Revoar dos pássaros, conto de suspense de Marcelo Gomes

Imagem Google

Após perder a esposa e filha, atropeladas por um motorista bêbado, Dr. Robert se isolou em seu rancho e nunca mais foi visto, mas não antes de amaldiçoar as pessoas envolvidas e que não prestaram ajuda.

O carteiro depressivo que na hora viu o acidente e não testemunhou a favor.

A beata maluca que perante a bíblia disse que Deus fez a coisa certa.

O empresário e chefe do bêbado e motorista por não demiti-lo.

E por fim, o próprio motorista que ainda seguia em liberdade.

Sua casa se tornou um celeiro de pragas, todo tipo de bichos ali habitavam, desde baratas, ratos e pássaros negros, que viviam rodeando sua casa e pousavam em sua cerca gritando, como se chamassem sua atenção.

Ele não se importava, pois vivia bêbado e a base de remédios.

A casa que vivia limpa e perfumada hoje era um acúmulo de sujeiras e cheirava a morte.

A beata saiu cedo como de costume e foi direto para a igreja, no caminho notou que pássaros negros a seguiam, mas não deu muita importância.

Chegando à igreja esbravejou com o padre:

- O senhor viu padre, aqueles pássaros imundos lá na rua?  Aonde isso vai parar? As pessoas cheias de pecados e agora esses bichos imundos...

- Não percebi, mas deve ser algo a ver com a estação.

- O que temos para hoje na hora da missa, vou ler algo?

- A princípio farei uma oração para a família do doutor.

- Não perca tempo com isso, é obra de Deus... precisamos de oração para essa cidade do pecado.

- Que seja, mas farei igual, se a senhora quiser pode pregar na rua suas crenças, com licença tenho que me preparar.

A beata ficou furiosa e saiu da igreja com pressa, chegando à rua notou que os mesmos pássaros estavam pousados no muro da igreja.

- Saiam daqui suas pragas vão atacar alguma plantação! Os pássaros começaram a gritar e foram em direção a ela, atacando-a com muita fúria, em meio ao ataque ela se desequilibrou e caiu no meio fio, fazendo com que o ônibus 371 a atropelasse, sem qualquer reação, sua cabeça foi esmagada e o cérebro se espalhou pelo asfalto.

Todos saíram gritando do ônibus, o motorista estava desesperado por não ter freado a tempo.

- Sinto muito, eu não a vi, ela surgiu do nada.

O padre o consolou dizendo que ela saiu às pressas da igreja e que ele não teve culpa.

Em sua fazenda, o Dr. Robert, sentado na varanda com uma garrafa de vodca parecia saber do ocorrido sem estar lá, os mesmos pássaros ali estavam e pareciam se comunicar com ele, que deu um sorriso e disse algo como:

- já vai tarde sua doida menos um.

No mesmo dia o carteiro depressivo entregava cartas na loja de ferramentas, quando viu os mesmos pássaros o seguindo.

- Boa tarde, tenho uma correspondência para Sr. Jones aqui está obrigado! Aproveitando a ocasião, o senhor não acha que hoje o dia se mostra meio perigoso?

-De forma alguma e se você pensar viver já é perigoso. E deu uma risada alta...

- Bom, é verdade e aproveitando que estou aqui preciso de um martelo novo, tenho que consertar a minha cerca, o que o senhor me indica?

- Tenho uma caixa em algum lugar, me deixa ver. Está ali no alto vou pegar a escada só um minuto.

Enquanto subia a escada balançou para o lado e quase caiu no chão, pediu então que o carteiro segurasse enquanto ele alcançava a caixa. No momento que puxou a caixa uma das madeiras se moveu e fez com que um ferro despencasse em direção ao carteiro atravessando seu crânio, matando-o na hora.

O homem entrou em choque, enquanto o corpo tremia banhado em sangue.

No outro lado da cidade os pássaros negros contavam a novidade ao doutor bêbado que falava cheio de satisfação,

- não sei quem são vocês, mas estão fazendo um ótimo trabalho. Enquanto dava mais um gole em sua garrafa de vodca.

O empresário mais bem sucedido da cidade dava seus últimos toques ao que ele chamaria de empreendimento de sucesso, estava construindo um hotel com cassino nos arredores da cidade.

-Esse vai ser o maior hotel do condado, você vai ver, vamos subir?

-Vá na frente, disse o seu engenheiro preciso fazer uma ligação. Subiu no elevador que dava acesso ao andar principal, onde seria seu escritório, no vigésimo quinto andar.

No caminho para cima viu alguns pássaros que rondavam o prédio, indo e vindo e fazendo sons estranhos.

- O que é isso? Pensou.

- alguma praga da natureza.

O elevador parou subitamente no vigésimo andar, então começou a apertar todos os botões sem sucesso, tentou ligar do celular, mas não tinha sinal.

O elevador começou a ranger e desceu um pouco, apavorado se segurou e pediu a Deus por ajuda, tudo em vão o cabo arrebentou e o elevador desceu em uma velocidade absurda se desmanchando no solo.

O engenheiro estava em uma ligação, quando viu a cena, apavorado chegou perto e viu o corpo do empresário em meio aos escombros do elevador, o que tinha sobrado dele por assim dizer... um dos braços foi arrancado e estava perto da entrada, seu olhos saltaram deixando dois buracos negro e fundos, uma visão aterradora até para os mais fortes.

Novamente no rancho os pássaros foram dar a noticia ao pobre doutor que entre um gole e outro dizia,

- Podem continuar, estou me divertindo muito. Falta apenas um e quero uma morte de muito sofrimento, disse.

O motorista como de costume passava em um bar para beber antes do trabalho, mas como soube da morte de seu chefe decidiu estender a bebedeira, me manda mais um que hoje eu vou entrar na garrafa.

Já passava das 3 horas, quando saiu do bar cambaleando as pernas, não conseguia nem achar a chave do carro. Depois de muito tentar, conseguiu sair com o carro fazendo um zigue zague de dar medo, parou na rodovia para urinar e viu os mesmos pássaros negros sobrevoando seu carro,

- malditos animais vão atacar uma plantação de milho, saiam daqui!

Seguiu sua viagem e em uma curva adormeceu e atravessou a pista dando de frente com um caminhão que transportava canos, a batida foi tão forte que ficou preso entre os ferros do caminhão, que atravessaram seu corpo, estava vivo e consciente, tossia sangue e pedia por ajuda foi quando o outro homem foi em sua direção tentando tirá-lo dos ferros, mas não teve sucesso,

- vou ligar para emergência aguente firme!

Afastou-se, mas a gasolina começou a vazar e o motor quente fez o líquido inflamável explodisse o carro e as chamas tomaram conta do carro. Ele se afastou correndo enquanto o motorista bêbado era queimado vivo e gritava de agonia.

Quando o resgate chegou, já era tarde, seu corpo sem vida e carbonizado ali ficou entre os ferros que o atravessavam.

Os pássaros em cima dos fios elétricos gritavam como se estivessem comemorando.

Mais tarde no rancho o doutor ficou sabendo de sua última vitima, - obrigado meus amigos você fizeram um ótimo trabalho,agora podem ir embora. Mas os pássaros ali continuavam.

- Vão embora, ele gritava, já deram seu melhor.

Os sons por eles emitidos começaram a aumentar e então todos se juntaram formando uma imensa massa negra que foi em direção ao pobre doutor. Sem reação foi sucumbido pelo ser maligno e disforme... quando sumiu só restavam osso e carne digerida do que foi o velho doutor...

A maldição cobra um preço e ele pagou bem caro.

 

Fim.

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