Herança maldita - conto de suspense de Marcelo Gomes

 



           Era uma quarta-feira de inverno frio e chuvoso, quando tocou o telefone no quarto 202 do Hotel Hilton, onde dormia Sr. John, um playboy metido e arrogante, tipo aproveitador dos fracos e oprimidos.

- Que droga, quem pode ser a essa hora?

Olhou para o relógio que marcava 9h30min. Uma foz forte entoou no outro lado da linha.

- Sr. John, bom dia, aqui é o advogado do seu tio Jackson.

- O que aquele velho miserável quer comigo?

- Sinto muito dizer, mas o senhor Jackson morreu esta manhã!

- O que? Morreu? O que eu tenho a ver com isso?

- Como o senhor é o único parente vivo, precisa vir até à mansão para podermos fazer o funeral e abrir o testamento.

- Testamento, o que você disse?

- Sim, o senhor Jackson tinha um testamento.

- Tudo bem, estou indo para o aeroporto agora, chego ao meio-dia.

Desligou com pressa e parecia estar bem feliz com a notícia. Chegando a mansão foi recebido pelo mordomo.

- Bom dia, o senhor deve ser o sobrinho do Sr. Jackson.

- Sim, sou eu mesmo, pegue minhas malas e leve para meu quarto.

Em seguida exclamou em voz alta.

- Finalmente vou ser dono deste mausoléu.

Tinha um ar de arrogância em suas palavras. Ao chegar à biblioteca encontrou o advogado que tinha ligado pare ele naquela manhã.

- Bom dia senhor, como foi a viagem?

- Chega de papo furado e vamos ao testamento.

 - Sinto muito senhor, mas só posso abri-lo após o funeral.

- Mas como, quem disse isso? Estava bem irritado no momento.

- São ordens expressas do Sr. Jackson.

- E desde quando um morto dá ordens, quando é o funeral?

-No sábado e o senhor Jackson deixou uma nota especificando as normas do testamento.

- Sábado, mas hoje é quarta, então vou ter que esperar mais três dias?

- Não senhor, só será aberto no domingo após o funeral, conforme a nota deixada.

- Não acredito que vou ter que passar o final de semana nesse buraco, com um velho morto no andar de cima.

- Bem observado, o senhor Jackson continua em seus aposentos desde sua morte.

- O que, aquele velho está na casa ainda? Falei brincando, pensei que já tinha ido para funerária, meu Deus, nossa!

- Vou chamar a funerária para levar o corpo.

- Sinto muito senhor, mas hoje é feriado e a funerária mais próxima fica na outra cidade e eles só podem chegar aqui na manhã de sábado, devido à nevasca que interrompeu as estradas hoje cedo.

- Tudo bem, ele não vai a lugar algum mesmo.

- Só por curiosidade do que ele morreu?

- Ele teve um infarto fulminante senhor, morreu dormindo.

- Droga esse é um mal de família mesmo, também tenho tendência a isso e se não tomo meu remédio diário, me sinto mal e cansado.

- Bom eu já vou indo, se precisar de algo tem meu telefone e endereço na biblioteca, aproveite para descansar um pouco e tome um gole de uísque do seu velho tio, boa noite.

Naquela mesma noite após o jantar, resolveu visitar seu velho tio em seu leito de morte. Quando chegou ao quarto parou antes de entrar, pois sentiu um calafrio na espinha ao ver que um gato preto cruzou por ele entrando no quarto. Não sabia que tinha um gato nessa casa, pensou. Bom vou me deitar, amanhã tenho um dia cheio e o velho não vai sair do quarto tão cedo, quem sabe amanhã de dia eu volte e entre.

Recolheu-se às dez horas e as onze já estava em sono profundo. Mas teve seu sono interrompido perto das 3 horas por causa de batidas que vinham da porta no andar de baixo. Colocou um casaco e resmungando como sempre foi verificar, só que não tinha ninguém na porta, somente o gato que entrou pela porta correndo e foi direto para o andar de cima.

- Gato desgraçado por onde ele saiu?

Resolveu ir até a cozinha tomar água, mas passando pela biblioteca percebeu que a porta estava aberta, resolveu entrar e ver o que nela tinha de valor. Levou um susto quando viu a cadeira preferida de seu tio balançando sozinha e seu charuto aceso no cinzeiro. A sala começou a ficar fria e um cheiro estranho começou a sentir.

- O que quer dizer isso, alguém esta de brincadeira comigo?

Saiu em direção ao quarto do mordomo que ficava próximo a entrada da cozinha, abriu a porta, mas o mesmo continuava dormindo. Fora ele só tinha a cozinheira que foi embora ás 19 horas e só voltava na manhã seguinte. Só pode ser o advogado, mas eu o vi indo embora em seu carrão de luxo, devo estar louco. Voltou ao salão principal e estava um pouco mais tranquilo. Mas logo escutou passos vindo do andar de cima, parecia alguém andando com uma bengala. Olhou para o topo da escada e ficou pálido de medo ao ver a figura de seu tio em pé na escada com sua velha bengala.

- O que você está fazendo na minha casa seu miserável, gritou o velho como se estivesse em sua melhor forma.

- Não pode ser, você está morto, volte para sua morte seu desgraçado disse.

A visão que mais lhe deu pavor foi a do gato sentado ao lado do velho e o encarando com olhos vermelhos de sangue, o tio sorria com sua face cadavérica e mórbida.

- Gostou do Felix meu gato? Ele também voltou para expulsar você dessa casa. Seu coração não resistiu ao choque, começou a passar mal e tentou pedir ajuda ao mordomo, mas sua voz não saia, meu remédio disse, meu remédio, por favor, me ajude, mas lembrou de que ao sair do quarto deixou o mesmo em cima da cômoda. Seu corpo não respondia mais e a morte era certa. Espumando pela boca caiu ao chão sem vida, o velho que observava a cena do alto da escada sorriu e disse em voz alta.

- Não cobice o dinheiro dos outros, a não ser que você possa gastá-lo seu miserável, agora posso ir em paz.

Com sua bengala e o gato misterioso ao seu lado voltou a se deitar em eu leito de morte.

Fim

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