilhete Thomas?
- Interessante,
ele descreve bem como a cascavel age, é quase como uma charada, mas não quer
dizer muito, talvez ele queira dizer para alguém tomar cuidado, não sei ao
certo.
- Obrigado
Thomas, se precisar um pouco mais do seu conhecimento por cobras eu procuro por
você.
- Estarei
aqui detetive.
Ao sair da
sala fui procurar o Dr. Charles, estava curioso para saber o que ele queria
comigo depois de eu ter revelado a verdade sobre a morte de seu irmão. Fui até
sua sala, mas ele não estava lá, perguntei a recepcionista que me informou que
ele precisou sair para resolver um assunto de família, acredito que seja algo a
ver com o funeral de seu irmão. Agradeci à recepcionista e fui embora. Às vezes
é difícil conseguir um táxi em Londres, mas depois de várias tentativas
consegui embarcar em um.
Capítulo 3
- A morte rasteja de preto
Após sair
do instituto fui até a delegacia falar com o Comissário, precisava de um café e
queria o deixar a par de tudo que estava acontecendo, ao entrar fui direto à
mesa de lanches e servi uma boa xícara de café, não é o café da La Tour na
França, mas serve para matar a vontade. O Comissário me viu e fez sinal para eu
ir até sua sala, ao entrar a primeira coisa que ele notou foi minha bengala com
cabo de cisne.
- Que isso,
Eddie está com problemas para caminhar ou é apenas um guarda-chuvas enfeitado?
- Não
senhor, é uma bengala feita por encomenda que comprei essa manhã, pertenceu a
um homem muito rico que tinha muitos inimigos, veja esse detalhe. Eu segurei o
cabo e puxei a espada que fez os olhos do Comissário brilharem.
- Santo
deus Eddie, mas que maravilha você tem aí, pagou muito caro?
- Não senhor,
dentro do meu orçamento.
- Alguma
novidade sobre esse novo caso, o que descobriu no Instituto?
- Descobri
que o diretor geral se chama Charles e é irmão do senhor Harris.
- Que
coincidência Eddie, mais alguma coisa?
- Falei com
um especialista em serpentes, um jovem cientista muito atencioso e educado, ele
me disse que não é qualquer um que tem acesso a esse tipo de veneno, a pessoa
tem que entender de cobras e saber como extrair o veneno.
- Nesse
caso pode ser alguém do próprio Instituto.
- Sim, de
fato, mas esses animais também podem ser comprados de forma ilegal no mercado
negro.
- Entendo,
mas ele teria que ter conhecimento científico para saber como usar o veneno,
tem que ser uma pessoa bem instruída.
- Na
verdade não precisa, tudo isso pode ser encontrado em livros, é só ir à
biblioteca e pronto todo conhecimento está ao alcance em algumas páginas.
- Você tem
razão Eddie, qual o próximo passo agora?
- Não tenho
muitas pistas Comissário, a família sabe muito pouco e até agora o que tenho é
um bilhete e um guizo de cascavel.
- Não
desanime meu amigo, confio em você.
- Obrigado
senhor, vou mantê-lo informado.
Eu estava
completamente perdido a essa altura, os depoimentos da família não me levaram a
lugar algum e minha conversa com o jovem Thomas apenas me esclareceu pouca
coisa sobre venenos e cobras.
Nesse
momento comecei a pensar em Charles Harris, o irmão, e se ele sabe mais do que
me contou, talvez o senhor Jonathan tivesse inimigos e nunca contou à família,
perguntas sem respostas até agora.
Então
resolvi voltar ao Instituto para falar com o Dr. Charles, não estava satisfeito
com o que ele tinha me dito, faltava algo a mais a ser revelado sobre seu
irmão, mas ao falar com a recepcionista fiquei sabendo que o Dr. Charles não
havia voltado para o trabalho, ninguém sabia onde ele estava e se voltaria.
Senti-me novamente perdido, nunca havia passado por isso, parecia que eu estava
perdendo meu faro de detetive. Voltei para a delegacia e ao chegar o Comissário
veio ao meu encontro, parecia bem nervoso.
- Onde você
estava Eddie, temos um problema.
- O que
aconteceu? Perguntei com ar de curiosidade.
- Houve
outro assassinato, disse ele.
- Quem
Comissário?
- O Dr.
Charles Harris.
- Por isso
ele não voltou ao trabalho, onde ele está?
- Foi
encontrado sem vida em sua casa pela empregada, sentado em uma poltrona em seu
escritório, tinha os olhos e rosto inchados e a boca estava com uma cor escura,
foi o que um dos policiais me disse até agora.
- Onde ele
mora Comissário?
- Albert
Street, 152, é um daqueles prédios pequenos, ele mora no térreo.
- Ele tem
esposa ou filhos?
- Não, ele
era solteiro e parece que gostava de sair com rapazes jovens, se é que me
entende.
-
Perfeitamente senhor, espero que ninguém tenha mexido na cena do crime, com sua
licença estou indo.
Cheguei a
Albert Street em 20 minutos, havia dois policiais na porta e ao entrar vi a
empregada sentada em um sofá com um copo de água em uma de suas mãos, parecia
ter chorado e estava assustada. Eu a cumprimentei e me dirigi ao escritório
acompanhado de outro policial, ao entrar vi o legista e mais dois policiais em volta
do corpo.
- Boa
tarde, sou Eddie Mase, vou assumir agora, preciso de uns minutos para analisar
a cena do crime, alguém tocou no corpo?
- Não,
estávamos esperando o senhor chegar. Disse um dos policiais.
- Muito
bem, alguma evidência no local?
- Não senhor,
mas acho que tem algo no bolso de sua camisa, parece um pedaço de papel.
O senhor
Charles estava sentado com a cabeça inclinada pra frente, sua mãos apertavam os
braços da poltrona como se estivesse sentindo dor, seu pescoço estava inchado e
os olhos caídos e vermelhos, em seu bolso um pequeno papel de cor preta e um
copo com uísque pela metade estavam na mesa de centro.
Examinei
seu pescoço e lá estava a mesma marca de picada, apenas um ponto escuro com a
pele em volta avermelhada, suas veias pareciam que explodiriam a qualquer
momento, estavam escuras e saltadas.
Peguei o
papel em seu bolso, era um pequeno envelope e dentro dele um bilhete com um
símbolo de uma serpente pintada de preto, e nele dizia a seguinte frase:
"A
morte rasteja de preto, ela é rápida e mortal, e em um bote pode roubar a tua
sorte".
Você gosta
de charadas, da mesma maneira que gosta serpentes, meu amigo, vamos descobrir
que tipo de veneno você usou agora. Pensou consigo o Eddie.
- Em quanto
tempo você pode me dizer a causa da morte? Perguntei ao legista.
- Acredito
que em dois dias detetive.
- Em dois
dias faço contato com você, se descobrir algo antes, me procure na delegacia,
agora preciso falar com a empregada.
Seu nome
era Susie e trabalhava na casa do Dr. Charles há uns cinco anos, era jovem não
parecia ter mais do que 30 anos, tinha um olhar triste e a voz mansa.
- Susie sou
o detetive Eddie Mase, sei que você está abalada, mas preciso fazer umas
perguntas, você pode me ajudar? Perguntei com voz calma.
- Sim
senhor, posso sim.
- Muito
bem, você lembra se alguém esteve aqui hoje além do Doutor, uma visita ou até
um entregador?
- Não
senhor, apenas eu e o Doutor estávamos em casa.
- Existe
outra entrada no prédio, nos fundos por exemplo.
- Sim, tem
outra porta que dá nos fundos do prédio.
- E ela
costuma ficar fechada?
- Sim,
sempre está fechada por dentro, eu fico muito sozinha aqui e sempre fecho as
portas e janelas.
- Alguém
mais poderia ter a chave da residência?
- Não,
apenas eu tenho uma cópia.
- O Dr.
Charles tinha inimigos?
- Não
saberia dizer, não sei muito sobre sua vida particular, ele quase não conversava
comigo.
- Ele
costumava receber alguém em sua casa, amigos ou alguém da família.
- Apenas um
rapaz costumava vir aqui, ele se chama Tommy e trabalha em um Pub na Rua Baker
nº 46.
- Você o
conhece Susie?
- Não
senhor, apenas ouvia os dois conversando, servia bebidas e abria a porta para
ele, não sei nada, além disso.
- Obrigado
Susie, se cuide e sinto muito pelo seu patrão.
Ela me
olhou com lágrimas nos olhos e baixou a cabeça, pobre criatura estava desolada.
Após dois
dias recebi um recado do legista, queria me encontrar, pois tinha os resultados
dos exames de sangue e a autópsia estava concluída.
Peguei um
táxi e fui me encontrar com ele, o necrotério ficava no subsolo do Hospital
central, um lugar antigo e bem assustador.
Ao chegar o
encontrei comendo um sanduíche, não sei como alguém pode comer nesse lugar
cheirando a morte, com cadáveres por todos os lados.
- Senhor
Mase, que bom que veio rápido eu estava ansioso para lhe contar as novidades,
foi algo bem sério que fizeram com ele, bem cruel.
- Deixe-me
adivinhar, ele tinha veneno de uma serpente em seu sangue. Falei em tom de
sarcasmo.
- Exato
detetive, como você adivinhou?
- Por que
estamos lidando com um serial killer que usa veneno de cobras para matar, essa
é sua segunda vítima.
- Deus isso
é insano, quer saber que espécie de serpente?
- Tenho uma
vaga idéia de qual seja.
- Mamba
Negra meu amigo, uma das serpentes mais letais que existem no mundo, como o
veneno foi injetado direto em sua jugular o efeito foi quase que imediato, e
sua morte foi lenta e dolorosa.
- E como o
assassino chegou até ele para aplicar a injeção, você tem uma teoria? Perguntei
com curiosidade nas palavras.
- A minha
teoria diz que ele chegou por trás, colocou uma das mãos em sua boca para que
ele não gritasse e aplicou a injeção, ficou um tempo naquela posição em pé
vendo o Doutor se debater em agonia, até vir a falecer, suas mãos indicam que
estava com muita dor, pois estavam pressionando os braços da poltrona com muita
força, é um jeito cruel de se morrer detetive, apenas alguém com muita raiva
faria uma coisa dessas.
- E a morte
foi por falência dos órgãos?
- Sim,
seguida de uma parada cárdio respiratória.
- Você pode
me dar uma cópia do laudo da autópsia?
- Sim
claro, mas o que você vai fazer com isso?
- Preciso
informar ao Comissário o andamento das investigações, vai para o arquivo de
provas.
- Entendo,
se precisar de mim você sabe onde me encontrar.
- Obrigado
por enquanto...
Capítulo 4
- Tommy (Uma serpente no meu caminho)
Após ver o
legista decidi ir para casa, estava cansado e queria um pouco de paz para
pensar sobre o caso, queria botar minha cabeça no lugar, pois estava andando em
círculos sem chegar a lugar algum.
Servi-me
uma taça de Bourbon e sentei perto da lareira, estava fazendo muito frio e já
passava das 18 horas, comecei a ler o laudo a fim de entender um pouco mais
sobre os efeitos do veneno.
Qual
ligação entre as duas mortes, por que dois membros da mesma família, e o que o
veneno representa nas mortes? Não conseguia achar respostas ainda, tudo estava
vago e não tinha nenhum suspeito até agora.
Quem sabe
Tommy o rapaz misterioso me diga algo que faça sentido. Eu caí em um sono
profundo sem perceber, quando acordei já eram 23 horas, Deus devo estar exausto
para dormir na poltrona sem perceber, comi um sanduíche e fui para minha cama.
Apesar de
ter dormido na poltrona por algumas horas eu ainda estava com sono, e adormeci
rápido.
Acordei de
repente e ao mexer minha perna senti algo se mexer em minha cama e tocar minha
perna, acendi o abajur e para minha surpresa tinha uma serpente me encarando
aos pés da cama, ela estava me encarando e pronta par dar o bote, não entendo
de cobras, mas sei que aquela era uma naja uma das serpentes mais perigosas do
mundo, famosa por cuspir em suas vítimas e cegá-las, ela movia a cabeça de um
lado a outro e sua língua parecia um chicote.
Lentamente movi meu braço em direção a minha bengala que estava
encostada em um bidê ao lado da cama. Peguei o cabo e puxei lentamente, não
queria fazer movimentos bruscos e assustá-la a ponto de dar o bote, encostei a
lâmina em meu peito e o mais rápido que pude desferi um golpe que arrancou sua
cabeça, caí para trás em minha cama de alívio, meu coração parecia que iria
sair pela boca, me levantei e coloquei a cobra em um saco, no dia seguinte
levaria para a delegacia como prova, agora sei que o assassino sabe quem eu
sou, preciso ter cuidado, pois não sei qual será seu próximo movimento.
Ele tentou
me matar, mas tive sorte, pode ser que não pare por aqui.
Na manhã
seguinte acordei cedo e fui direto para a delegacia, entrei na sala do
Comissário e joguei o saco em sua mesa.
- O que é
isso Eddie?
- Abra e
olhe dentro...
-Meu Deus
Eddie, você quer me matar de susto antes do meu café? Quase deu um pulo em sua
cadeira, tamanho o susto que levou.
- Alguém
tentou me matar noite passada, Comissário, eu acordei com essa serpente me
olhando aos pés da minha cama, minha sorte é que comprei essa bengala com uma
espada embutida, se não estaria morto agora.
- Deus
Eddie, foi pura sorte você ter a bengala por perto!
- Nem me
fale Comissário, fiquei quase em choque, quando a vi me encarando com olhos
negros como a noite.
- Estamos
lidando com alguém muito perigoso Eddie, tenha cuidado.
- Eu sei
disso, preciso falar com um rapaz chamado Tommy, ele conhecia o Dr. Charles,
talvez eu encontre algumas respostas.
- O que
faço com esse animal Eddie?
- Peça para
o pessoal do laboratório guardar no formol, é uma evidência.
Peguei um táxi
e me dirigi para a Rua Baker, nº 46, o endereço de Tommy que Susan me passou,
queria conhecer esse misterioso rapaz, que frequentava a casa do Dr. Charles,
estava certo de que encontraria algumas respostas.
O nome do
Pub se chamava The Cave, era um local escuro e parecia ser frequentado por
delinquentes e bêbados, perguntei para um atendente quem era Tommy, ele me
apontou para o bar onde estava um rapaz bem jovem com menos de 30 anos.
Tommy era o
barman e parecia ser bem simpático, sorrindo enquanto servia um chope para um
cliente. Aproximei-me, ele me olhou e educadamente perguntou o que queria
beber.
- Não vou
beber nada estou a serviço, sou detetive da Scotland Yard, me chamo Eddie Mase
e você deve ser Tommy.
- Sim
senhor, como sabe meu nome?
- Susie me
disse que você trabalhava aqui. Ele parecia assustado e começou a rir alto.
- Susie? E
por que ela daria o endereço do meu trabalho, fiz algo de errado?
- Que eu
saiba não, preciso fazer algumas perguntas sobre o Dr. Charles.
- Hum, Charles
o que ele andou falando sobre mim? Perguntou meio sem jeito.
- Nada, ele
está morto.
- O quê? Morto
como?
- Ele foi
assassinado a noite passada.
- Assassinado?
Isso só pode ser brincadeira, começou a rir outra vez e parecia nervoso.
- Não estou
brincando, não costumo brincar com esse tipo de coisa, podemos falar em
particular?
- Por que
sou suspeito de algo? Parecia estar na defensiva.
- Até agora
não, mas preciso que você me responda algumas perguntas.
- Vamos até
aos fundos do Pub, vou fumar um cigarro e fazer meu intervalo.
Tommy se
encostou à parede e acendeu um cigarro, parecia bem incomodado com a situação,
me ofereceu um cigarro, mas recusei.
- Meu vício
é cachimbo, eu disse.
Perguntou-me
por que de carregar uma bengala, já que eu parecia bem jovem e não mancava.
- É apenas
um adereço e ela me salvou a vida noite passada.
- Sério,
você matou alguém?
- Não
apenas uma serpente venenosa.
- Serpentes
em Londres? Improvável.
- E se eu
lhe disser que o Dr. Charles foi morto por veneno de cobra.
- Não seria
estranho, ele trabalha com esses animais perigosos.
- Na
verdade ele foi assassinado, alguém injetou veneno em seu sangue através de uma
seringa, por isso estou aqui. Qual sua relação com o Dr. Charles?
- Nós éramos
amantes, ele me pagava para dormir com ele, não ganho muito no Pub e quando o
conheci ele me ofereceu dinheiro, costumo fazer programa na Rua 35, sextas à
noite, foi lá que o conheci.
- E você
falou com ele ontem à noite, ou esteve em sua casa?
- Não,
quando ele queria algo passava por aqui no final de meu turno, eu costumava
dormir em sua casa, nessas ocasiões.
- Você sabe
se ele tinha inimigos?
- Ele nunca
me dizia nada sobre sua vida particular, apenas coisas sobre seu trabalho e de
como eu deveria estudar para ter uma vida melhor, era um bom homem.
- Você
notou algo de estranho em seu comportamento, quando o viu pela última vez?
- Foi sexta
passada, mas ele estava normal e até me pagou a mais do que o de sempre.
- Você não
achou estranho ele lhe pagar a mais?
- Não por
que às vezes ele fazia isso, dizia que era um bônus, por eu ser bom com ele, eu
o fazia feliz na cama.
- Entendo,
e você conhecia seus amigos ou familiares?
- Não,
ninguém sabia de suas preferências sexuais, como ele iria explicar para seus
amigos e familiares sobre mim, esse é meu namorado, ele nunca faria isso. Meu
intervalo acabou preciso voltar ao trabalho, meu patrão é um homem exigente e
não gosta de atrasos.
- Entendo
Tommy, obrigado pelo seu tempo, ah se lembrar de algo me procure na delegacia.
Tommy
acenou fazendo continência com sua mão e dizendo:
- Sim
senhor...
Capítulo 5
- A revelação de Roger White
Na manhã
seguinte acordei cedo e decidi ir até a cafeteria Coffee & Cakes, precisava
de um tempo sozinho para pensar, sentei em uma mesa na rua e pedi um expresso e
uma fatia de torta de maçã, o dia estava lindo e o sol resolveu aparecer apesar
de fazer muito frio. Encarar uma serpente à noite em sua cama não é para qualquer
um, ainda acordo a noite e olho para os pés da cama, acho que esse pesadelo vai
me seguir ainda por um bom tempo, nunca tinha passado por algo tão assustador
em minha vida.
- Senhor,
senhor, me chamou o garçom ao colocar o café e a fatia de torta na mesa, estava
tão desatento que não o vi chegar.
Pedi
desculpas e dei uma nota de cinco libras de gorjeta para ele, ele me agradeceu
sorrindo.
Deus onde
estou com a cabeça, esse caso está virando um pesadelo, queria que Louise
estivesse aqui para me ajudar a colocar meus pensamentos em ordem. Sentado em
uma mesa a poucos metros de mim havia um homem de certa idade, tinha um bigode
saliente e usava óculos de grau, estava bem vestido e desde o momento em que
cheguei, ele não parava de me olhar, levantei minha xícara de café e o
cumprimentei balançando a cabeça, ele tomou um gole de seu café e se levantou
vindo em minha direção. Ao se aproximar me cumprimentou com educação.
- Bom dia,
me chamo Roger White. Estendeu-me sua mão educadamente.
- Bom dia,
sou Eddie Mase, quer se sentar? Perguntei.
- Se você
não se importar.
- Claro que
não, fique à vontade.
- Me
desculpe a indiscrição, mas acho que lhe conheço de algum lugar. Disse ele.
- Talvez o
senhor já tenha me visto em algum jornal, sou detetive da Scotland Yard e
alguns de meus casos costumam aparecer nas páginas dos jornais de Londres.
- Pode ser
que sim, mas já vi você em algum lugar.
- O senhor
faz o quê da vida, se é que pode me dizer.
- Sou um
dos sócios do Instituto de Pesquisa de Répteis, na verdade sou o sócio
fundador.
- Então o
senhor conhecia o Dr. Charles?
- Sim, um
grande amigo e sócio, que Deus o tenha em sua misericórdia.
- Eu estive
no Instituto um dia antes de sua morte, conversei com ele sobre o irmão e
conheci um rapaz que trabalha com serpentes, seu nome é Thomas, o senhor deve
ter me visto por lá.
- Com
certeza deve ser de lá que conheço você, mas o que queria saber sobre
serpentes?
- Na
verdade é sobre o veneno, estou no meio de uma investigação que envolve
serpentes, não posso dar muitos detalhes se é que o senhor me entende.
- Entendo
perfeitamente, nossas profissões exigem um cuidado especial com as informações.
- O senhor
sabe se o Dr. Charles tinha inimigos, ou se sofria algum tipo de ameaça?
- Que eu
saiba não, Charles era uma pessoa muito reservada, mas não tinha inimigos, mas
por que a pergunta detetive?
- A morte
do Dr. Charles pode ter ligação com a de seu irmão, não posso dizer mais do que
isso.
- Mas você
está querendo dizer que os dois foram assassinados?
- Tudo
indica que sim, mas, por favor, não comente com ninguém, se isso se espalhar
pode complicar as investigações.
- Não se
preocupe comigo, sou uma pessoa de palavra e prometo não comentar nada com
ninguém, eu sei de algo que pode ajudar você.
- O que
seria senhor Roger? Perguntei curioso.
- Lembrei
de um rapaz que trabalhou no instituto, mais ou menos um ano atrás, era um
rapaz bem estranho e quieto, adorava cobras e todo tipo de répteis, mas não
gostava muito de receber ordens. Tivemos que demiti-lo por causa de um episódio
bem estranho.
- O que
aconteceu?
- Foi em
uma sexta-feira, já no final do expediente, alguém viu colocando uma Naja em
uma sacola e avisou a segurança, quando ele saiu da sala os guardas revistaram
sua mochila e encontraram a serpente, ele foi demitido na hora, ele ficou muito
bravo e jurou se vingar de todos que trabalhavam ali, era um rapaz cheio de
problemas, vivia com a avó doente, não tinha amigos e nem namorada, mas era
muito inteligente, uma pena ele ser demitido, pois tinha muito potencial.
- O senhor
acha que ele seria capaz de matar alguém?
- Às vezes
falamos certas coisas de cabeça quente,
se ele seria capaz de matar eu não sei, mas pode ser que ele conheça alguém que
se encaixe nesse perfil, algum amigo em comum talvez e que goste das mesmas coisas,
que se interesse por cobras, é um palpite.
- O senhor
sabe onde ele mora?
- Posso
conseguir o endereço nos arquivos do Instituto, você pode passar por lá amanhã,
que deixo com a recepcionista.
- Fico
muito agradecido pela sua ajuda.
- Não tem
problema, fico feliz em ajudar.
- O senhor
não está preocupado com tudo que está acontecendo, essas mortes com pessoas que
são do seu circulo de amizades?
- Na
verdade não, já vivi bastante para saber que cada dia pode ser nosso último,
tenho um negócio bem sucedido e posso desfrutar de uma vida longa e feliz, se
tiver que acontecer algo, estou preparado.
- Mas não é
algo que acontece todo dia, não estamos falando de um acidente ou uma doença
mortal, estamos lidando com um serial killer que mata de forma cruel e se o
senhor estiver no seu caminho pode vir a morrer, se o senhor concordar posso
colocar um policial para vigiar sua casa.
- Não é necessário
meu amigo, estou bem e minha casa é bem protegida, não moro sozinho, meu
sobrinho mora comigo, ele é um jovem atlético e muito inteligente.
- Eu
entendo, mas se o senhor não se sentir em segurança pode entrar em contato
comigo.
- Por quê?
Você acha que estou correndo perigo de vida?
- É apenas
um palpite, não sei ainda qual é a intenção desse assassino, se é algum tipo de
vingança ou ele quer algo mais.
- Por que
você o considera um serial killer?
- Ele está
seguindo um padrão, usa o mesmo método e não são mortes aleatórias, ele está
querendo deixar uma mensagem.
- Como Jack
o estripador?
- Jack era
mais brutal, mais direto, esse tipo é diferente de tudo que já vi, é
inteligente e gosta de assistir sua vítima morrer, talvez isso lhe dê prazer...
- Bom Eddie
preciso ir agora, passe amanhã no Instituto que vou deixar com a recepcionista
o nome e endereço desse antigo funcionário, foi um prazer conhecer você.
- Obrigado
senhor, igualmente.
Capítulo 6
- Adoradores de serpentes
No dia
seguinte passei na cafeteria e comprei um café para viagem, estava com pressa
de chegar ao Instituto, acordei com uma sensação boa nessa manhã.
Ao chegar à
recepção a atendente me cumprimentou sorrindo.
- Bom dia
senhor Mase, tenho um envelope para o senhor, em nome do Dr. Roger White.
- Ele não
disse mais nada? Perguntei.
- Não
senhor, apenas pediu para entregar o envelope.
Eu abri com
certa pressa e quase rasguei o documento, ela me olhou o sorriu encabulada.
- Albert T.
Weiz, 28 anos mora em Townville, Rua Silver nº 168, você sabe onde fica esse
lugar?
- É um
pouco afastado da cidade, é um pequeno vilarejo perto das montanhas.
- E como
chego até lá? Perguntei.
Estava
perdido, nunca tinha ouvido falar desse lugar.
- O senhor
pode ir de carro, mas leva 1h40 min. até lá, ou pegar o trem e descer na última
estação e caminhar mais ou menos 30 minutos até chegar à cidade.
- Deus é
longe mesmo!...
- Como eu
disse ao senhor é um pouco afastado da cidade, acho que seria melhor ir de
carro.
- Com
certeza, obrigado pela sua ajuda e tenha um bom dia.
- Se
precisar vou estar aqui, boa viagem.
O motorista
me cobrou 30 libras pra me levar e trazer de volta, achei um absurdo, mas ele
não queria negociar, disse que o preço era justo por causa da distância. Tive que
concordar apesar de me sentir roubado, saímos da cidade e entramos em uma
estrada de terra com montanhas e muitos campos, me senti em outro mundo.
Como alguém
pode morar em um lugar no meio do nada pensei.
Ao chegar, notei
que havia poucas casas, as pessoas na rua ficaram olhando para o carro com
desconfiança, pedi para parar o táxi e me dirigi a um senhor que estava sentado
descascando milho, ele me olhou com cara de poucos amigos quando o
cumprimentei.
- Bom dia
senhor, procuro a Rua Silver nº 168, estou à procura de um rapaz chamado Albert
o senhor o conhece?
- Só existe
uma rua por aqui e é onde você está agora, Você procura o rapaz que gosta de
cobras? Ele mora na última casa à esquerda, é a verde com janelas brancas.
- Muito
obrigado...
- O que
você quer com ele, não recebemos muitos estranhos por aqui, você é de onde?
-Da cidade
senhor, sou detetive e me chamo Eddie Mase.
- Ele fez
algo de errado?
- Não
senhor, só quero conversar com ele sobre seu último emprego, apenas rotina e se
me der licença preciso ir, tenha um bom dia.
Entrei no táxi,
enquanto ele ficava me encarando como se eu fosse um criminoso.
Chegamos a
casa por ele indicada, o lugar estava quieto, então bati palmas e esperei. Uma
senhora apareceu na porta com ar de desconfiança, as pessoas aqui são
desconfiadas ou eu pareço um criminoso mesmo, pensei.
- Bom dia Senhora,
me chamo Eddie Mase policia de Londres, desculpe vir sem avisar, mas estou
procurando um rapaz chamado Albert, ele mora aqui?
- Sim ele é
meu neto, ele fez algo de errado para o senhor estar querendo falar com ele?
- Não Senhora,
queria apenas fazer algumas perguntas.
- Que tipo
de perguntas?
- Não posso
dizer Senhora, é referente ao seu último emprego. Posso entrar e falar com ele?
- Entre
rapaz e fique à vontade, você quer um chá?
- Não Senhora,
seu neto está em casa?
- Sim, ele
está lá nos fundos com seus animais, ele fica lá o dia inteiro e eu quase não o
vejo, vou chamá-lo.
Depois de
alguns minutos ela retornou sozinha, disse que ele já estava vindo, se sentou
em uma poltrona e serviu uma xícara de chá, em seguida Albert entrou na sala e
parou me encarando como se já me conhecesse, vestia um macacão azul e usava
óculos de grau, era magro e parecia nervoso, pois começou a esfregar as mãos
sem parar.
- Não
repare senhor Mase, ele tem um problema de atenção por isso fica nervoso e mexe
as mãos sem parar.
- Esse é o
detetive Eddie Mase, ele quer falar como você. Dirigiu-se a Albert com voz
cansada e trêmula.
- O que
você quer comigo, estou sendo preso? Perguntou com nervosismo em sua voz.
- Não
Albert, são apenas perguntas de rotina, você pode se sentar? Perguntei
apontando para uma poltrona ao lado.
Ele se
sentou e continuou mexendo em suas mãos.
- Que
perguntas, o que eu fiz?...
- Nada meu
rapaz, não se preocupe. Ele parecia tímido ao falar, quase gaguejando às vezes.
- Então por
que você está aqui?
- Você
trabalhou no Instituto de pesquisa de Répteis, correto?
- Sim
trabalhei, mas fui demitido injustamente.
-Você
roubou uma cobra Naja, isso é crime.
- Eu não
roubei, peguei emprestado.
-Por quê?
- Eu queria
cruzar com um macho que tenho em casa, eu iria devolver depois do final de
semana, mas eles não quiseram me escutar.
- Ele é um
bom rapaz detetive, apenas tem problemas de atenção. Disse a avó.
- Entendo Senhora,
mas perante a lei isso ainda é considerado um crime.
Albert
parecia mais nervoso, começou a balançar as pernas e olhar para o teto da sala,
estava quase fora de si quando me dirigi a ele.
- Você tem
muitos animais aqui Albert? Ele me olhou e sem dizer nada se levantou da
poltrona bruscamente, então disse com voz trêmula e nervosa.
- O senhor,
não veio levar meus animais, eles são meus, paguei por eles.
Estava
nervoso e começou a andar de um lado a outro até que sua avó gritou com ele.
- Albert,
sente-se agora e aja como uma pessoa normal. Ele olhou para ela e sem dizer
nada se sentou em silêncio.
- Albert
meu amigo, eu não vim aqui para levar seus animais, só preciso que você me ajude
respondendo algumas perguntas, apenas isso e vou embora.
- Viu
querido? Ele só quer conversar. Disse a avó.
-Albert
você pode me mostrar seus animais, gostaria de conhecê-los se não se importar.
A expressão
em seu rosto mudou no momento que terminei a frase, parecia até sorrir.
- Claro que
sim, vamos até aos fundos, eles ficam em um galpão, a senhora vem vovó?
- Não
querido, vou terminar meu chá e está frio lá fora.
Quando saímos
da porta notei um pequeno galpão de madeira, estava velho e tinham alguns furos
na madeira, o pátio estava sujo e cheio de caixas empilhadas. Eu entrei depois
de Albert e o que vi me deixou de queixo caído, várias caixas de vidro com cobras,
lagartos e algumas aranhas, algumas tinham pequenos ratos de laboratório. Ele
sorria feito uma criança, parecia outra pessoa mais confiante e ate parou de
gaguejar.
- Aqui
estão meus bebês detetive. Disse ele sorrindo.
- Nossa é
uma bela coleção de animais!
- Não é uma
coleção detetive, eles são minha família. Assustou-me o que disse.
- Onde você
conseguiu todos esses animais, as cobras em particular?
- Tenho um
amigo na cidade, o conheci quando trabalhei no Instituto, era ele que trazia os
répteis para as pesquisas.
- E esse
amigo tem nome?
-Sim, ele
se chama Jeffrey, somos adoradores de serpentes. Sorriu com sarcasmo no olhar.
- Você sabe
onde ele mora, ou se ele ainda leva animais para o Instituto?
- Não sei
onde ele mora, mas é melhor você perguntar para Susie ela conhece bem ele.
- Susie a
recepcionista?
- Sim ela
mesma, os dois já saíram juntos algumas vezes.
- Você
costuma ir à cidade com freqüência Albert?
- Nunca
senhor, depois que fui demitido, vim morar com minha avó e nunca a deixo
sozinha.
- Então seu
amigo vem até aqui para trazer os animais?
- Antes ele
vinha, mas agora já faz um bom tempo que não aparece.
- Você
saberia o motivo desse sumiço?
- Não
detetive, é bem estranho, pois estou ficando sem ratos para dar de comida às
cobras.
Albert
pegou um pequeno rato e começou a acariciar sua cabeça, em seguida o jogou
dentro de uma das caixas de vidro onde estava uma cobra marrom, pediu que
ficasse olhando. O rato tentou se esconder, mas a cobra com um bote o agarrou
em sua boca e o devorou em segundos.
Fiquei em
choque ao ver aquilo, é algo assustador de se ver.
- Isso se
chama cadeia alimentar, o forte sobrevive devorando o mais fraco é lindo quando
a natureza dos animais nos mostra sua verdadeira face.
- Não estou
acostumado com isso Albert, mas você tem razão, a natureza segue seu curso.
- Você tem
algum animal de estimação detetive?
- Não tenho
tempo pra cuidar de um animal, não consigo nem cuidar de mim.
- Eu
poderia lhe dar uma de minhas cobras, o que você acha?
- Não
obrigado, são lindas, mas perigosas demais para mim, me diga Albert seu amigo
Jeffrey é uma pessoa fácil de conviver?
- Sim
claro, por que a pergunta?
-Estou no
meio de uma investigação e gostaria de fala com ele...
- Ele é
suspeito de algo?
- Não, mas
ele pode vir a ser, todos são suspeitos até que se prove o contrário.
- O que o
senhor quer de mim, eu disse tudo que sei, por que veio até aqui?
- Rotina,
apenas isso e você me ajudou muito Albert. Agora tenho que ir, mas se precisar
de você entro em contato.
- Estarei
aqui detetive e pense a respeito do que eu disse sobre ter um animal em casa, cobras
são amigas fiéis pense a respeito.
Fiz um
aceno com a mão e agradeci a sua avó pela hospitalidade, ela me pediu desculpas
pelo comportamento de seu neto e me desejou um bom dia.
Queria sair
daquele lugar o mais rápido possível, entrei no táxi e disse ao motorista para
não parar até chegar à cidade.
Capítulo 7
- A Víbora de Russell
Ao chegar à
cidade fui direto para casa, aquela conversa sobre cobras e aquele ambiente me
fez muito mal, desejei nunca mais ter que voltar lá. Agora outro nome surgia em
meu caminho Jeffrey, o tal amigo de Albert, qual ligação ele teria com as
vítimas e seria ele um suspeito? Dúvidas que rondavam minha cabeça, serpentes e
veneno... por que usar algo tão cruel, qual motivação faria alguém matar de
forma tão fria?
Roger White
o senhor que me encontrou no café, quem ele é realmente, seria ele a próxima
vítima? Mais perguntas sem respostas.
Na manhã
seguinte acordei cedo novamente e resolvi passar na delegacia para atualizar o
Comissário sobre a investigação.
Ele estava
em sua sala comendo rosquinha e tomando café, dessa vez não teria nenhuma
surpresa na hora de seu café, apenas alguns fatos ainda a serem investigados.
- Bom dia
Comissário, posso entrar. Bati na porta e esperei.
- Eddie meu
amigo, entre e fique à vontade. Alguma novidade no caso das serpentes?
- Nada de
concreto ainda, tenho um novo suspeito, mas não posso dizer nada ainda, preciso
encontrá-lo primeiro.
- E quem é
esse tal suspeito.
- Ele se
chama Jeffrey e é encarregado de trazer os animais para o Instituto, é um tipo
de mercador de répteis.
- E onde
ele está agora?
- Não sei
ainda senhor, mas conheço alguém que sabe, Susie a recepcionista do Instituto o
conhece bem, talvez os dois até tenham um caso, mas isso vou descobrir. Conheci
ontem pela manhã o senhor Roger White que é sócio fundador do Instituto de Répteis,
ele foi bem simpático e se mostrou prestativo na investigação, ele me levou até
outro rapaz que não sei ainda se é um suspeito, mas acho que ele é apenas uma
pessoa doente e solitária, vive em um lugar afastado e adora répteis, mora com
a avó.
- Algum
deles é suspeito Eddie?
- Não
senhor, mas acho que o senhor White sabe de algo mais, vou investigar.
- Bom Eddie,
o que vai fazer hoje?
- Vou
voltar ao Instituto e falar com Susie sobre Jeffrey, acho que todo esse
mistério está de alguma forma ligada ao Instituto.
- Boa sorte
Eddie, e me mantenha informado.
Ao sair da
delegacia senti uma sensação estranha, parecia que algo iria acontecer. Pedi ao
motorista do táxi para ir o mais rápido possível.
Enquanto
Eddie se dirigia ao Instituto uma encomenda era entregue em nome de Roger
White, uma caixa de papelão sem remetente apenas com o endereço do
destinatário.
Susie
recebeu a encomenda e se dirigiu até a sala do senhor Roger White, bateu na
porta e entrou educadamente.
- Com
licença senhor White, chegou essa encomenda para o senhor, mas não tem remetente.
- Pode
deixar aqui na minha mesa Susie, obrigado.
- O senhor
precisa de algo?
- Não obrigado,
pode ir.
Ele olhou
para a caixa e balançou um pouco, algo fez barulho, mas ele não se importou,
pegou um estilete e começou a abrir, puxou as abas para o lado e dentro tinha
um tipo de papel de jornal tapando o conteúdo, quando tirou todo papel, algo
saltou em seu rosto com uma velocidade fora do normal fazendo com que ele
jogasse o corpo para trás caído da cadeira no chão, sentia uma dor aguda em seu
rosto, ele tentou se levantar colocando a mão na mesa, foi então que viu a
caixa virada e a cobra que agora estava à vista o atacou com mais violência
pela segunda vez, acertando um bote preciso em sua mão, ele caiu de novo no
chão e tentou se arrastar até a porta queria gritar, mas a voz não saia, a dor
começou a aumentar e já não conseguia respirar direito, começou a vomitar e em
seguida desmaiou. Eddie entrou no Instituto às pressas, olhou para Susie e
quase sem fôlego perguntou.
- Está tudo
bem por aqui, aconteceu algo de diferente do normal?
- Calma
senhor Eddie, recobre seu fôlego, o que o senhor tem hoje, parece preocupado? Está
tudo bem por aqui, fique tranqüilo.
- O senhor
White está por aqui, ele está bem?
- Está por
quê? Acabei de entregar uma encomenda em sua sala, ele estava bem.
- Que
encomenda?
- Uma caixa
de papelão sem remetente.
- Quanto
tempo faz isso Susie?
- Uns 45
minutos mais ou menos...
- Preciso
ir até a sala do Dr. White, onde fica?
- Eu levo o
senhor até lá, mas se acalme ou vai ter um ataque do coração.
- Rápido
não temos tempo.
Eddie
estava quase correndo, quando chegou à sala do Dr. White, abriu a porta rápido
e ao ver o corpo no chão se abaixou e tocou em seu pescoço para ver se ainda
estava vivo.
-Morto, morto, disse ele.
- Meu Deus.
Gritou Susie.
- Onde está
a caixa Susie?
- Na mesa, senhor
Mase.
Eddie se
aproximou lentamente da caixa, pediu que Susie se afastasse e tocou na caixa
com a bengala virando a parte aberta em sua direção, a serpente estava
encolhida pronta para o bote.
- É uma
cobra Susie, chame Thomas agora e diga que temos uma serpente solta na sala do
Dr. White, vá Susie corra.
Susie saiu às
pressas em direção a sala de exames e batendo na porta em desespero, chamou por
Thomas.
-O que foi
Susie? Você está pálida.
- Ele está
morto... Uma cobra na sala, rápido venha... Não conseguia falar direito, o que
deixou Thomas sem saber ao certo o que tinha acontecido.
Ao entrar
na sala, Thomas viu Eddie parado com sua bengala apontada em direção à caixa,
olhou para o chão e viu o Dr. White caído sem vida.
- O que
aconteceu Eddie?
- Thomas
tem uma serpente na caixa, ela matou o Dr. White, faça algo estou nervoso e não
sei o que fazer, estou congelado nessa posição há alguns minutos.
- Calma, dê
um passo para trás lentamente e não faça nenhum movimento brusco.
Eddie se
moveu lentamente para trás e deu um suspiro de alívio, Thomas tomou à frente e
disse:
- É uma
víbora de Russel, muito perigosa e agressiva, Susie vá até minha sala e pegue
um gancho e um saco marrom que está na minha segunda gaveta, vá rápido.
Susie
voltou em alguns minutos, estava tão pálida que parecia que iria desmaiar,
Eddie pediu que ela voltasse à recepção e ficasse por lá.
- Vá para a
recepção Susie e tome um copo de água, você está quase desmaiando.
Thomas se
aproximou da caixa e a víbora deu um bote, mas errou o alvo, acertando o ar com
uma bela mordida, ele aproveitou e a encurralou com o gancho e pressionando seu
corpo a puxou para fora da caixa, pediu que Eddie abrisse o saco e em seguida a
jogou dentro, rapidamente fechou e deu um nó.
- Pronto
detetive, estamos seguros agora.
- Tem
certeza Thomas? Perguntei.
- Sim, ela
não pode nos ver, por isso está calma e se sente segura, as cobras só atacam
quando se sentem ameaçadas.
-Você pode
levar ela daqui, não vou conseguir me concentrar com ela por perto.
- Claro que
sim, vou levá-la ao laboratório e se precisar de mim é só chamar.
- E Thomas,
não diga nada a ninguém por enquanto.
- Pode
deixar detetive.
-E diga a
Susie para entrar em contato com o Comissário, por favor, diga que estou aqui e
preciso de alguns homens no local.
Em menos de
uma hora o local estava cheio de policiais, o legista chegou um pouco depois e
foi conversar com Eddie.
- O que
temos aqui detetive.
- Um ataque
de cobra, alguém enviou uma caixa com uma víbora dentro e ao abrir ele foi
atacado no rosto e na mão direita, quando entrei na sala ele já estava morto.
- Outra
morte envolvendo cobras, isso está virando rotina detetive.
- Alguém
está usando serpentes venenosas para matar, alguém inteligente a ponto de não
entrar aqui, pois seria reconhecido, dessa vez ele teve que mudar o método e
usou a serpente, ele não pode ver a vítima morrer, mas sabe que o serviço seria
feito, com ele não há falhas.
- Bom, só
vou saber exatamente a causa da morte depois da autópsia.
- Você não
precisa de uma autópsia, morte por veneno de cobra eu estava aqui e se não
fosse por Thomas eu teria o mesmo fim do Dr. White.
- Mesmo
assim preciso de um laudo de necropsia detetive, não posso liberar o corpo sem
dizer exatamente do que ele morreu, nesse caso já sei que é falência dos órgãos
por causa do veneno, e ele foi picado por duas vezes, ninguém poderia salvá-lo
a tempo.
- Entendo,
vou deixar você fazer seu trabalho, preciso falar com Susie sobre o tal
entregador, ele deve saber quem enviou a caixa.
Eddie se
dirigiu à recepção e encontrou Susie chorando, ainda estava muito abalada com
tudo que tinha visto, era uma moça frágil e ele não tinha certeza se ela
conseguiria falar com ele, pois seu estado era de muito nervosismo e medo.
- Susie
você está bem?
- Um pouco
melhor detetive...
- Você pode
conversar comigo um pouco?
- Sim
posso.
- Se não
estiver se sentindo bem, podemos nos falar amanhã.
Ela sorriu
com os olhos cheios de lágrimas e concordou novamente em falar com Eddie.
- Estou bem,
estou bem, não se preocupe.
- O rapaz
que entregou a caixa ele se identificou, ou disse algo mais, um nome que você
se lembre, de onde ele era e quem tinha enviado o pacote?
- Não detetive,
ele era um rapaz normal.
- O que ele
vestia, tinha alguma identificação em sua roupa?
- Não, ele
vestia um boné e casaco marrom, mas tinha as unhas das mãos sujas de terra, foi
só o que notei.
- Unhas
sujas de terra, é alguém que trabalha com jardinagem, você reconheceria ele se
o visse de novo?
- Sim com
certeza.
-Tem outra
coisa que preciso perguntar a você, você conhece um rapaz chamado Jeffrey?
- Sim
conheço, por quê?
- Eu
preciso falar com ele, e fiquei sabendo que ele fornece répteis ao Instituto, isso
é verdade?
- Sim é
verdade, mas já faz uma semana que ele não aparece por aqui.
- Você sabe
onde ele mora?
- Não
senhor, eu apenas sai com ele uma única vez para tomar um café, converso com
ele quando vem até aqui é um bom rapaz, mas não sei muito a seu respeito ele é
muito quieto, mal trocamos algumas palavras durante o café.
- Obrigado
Susie, se precisar de você entro em contato, por que não vai para casa
descansar?
- Acho
melhor ficar aqui, em casa fico sozinha, é pior, mas obrigado pela preocupação.
- Se cuide
Susie...
Quando
Eddie estava saindo pela porta, Susie o chamou, tinha lembrando-se de algo
sobre o entregador.
- Diga
Susie o que foi?
- Me
lembrei de um detalhe sobre o entregador, ele tem uma tatuagem de coração na
mão direita.
- Obrigado
Susie, se cuide.
Capítulo 8
- Um encontro quase mortal
Resolvi
caminhar um pouco e colocar meus pensamentos em ordem, talvez o tal entregador
não trabalhe em casa e sim em uma floricultura, preciso saber se existe aqui
por perto alguma loja, preciso encontrá-lo o mais rápido possível antes que
aconteça outro crime.
Se não me
engano na Rua 35 perto do Hospital Central existe uma loja que vende flores, e
fica a menos de 1 hora do instituto, preciso pegar um táxi.
Um estava
parado próximo ao Instituto algo que não é comum em Londres. Eddie apressou o
passo e se dirigiu ao motorista perguntando se ele estava livre, o homem com
uma aparência estranha vestindo chapéu e com uma cicatriz no rosto afirmou que
sim, Eddie entrou no carro e pediu que o levasse a Rua 35 Perto do Hospital, o
motorista se dirigiu a ele educadamente.
- Alguma
emergência médica senhor?
- Não,
preciso visitar um local nas redondezas.
- Poderia
ser mais especifico.
- É uma
floricultura, mas não sei o nome talvez você conheça.
- Sim eu
sei onde fica, o nome é The Flower Home, alguma ocasião especial, vai comprar
um buquê para sua esposa ou namorada?
- Não sou
casado, vou visitar um amigo que trabalha no local.
- Entendo,
você quer um bombom? Tenho um saco cheio deles e são deliciosos, minha esposa
que fez, ela é muito boa com doces, prove um.
Ao parar em
cruzamento se virou e pediu que Eddie pegasse um bombom de dentro do saco.
- Vamos
pegue um, não faça cerimônia pegue quantos quiser, é uma cortesia.
Eddie
aceitou por educação e colocou a mão dentro do saco, em seguida sentiu que algo
o mordeu com violência, tirou a mão rapidamente e começou a sentir uma dor
insuportável, sua mão estava sangrando, o homem o encarou com um sorriso no
rosto e disse.
- Você foi
picado por uma cobra marrom meu amigo, você tem menos de 1 hora para tomar o
antídoto se não vai morrer agonizando.
Finalmente
nos encontramos detetive, sou eu quem você procura o adorador de serpentes.
Eddie
estava com tanta dor que não conseguia falar, estava tonto e com ânsia de
vômito, o carro parou em frente ao Hospital, o assassino desceu e tirou Eddie o
colocando na calçada, em seguida falou em tom de alerta.
- Esse é o
último aviso detetive, se você cruzar meu caminho novamente vai morrer, diga a
eles que foram picados por uma cobra marrom eles tem o antídoto, desejo
melhoras.
O táxi saiu
em disparada, algumas pessoas que estavam passando ajudaram Eddie a entrar no
hospital, estava fraco e a ponto de desmaiar. Depois de dois dias inconsciente
ele despertou, ao abrir os olhos a primeira pessoa que viu foi o Comissário
sentado em uma cadeira ao lado da cama.
- Você
voltou meu amigo, pensei que não iria conseguir.
- Foi por
pouco Comissário.
- Como se
sente Eddie?
- Parece
que fui atropelado por uma manada de elefantes.
- Os
médicos disseram que você foi picado por uma cobra marrom.
- Eu sei
Comissário, eu estava lá cara a cara com o assassino, ele armou uma cilada, mas
agora conheço seu rosto e ele não pode se esconder.
- Onde você
o encontrou Eddie?
- Ele se
passou por um motorista de taxi, devia estar me observando de longe, ele é
muito inteligente, é a segunda vez que tenta me matar, mas desta vez ele me
salvou...
- Salvou
como assim? Você quase morreu Eddie.
- Foi ele
que me deixou na frente do Hospital, ele queria me passar uma mensagem, disse
que era a última vez que eu cruzaria seu caminho, e na próxima eu iria morrer.
- Deus
Eddie, ele é um psicopata.
- Ele sabia
que eu estava indo ver o rapaz que entregou a caixa com a serpente que matou o
Dr. White.
- Você
conseguiu ver o rosto dele Eddie?
- Um pouco,
ele usava um boné, mas sei que tem uma cicatriz no rosto, ele ficou de frente
para mim, mas eu estava com tanta dor e enjoado que só vi um vulto, lembro que
sua voz era rouca e ele falava baixo e tranquilamente.
- O rapaz
que você estava indo ver, ele corre perigo?
- Talvez
Comissário, se ele sabe onde o assassino mora, com certeza já deve estar morto.
- Onde fica
esse lugar, qual o nome do rapaz?
- É uma
floricultura perto daqui, o nome é The Flower Home, não sei o nome do rapaz,
apenas sei que ele tem uma tatuagem de coração na mão direita.
- Vou
mandar dois policiais até lá agora.
- Talvez
seja tarde demais...
- É o que
vamos descobrir, preciso ir Eddie, mas volto pela manhã meu amigo, descanse.
- Obrigado
Comissário.
Na manhã
seguinte Eddie já estava de pé, tomou café e se sentia bem melhor, sua alta do
Hospital seria no inicio da tarde. Queria falar com o Comissário e saber sobre
o rapaz da tatuagem. Uma enfermeira entrou no quarto para medir os sinais
vitais de Eddie, sua alta seria em algumas horas e precisava ter certeza que
estava bem.
- Bom dia
senhor Mase, como se sente hoje?
- Um novo
homem, nasci de novo enfermeira.
- Com certeza,
preciso tirar sua pressão e ver seu batimento cardíaco, o médico vai falar com
o senhor em alguns minutos.
- Está tudo
bem com o senhor, se precisar de mim aperte o botão vermelho.
- Obrigado.
O médico
entrou na sala em seguida, Eddie estava olhando pela janela e ao ver o médico
sorriu.
- Bom dia Doutor,
acredito que o senhor veio me dar alta.
- Não tão
depressa senhor Mase, sua alta é para depois do almoço.
- Posso
esperar mais algumas horas, três dias nesse hospital fez parecer uma década.
- Entendo
senhor Mase, têm dias que quero ir embora e não voltar, mas o seu caso foi
muito grave e você teve sorte de eu estar em frente ao Hospital.
- Na
verdade fui deixado aqui de propósito.
- Pura
sorte senhor Mase, mas agora está tudo bem com você, vou assinar sua alta para
ás 12h15, se sentir qualquer tipo de desconforto como enjôo ou dor da cabeça
volte aqui.
- Obrigado Doutor,
tenha um bom dia.
- Você
também senhor Mase e se cuide.
Capítulo 9
- O homem da tatuagem
Após a alta
do hospital fui direto para casa, queria tomar um café e relaxar um pouco antes
de seguir em frente, de todos os casos que investiguei até agora esse é o que
mais está me dando problemas, quase morri duas vezes e ainda não peguei o
assassino, a minha esperança é que tenham encontrado o rapaz da tatuagem, quem
sabe ele pode me levar até o assassino.
Preciso ir à
delegacia falar com o Comissário, antes que mais alguém morra, não sei, mas
algo me diz que ele não parou no senhor White.
O comissário
ficou surpreso em me ver de pé e com saúde, pensou que eu iria ficar uns dias
fora para me recuperar por completo.
- Eddie meu
amigo o que faz aqui? Você deveria estar em casa descansando.
- Já
descansei demais no Hospital Comissário, estou bem, encontrou o rapaz da
tatuagem?
- Ele não
estava lá Eddie, mas descobrimos onde ele mora.
- E foram
até sua casa? Peguntei.
- Sim, mas
não o encontramos.
- Deus, ele
deve estar morto a essa hora.
- Calma
Eddie, ficamos sabendo que ele pediu dois dias de folga no trabalho para tratar
de um assunto familiar.
- Então há
esperança de que ele esteja vivo.
- Sim com
certeza meu amigo, coloquei um policial vigiando sua casa e outro na
floricultura, se ele aparecer seremos informados.
Eu estava
em minha mesa revendo alguns detalhes dos crimes, quando o inspetor Watson
entrou na sala do Comissário, parecia agitado gesticulando com as mãos, o
Comissário me olhou e fez sinal pra eu ir até sua sala.
- Novidades
Comissário, boa tarde inspetor como tem passado.
- Bem
Eddie, tenho novidades sobre o rapaz da tatuagem.
- Vocês o
pegaram? Perguntei.
-Sim, ele
está sob custodia de meus homens, logo vai estar aqui.
- Que boa
notícia inspetor!
- Eu
imaginei que você iria ficar contente, mas me diga meu amigo, você não deveria
estar em casa descansando?
- Estou bem
inspetor, já descansei demais por três dias e não vou sossegar até pegar o
homem das serpentes.
- Homem das
serpentes, quem deu esse nome a ele?
- Não é um
nome senhor, é um apelido devido a quantidade de serpentes que estão cruzando
meu caminho.
- Você é
bem criativo senhor Mase.
-Eddie teve
três encontros quase mortais com serpentes inspetor.
- Eu fiquei
sabendo, você teve sorte meu rapaz.
- Não diria
que é sorte, por falar nisso onde está minha bengala, o senhor a viu Comissário?
- Sim
Eddie, está na sala de achados e perdidos, sua amiga Susie a trouxe no dia que
você foi para o hospital, você a esqueceu na sala do Dr. White.
- Graças a
Deus, ela já salvou a minha vida uma vez. Tinha tom de alívio na voz.
O
Comissário coçava seu bigode olhando para Eddie como se pensasse em algo para
dizer.
- Eddie meu
amigo, estive pensando agora, quem assumiria o Instituto já que os três sócios
estão mortos?
- Boa
pergunta senhor, não havia pensado nisso.
- Algum
membro da família talvez?...
-Não sei senhor,
mas quem sabe a senhora Carmem, esposa do Dr. Jonathan poderia assumir, pois
eles não têm filhos, acho improvável, ela é uma mulher idosa e não entende nada
sobre vacinas e répteis, o Dr. Charles não tinha família, não sei nada sobre o
Dr. White ainda, mas vou investigar.
- Eu conhecia
o Dr. White, ele frequentava o mesmo clube que jogo pôquer às sextas-feiras,
ele é divorciado e a mulher e filha moram na Suíça. Disse o Comissário.
- Então
temos três herdeiros e se esses crimes foram encomendados por uma dessas
mulheres Comissário?
- É uma
possibilidade Eddie, mas você só vai saber se pegar o assassino.
- Posso dar
um palpite? Perguntou o inspetor.
- Claro que
sim inspetor, fique à vontade para falar.
- Acho que
isso tudo se trata de vingança, é muito pessoal esse método que ele usa para
matar, se fosse um crime encomendado ele seria mais direto, ele gosta do que
faz e sente prazer quando mata, ele é cruel e frio.
- Concordo
inspetor, ele não se daria ao trabalho de usar serpentes se não fosse algo que
o inspira e dá prazer, ele quer que suas vítimas sofram.
Eddie
concordou com as palavras do inspetor, pois sabia que estava lidando com alguém
perigoso e muito inteligente.
-Também
concordo com vocês, é muito pessoal o que ele faz, mas por que não sabemos
ainda. Disse o Comissário enquanto coçava o bigode novamente.
Houve um
pequeno silêncio entre os três naquele momento, até que um dos policiais bateu
na porta para informar que o jovem da tatuagem já estava na delegacia.
- Com
licença senhor Comissário, o rapaz da floricultura está na recepção.
- Pode trazê-lo
até a minha sala, por favor.
Dois
policiais entraram na sala com o rapaz que parecia bem assustado, o Comissário
pediu para ele se sentar e os policiais se retiraram.
-Pode
sentar rapaz, fique à vontade.
-O que
estou fazendo aqui, por que estou sendo preso? Perguntou assustado.
- Você não
está preso, apenas queremos fazer algumas perguntas, o detetive Eddie Mase vai
conduzir o interrogatório.
- Qual é
seu nome rapaz?
- Oliver
senhor
- O que
significa essa sua tatuagem Oliver?
- É sobre
amor detetive, um amor que ainda vou encontrar.
- Entendo,
você não imagina por que está aqui?
- Não
senhor, por quê?
- Quem
pediu para você entregar uma caixa no Instituto de Répteis para o Dr. Roger White?
E por que você especificamente já que trabalha em uma floricultura?
- Eu faço
entregas nas minhas horas vagas, por isso fui enviado até lá.
- Qual o
nome dessa pessoa que contratou você?
- Ele não
me disse seu nome detetive, ele foi até a floricultura e pediu que eu
entregasse a caixa em certo horário apenas isso, ele me pagou 100 libras.
- E como
ele era, você conseguiu ver seu rosto?
- Sim eu o
vi perfeitamente, ele usava um boné e tinha uma cicatriz no rosto, sua voz era
calma e grave, ele foi bem simpático comigo.
- É o nosso
homem Comissário, o homem que tentou me matar no taxi.
- Eu fiz
algo errado senhor, vou ser preso? Perguntou quase com lágrimas nos olhos.
- Não
Oliver, na verdade você está nos ajudando. Disse o Comissário.
- Você não
viu para onde ele foi depois, se pegou um táxi ou saiu andando?
- Não o vi
depois que falei com ele, mas acho que ele foi andando em direção a East Side.
- Ele deve
ser da região Comissário, por que iria à floricultura se não soubesse que
Oliver faz entregas, alguém deve ter visto ele por lá, ele não pode ser um
fantasma a ponto de ninguém o conhecer. Disse o inspetor com convicção.
- Tem certeza de que nunca o viu
antes?-Perguntou Eddie.
- Tenho
certeza, eu lembraria de sua cicatriz no rosto.
- Muito bem
Oliver, você está liberado para ir, disse o Comissário.
- Mas não
saia da cidade, talvez eu ainda precise de você no futuro. Disse Eddie chamando
sua atenção.
- Sim
detetive, se precisar estou à disposição.
Após Oliver
sair da sala o Comissário pediu para Eddie fechar a porta, pois queria
conversar a sós com ele, o inspetor já tinha saído junto com os policiais, o
Comissário nunca tinha fechado sua porta para falar com alguém, Eddie estava
curioso.
- O que
aconteceu Comissário, qual o problema?
-Não quero
que ninguém escute nossa conversa, é algo que preciso que você faça sem ninguém
saber.
- O que
está incomodando o senhor?
- Esse
rapaz Oliver sabe de alguma coisa, acho que ele conhece o assassino e talvez
alguém aqui de dentro esteja passando informações para ele, veja bem Eddie como
o assassino saberia que você estava indo ver Oliver naquele dia, alguém está
passando informações.
- Faz
sentido Comissário, o que o senhor quer que eu faça a respeito disso?
- Quero que
siga Oliver, que fique de vigia na floricultura e o siga toda vez que ele tiver
que sair.
- Por que o
senhor acha que ele está ajudando o homem da cicatriz?
- Ele
chegou muito nervoso, depois que viu que não era suspeito, sua atitude mudou,
no meu entender ele estava representando um personagem, ele queria nos
confundir.
-Entendo
Comissário, eu cheguei a pensar que ele estava mentindo, mas vou ficar de olho
nos seus movimentos.
Capítulo 10
- Ninho de cobras
Ao sair da
sala do Comissário passei no achados e perdidos e recuperei a minha bengala, um
acessório que eu não tinha a intenção de deixar de levar comigo nunca mais, fui
direto à Rua 53, para minha sorte no outro lado da rua existia um café, me
sentei perto da janela e podia ter uma boa visão da floricultura, não teria
como ele sair sem ser visto, pedi um café com uma torta de maçã e fiquei
observando.
Eu já estava
começando a ficar irritado, pois o tempo passava e nada de Oliver aparecer, foi
então que a porta se abriu e o jovem Oliver saiu, parando em seguida para
acender um cigarro, olhou para os dois lados e seguiu em direção a East Side.
Uma
coincidência, já que foi para o mesmo lado que disse ter visto o homem da
cicatriz ir naquele dia na floricultura. Eu paguei a conta e sai em seguida,
mantive uma distância segura, pois não queria que ele soubesse que o estava
seguindo. Ele parou em uma banca de jornal e conversou um pouco com o
jornaleiro, em seguida continuou em direção a East Side.
Ele entrou na
rua das docas, o que achei bem estranho, pois sua casa ficava no lado oposto
segundo o Comissário me informou.
Ele
caminhou até o final da rua, até um pequeno depósito com um portão de ferro,
fiquei escondido atrás de uma árvore e vi quando ele entrou no local, segui-o e
vi que em seguida foi até a um depósito.
Parecia
conhecer bem o lugar, estava relaxado e parecia confiante. Eu me aproximei e
entrei pelo portão, em seguida dei a volta e observei através de uma janela
lateral, estava meio escuro e não conseguia ver quase nada, mas escutei vozes,
parecia ser a voz do homem da cicatriz e Oliver estava cobrando algo dele, foi
então que começaram a falar mais alto e pude escutar o que diziam.
- Eu fiz
tudo que me mandou, quero meu dinheiro. Disse Oliver um pouco irritado.
- E já
falei que você vai receber o dinheiro, mas espere eu assumir o Instituto e você
vai ter mais dinheiro do que pode gastar.
- Eu
preciso de dinheiro agora, minha mãe está doente.
- Calma meu
rapaz, tudo a seu tempo.
Eu
aproveitei o momento de distração e entrei no galpão, o lugar era escuro e
cheio de caixas e móveis velhos, tinha um cheiro estranho no ar como se eu
estivesse entrando em um pequeno laboratório, eu me aproximei e por trás de uma
prateleira vi os dois conversando, o Comissário estava certo a respeito de
Oliver.
Ao me mexer
bati em um pote de vidro fazendo com que caísse ao chão. O homem da cicatriz
perguntou em voz alta.
- Quem está
ai, você foi seguido Oliver?
- Não
senhor, eu vim sozinho eu juro.
Nesse
momento eu não tinha mais o que fazer a não ser me revelar, foi então que ao me
ver o homem da cicatriz segurou Oliver por trás e aplicou uma injeção em seu
pescoço, certamente veneno de cobra, pois Oliver caiu no chão e começou a se
debater em agonia, com a mão em seu pescoço começou a vomitar uma espuma branca
e seus olhos ficaram vermelhos, seu corpo tremia até que parou de repente. O
homem olhou para ele e disse:
- Seu verme
traidor e você detetive não aprendeu a lição, o que eu disse a você naquele dia
foi um aviso, mas acho que seu desejo de morrer é maior.
- Quem é
você? Perguntei.
- Quem sou
eu, eu sou a morte que rasteja, sou a balança dos justos e o herdeiro do trono
dos répteis, sou Antony White filho de Roger White, o filho bastardo que ele
rejeitou.
- Você está
mentindo, ele não tinha filhos.
- Você está
mal informado detetive, ele deixou minha mãe quando soube que ela estava
grávida, depois de cinco anos ela o procurou pedindo dinheiro e ele foi a nossa
casa e me deixou esse presente que tenho no rosto, ele bateu em minha mãe na
minha frente, eu estava com um copo de leite na minha mão e fui tentar
defendê-la, mas ele me empurrou fazendo com que eu caísse no chão, o copo se
quebrou e um dos cacos saltou em meu rosto, me deixando essa bela cicatriz,
depois disso ele fugiu e nunca mais soube dele até os dias de hoje, quando vi
seu nome em um jornal.
- E o que
você quer, vingança, dinheiro?
-Eu quero
tudo que é dele, tudo que ele negou a minha mãe, mas antes vou assistir você
morrer detetive.
O lugar
parecia um ninho de cobras tamanha a quantidade de serpentes que ali se
encontravam, uma mesa com vidros, tubos de pesquisa e muitos objetos cortantes,
foi então que Antony pegou uma faca de uns trinta centímetros e veio em minha
direção, tinha fúria em seus olhos, tirei minha espada e me defendi do primeiro
golpe que tinha visado meu crânio, mas ele me chutou no estômago me fazendo
cair no chão.
- Levante-se
detetive, pegue sua espada de brinquedo, não quero matar um homem caído e
desarmado, morra com honra, seja um samurai.
Consegui me
levantar e pegar minha espada, eu tentei golpeá-lo, mas ele se defendeu e me
acertou no braço abrindo um belo corte, a dor era forte, mas eu consegui me
controlar até o seu próximo avanço, ele parecia ser um espadachim habilidoso,
pois me acertou novamente na perna fazendo com que eu quase caísse novamente.
Ele sorriu e disse:
- Você não
pode me vencer detetive, sou campeão de esgrima por três anos seguidos.
- É o que
veremos. Juntei forças e dei meu melhor golpe, mas ele esquivou-se e atravessou
sua faca em meu ombro, puxando em seguida fazendo meu sangue jorrar pelo chão,
eu caí novamente e sem forças aceitei a derrota.
- Eu disse
que não podia me vencer, eu sinto seu medo e o cheiro do seu sangue está
atiçando minhas cobras, veja como elas estão ativas detetive, elas podem sentir
o medo a quilômetros, você tem algo a dizer antes de morrer detetive.
Larguei
minha espada e lembrei que tinha trazido minha pistola alemã, no calor do
momento havia esquecido que ela estava em um coldre nas minhas costas, eu a
peguei lentamente e olhando para ele disse:
- Não traga
uma faca para uma luta com armas seu idiota, queime no inferno. -Atirei três
vezes em seu peito fazendo com que seu corpo fosse projetado para trás, ao cair
bateu nas caixas fazendo com que as serpentes se libertassem, seu corpo foi
picado inúmeras vezes, antes de sua morte, eu me arrastei até a rua e dei
alguns tiros para cima, talvez alguém ouvisse e chamasse a polícia, a última
coisa que vi antes de desmaiar foi um homem correndo em minha direção.
Acordei no
outro dia e estava novamente em um hospital, estava virando rotina visitar
hospitais, meu corpo doía como se tivesse sido atropelado, estava com uma corte
no braço e outro na perna, mas o que mais me incomodava era o ombro, não podia
mexer o braço esquerdo tamanha a dor que me sentia, afinal uma faca de 30
centímetros atravessou minha carne de um lado a outro, duas costelas quebradas
e um trauma envolvendo serpentes que vai me assombrar pelo resto de minha vida.
A
enfermeira entrou na sala com meu café, muito simpática me desejou bom dia.
- Bom dia
senhor Mase, trouxe seu café, o senhor consegue se sentar na cama?
- Sim,
consigo sem problemas.
Ela colocou
a bandeja em meu colo e me avisou que um homem estava subindo para me ver.
- Tem um
cavalheiro na recepção que quer vê-lo senhor Mase.
- Como ele
é enfermeira? Perguntei.
- É um
senhor alto e com um bigode saliente.
- Esse é o
Comissário, meu chefe, obrigado enfermeira.
- Se
precisar de algo me chame.
Concordei
com a cabeça e agradeci, nesse momento o Comissário entrou pela porta coçando
seu saliente bigode, ao me ver fez uma piada e sorriu.
- Eddie meu
amigo, acho que vou mudar sua sala para esse hospital.
- Muito
engraçado senhor, mas pretendo ficar longe desse lugar nos próximos meses.
- Como se
sente meu amigo?
- Estou bem
agora, sinto dores ainda, mas nada que me faça perder o sono. O senhor tinha
razão sobre Oliver, se não fosse sua intuição eu não teria pegado o assassino,
obrigado pela sua ajuda.
- Não
precisa agradecer, você fez todo o trabalho sozinho e ainda quase morreu pela
segunda vez, você foi brilhante como sempre meu amigo, eu que agradeço.
- Obrigado
senhor, fico feliz em ouvir isso.
- Mas agora
Eddie, você está proibido de voltar ao trabalho, você está a partir de hoje de
férias.
- Estou
precisando mesmo senhor, acho que vou visitar um velho amigo que mora no Egito,
ele tem um pequeno negócio de tapetes na cidade do Cairo, está na hora de fazer
uma visita.
- Mas
cuidado Eddie, o Egito é cheio de serpentes. Começou a rir alto e nós dois
demos risada juntos, estava feliz apesar da dor, o que me aguarda no futuro eu
não sei, mas espero que não seja nada envolvendo cobras.
Fim
-
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POEMEM-SE SEMPRE!
SEJAM BEM-VINDOS!