"O chá das seis" - conto de suspense de Marcelo Gomes

 

Amparada pelo seu neto Ema subiu as escadas com muito sacrifício, reclamava de dores nas pernas e de falta de ar. Seu neto, como sempre a ignorava e dizia que ela estava sempre reclamando e que fazia o máximo para ajudá-la sem nada em troca.

Deitou a velha senhora na cama e começou a reclamar.

- Você vive reclamando, mas quem faz toda a parte pesada sou eu e o que ganho em troca?

- Você tem um teto e vive com meu dinheiro e ainda pago sua faculdade, o que mais você quer seu ingrato?

- Quero minha vida de volta, porque depois que meus pais morreram eu tive que morar com você e ser seu empregado.

- Saia do quarto agora, não quero mais falar com você seu ingrato, mimado e sem coração.

- Você que sabe vou sair com uns amigos e volto mais tarde.

- Então vá e se divirta, enquanto deixa sua avó moribunda sozinha em uma cama.

Bateu a porta do quarto sem olhar para trás. Mas antes de sair teve uma ideia um pouco mórbida pensou, vou dar uma de netinho da vovó e vou levar um chá especial, com um toque de veneno de rato. Sorriu e foi direto para a cozinha.

Vinte minutos depois bateu no quarto de sua avó.

-Posso entrar vovó?

-Sim entre, o que você quer agora, dinheiro para sair?

- Não vovó eu fiz um chá para senhora dormir melhor antes de eu sair.

- Nossa ficou bonzinho de uma hora para outra, quem dera fosse sempre assim.

- Que nada vovó a senhora que pensa mal de mim, gosto muito de você e além do mais é a única família que me resta, bom aproveite seu chá.

- Não senhor, nunca tomei chá sozinha desça lá e pegue uma xícara para você e não aceito não como resposta.

Desceu rápido e voltou com um sorriso no rosto.

- Pronto vovó quer que faça algo mais?

- Sim pegue na gaveta do armário um documento que quero lhe dar.

Enquanto o neto vasculhava a gaveta a ardilosa vovó trocou as xícaras de chá sutilmente.

- Meu querido esqueci que esse papel está no banco, amanhã você pode ir lá buscar com o gerente, desculpa te incomodar.

- Que nada vovó não é incômodo, vamos tomar o chá?

- Sim com certeza é sempre bom um chazinho antes de dormir, bom proveito querido.

- Está bom vovó? Fiz com as ervas que a senhora gosta.

- Hum está ótimo.

O neto olhava fixamente para a avó esperando que algo acontecesse, mas de repente começou a sentir dores no estômago.

- O que houve filho não esta se sentindo bem?

- Uma dor no estômago que vai até a garganta como se me cortasse por dentro.

- Será que foi algo que comeu ou o chá esta muito forte?

- Chá... sua velha ingrata você trocou as xícaras, começou a tossir e se engasgar e logo em seguida vomitando o chá com um pouco de sangue.

- O que você fez comigo sua bruxa velha?

Nesse momento já se arrastava tentando chegar à cama.

- Você acha que sou burra? Posso ser velha e inválida, mas sou mais esperta que você, enquanto você aprendia a andar eu já me virava sozinha com um marido bêbado e agressivo, sua mãe nunca lhe deu a educação certa, você sempre foi um parasita roubando da família e gastando com drogas e prostitutas, agora prove do seu próprio veneno.

- Você vai ser presa, vai morrer na cadeia sua bruxa.

-Você acha que alguém vai prender uma senhora amável e querida como eu, sabendo do seu histórico nunca iriam acreditar em você e além do mais nunca acharão o seu corpo, tenho um porão cheio de outros corpos como você, aqueles que um dia tentaram fazer o mesmo comigo, todos acabaram lá juntinhos para sempre.

Ria muito, enquanto se levantava como se nunca tivesse nenhuma enfermidade. Enquanto o neto ali no chão dava seu último suspiro, a doce senhora tomava seu último gole de chá, com um sorriso no rosto olhando em direção ao retrato de seu falecido marido disse.

 - Viu Rudolf, mais um que vai fazer companhia a você, queimem abraçados no inferno todos vocês e ria alto como nunca antes.

Às vezes uma doce senhora pode se tornar seu pior pesadelo

FIM.

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