No rastro da serpente, um caso de Eddie Mase, por Marcelo Gomes

 

Capítulo 1 - Veneno de cascavel

 

 O senhor Harris havia morrido na madrugada do dia 13 de outubro, em uma terça-feira, quando me ligaram, já passavam das 2 horas da manhã, mas eu não podia fazer nada por ele, pois já estava morto há algumas horas.

Ao ver o corpo constatei que fora uma morte natural, talvez um ataque cardíaco devido seu histórico de saúde, mas algo me chamou a atenção quando examinei seu pescoço, uma pequena marca que mais parecia uma picada de algum inseto, talvez uma aranha, em volta estava bem vermelho e sua pele tinha um tom escuro, algo só visto em casos de envenenamento, então olhei ao redor de sua boca e notei que tinha um tipo de secreção, com certeza ele tinha se engasgado ou expelido algo.

Como disse típico de envenenamento, mas para ter certeza teria que esperar a confirmação do legista. Algo ainda mais estranho notei ao olhar em volta de sua cama, queria encontrar alguma coisa fora do comum ou talvez até encontrar algum tipo de animal peçonhento, talvez um tipo de aranha venenosa, mas ao olhar para um bidê ao lado da cama notei um pequeno objeto, e ao examinar levei um susto, era um chocalho de uma serpente, mais precisamente de uma cascavel, estava fresco como se tivesse sido tirado da serpente há algumas horas.

Pensei sobre o que isso estaria fazendo no quarto do senhor Harris, ele não tinha cobras em casa, então peguei um lenço e sem tocar no objeto o enrolei e guardei em meu bolso. Mas algo ainda estava para ser revelado, um pequeno bilhete estava no mesmo bidê em cima de um livro, fiquei curioso e decidi abri-lo.

O que dizia me soou bem estranho e ao mesmo tempo interessante, se referia à espécie de serpente chamada cascavel e dizia:

"Balanço meu chocalho e te alerto para o bote, posso sentir seu calor e minha picada pode te provocar muita dor, meu veneno te sufoca e faz teu coração parar, por isso eu te digo não me provoque..."

Que estranho pensei, então guardei o bilhete junto com o lenço e o chocalho, me dirigi à família e informei que a principio ele morreu dormindo, mas só teria certeza depois da autópsia do legista.

Um carro me esperava na entrada para me levar em casa. Ao chegar procurei não fazer muito barulho, pois já passavam das 3 horas da manhã e não queria acordar minha esposa, tirei meu sapato na entrada e pendurei meu casaco, mas ao abrir a porta do quarto, Marta me olhou e sorriu dizendo:

- Já chegou querido, pensei que só voltaria pela parte da manhã?

- Por que não está dormindo Marta? Disse.

- Perdi o sono, logo que você saiu, fui até a cozinha e fiz um chá, depois me deitei e comecei a virar de um lado a outro na cama e não consegui dormir, então resolvi ler um livro.

- Muito bem, mas já está tarde, vamos dormir estou cansado.

- Me conte como foi, ele está morto ou foi alarme falso?

Marta era uma mulher muito curiosa e falava demais, às vezes tinha que ser interrompida pelo Dr. Martin, gostava também de fofocar e quase sempre ficava sabendo de tudo, antes mesmo do Dr. Martin chegar a casa.

- Está morto Marta, o que mais quer saber? Disse ele em tom de deboche.

- Qual a causa da morte, aposto que foi um AVC, aquele homem comia muita porcaria e estava acima do peso, eu avisei sua esposa, mas ela não me escutou.

- Marta pode parar de falar um pouco, estou cansado e quero dormir, amanhã conversamos.

- Está bem querido, boa noite. Como está Carmen? Ela tem uma saúde fraca.

- Boa noite, Marta... Disse ele. 

Já passava das 8 horas quando o Dr. Martin acordou, vestiu um terno e foi até a cozinha tomar seu café, Marta já estava sentada na mesa lendo o jornal do dia.

- Bom dia querido, dormiu bem? Fiz seu café.

- Obrigado Marta, dormi sim.

- Não saiu nada no jornal sobre a morte do senhor Harris.

- A família quer sigilo, nada vai ser divulgado até que o legista confirme a causa da morte.

- Eu pensei que você sabia a causa da morte, você não examinou o corpo?

- Sim Marta, mas não tenho certeza é apenas uma avaliação superficial, não posso atestar nada sem uma autópsia.

- E quando você vai saber querido?

- Talvez hoje à tarde, vou até a clínica e depois vou conversar com o legista.

- O que você acha de eu ligar para Carmen, saber como ela está?

- Não faça isso, por favor, não é uma boa hora, eles querem privacidade, respeite.

- Só queria ajudar querido.

- Não se preocupe, eles vão ficar bem, preciso ir agora tenho muito que fazer hoje.

- Mas você nem comeu nada, apenas tomou um pouco de café.

- Não estou com fome Marta, preciso ir e não ligue para a Sra. Carmen, por favor.

- Está bem querido, não vou ligar, não esqueça o casaco está frio lá fora. Disse Marta.

Encontrei o legista no corredor, estava vindo do seu almoço e já passava das 14 horas, acenei com a cabeça e ele veio em minha direção.

- Boa tarde Dr. Martin. Disse ele sorrindo.

- Alguma novidade da autópsia?-Perguntei.

- Sim tenho algo a lhe dizer, vamos até ao necrotério preciso que o senhor veja o corpo.

A sala estava bem fria e o silêncio era assustador, o senhor Harris estava em uma mesa com um lençol branco cobrindo seu corpo até o pescoço, o reconheci logo que cheguei. Walter o legista tirou o lençol e aquela imagem quase me revoltou o estômago, apesar de ser médico nunca tinha visto alguém aberto daquele jeito, minha especialidade é clinico geral por isso minha reação foi de repulsa.

- Desculpe Doutor, mas precisava mostrar os órgãos internos, só assim o senhor vai entender.

- Não tem problema, depois de uns minutos vou ficar bem, qual a causa da morte? Perguntei.

- Veja o estado dos órgãos internos, veja como o tecido foi afetado, algo visto apenas em envenenamento por picadas de cobras. O veneno necrosou o tecido e fez todos os órgãos pararem, causando insuficiência respiratória e parada cardíaca, eu fiz um teste com o sangue e o resultado foi morte por envenenamento, para ser preciso, veneno de cascavel.

- Meu Deus, por isso tinha aquele guizo em seu bidê, mas quem o deixou lá, me diga meu amigo como pode ser veneno de cobra se não havia nenhuma em seu quarto.

- Tem algo que notei em seu pescoço, algo que me deixou bastante intrigado, uma pequena marca de picada em tom avermelhado, se fosse uma cobra teria dois orifícios, então a conclusão que cheguei é que alguém injetou algo em seu pescoço, a marca é de agulha de uma pequena seringa, quem fez isso injetou o veneno direto em sua jugular.

- Então ele foi assassinado. Martin estava surpreso com a revelação.

- Não estou dizendo isso Doutor, é apenas minha teoria, mas com certeza o senhor deve informar à família e talvez a polícia, as evidências mostram que alguém injetou veneno em seu corpo, agora a polícia deve investigar o motivo.

- Entendo, acho que isso é um caso para a polícia, eu já fiz minha parte agora é com eles.

- Quem fez isso entende de répteis, certamente é alguém que adora serpentes.

-Com certeza meu amigo.

Estava em meu consultório, quando minha assistente avisou que um policial queria falar comigo. Acredito que, depois de conversar com a família do senhor Harris, eles tenham feito contato com a polícia e meu nome deve ter sido mencionado, pedi que ele entrasse e cancelei a consulta das 15 horas.

- Boa tarde Dr. Martin, me chamo Eddie Mase, sou detetive da Scotland Yard.

- Boa tarde, pode se sentar e fique â vontade, quer um chá ou um café?

- Não obrigado, estou bem.

- Em que posso ajudá-lo detetive? Perguntei.

- Soube que o senhor falou com o legista e conversei com a família do senhor Harris, que me disseram que suspeita que o senhor Harris tenha sido assassinado, isso é verdade?

- Sim, a princípio achei que era morte natural, mas encontrei um bilhete no quarto junto a um guizo de cascavel, o senhor conhece essa cobra?

- Sim conheço, mas um guizo...

- Sim, e depois tive a confirmação do legista de que a morte foi por envenenamento, e para ser mais preciso, um veneno de cascavel injetado diretamente no pescoço por uma pequena seringa.

- Então, realmente temos um caso de assassinato, onde está esse bilhete e o guizo?

- Está comigo aqui no meu consultório, deixe ver onde coloquei... Aqui, pode ficar com eles acho que vai ser bem útil na sua investigação.

- Interessante, parece um tipo de charada o que escreveu, foi bem específico quanto ao método usado para matar, o bilhete e o guizo mostram que ele queria que todos soubessem que foi uma cascavel.

- Foi o que pensei quando vi o guizo, e depois de ler o bilhete tive certeza.

-O senhor comentou com alguém sobre esses itens que encontrou?

- Não, apenas agora com o senhor.

= A família não sabe e nem o legista?

- Não.

- Vamos deixar esse detalhe somente entre nós Doutor, não quero que isso caia em mãos erradas, muito menos a imprensa, não quero alertar o assassino e pela minha experiência ele vai matar de novo.

-Pode contar comigo detetive.

 

Capítulo 2 - O homem das serpentes

 

Eddie falou para o comissário que iria visitar o Instituto de Pesquisa de Répteis naquela manhã, ele me questionou do por que e se tinha certeza de que era um caso de assassinato, pois a imprensa já noticiava a morte do Dr. Harris como ataque cardíaco, eu disse-lhe que sim, que tinha uma pista relacionada aos itens encontrados na cena do crime, além da confirmação do legista de que ele fora envenenado.

- Envenenado? Ele disse.

- Sim senhor, veneno de cascavel.

- Se foi uma cobra então ele deve ter sido picado por ela.

- Não comissário, o veneno foi administrado em seu pescoço enquanto dormia por meio de uma seringa, a cascavel nunca esteve no local do crime, e pela minha intuição é alguém que entende muito de serpentes venenosas, mas quem fez e o motivo é o que vou descobrir.

- Muito bem Eddie, faça o seu trabalho e pegue esse assassino.

- Sim senhor, é o que farei.

- Me mantenha informado.

Resolvi pegar um táxi e atravessar a cidade, pois chovia muito naquela manhã, gosto de caminhar, mas devido às condições climáticas optei ir de carro.

O motorista queria conversar, mas eu não estava muito receptivo, por isso inventei uma desculpa dizendo que estava com dor na cabeça e queria ficar em silêncio, ele entendeu e me pediu desculpas, ao passar por uma loja de antiguidades pedi que ele desse uma parada.

- Volto em 5 minutos disse a ele.

Na vitrine tinha um guarda-chuva com cabo de madeira em formato de um cisne, era bonito e de muito bom gosto, resolvi entrar e comprar o tal guarda-chuvas, mas para minha surpresa não era apenas um simples guarda-chuvas, era uma imitação e quando puxei o cabo se revelou uma bela espada que brilhava feito uma estrela, o atendente me disse que esse item era de um homem muito rico e que tinha muitos inimigos, por isso se parecia mais com uma bengala do que um guarda-chuva, decidi levar, pois além de ser algo que pode me salvar no futuro daria um pouco mais de classe na minha aparência. Ao voltar para o táxi o motorista se virou para mim e disse:

- Belo guarda-chuvas o senhor comprou.

- Não é um guarda-chuva, e sim uma bengala feita por encomenda.

- O senhor tem algum problema de saúde?Perguntou.

- Não, podemos ir agora, estou atrasado.

-Sim claro, me desculpe,sou um pouco intrometido às vezes.

Ao chegar ao instituto de pesquisas notei uma placa que dizia:

"Só entre com hora marcada!"

Então lembrei que não tinha marcado hora, mas se tratando de uma investigação de homicídio, acho que não vou precisar de um horário marcado.

A recepcionista me recebeu com um sorriso no rosto, muito simpática e educada perguntou meu nome e a hora marcada de minha visita.

- Não tenho hora marcada, sou Eddie Mase detetive da Scotland Yard, estou aqui para falar com um especialista em serpentes venenosas.

- Sinto muito, mas não posso deixar o senhor entrar sem hora marcada, são normas do Instituto.

- Veja bem minha cara, não estou aqui de visita e sim investigando um caso de homicídio, envolvendo uma serpente venenosa, por isso preciso de informações de um especialista.

- Vou falar com meu superior, pode sentar-se e aguardar senhor Mase.

- Obrigado.

Fiquei sentado ali imaginando o que teria tão especial nesse lugar para só visitar com hora marcada, quem mais iria se interessar por répteis além de estudantes de veterinária?

Após alguns minutos a recepcionista retornou acompanhada de um senhor com um jaleco branco, parecia ser alguém importante, pois estava sério e tinha um crachá em seu peito com os dizeres, diretor geral, seu nome estava logo abaixo, Charles W. Harris.

- Boa tarde, sou o Dr. Charles em que posso ajudá-lo detetive? Disse ele ao estender a mão e cumprimentar Eddie.

- Muito prazer, Eddie Mase da Scotland Yard.

- O que o trás até nosso humilde Instituto?

- Desculpe perguntar, mas o senhor é irmão de Jonathan Harris? Disse Eddie.

- Sim é meu irmão mais velho, que Deus o tenha.

- Sinto muito pela sua perda, estou aqui por causa de seu irmão.

- O que meu irmão tem a ver com a polícia, tem algo que eu precise saber?

- Sim senhor, podemos falar em particular? Perguntei gentilmente.

- Mas é claro, vamos até a minha sala, por favor.

A sala do Dr. Charles era simples, mas aconchegante, alguns quadros da família e de viagens pelo mundo, em sua mesa em uma bela moldura estava seu diploma, ao olhar para o diploma perguntei:

- Qual a sua especialidade Dr. Harris?

- Sou formado em medicina veterinária, cientista formado e especialista em doenças infecto contagiosas, mas minha paixão são os animais e principalmente os répteis, é daqui que saem todos os antídotos para ataques de animais peçonhentos, já salvamos muitas vidas detetive.

- É um belo trabalho Doutor, é por isso que estou aqui, vim saber um pouco mais sobre serpentes.

- Onde a morte do meu irmão se encaixa em tudo isso?

- O seu irmão foi assassinado Dr. Charles. Sua expressão foi de surpresa, seu rosto ficou pálido de repente.

- Deus, você tem certeza disso?-Perguntou com voz embargada.

- Absoluta Doutor, os exames mostram que ele morreu por falência dos órgãos devido ao veneno de uma cascavel, injetado através de uma seringa em seu pescoço, mais precisamente em sua jugular, a morte foi em minutos.

- Isso é um absurdo, meu irmão não tinha inimigos.

- É o que estou tentando descobrir, por isso preciso de sua ajuda, mas é sigiloso ninguém pode saber que se trata de seu irmão.

- Eu tenho a pessoa certa para ajudar você, um jovem cientista brilhante chamado Thomas, ele entende tudo de serpentes venenosas, é encarregado do setor de antídotos.

- Eu posso falar com ele agora?-Perguntei com entusiasmo.

- Mas é claro que pode, vou levar você até ele.

Thomas estava em uma sala de vidro extraindo veneno de uma cobra, parecia um tipo de serpente venenosa, mas não sou especialista e não saberia dizer o nome.

O Dr. Charles bateu no vidro e fez sinal para Thomas vir até nós. Thomas era um jovem nerd, usava óculos e era muito magro, parecia estar doente tinha olheiras e tinha uma aparência cansada.

- Thomas, esse é Eddie Mase, detetive da Scotland Yard, ele precisa que você o ajude em um caso que ele está trabalhando, um crime que ocorreu e envolve uma serpente venenosa, mais precisamente uma cascavel.

- Hum... A minha serpente preferida, cheia de mistérios com aquele guizo hipnotizante uma bela criatura.

- Vou deixar vocês conversarem, tenho muito trabalho e Eddie antes de ir me procure. Disse Charles.

- Obrigado por enquanto, Dr. Charles.

- Crotalus Durissus, disse Thomas.

- O que isso quer dizer? Perguntei curioso.

- É o nome científico dado a cascavel detetive, a cobra que mais mata e mutila nos Estados Unidos.

- Interessante, mas o que você pode me dizer sobre o veneno, como uma pessoa pode ter acesso a algo tão perigoso.

- Alguém que trabalhe aqui, ou que colecione espécimes de cobras em casa.

- É fácil comprar uma cobra dessas por aqui?

- Não, é proibido apenas no mercado negro você pode comprar e o valor é altíssimo.

- Mas é preciso ter conhecimento nessa área, saber a dosagem e como extrair o tal veneno, uma pessoa sem esse conhecimento poderia se machucar, ser picada e morrer.

- Com certeza, se é esse o caso quem fez isso entende muito de serpentes, é alguém muito bem instruído, ele sabe o que está fazendo.

- Que tipos de cobras vocês tem aqui? Perguntei, queria saber o máximo possível sobre esses animais.

- Todos os tipos de cobras peçonhentas, as mais letais que existem estão aqui, cascavel, mamba negra, naja, víbora, cobra marrom, todas que o senhor possa imaginar.

- Deus, não me imagino trabalhando aqui.

- Elas são lindas detetive e se não forem incomodadas são inofensivas.

- Não tenho tanta certeza assim, em quanto tempo o veneno de uma cascavel age no organismo de um homem?

- Depende de vários fatores, o tamanho, peso até a idade, a quantidade de veneno injetado e o tempo de socorro, o veneno da cascavel é muito poderoso, ocorre a necrose dos órgãos em pouco tempo e sua picada é muito dolorida.

 

- É assustador, não gosto de cobras.

- Entendo a maioria das pessoas não gosta, mas elas são essenciais para o ecossistema.

 

- O que acha que ele quer dizer com esse bilhete Thomas?

- Interessante, ele descreve bem como a cascavel age, é quase como uma charada, mas não quer dizer muito, talvez ele queira dizer para alguém tomar cuidado, não sei ao certo.

- Obrigado Thomas, se precisar um pouco mais do seu conhecimento por cobras eu procuro por você.

- Estarei aqui detetive.

Ao sair da sala fui procurar o Dr. Charles, estava curioso para saber o que ele queria comigo depois de eu ter revelado a verdade sobre a morte de seu irmão. Fui até sua sala, mas ele não estava lá, perguntei a recepcionista que me informou que ele precisou sair para resolver um assunto de família, acredito que seja algo a ver com o funeral de seu irmão. Agradeci à recepcionista e fui embora. Às vezes é difícil conseguir um táxi em Londres, mas depois de várias tentativas consegui embarcar em um.

 

Capítulo 3 - A morte rasteja de preto

 

Após sair do instituto fui até a delegacia falar com o Comissário, precisava de um café e queria o deixar a par de tudo que estava acontecendo, ao entrar fui direto à mesa de lanches e servi uma boa xícara de café, não é o café da La Tour na França, mas serve para matar a vontade. O Comissário me viu e fez sinal para eu ir até sua sala, ao entrar a primeira coisa que ele notou foi minha bengala com cabo de cisne.

- Que isso, Eddie está com problemas para caminhar ou é apenas um guarda-chuvas enfeitado?

- Não senhor, é uma bengala feita por encomenda que comprei essa manhã, pertenceu a um homem muito rico que tinha muitos inimigos, veja esse detalhe. Eu segurei o cabo e puxei a espada que fez os olhos do Comissário brilharem.

- Santo deus Eddie, mas que maravilha você tem aí, pagou muito caro?

- Não senhor, dentro do meu orçamento.

- Alguma novidade sobre esse novo caso, o que descobriu no Instituto?

- Descobri que o diretor geral se chama Charles e é irmão do senhor Harris.

- Que coincidência Eddie, mais alguma coisa?

- Falei com um especialista em serpentes, um jovem cientista muito atencioso e educado, ele me disse que não é qualquer um que tem acesso a esse tipo de veneno, a pessoa tem que entender de cobras e saber como extrair o veneno.

- Nesse caso pode ser alguém do próprio Instituto.

- Sim, de fato, mas esses animais também podem ser comprados de forma ilegal no mercado negro.

- Entendo, mas ele teria que ter conhecimento científico para saber como usar o veneno, tem que ser uma pessoa bem instruída.

- Na verdade não precisa, tudo isso pode ser encontrado em livros, é só ir à biblioteca e pronto todo conhecimento está ao alcance em algumas páginas.

- Você tem razão Eddie, qual o próximo passo agora?

- Não tenho muitas pistas Comissário, a família sabe muito pouco e até agora o que tenho é um bilhete e um guizo de cascavel.

- Não desanime meu amigo, confio em você.

- Obrigado senhor, vou mantê-lo informado.

Eu estava completamente perdido a essa altura, os depoimentos da família não me levaram a lugar algum e minha conversa com o jovem Thomas apenas me esclareceu pouca coisa sobre venenos e cobras.

Nesse momento comecei a pensar em Charles Harris, o irmão, e se ele sabe mais do que me contou, talvez o senhor Jonathan tivesse inimigos e nunca contou à família, perguntas sem respostas até agora.

Então resolvi voltar ao Instituto para falar com o Dr. Charles, não estava satisfeito com o que ele tinha me dito, faltava algo a mais a ser revelado sobre seu irmão, mas ao falar com a recepcionista fiquei sabendo que o Dr. Charles não havia voltado para o trabalho, ninguém sabia onde ele estava e se voltaria. Senti-me novamente perdido, nunca havia passado por isso, parecia que eu estava perdendo meu faro de detetive. Voltei para a delegacia e ao chegar o Comissário veio ao meu encontro, parecia bem nervoso.

- Onde você estava Eddie, temos um problema.

- O que aconteceu? Perguntei com ar de curiosidade.

- Houve outro assassinato, disse ele.

- Quem Comissário?

- O Dr. Charles Harris.

- Por isso ele não voltou ao trabalho, onde ele está?

- Foi encontrado sem vida em sua casa pela empregada, sentado em uma poltrona em seu escritório, tinha os olhos e rosto inchados e a boca estava com uma cor escura, foi o que um dos policiais me disse até agora.

- Onde ele mora Comissário?

- Albert Street, 152, é um daqueles prédios pequenos, ele mora no térreo.

- Ele tem esposa ou filhos?

- Não, ele era solteiro e parece que gostava de sair com rapazes jovens, se é que me entende.

- Perfeitamente senhor, espero que ninguém tenha mexido na cena do crime, com sua licença estou indo.

Cheguei a Albert Street em 20 minutos, havia dois policiais na porta e ao entrar vi a empregada sentada em um sofá com um copo de água em uma de suas mãos, parecia ter chorado e estava assustada. Eu a cumprimentei e me dirigi ao escritório acompanhado de outro policial, ao entrar vi o legista e mais dois policiais em volta do corpo.

- Boa tarde, sou Eddie Mase, vou assumir agora, preciso de uns minutos para analisar a cena do crime, alguém tocou no corpo?

- Não, estávamos esperando o senhor chegar. Disse um dos policiais.

- Muito bem, alguma evidência no local?

- Não senhor, mas acho que tem algo no bolso de sua camisa, parece um pedaço de papel.

O senhor Charles estava sentado com a cabeça inclinada pra frente, sua mãos apertavam os braços da poltrona como se estivesse sentindo dor, seu pescoço estava inchado e os olhos caídos e vermelhos, em seu bolso um pequeno papel de cor preta e um copo com uísque pela metade estavam na mesa de centro.

Examinei seu pescoço e lá estava a mesma marca de picada, apenas um ponto escuro com a pele em volta avermelhada, suas veias pareciam que explodiriam a qualquer momento, estavam escuras e saltadas.

Peguei o papel em seu bolso, era um pequeno envelope e dentro dele um bilhete com um símbolo de uma serpente pintada de preto, e nele dizia a seguinte frase:

"A morte rasteja de preto, ela é rápida e mortal, e em um bote pode roubar a tua sorte".

Você gosta de charadas, da mesma maneira que gosta serpentes, meu amigo, vamos descobrir que tipo de veneno você usou agora. Pensou consigo o Eddie.

- Em quanto tempo você pode me dizer a causa da morte? Perguntei ao legista.

- Acredito que em dois dias detetive.

- Em dois dias faço contato com você, se descobrir algo antes, me procure na delegacia, agora preciso falar com a empregada.

Seu nome era Susie e trabalhava na casa do Dr. Charles há uns cinco anos, era jovem não parecia ter mais do que 30 anos, tinha um olhar triste e a voz mansa.

- Susie sou o detetive Eddie Mase, sei que você está abalada, mas preciso fazer umas perguntas, você pode me ajudar? Perguntei com voz calma.

- Sim senhor, posso sim.

- Muito bem, você lembra se alguém esteve aqui hoje além do Doutor, uma visita ou até um entregador?

- Não senhor, apenas eu e o Doutor estávamos em casa.

- Existe outra entrada no prédio, nos fundos por exemplo.

- Sim, tem outra porta que dá nos fundos do prédio.

- E ela costuma ficar fechada?

- Sim, sempre está fechada por dentro, eu fico muito sozinha aqui e sempre fecho as portas e janelas.

- Alguém mais poderia ter a chave da residência?

- Não, apenas eu tenho uma cópia.

- O Dr. Charles tinha inimigos?

- Não saberia dizer, não sei muito sobre sua vida particular, ele quase não conversava comigo.

- Ele costumava receber alguém em sua casa, amigos ou alguém da família.

- Apenas um rapaz costumava vir aqui, ele se chama Tommy e trabalha em um Pub na Rua Baker nº 46.

- Você o conhece Susie?

- Não senhor, apenas ouvia os dois conversando, servia bebidas e abria a porta para ele, não sei nada, além disso.

- Obrigado Susie, se cuide e sinto muito pelo seu patrão.

Ela me olhou com lágrimas nos olhos e baixou a cabeça, pobre criatura estava desolada.

Após dois dias recebi um recado do legista, queria me encontrar, pois tinha os resultados dos exames de sangue e a autópsia estava concluída.

Peguei um táxi e fui me encontrar com ele, o necrotério ficava no subsolo do Hospital central, um lugar antigo e bem assustador.

Ao chegar o encontrei comendo um sanduíche, não sei como alguém pode comer nesse lugar cheirando a morte, com cadáveres por todos os lados.

- Senhor Mase, que bom que veio rápido eu estava ansioso para lhe contar as novidades, foi algo bem sério que fizeram com ele, bem cruel.

- Deixe-me adivinhar, ele tinha veneno de uma serpente em seu sangue. Falei em tom de sarcasmo.

- Exato detetive, como você adivinhou?

- Por que estamos lidando com um serial killer que usa veneno de cobras para matar, essa é sua segunda vítima.

- Deus isso é insano, quer saber que espécie de serpente?

- Tenho uma vaga idéia de qual seja.

- Mamba Negra meu amigo, uma das serpentes mais letais que existem no mundo, como o veneno foi injetado direto em sua jugular o efeito foi quase que imediato, e sua morte foi lenta e dolorosa.

- E como o assassino chegou até ele para aplicar a injeção, você tem uma teoria? Perguntei com curiosidade nas palavras.

- A minha teoria diz que ele chegou por trás, colocou uma das mãos em sua boca para que ele não gritasse e aplicou a injeção, ficou um tempo naquela posição em pé vendo o Doutor se debater em agonia, até vir a falecer, suas mãos indicam que estava com muita dor, pois estavam pressionando os braços da poltrona com muita força, é um jeito cruel de se morrer detetive, apenas alguém com muita raiva faria uma coisa dessas.

- E a morte foi por falência dos órgãos?

- Sim, seguida de uma parada cárdio respiratória.

- Você pode me dar uma cópia do laudo da autópsia?

- Sim claro, mas o que você vai fazer com isso?

- Preciso informar ao Comissário o andamento das investigações, vai para o arquivo de provas.

- Entendo, se precisar de mim você sabe onde me encontrar.

- Obrigado por enquanto...

 

Capítulo 4 - Tommy (Uma serpente no meu caminho)

 

Após ver o legista decidi ir para casa, estava cansado e queria um pouco de paz para pensar sobre o caso, queria botar minha cabeça no lugar, pois estava andando em círculos sem chegar a lugar algum.

Servi-me uma taça de Bourbon e sentei perto da lareira, estava fazendo muito frio e já passava das 18 horas, comecei a ler o laudo a fim de entender um pouco mais sobre os efeitos do veneno.

Qual ligação entre as duas mortes, por que dois membros da mesma família, e o que o veneno representa nas mortes? Não conseguia achar respostas ainda, tudo estava vago e não tinha nenhum suspeito até agora.

Quem sabe Tommy o rapaz misterioso me diga algo que faça sentido. Eu caí em um sono profundo sem perceber, quando acordei já eram 23 horas, Deus devo estar exausto para dormir na poltrona sem perceber, comi um sanduíche e fui para minha cama.

Apesar de ter dormido na poltrona por algumas horas eu ainda estava com sono, e adormeci rápido.

Acordei de repente e ao mexer minha perna senti algo se mexer em minha cama e tocar minha perna, acendi o abajur e para minha surpresa tinha uma serpente me encarando aos pés da cama, ela estava me encarando e pronta par dar o bote, não entendo de cobras, mas sei que aquela era uma naja uma das serpentes mais perigosas do mundo, famosa por cuspir em suas vítimas e cegá-las, ela movia a cabeça de um lado a outro e sua língua parecia um chicote.  Lentamente movi meu braço em direção a minha bengala que estava encostada em um bidê ao lado da cama. Peguei o cabo e puxei lentamente, não queria fazer movimentos bruscos e assustá-la a ponto de dar o bote, encostei a lâmina em meu peito e o mais rápido que pude desferi um golpe que arrancou sua cabeça, caí para trás em minha cama de alívio, meu coração parecia que iria sair pela boca, me levantei e coloquei a cobra em um saco, no dia seguinte levaria para a delegacia como prova, agora sei que o assassino sabe quem eu sou, preciso ter cuidado, pois não sei qual será seu próximo movimento.

Ele tentou me matar, mas tive sorte, pode ser que não pare por aqui.

Na manhã seguinte acordei cedo e fui direto para a delegacia, entrei na sala do Comissário e joguei o saco em sua mesa.

- O que é isso Eddie?

- Abra e olhe dentro...

-Meu Deus Eddie, você quer me matar de susto antes do meu café? Quase deu um pulo em sua cadeira, tamanho o susto que levou.

- Alguém tentou me matar noite passada, Comissário, eu acordei com essa serpente me olhando aos pés da minha cama, minha sorte é que comprei essa bengala com uma espada embutida, se não estaria morto agora.

- Deus Eddie, foi pura sorte você ter a bengala por perto!

- Nem me fale Comissário, fiquei quase em choque, quando a vi me encarando com olhos negros como a noite.

- Estamos lidando com alguém muito perigoso Eddie, tenha cuidado.

- Eu sei disso, preciso falar com um rapaz chamado Tommy, ele conhecia o Dr. Charles, talvez eu encontre algumas respostas.

- O que faço com esse animal Eddie?

- Peça para o pessoal do laboratório guardar no formol, é uma evidência.

Peguei um táxi e me dirigi para a Rua Baker, nº 46, o endereço de Tommy que Susan me passou, queria conhecer esse misterioso rapaz, que frequentava a casa do Dr. Charles, estava certo de que encontraria algumas respostas.

O nome do Pub se chamava The Cave, era um local escuro e parecia ser frequentado por delinquentes e bêbados, perguntei para um atendente quem era Tommy, ele me apontou para o bar onde estava um rapaz bem jovem com menos de 30 anos.

Tommy era o barman e parecia ser bem simpático, sorrindo enquanto servia um chope para um cliente. Aproximei-me, ele me olhou e educadamente perguntou o que queria beber.

- Não vou beber nada estou a serviço, sou detetive da Scotland Yard, me chamo Eddie Mase e você deve ser Tommy.

- Sim senhor, como sabe meu nome?

- Susie me disse que você trabalhava aqui. Ele parecia assustado e começou a rir alto.

- Susie? E por que ela daria o endereço do meu trabalho, fiz algo de errado?

- Que eu saiba não, preciso fazer algumas perguntas sobre o Dr. Charles.

- Hum, Charles o que ele andou falando sobre mim? Perguntou meio sem jeito.

- Nada, ele está morto.

- O quê? Morto como?

- Ele foi assassinado a noite passada.

- Assassinado? Isso só pode ser brincadeira, começou a rir outra vez e parecia nervoso.

- Não estou brincando, não costumo brincar com esse tipo de coisa, podemos falar em particular?

- Por que sou suspeito de algo? Parecia estar na defensiva.

- Até agora não, mas preciso que você me responda algumas perguntas.

- Vamos até aos fundos do Pub, vou fumar um cigarro e fazer meu intervalo.

Tommy se encostou à parede e acendeu um cigarro, parecia bem incomodado com a situação, me ofereceu um cigarro, mas recusei.

- Meu vício é cachimbo, eu disse.

Perguntou-me por que de carregar uma bengala, já que eu parecia bem jovem e não mancava.

- É apenas um adereço e ela me salvou a vida noite passada.

- Sério, você matou alguém?

- Não apenas uma serpente venenosa.

- Serpentes em Londres? Improvável.

- E se eu lhe disser que o Dr. Charles foi morto por veneno de cobra.

- Não seria estranho, ele trabalha com esses animais perigosos.

- Na verdade ele foi assassinado, alguém injetou veneno em seu sangue através de uma seringa, por isso estou aqui. Qual sua relação com o Dr. Charles?

- Nós éramos amantes, ele me pagava para dormir com ele, não ganho muito no Pub e quando o conheci ele me ofereceu dinheiro, costumo fazer programa na Rua 35, sextas à noite, foi lá que o conheci.

- E você falou com ele ontem à noite, ou esteve em sua casa?

- Não, quando ele queria algo passava por aqui no final de meu turno, eu costumava dormir em sua casa, nessas ocasiões.

- Você sabe se ele tinha inimigos?

- Ele nunca me dizia nada sobre sua vida particular, apenas coisas sobre seu trabalho e de como eu deveria estudar para ter uma vida melhor, era um bom homem.

- Você notou algo de estranho em seu comportamento, quando o viu pela última vez?

- Foi sexta passada, mas ele estava normal e até me pagou a mais do que o de sempre.

- Você não achou estranho ele lhe pagar a mais?

- Não por que às vezes ele fazia isso, dizia que era um bônus, por eu ser bom com ele, eu o fazia feliz na cama.

- Entendo, e você conhecia seus amigos ou familiares?

- Não, ninguém sabia de suas preferências sexuais, como ele iria explicar para seus amigos e familiares sobre mim, esse é meu namorado, ele nunca faria isso. Meu intervalo acabou preciso voltar ao trabalho, meu patrão é um homem exigente e não gosta de atrasos.

- Entendo Tommy, obrigado pelo seu tempo, ah se lembrar de algo me procure na delegacia.

Tommy acenou fazendo continência com sua mão e dizendo:

- Sim senhor...

 

Capítulo 5 - A revelação de Roger White

 

Na manhã seguinte acordei cedo e decidi ir até a cafeteria Coffee & Cakes, precisava de um tempo sozinho para pensar, sentei em uma mesa na rua e pedi um expresso e uma fatia de torta de maçã, o dia estava lindo e o sol resolveu aparecer apesar de fazer muito frio. Encarar uma serpente à noite em sua cama não é para qualquer um, ainda acordo a noite e olho para os pés da cama, acho que esse pesadelo vai me seguir ainda por um bom tempo, nunca tinha passado por algo tão assustador em minha vida.

- Senhor, senhor, me chamou o garçom ao colocar o café e a fatia de torta na mesa, estava tão desatento que não o vi chegar.

Pedi desculpas e dei uma nota de cinco libras de gorjeta para ele, ele me agradeceu sorrindo.

Deus onde estou com a cabeça, esse caso está virando um pesadelo, queria que Louise estivesse aqui para me ajudar a colocar meus pensamentos em ordem. Sentado em uma mesa a poucos metros de mim havia um homem de certa idade, tinha um bigode saliente e usava óculos de grau, estava bem vestido e desde o momento em que cheguei, ele não parava de me olhar, levantei minha xícara de café e o cumprimentei balançando a cabeça, ele tomou um gole de seu café e se levantou vindo em minha direção. Ao se aproximar me cumprimentou com educação.

- Bom dia, me chamo Roger White. Estendeu-me sua mão educadamente.

- Bom dia, sou Eddie Mase, quer se sentar? Perguntei.

- Se você não se importar.

- Claro que não, fique à vontade.

- Me desculpe a indiscrição, mas acho que lhe conheço de algum lugar. Disse ele.

- Talvez o senhor já tenha me visto em algum jornal, sou detetive da Scotland Yard e alguns de meus casos costumam aparecer nas páginas dos jornais de Londres.

- Pode ser que sim, mas já vi você em algum lugar.

- O senhor faz o quê da vida, se é que pode me dizer.

- Sou um dos sócios do Instituto de Pesquisa de Répteis, na verdade sou o sócio fundador.

- Então o senhor conhecia o Dr. Charles?

- Sim, um grande amigo e sócio, que Deus o tenha em sua misericórdia.

- Eu estive no Instituto um dia antes de sua morte, conversei com ele sobre o irmão e conheci um rapaz que trabalha com serpentes, seu nome é Thomas, o senhor deve ter me visto por lá.

- Com certeza deve ser de lá que conheço você, mas o que queria saber sobre serpentes?

- Na verdade é sobre o veneno, estou no meio de uma investigação que envolve serpentes, não posso dar muitos detalhes se é que o senhor me entende.

- Entendo perfeitamente, nossas profissões exigem um cuidado especial com as informações.

- O senhor sabe se o Dr. Charles tinha inimigos, ou se sofria algum tipo de ameaça?

- Que eu saiba não, Charles era uma pessoa muito reservada, mas não tinha inimigos, mas por que a pergunta detetive?

- A morte do Dr. Charles pode ter ligação com a de seu irmão, não posso dizer mais do que isso.

- Mas você está querendo dizer que os dois foram assassinados?

- Tudo indica que sim, mas, por favor, não comente com ninguém, se isso se espalhar pode complicar as investigações.

- Não se preocupe comigo, sou uma pessoa de palavra e prometo não comentar nada com ninguém, eu sei de algo que pode ajudar você.

- O que seria senhor Roger? Perguntei curioso.

- Lembrei de um rapaz que trabalhou no instituto, mais ou menos um ano atrás, era um rapaz bem estranho e quieto, adorava cobras e todo tipo de répteis, mas não gostava muito de receber ordens. Tivemos que demiti-lo por causa de um episódio bem estranho.

- O que aconteceu?

- Foi em uma sexta-feira, já no final do expediente, alguém viu colocando uma Naja em uma sacola e avisou a segurança, quando ele saiu da sala os guardas revistaram sua mochila e encontraram a serpente, ele foi demitido na hora, ele ficou muito bravo e jurou se vingar de todos que trabalhavam ali, era um rapaz cheio de problemas, vivia com a avó doente, não tinha amigos e nem namorada, mas era muito inteligente, uma pena ele ser demitido, pois tinha muito potencial.

- O senhor acha que ele seria capaz de matar alguém?

- Às vezes falamos certas coisas  de cabeça quente, se ele seria capaz de matar eu não sei, mas pode ser que ele conheça alguém que se encaixe nesse perfil, algum amigo em comum talvez e que goste das mesmas coisas, que se interesse por cobras, é um palpite.

- O senhor sabe onde ele mora?

- Posso conseguir o endereço nos arquivos do Instituto, você pode passar por lá amanhã, que deixo com a recepcionista.

- Fico muito agradecido pela sua ajuda.

- Não tem problema, fico feliz em ajudar.

- O senhor não está preocupado com tudo que está acontecendo, essas mortes com pessoas que são do seu circulo de amizades?

- Na verdade não, já vivi bastante para saber que cada dia pode ser nosso último, tenho um negócio bem sucedido e posso desfrutar de uma vida longa e feliz, se tiver que acontecer algo, estou preparado.

- Mas não é algo que acontece todo dia, não estamos falando de um acidente ou uma doença mortal, estamos lidando com um serial killer que mata de forma cruel e se o senhor estiver no seu caminho pode vir a morrer, se o senhor concordar posso colocar um policial para vigiar sua casa.

- Não é necessário meu amigo, estou bem e minha casa é bem protegida, não moro sozinho, meu sobrinho mora comigo, ele é um jovem atlético e muito inteligente.

- Eu entendo, mas se o senhor não se sentir em segurança pode entrar em contato comigo.

- Por quê? Você acha que estou correndo perigo de vida?

- É apenas um palpite, não sei ainda qual é a intenção desse assassino, se é algum tipo de vingança ou ele quer algo mais.

- Por que você o considera um serial killer?

- Ele está seguindo um padrão, usa o mesmo método e não são mortes aleatórias, ele está querendo deixar uma mensagem.

- Como Jack o estripador?

- Jack era mais brutal, mais direto, esse tipo é diferente de tudo que já vi, é inteligente e gosta de assistir sua vítima morrer, talvez isso lhe dê prazer...

- Bom Eddie preciso ir agora, passe amanhã no Instituto que vou deixar com a recepcionista o nome e endereço desse antigo funcionário, foi um prazer conhecer você.

- Obrigado senhor, igualmente.

 

Capítulo 6 - Adoradores de serpentes

 

No dia seguinte passei na cafeteria e comprei um café para viagem, estava com pressa de chegar ao Instituto, acordei com uma sensação boa nessa manhã.

Ao chegar à recepção a atendente me cumprimentou sorrindo.

- Bom dia senhor Mase, tenho um envelope para o senhor, em nome do Dr. Roger White.

- Ele não disse mais nada? Perguntei.

- Não senhor, apenas pediu para entregar o envelope.

Eu abri com certa pressa e quase rasguei o documento, ela me olhou o sorriu encabulada.

- Albert T. Weiz, 28 anos mora em Townville, Rua Silver nº 168, você sabe onde fica esse lugar?

- É um pouco afastado da cidade, é um pequeno vilarejo perto das montanhas.

- E como chego até lá? Perguntei.

Estava perdido, nunca tinha ouvido falar desse lugar.

- O senhor pode ir de carro, mas leva 1h40 min. até lá, ou pegar o trem e descer na última estação e caminhar mais ou menos 30 minutos até chegar à cidade.

- Deus é longe mesmo!...

- Como eu disse ao senhor é um pouco afastado da cidade, acho que seria melhor ir de carro.

- Com certeza, obrigado pela sua ajuda e tenha um bom dia.

- Se precisar vou estar aqui, boa viagem.

O motorista me cobrou 30 libras pra me levar e trazer de volta, achei um absurdo, mas ele não queria negociar, disse que o preço era justo por causa da distância. Tive que concordar apesar de me sentir roubado, saímos da cidade e entramos em uma estrada de terra com montanhas e muitos campos, me senti em outro mundo.

Como alguém pode morar em um lugar no meio do nada pensei.

Ao chegar, notei que havia poucas casas, as pessoas na rua ficaram olhando para o carro com desconfiança, pedi para parar o táxi e me dirigi a um senhor que estava sentado descascando milho, ele me olhou com cara de poucos amigos quando o cumprimentei.

- Bom dia senhor, procuro a Rua Silver nº 168, estou à procura de um rapaz chamado Albert o senhor o conhece?

- Só existe uma rua por aqui e é onde você está agora, Você procura o rapaz que gosta de cobras? Ele mora na última casa à esquerda, é a verde com janelas brancas.

- Muito obrigado...

- O que você quer com ele, não recebemos muitos estranhos por aqui, você é de onde?

-Da cidade senhor, sou detetive e me chamo Eddie Mase.

- Ele fez algo de errado?

- Não senhor, só quero conversar com ele sobre seu último emprego, apenas rotina e se me der licença preciso ir, tenha um bom dia.

Entrei no táxi, enquanto ele ficava me encarando como se eu fosse um criminoso.

Chegamos a casa por ele indicada, o lugar estava quieto, então bati palmas e esperei. Uma senhora apareceu na porta com ar de desconfiança, as pessoas aqui são desconfiadas ou eu pareço um criminoso mesmo, pensei.

- Bom dia Senhora, me chamo Eddie Mase policia de Londres, desculpe vir sem avisar, mas estou procurando um rapaz chamado Albert, ele mora aqui?

- Sim ele é meu neto, ele fez algo de errado para o senhor estar querendo falar com ele?

- Não Senhora, queria apenas fazer algumas perguntas.

- Que tipo de perguntas?

- Não posso dizer Senhora, é referente ao seu último emprego. Posso entrar e falar com ele?

- Entre rapaz e fique à vontade, você quer um chá?

- Não Senhora, seu neto está em casa?

- Sim, ele está lá nos fundos com seus animais, ele fica lá o dia inteiro e eu quase não o vejo, vou chamá-lo.

Depois de alguns minutos ela retornou sozinha, disse que ele já estava vindo, se sentou em uma poltrona e serviu uma xícara de chá, em seguida Albert entrou na sala e parou me encarando como se já me conhecesse, vestia um macacão azul e usava óculos de grau, era magro e parecia nervoso, pois começou a esfregar as mãos sem parar.

- Não repare senhor Mase, ele tem um problema de atenção por isso fica nervoso e mexe as mãos sem parar.

- Esse é o detetive Eddie Mase, ele quer falar como você. Dirigiu-se a Albert com voz cansada e trêmula.

- O que você quer comigo, estou sendo preso? Perguntou com nervosismo em sua voz.

- Não Albert, são apenas perguntas de rotina, você pode se sentar? Perguntei apontando para uma poltrona ao lado.

Ele se sentou e continuou mexendo em suas mãos.

- Que perguntas, o que eu fiz?...

- Nada meu rapaz, não se preocupe. Ele parecia tímido ao falar, quase gaguejando às vezes.

- Então por que você está aqui?

- Você trabalhou no Instituto de pesquisa de Répteis, correto?

- Sim trabalhei, mas fui demitido injustamente.

-Você roubou uma cobra Naja, isso é crime.

- Eu não roubei, peguei emprestado.

-Por quê?

- Eu queria cruzar com um macho que tenho em casa, eu iria devolver depois do final de semana, mas eles não quiseram me escutar.

- Ele é um bom rapaz detetive, apenas tem problemas de atenção. Disse a avó.

- Entendo Senhora, mas perante a lei isso ainda é considerado um crime.

Albert parecia mais nervoso, começou a balançar as pernas e olhar para o teto da sala, estava quase fora de si quando me dirigi a ele.

- Você tem muitos animais aqui Albert? Ele me olhou e sem dizer nada se levantou da poltrona bruscamente, então disse com voz trêmula e nervosa.

- O senhor, não veio levar meus animais, eles são meus, paguei por eles.

Estava nervoso e começou a andar de um lado a outro até que sua avó gritou com ele.

- Albert, sente-se agora e aja como uma pessoa normal. Ele olhou para ela e sem dizer nada se sentou em silêncio.

- Albert meu amigo, eu não vim aqui para levar seus animais, só preciso que você me ajude respondendo algumas perguntas, apenas isso e vou embora.

- Viu querido? Ele só quer conversar. Disse a avó.

-Albert você pode me mostrar seus animais, gostaria de conhecê-los se não se importar.

A expressão em seu rosto mudou no momento que terminei a frase, parecia até sorrir.

- Claro que sim, vamos até aos fundos, eles ficam em um galpão, a senhora vem vovó?

- Não querido, vou terminar meu chá e está frio lá fora.

Quando saímos da porta notei um pequeno galpão de madeira, estava velho e tinham alguns furos na madeira, o pátio estava sujo e cheio de caixas empilhadas. Eu entrei depois de Albert e o que vi me deixou de queixo caído, várias caixas de vidro com cobras, lagartos e algumas aranhas, algumas tinham pequenos ratos de laboratório. Ele sorria feito uma criança, parecia outra pessoa mais confiante e ate parou de gaguejar.

- Aqui estão meus bebês detetive. Disse ele sorrindo.

- Nossa é uma bela coleção de animais!

- Não é uma coleção detetive, eles são minha família. Assustou-me o que disse.

- Onde você conseguiu todos esses animais, as cobras em particular?

- Tenho um amigo na cidade, o conheci quando trabalhei no Instituto, era ele que trazia os répteis para as pesquisas.

- E esse amigo tem nome?

-Sim, ele se chama Jeffrey, somos adoradores de serpentes. Sorriu com sarcasmo no olhar.

- Você sabe onde ele mora, ou se ele ainda leva animais para o Instituto?

- Não sei onde ele mora, mas é melhor você perguntar para Susie ela conhece bem ele.

- Susie a recepcionista?

- Sim ela mesma, os dois já saíram juntos algumas vezes.

- Você costuma ir à cidade com freqüência Albert?

- Nunca senhor, depois que fui demitido, vim morar com minha avó e nunca a deixo sozinha.

- Então seu amigo vem até aqui para trazer os animais?

- Antes ele vinha, mas agora já faz um bom tempo que não aparece.

- Você saberia o motivo desse sumiço?

- Não detetive, é bem estranho, pois estou ficando sem ratos para dar de comida às cobras.

Albert pegou um pequeno rato e começou a acariciar sua cabeça, em seguida o jogou dentro de uma das caixas de vidro onde estava uma cobra marrom, pediu que ficasse olhando. O rato tentou se esconder, mas a cobra com um bote o agarrou em sua boca e o devorou em segundos.

Fiquei em choque ao ver aquilo, é algo assustador de se ver.

- Isso se chama cadeia alimentar, o forte sobrevive devorando o mais fraco é lindo quando a natureza dos animais nos mostra sua verdadeira face.

- Não estou acostumado com isso Albert, mas você tem razão, a natureza segue seu curso.

- Você tem algum animal de estimação detetive?

- Não tenho tempo pra cuidar de um animal, não consigo nem cuidar de mim.

- Eu poderia lhe dar uma de minhas cobras, o que você acha?

- Não obrigado, são lindas, mas perigosas demais para mim, me diga Albert seu amigo Jeffrey é uma pessoa fácil de conviver?

- Sim claro, por que a pergunta?

-Estou no meio de uma investigação e gostaria de fala com ele...

- Ele é suspeito de algo?

- Não, mas ele pode vir a ser, todos são suspeitos até que se prove o contrário.

- O que o senhor quer de mim, eu disse tudo que sei, por que veio até aqui?

- Rotina, apenas isso e você me ajudou muito Albert. Agora tenho que ir, mas se precisar de você entro em contato.

- Estarei aqui detetive e pense a respeito do que eu disse sobre ter um animal em casa, cobras são amigas fiéis pense a respeito.

Fiz um aceno com a mão e agradeci a sua avó pela hospitalidade, ela me pediu desculpas pelo comportamento de seu neto e me desejou um bom dia.

Queria sair daquele lugar o mais rápido possível, entrei no táxi e disse ao motorista para não parar até chegar à cidade.

 

Capítulo 7 - A Víbora de Russell

 

Ao chegar à cidade fui direto para casa, aquela conversa sobre cobras e aquele ambiente me fez muito mal, desejei nunca mais ter que voltar lá. Agora outro nome surgia em meu caminho Jeffrey, o tal amigo de Albert, qual ligação ele teria com as vítimas e seria ele um suspeito? Dúvidas que rondavam minha cabeça, serpentes e veneno... por que usar algo tão cruel, qual motivação faria alguém matar de forma tão fria?  

Roger White o senhor que me encontrou no café, quem ele é realmente, seria ele a próxima vítima? Mais perguntas sem respostas.

Na manhã seguinte acordei cedo novamente e resolvi passar na delegacia para atualizar o Comissário sobre a investigação.

Ele estava em sua sala comendo rosquinha e tomando café, dessa vez não teria nenhuma surpresa na hora de seu café, apenas alguns fatos ainda a serem investigados.

- Bom dia Comissário, posso entrar. Bati na porta e esperei.

- Eddie meu amigo, entre e fique à vontade. Alguma novidade no caso das serpentes?

- Nada de concreto ainda, tenho um novo suspeito, mas não posso dizer nada ainda, preciso encontrá-lo primeiro.

- E quem é esse tal suspeito.

- Ele se chama Jeffrey e é encarregado de trazer os animais para o Instituto, é um tipo de mercador de répteis.

- E onde ele está agora?

- Não sei ainda senhor, mas conheço alguém que sabe, Susie a recepcionista do Instituto o conhece bem, talvez os dois até tenham um caso, mas isso vou descobrir. Conheci ontem pela manhã o senhor Roger White que é sócio fundador do Instituto de Répteis, ele foi bem simpático e se mostrou prestativo na investigação, ele me levou até outro rapaz que não sei ainda se é um suspeito, mas acho que ele é apenas uma pessoa doente e solitária, vive em um lugar afastado e adora répteis, mora com a avó.

- Algum deles é suspeito Eddie?

- Não senhor, mas acho que o senhor White sabe de algo mais, vou investigar.

- Bom Eddie, o que vai fazer hoje?

- Vou voltar ao Instituto e falar com Susie sobre Jeffrey, acho que todo esse mistério está de alguma forma ligada ao Instituto.

- Boa sorte Eddie, e me mantenha informado.

Ao sair da delegacia senti uma sensação estranha, parecia que algo iria acontecer. Pedi ao motorista do táxi para ir o mais rápido possível.

Enquanto Eddie se dirigia ao Instituto uma encomenda era entregue em nome de Roger White, uma caixa de papelão sem remetente apenas com o endereço do destinatário.

Susie recebeu a encomenda e se dirigiu até a sala do senhor Roger White, bateu na porta e entrou educadamente.

- Com licença senhor White, chegou essa encomenda para o senhor, mas não tem remetente.

- Pode deixar aqui na minha mesa Susie, obrigado.

- O senhor precisa de algo?

- Não obrigado, pode ir.

Ele olhou para a caixa e balançou um pouco, algo fez barulho, mas ele não se importou, pegou um estilete e começou a abrir, puxou as abas para o lado e dentro tinha um tipo de papel de jornal tapando o conteúdo, quando tirou todo papel, algo saltou em seu rosto com uma velocidade fora do normal fazendo com que ele jogasse o corpo para trás caído da cadeira no chão, sentia uma dor aguda em seu rosto, ele tentou se levantar colocando a mão na mesa, foi então que viu a caixa virada e a cobra que agora estava à vista o atacou com mais violência pela segunda vez, acertando um bote preciso em sua mão, ele caiu de novo no chão e tentou se arrastar até a porta queria gritar, mas a voz não saia, a dor começou a aumentar e já não conseguia respirar direito, começou a vomitar e em seguida desmaiou. Eddie entrou no Instituto às pressas, olhou para Susie e quase sem fôlego perguntou.

- Está tudo bem por aqui, aconteceu algo de diferente do normal?

- Calma senhor Eddie, recobre seu fôlego, o que o senhor tem hoje, parece preocupado? Está tudo bem por aqui, fique tranqüilo.

- O senhor White está por aqui, ele está bem?

- Está por quê? Acabei de entregar uma encomenda em sua sala, ele estava bem.

- Que encomenda?

- Uma caixa de papelão sem remetente.

- Quanto tempo faz isso Susie?

- Uns 45 minutos mais ou menos...

- Preciso ir até a sala do Dr. White, onde fica?

- Eu levo o senhor até lá, mas se acalme ou vai ter um ataque do coração.

- Rápido não temos tempo.

Eddie estava quase correndo, quando chegou à sala do Dr. White, abriu a porta rápido e ao ver o corpo no chão se abaixou e tocou em seu pescoço para ver se ainda estava vivo.

 -Morto, morto, disse ele.

- Meu Deus. Gritou Susie.

- Onde está a caixa Susie?

- Na mesa, senhor Mase.

Eddie se aproximou lentamente da caixa, pediu que Susie se afastasse e tocou na caixa com a bengala virando a parte aberta em sua direção, a serpente estava encolhida pronta para o bote.

- É uma cobra Susie, chame Thomas agora e diga que temos uma serpente solta na sala do Dr. White, vá Susie corra.

Susie saiu às pressas em direção a sala de exames e batendo na porta em desespero, chamou por Thomas.

-O que foi Susie? Você está pálida.

- Ele está morto... Uma cobra na sala, rápido venha... Não conseguia falar direito, o que deixou Thomas sem saber ao certo o que tinha acontecido.

Ao entrar na sala, Thomas viu Eddie parado com sua bengala apontada em direção à caixa, olhou para o chão e viu o Dr. White caído sem vida.

- O que aconteceu Eddie?

- Thomas tem uma serpente na caixa, ela matou o Dr. White, faça algo estou nervoso e não sei o que fazer, estou congelado nessa posição há alguns minutos.

- Calma, dê um passo para trás lentamente e não faça nenhum movimento brusco.

Eddie se moveu lentamente para trás e deu um suspiro de alívio, Thomas tomou à frente e disse:

- É uma víbora de Russel, muito perigosa e agressiva, Susie vá até minha sala e pegue um gancho e um saco marrom que está na minha segunda gaveta, vá rápido.

Susie voltou em alguns minutos, estava tão pálida que parecia que iria desmaiar, Eddie pediu que ela voltasse à recepção e ficasse por lá.

- Vá para a recepção Susie e tome um copo de água, você está quase desmaiando.

Thomas se aproximou da caixa e a víbora deu um bote, mas errou o alvo, acertando o ar com uma bela mordida, ele aproveitou e a encurralou com o gancho e pressionando seu corpo a puxou para fora da caixa, pediu que Eddie abrisse o saco e em seguida a jogou dentro, rapidamente fechou e deu um nó.

- Pronto detetive, estamos seguros agora.

- Tem certeza Thomas? Perguntei.

- Sim, ela não pode nos ver, por isso está calma e se sente segura, as cobras só atacam quando se sentem ameaçadas.

-Você pode levar ela daqui, não vou conseguir me concentrar com ela por perto.

- Claro que sim, vou levá-la ao laboratório e se precisar de mim é só chamar.

- E Thomas, não diga nada a ninguém por enquanto.

- Pode deixar detetive.

-E diga a Susie para entrar em contato com o Comissário, por favor, diga que estou aqui e preciso de alguns homens no local.

Em menos de uma hora o local estava cheio de policiais, o legista chegou um pouco depois e foi conversar com Eddie.

- O que temos aqui detetive.

- Um ataque de cobra, alguém enviou uma caixa com uma víbora dentro e ao abrir ele foi atacado no rosto e na mão direita, quando entrei na sala ele já estava morto.

- Outra morte envolvendo cobras, isso está virando rotina detetive.

- Alguém está usando serpentes venenosas para matar, alguém inteligente a ponto de não entrar aqui, pois seria reconhecido, dessa vez ele teve que mudar o método e usou a serpente, ele não pode ver a vítima morrer, mas sabe que o serviço seria feito, com ele não há falhas.

- Bom, só vou saber exatamente a causa da morte depois da autópsia.

- Você não precisa de uma autópsia, morte por veneno de cobra eu estava aqui e se não fosse por Thomas eu teria o mesmo fim do Dr. White.

- Mesmo assim preciso de um laudo de necropsia detetive, não posso liberar o corpo sem dizer exatamente do que ele morreu, nesse caso já sei que é falência dos órgãos por causa do veneno, e ele foi picado por duas vezes, ninguém poderia salvá-lo a tempo.

- Entendo, vou deixar você fazer seu trabalho, preciso falar com Susie sobre o tal entregador, ele deve saber quem enviou a caixa.

Eddie se dirigiu à recepção e encontrou Susie chorando, ainda estava muito abalada com tudo que tinha visto, era uma moça frágil e ele não tinha certeza se ela conseguiria falar com ele, pois seu estado era de muito nervosismo e medo.

- Susie você está bem?

- Um pouco melhor detetive...

- Você pode conversar comigo um pouco?

- Sim posso.

- Se não estiver se sentindo bem, podemos nos falar amanhã.

Ela sorriu com os olhos cheios de lágrimas e concordou novamente em falar com Eddie.

- Estou bem, estou bem, não se preocupe.

- O rapaz que entregou a caixa ele se identificou, ou disse algo mais, um nome que você se lembre, de onde ele era e quem tinha enviado o pacote?

- Não detetive, ele era um rapaz normal.

- O que ele vestia, tinha alguma identificação em sua roupa?

- Não, ele vestia um boné e casaco marrom, mas tinha as unhas das mãos sujas de terra, foi só o que notei.

- Unhas sujas de terra, é alguém que trabalha com jardinagem, você reconheceria ele se o visse de novo?

- Sim com certeza.

-Tem outra coisa que preciso perguntar a você, você conhece um rapaz chamado Jeffrey?

- Sim conheço, por quê?

- Eu preciso falar com ele, e fiquei sabendo que ele fornece répteis ao Instituto, isso é verdade?

- Sim é verdade, mas já faz uma semana que ele não aparece por aqui.

- Você sabe onde ele mora?

- Não senhor, eu apenas sai com ele uma única vez para tomar um café, converso com ele quando vem até aqui é um bom rapaz, mas não sei muito a seu respeito ele é muito quieto, mal trocamos algumas palavras durante o café.

- Obrigado Susie, se precisar de você entro em contato, por que não vai para casa descansar?

- Acho melhor ficar aqui, em casa fico sozinha, é pior, mas obrigado pela preocupação.

- Se cuide Susie...

Quando Eddie estava saindo pela porta, Susie o chamou, tinha lembrando-se de algo sobre o entregador.

- Diga Susie o que foi?

- Me lembrei de um detalhe sobre o entregador, ele tem uma tatuagem de coração na mão direita.

- Obrigado Susie, se cuide.

 

Capítulo 8 - Um encontro quase mortal

Resolvi caminhar um pouco e colocar meus pensamentos em ordem, talvez o tal entregador não trabalhe em casa e sim em uma floricultura, preciso saber se existe aqui por perto alguma loja, preciso encontrá-lo o mais rápido possível antes que aconteça outro crime.

Se não me engano na Rua 35 perto do Hospital Central existe uma loja que vende flores, e fica a menos de 1 hora do instituto, preciso pegar um táxi.

Um estava parado próximo ao Instituto algo que não é comum em Londres. Eddie apressou o passo e se dirigiu ao motorista perguntando se ele estava livre, o homem com uma aparência estranha vestindo chapéu e com uma cicatriz no rosto afirmou que sim, Eddie entrou no carro e pediu que o levasse a Rua 35 Perto do Hospital, o motorista se dirigiu a ele educadamente.

- Alguma emergência médica senhor?

- Não, preciso visitar um local nas redondezas.

- Poderia ser mais especifico.

- É uma floricultura, mas não sei o nome talvez você conheça.

- Sim eu sei onde fica, o nome é The Flower Home, alguma ocasião especial, vai comprar um buquê para sua esposa ou namorada?

- Não sou casado, vou visitar um amigo que trabalha no local.

- Entendo, você quer um bombom? Tenho um saco cheio deles e são deliciosos, minha esposa que fez, ela é muito boa com doces, prove um.

Ao parar em cruzamento se virou e pediu que Eddie pegasse um bombom de dentro do saco.

- Vamos pegue um, não faça cerimônia pegue quantos quiser, é uma cortesia.

Eddie aceitou por educação e colocou a mão dentro do saco, em seguida sentiu que algo o mordeu com violência, tirou a mão rapidamente e começou a sentir uma dor insuportável, sua mão estava sangrando, o homem o encarou com um sorriso no rosto e disse.

- Você foi picado por uma cobra marrom meu amigo, você tem menos de 1 hora para tomar o antídoto se não vai morrer agonizando.

Finalmente nos encontramos detetive, sou eu quem você procura o adorador de serpentes.

Eddie estava com tanta dor que não conseguia falar, estava tonto e com ânsia de vômito, o carro parou em frente ao Hospital, o assassino desceu e tirou Eddie o colocando na calçada, em seguida falou em tom de alerta.

- Esse é o último aviso detetive, se você cruzar meu caminho novamente vai morrer, diga a eles que foram picados por uma cobra marrom eles tem o antídoto, desejo melhoras.

O táxi saiu em disparada, algumas pessoas que estavam passando ajudaram Eddie a entrar no hospital, estava fraco e a ponto de desmaiar. Depois de dois dias inconsciente ele despertou, ao abrir os olhos a primeira pessoa que viu foi o Comissário sentado em uma cadeira ao lado da cama.

- Você voltou meu amigo, pensei que não iria conseguir.

- Foi por pouco Comissário.

- Como se sente Eddie?

- Parece que fui atropelado por uma manada de elefantes.

- Os médicos disseram que você foi picado por uma cobra marrom.

- Eu sei Comissário, eu estava lá cara a cara com o assassino, ele armou uma cilada, mas agora conheço seu rosto e ele não pode se esconder.

- Onde você o encontrou Eddie?

- Ele se passou por um motorista de taxi, devia estar me observando de longe, ele é muito inteligente, é a segunda vez que tenta me matar, mas desta vez ele me salvou...

- Salvou como assim? Você quase morreu Eddie.

- Foi ele que me deixou na frente do Hospital, ele queria me passar uma mensagem, disse que era a última vez que eu cruzaria seu caminho, e na próxima eu iria morrer.

- Deus Eddie, ele é um psicopata.

- Ele sabia que eu estava indo ver o rapaz que entregou a caixa com a serpente que matou o Dr. White.

- Você conseguiu ver o rosto dele Eddie?

- Um pouco, ele usava um boné, mas sei que tem uma cicatriz no rosto, ele ficou de frente para mim, mas eu estava com tanta dor e enjoado que só vi um vulto, lembro que sua voz era rouca e ele falava baixo e tranquilamente.

- O rapaz que você estava indo ver, ele corre perigo?

- Talvez Comissário, se ele sabe onde o assassino mora, com certeza já deve estar morto.

- Onde fica esse lugar, qual o nome do rapaz?

- É uma floricultura perto daqui, o nome é The Flower Home, não sei o nome do rapaz, apenas sei que ele tem uma tatuagem de coração na mão direita.

- Vou mandar dois policiais até lá agora.

- Talvez seja tarde demais...

- É o que vamos descobrir, preciso ir Eddie, mas volto pela manhã meu amigo, descanse.

- Obrigado Comissário.

Na manhã seguinte Eddie já estava de pé, tomou café e se sentia bem melhor, sua alta do Hospital seria no inicio da tarde. Queria falar com o Comissário e saber sobre o rapaz da tatuagem. Uma enfermeira entrou no quarto para medir os sinais vitais de Eddie, sua alta seria em algumas horas e precisava ter certeza que estava bem.

- Bom dia senhor Mase, como se sente hoje?

- Um novo homem, nasci de novo enfermeira.

- Com certeza, preciso tirar sua pressão e ver seu batimento cardíaco, o médico vai falar com o senhor em alguns minutos.

- Está tudo bem com o senhor, se precisar de mim aperte o botão vermelho.

- Obrigado.

O médico entrou na sala em seguida, Eddie estava olhando pela janela e ao ver o médico sorriu.

- Bom dia Doutor, acredito que o senhor veio me dar alta.

- Não tão depressa senhor Mase, sua alta é para depois do almoço.

- Posso esperar mais algumas horas, três dias nesse hospital fez parecer uma década.

- Entendo senhor Mase, têm dias que quero ir embora e não voltar, mas o seu caso foi muito grave e você teve sorte de eu estar em frente ao Hospital.

- Na verdade fui deixado aqui de propósito.

- Pura sorte senhor Mase, mas agora está tudo bem com você, vou assinar sua alta para ás 12h15, se sentir qualquer tipo de desconforto como enjôo ou dor da cabeça volte aqui.

- Obrigado Doutor, tenha um bom dia.

- Você também senhor Mase e se cuide.

Capítulo 9 - O homem da tatuagem

 

Após a alta do hospital fui direto para casa, queria tomar um café e relaxar um pouco antes de seguir em frente, de todos os casos que investiguei até agora esse é o que mais está me dando problemas, quase morri duas vezes e ainda não peguei o assassino, a minha esperança é que tenham encontrado o rapaz da tatuagem, quem sabe ele pode me levar até o assassino.

Preciso ir à delegacia falar com o Comissário, antes que mais alguém morra, não sei, mas algo me diz que ele não parou no senhor White.

O comissário ficou surpreso em me ver de pé e com saúde, pensou que eu iria ficar uns dias fora para me recuperar por completo.

- Eddie meu amigo o que faz aqui? Você deveria estar em casa descansando.

- Já descansei demais no Hospital Comissário, estou bem, encontrou o rapaz da tatuagem?

- Ele não estava lá Eddie, mas descobrimos onde ele mora.

- E foram até sua casa? Peguntei.

- Sim, mas não o encontramos.

- Deus, ele deve estar morto a essa hora.

- Calma Eddie, ficamos sabendo que ele pediu dois dias de folga no trabalho para tratar de um assunto familiar.

- Então há esperança de que ele esteja vivo.

- Sim com certeza meu amigo, coloquei um policial vigiando sua casa e outro na floricultura, se ele aparecer seremos informados.

Eu estava em minha mesa revendo alguns detalhes dos crimes, quando o inspetor Watson entrou na sala do Comissário, parecia agitado gesticulando com as mãos, o Comissário me olhou e fez sinal pra eu ir até sua sala.

- Novidades Comissário, boa tarde inspetor como tem passado.

- Bem Eddie, tenho novidades sobre o rapaz da tatuagem.

- Vocês o pegaram? Perguntei.

-Sim, ele está sob custodia de meus homens, logo vai estar aqui.

- Que boa notícia inspetor!

- Eu imaginei que você iria ficar contente, mas me diga meu amigo, você não deveria estar em casa descansando?

- Estou bem inspetor, já descansei demais por três dias e não vou sossegar até pegar o homem das serpentes.

- Homem das serpentes, quem deu esse nome a ele?

- Não é um nome senhor, é um apelido devido a quantidade de serpentes que estão cruzando meu caminho.

- Você é bem criativo senhor Mase.

-Eddie teve três encontros quase mortais com serpentes inspetor.

- Eu fiquei sabendo, você teve sorte meu rapaz.

- Não diria que é sorte, por falar nisso onde está minha bengala, o senhor a viu Comissário?

- Sim Eddie, está na sala de achados e perdidos, sua amiga Susie a trouxe no dia que você foi para o hospital, você a esqueceu na sala do Dr. White.

- Graças a Deus, ela já salvou a minha vida uma vez. Tinha tom de alívio na voz.

O Comissário coçava seu bigode olhando para Eddie como se pensasse em algo para dizer.

- Eddie meu amigo, estive pensando agora, quem assumiria o Instituto já que os três sócios estão mortos?

- Boa pergunta senhor, não havia pensado nisso.

- Algum membro da família talvez?...

-Não sei senhor, mas quem sabe a senhora Carmem, esposa do Dr. Jonathan poderia assumir, pois eles não têm filhos, acho improvável, ela é uma mulher idosa e não entende nada sobre vacinas e répteis, o Dr. Charles não tinha família, não sei nada sobre o Dr. White ainda, mas vou investigar.

- Eu conhecia o Dr. White, ele frequentava o mesmo clube que jogo pôquer às sextas-feiras, ele é divorciado e a mulher e filha moram na Suíça. Disse o Comissário.

- Então temos três herdeiros e se esses crimes foram encomendados por uma dessas mulheres Comissário?

- É uma possibilidade Eddie, mas você só vai saber se pegar o assassino.

- Posso dar um palpite? Perguntou o inspetor.

- Claro que sim inspetor, fique à vontade para falar.

- Acho que isso tudo se trata de vingança, é muito pessoal esse método que ele usa para matar, se fosse um crime encomendado ele seria mais direto, ele gosta do que faz e sente prazer quando mata, ele é cruel e frio.

- Concordo inspetor, ele não se daria ao trabalho de usar serpentes se não fosse algo que o inspira e dá prazer, ele quer que suas vítimas sofram.

Eddie concordou com as palavras do inspetor, pois sabia que estava lidando com alguém perigoso e muito inteligente.

-Também concordo com vocês, é muito pessoal o que ele faz, mas por que não sabemos ainda. Disse o Comissário enquanto coçava o bigode novamente.

Houve um pequeno silêncio entre os três naquele momento, até que um dos policiais bateu na porta para informar que o jovem da tatuagem já estava na delegacia.

- Com licença senhor Comissário, o rapaz da floricultura está na recepção.

- Pode trazê-lo até a minha sala, por favor.

Dois policiais entraram na sala com o rapaz que parecia bem assustado, o Comissário pediu para ele se sentar e os policiais se retiraram.

-Pode sentar rapaz, fique à vontade.

-O que estou fazendo aqui, por que estou sendo preso? Perguntou assustado.

- Você não está preso, apenas queremos fazer algumas perguntas, o detetive Eddie Mase vai conduzir o interrogatório.

- Qual é seu nome rapaz?

- Oliver senhor

- O que significa essa sua tatuagem Oliver?

- É sobre amor detetive, um amor que ainda vou encontrar.

- Entendo, você não imagina por que está aqui?

- Não senhor, por quê?

- Quem pediu para você entregar uma caixa no Instituto de Répteis para o Dr. Roger White? E por que você especificamente já que trabalha em uma floricultura?

- Eu faço entregas nas minhas horas vagas, por isso fui enviado até lá.

- Qual o nome dessa pessoa que contratou você?

- Ele não me disse seu nome detetive, ele foi até a floricultura e pediu que eu entregasse a caixa em certo horário apenas isso, ele me pagou 100 libras.

- E como ele era, você conseguiu ver seu rosto?

- Sim eu o vi perfeitamente, ele usava um boné e tinha uma cicatriz no rosto, sua voz era calma e grave, ele foi bem simpático comigo.

- É o nosso homem Comissário, o homem que tentou me matar no taxi.

- Eu fiz algo errado senhor, vou ser preso? Perguntou quase com lágrimas nos olhos.

- Não Oliver, na verdade você está nos ajudando. Disse o Comissário.

- Você não viu para onde ele foi depois, se pegou um táxi ou saiu andando?

- Não o vi depois que falei com ele, mas acho que ele foi andando em direção a East Side.

- Ele deve ser da região Comissário, por que iria à floricultura se não soubesse que Oliver faz entregas, alguém deve ter visto ele por lá, ele não pode ser um fantasma a ponto de ninguém o conhecer. Disse o inspetor com convicção.

 - Tem certeza de que nunca o viu antes?-Perguntou Eddie.

- Tenho certeza, eu lembraria de sua cicatriz no rosto.

- Muito bem Oliver, você está liberado para ir, disse o Comissário.

- Mas não saia da cidade, talvez eu ainda precise de você no futuro. Disse Eddie chamando sua atenção.

- Sim detetive, se precisar estou à disposição.

Após Oliver sair da sala o Comissário pediu para Eddie fechar a porta, pois queria conversar a sós com ele, o inspetor já tinha saído junto com os policiais, o Comissário nunca tinha fechado sua porta para falar com alguém, Eddie estava curioso.

- O que aconteceu Comissário, qual o problema?

-Não quero que ninguém escute nossa conversa, é algo que preciso que você faça sem ninguém saber.

- O que está incomodando o senhor?

- Esse rapaz Oliver sabe de alguma coisa, acho que ele conhece o assassino e talvez alguém aqui de dentro esteja passando informações para ele, veja bem Eddie como o assassino saberia que você estava indo ver Oliver naquele dia, alguém está passando informações.

- Faz sentido Comissário, o que o senhor quer que eu faça a respeito disso?

- Quero que siga Oliver, que fique de vigia na floricultura e o siga toda vez que ele tiver que sair.

- Por que o senhor acha que ele está ajudando o homem da cicatriz?

- Ele chegou muito nervoso, depois que viu que não era suspeito, sua atitude mudou, no meu entender ele estava representando um personagem, ele queria nos confundir.

-Entendo Comissário, eu cheguei a pensar que ele estava mentindo, mas vou ficar de olho nos seus movimentos.

 

Capítulo 10 - Ninho de cobras

 

Ao sair da sala do Comissário passei no achados e perdidos e recuperei a minha bengala, um acessório que eu não tinha a intenção de deixar de levar comigo nunca mais, fui direto à Rua 53, para minha sorte no outro lado da rua existia um café, me sentei perto da janela e podia ter uma boa visão da floricultura, não teria como ele sair sem ser visto, pedi um café com uma torta de maçã e fiquei observando.

Eu já estava começando a ficar irritado, pois o tempo passava e nada de Oliver aparecer, foi então que a porta se abriu e o jovem Oliver saiu, parando em seguida para acender um cigarro, olhou para os dois lados e seguiu em direção a East Side.

Uma coincidência, já que foi para o mesmo lado que disse ter visto o homem da cicatriz ir naquele dia na floricultura. Eu paguei a conta e sai em seguida, mantive uma distância segura, pois não queria que ele soubesse que o estava seguindo. Ele parou em uma banca de jornal e conversou um pouco com o jornaleiro, em seguida continuou em direção a East Side.

Ele entrou na rua das docas, o que achei bem estranho, pois sua casa ficava no lado oposto segundo o Comissário me informou.

Ele caminhou até o final da rua, até um pequeno depósito com um portão de ferro, fiquei escondido atrás de uma árvore e vi quando ele entrou no local, segui-o e vi que em seguida foi até a um depósito.

Parecia conhecer bem o lugar, estava relaxado e parecia confiante. Eu me aproximei e entrei pelo portão, em seguida dei a volta e observei através de uma janela lateral, estava meio escuro e não conseguia ver quase nada, mas escutei vozes, parecia ser a voz do homem da cicatriz e Oliver estava cobrando algo dele, foi então que começaram a falar mais alto e pude escutar o que diziam.

- Eu fiz tudo que me mandou, quero meu dinheiro. Disse Oliver um pouco irritado.

- E já falei que você vai receber o dinheiro, mas espere eu assumir o Instituto e você vai ter mais dinheiro do que pode gastar.

- Eu preciso de dinheiro agora, minha mãe está doente.

- Calma meu rapaz, tudo a seu tempo.

Eu aproveitei o momento de distração e entrei no galpão, o lugar era escuro e cheio de caixas e móveis velhos, tinha um cheiro estranho no ar como se eu estivesse entrando em um pequeno laboratório, eu me aproximei e por trás de uma prateleira vi os dois conversando, o Comissário estava certo a respeito de Oliver.

Ao me mexer bati em um pote de vidro fazendo com que caísse ao chão. O homem da cicatriz perguntou em voz alta.

- Quem está ai, você foi seguido Oliver?

- Não senhor, eu vim sozinho eu juro.

Nesse momento eu não tinha mais o que fazer a não ser me revelar, foi então que ao me ver o homem da cicatriz segurou Oliver por trás e aplicou uma injeção em seu pescoço, certamente veneno de cobra, pois Oliver caiu no chão e começou a se debater em agonia, com a mão em seu pescoço começou a vomitar uma espuma branca e seus olhos ficaram vermelhos, seu corpo tremia até que parou de repente. O homem olhou para ele e disse:

- Seu verme traidor e você detetive não aprendeu a lição, o que eu disse a você naquele dia foi um aviso, mas acho que seu desejo de morrer é maior.

- Quem é você? Perguntei.

- Quem sou eu, eu sou a morte que rasteja, sou a balança dos justos e o herdeiro do trono dos répteis, sou Antony White filho de Roger White, o filho bastardo que ele rejeitou.

- Você está mentindo, ele não tinha filhos.

- Você está mal informado detetive, ele deixou minha mãe quando soube que ela estava grávida, depois de cinco anos ela o procurou pedindo dinheiro e ele foi a nossa casa e me deixou esse presente que tenho no rosto, ele bateu em minha mãe na minha frente, eu estava com um copo de leite na minha mão e fui tentar defendê-la, mas ele me empurrou fazendo com que eu caísse no chão, o copo se quebrou e um dos cacos saltou em meu rosto, me deixando essa bela cicatriz, depois disso ele fugiu e nunca mais soube dele até os dias de hoje, quando vi seu nome em um jornal.

- E o que você quer, vingança, dinheiro?

 

-Eu quero tudo que é dele, tudo que ele negou a minha mãe, mas antes vou assistir você morrer detetive.

O lugar parecia um ninho de cobras tamanha a quantidade de serpentes que ali se encontravam, uma mesa com vidros, tubos de pesquisa e muitos objetos cortantes, foi então que Antony pegou uma faca de uns trinta centímetros e veio em minha direção, tinha fúria em seus olhos, tirei minha espada e me defendi do primeiro golpe que tinha visado meu crânio, mas ele me chutou no estômago me fazendo cair no chão.

- Levante-se detetive, pegue sua espada de brinquedo, não quero matar um homem caído e desarmado, morra com honra, seja um samurai.

Consegui me levantar e pegar minha espada, eu tentei golpeá-lo, mas ele se defendeu e me acertou no braço abrindo um belo corte, a dor era forte, mas eu consegui me controlar até o seu próximo avanço, ele parecia ser um espadachim habilidoso, pois me acertou novamente na perna fazendo com que eu quase caísse novamente. Ele sorriu e disse:

- Você não pode me vencer detetive, sou campeão de esgrima por três anos seguidos.

- É o que veremos. Juntei forças e dei meu melhor golpe, mas ele esquivou-se e atravessou sua faca em meu ombro, puxando em seguida fazendo meu sangue jorrar pelo chão, eu caí novamente e sem forças aceitei a derrota.

- Eu disse que não podia me vencer, eu sinto seu medo e o cheiro do seu sangue está atiçando minhas cobras, veja como elas estão ativas detetive, elas podem sentir o medo a quilômetros, você tem algo a dizer antes de morrer detetive.

Larguei minha espada e lembrei que tinha trazido minha pistola alemã, no calor do momento havia esquecido que ela estava em um coldre nas minhas costas, eu a peguei lentamente e olhando para ele disse:

- Não traga uma faca para uma luta com armas seu idiota, queime no inferno. -Atirei três vezes em seu peito fazendo com que seu corpo fosse projetado para trás, ao cair bateu nas caixas fazendo com que as serpentes se libertassem, seu corpo foi picado inúmeras vezes, antes de sua morte, eu me arrastei até a rua e dei alguns tiros para cima, talvez alguém ouvisse e chamasse a polícia, a última coisa que vi antes de desmaiar foi um homem correndo em minha direção.

Acordei no outro dia e estava novamente em um hospital, estava virando rotina visitar hospitais, meu corpo doía como se tivesse sido atropelado, estava com uma corte no braço e outro na perna, mas o que mais me incomodava era o ombro, não podia mexer o braço esquerdo tamanha a dor que me sentia, afinal uma faca de 30 centímetros atravessou minha carne de um lado a outro, duas costelas quebradas e um trauma envolvendo serpentes que vai me assombrar pelo resto de minha vida.

A enfermeira entrou na sala com meu café, muito simpática me desejou bom dia.

- Bom dia senhor Mase, trouxe seu café, o senhor consegue se sentar na cama?

- Sim, consigo sem problemas.

Ela colocou a bandeja em meu colo e me avisou que um homem estava subindo para me ver.

- Tem um cavalheiro na recepção que quer vê-lo senhor Mase.

- Como ele é enfermeira? Perguntei.

- É um senhor alto e com um bigode saliente.

- Esse é o Comissário, meu chefe, obrigado enfermeira.

- Se precisar de algo me chame.

Concordei com a cabeça e agradeci, nesse momento o Comissário entrou pela porta coçando seu saliente bigode, ao me ver fez uma piada e sorriu.

- Eddie meu amigo, acho que vou mudar sua sala para esse hospital.

- Muito engraçado senhor, mas pretendo ficar longe desse lugar nos próximos meses.

- Como se sente meu amigo?

- Estou bem agora, sinto dores ainda, mas nada que me faça perder o sono. O senhor tinha razão sobre Oliver, se não fosse sua intuição eu não teria pegado o assassino, obrigado pela sua ajuda.

- Não precisa agradecer, você fez todo o trabalho sozinho e ainda quase morreu pela segunda vez, você foi brilhante como sempre meu amigo, eu que agradeço.

- Obrigado senhor, fico feliz em ouvir isso.

- Mas agora Eddie, você está proibido de voltar ao trabalho, você está a partir de hoje de férias.

- Estou precisando mesmo senhor, acho que vou visitar um velho amigo que mora no Egito, ele tem um pequeno negócio de tapetes na cidade do Cairo, está na hora de fazer uma visita.

- Mas cuidado Eddie, o Egito é cheio de serpentes. Começou a rir alto e nós dois demos risada juntos, estava feliz apesar da dor, o que me aguarda no futuro eu não sei, mas espero que não seja nada envolvendo cobras.

 

Fim

 

 

 

-

 

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