Sementes do mal - conto de suspense de Marcelo Gomes

 


Armado até os dentes, Frank entrou em uma lanchonete lotada de pessoas, na hora do almoço, e descarregou toda sua munição em todos que ali estavam. Enquanto atirava sem parar, gritava em voz alta para aqueles que ainda podiam ouvir:

- Ele me obrigou a fazer isso... ele sussurra no meu ouvido e ele é meu senhor de tudo.

A polícia foi acionada por vizinhos e chegou em menos de 5 minutos, mas já era tarde, a chacina estava concluída, sem munição e atordoado Frank se entregou sem reação alguma.

Os policiais não conseguiam acreditar na cena de horror que ali se encontrava, corpos mutilados e alguns sem rosto e partidos ao meio, com sangue por todo o lugar.

Um dos guardas em um acesso de fúria pulou em Frank e começou a bater nele sem parar, os outros policiais tiveram que segurá-lo, Frank ria com o rosto cheio de sangue e não parava de dizer:

- O mestre me mandou fazer isso, ele é o senhor de tudo.

- Tirem esse lixo daqui. Disse o capitão ao policial ao lado, que quando tocou no atirador ficou imóvel e em seguida sacou sua arma atirando em Frank, que caiu morto ao chão.

- O que você fez? Disse o capitão

- Está maluco?

- Ele sussurrou no meu ouvido, me pediu para matá-lo, ele entrou em minha mente senhor, não pude fazer nada.

- Me dê sua arma e espere na viatura, que diabos de dia é esse? E são apenas 12h30, o que me resta para hoje?

Um oficial correu em direção ao carro, quando se ouviu um estouro de arma de fogo, o policial que matou Frank atirou na própria cabeça, com a arma que estava na viatura, uma arma calibre 12 de alta precisão.

- Não sobrou nada para reconhecer do pobre policial!

Todos entraram em pânico, enquanto sirenes de ambulâncias se ouviam em meio aos gritos dos pedestres.

- Isolem a área e não deixem ninguém passar nem a imprensa, disse o capitão.

Os paramédicos começaram a remover os corpos, quando o capitão gritou para um deles:

- Não mexa no policial que está na viatura... não toquem nele.

Achava que era algum tipo de vírus, que era transmitido pelo toque ou alguma histeria coletiva.

Pediu ao legista, que chegou ao local, para pegar o corpo do policial morto com luvas e em hipótese alguma tocar nele com as mãos diretamente.

- Leve ele para o necrotério, mais tarde passo por lá e lembre-se do que falei, não toque nele sem luvas.

- Sim senhor, sem problemas.

Mais tarde no necrotério o capitão conversava com o legista a fim de descobrir o que aconteceu com o policial que tocou em Frank.

- Isso é algo surreal. De uma hora para outra um maníaco mata várias pessoas e depois meu policial mata sem razão e se suicida em seguida.

- Pode ser algum tipo de vírus capitão? Perguntou o legista.

- Acho que não, mas não é normal e as coisas que eles disseram sobre vozes, isso não têm lógica.

- Note que a pele dele está com manchas escuras e o sangue está coagulado, o mesmo no outro cadáver. do próprio Frank,  senhor.

- Isso não diz muita coisa, mas tem uma conexão e se Frank tinha algum tipo de doença que era transmitida pelo toque?

- Nenhum tipo de doença conhecida tem esses sintomas, o mais parecido seria raiva, o que nenhum dos dois tinha esses sintomas, vou fazer um teste de sangue, mas pode demorar alguns dias.

- Não posso esperar tanto tempo, quem sabe uma autópsia agora? Acho que pode tocar com as luvas sem problemas.

- Vou chamar minha assistente Mariane, ela pode me ajudar com mais rapidez.

Mariane estava apreensiva com o caso e com muito medo.

- Não se preocupe, é só usar luvas e não tocar direto nele.

A autópsia durou uma hora e meia, mas a conclusão foi a mesma, morte por arma de fogo, nada de anormal.

- Se Frank tinha algo e passou para meu policial, então teremos que fazer a autópsia nele também, correto?

- Com certeza, quem sabe achamos algo.

Começou a autópsia e logo o legista encontrou algo incomum no cadáver, apresentava coloração escura nos órgãos internos e ao invés de sangue havia uma espuma também escura e com cheiro de enxofre.

- Meu Deus o que é isso?

Cortou um pedaço do tecido para testes e a espuma respingou no rosto de Mariane que deu um grito de susto.

- Calma Mariane você não tocou nele fique tranquila.

Mariane ainda não se sentia bem com o decorrer da autópsia, começou a ficar estranha e olhava para os lados como se ouvisse algo.

- Você não está ouvindo essa voz?

- Que voz Mariane? Só estamos nós três aqui.

O capitão tocou em sua arma e ficou alerta para qualquer problema.

- Calma Mariane, está tudo bem.

- Afaste-se dela, disse o capitão.

Mas era tarde, Mariane pegou o bisturi da mesa e atacou o legista cortando sua garganta, que jorrou sangue por todo lugar, em seguida o corpo caiu numa poça de sangue, foi em direção ao capitão, que sacou a arma e atirou várias vezes nela, até cair no chão sem vida.

- Meu Deus tenho que fazer algo, isso não pode se espalhar.

Teve a ideia de levar o corpo de Maria até a área de cremação, quem sabe assim a praga morre de vez, sem um hospedeiro.

Como era tarde da noite e somente o legista ficava no local e um segurança, que mais dormia do que vigiava, ele foi tranquilo até o crematório, tomou todo cuidado para não tocá-la.

Jogou o corpo dentro da fornalha e acendeu o fogo no máximo, ficou assistindo o corpo queimar até virar cinzas, a única testemunha seria a fumaça que saia da chaminé, em larga escala e reparou que fazia muito vento nesse dia e parecia que iria chover.

Esperou um pouco antes de ir, pois estava exausto, tomou um gole do café que o legista havia deixado na mesa e fumou um cigarro, depois resolveu que já era hora de sair.

Não deixou pistas do que ali havia acontecido, passou pelo segurança que ali se encontrava dormindo como de costume, até pensou para si:

- se tiver uma guerra na rua esse daqui nem vai saber o que o atingiu.

Quando a porta abriu-se para rua, o que ele viu era mesmo um cenário de guerra, as pessoas estavam enlouquecidas e atacavam umas as outras, com facas, pedras, carros o que tivessem por perto, ou nas mãos, muitos ali caíam sem vida.

Uma fumaça preta caia sobre a cidade, enquanto o caos ali se instalava.

- Meu Deus, a fumaça do crematório, o que eu fiz? Deus nos ajude!

Foram suas últimas palavras, antes de um louco partir sua cabeça com um machado.

O mal se espalhou e a cidade agora era mergulhada em escuridão.


- Fim -

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