Relíquias da morte - Conto de suspense de Marcelo Gomes

  


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Egito, o ano era 1945. Uma expedição parte em busca da tumba do faraó Ramsés, liderada pelo arqueólogo Dr. Thomas Jones, professor e colecionador de artefatos, admirador e pesquisador da história egípcia.

Ao longo dos anos, uma de suas maiores descobertas, e até hoje, é um mistério, encontrou uma mão mumificada perto do deserto do Cairo, em total estado de conservação e o mais curioso é que, em um dos dedos, há um anel em formato de escaravelho, que parece ter sido esculpido pelos deuses do Egito, tamanha beleza, é um tesouro muito apreciado pelo doutor e guardado a sete chaves, em seu museu particular.

Também faz parte da expedição, a especialista em história antiga e melhor amiga de Thomas, a doutora Rebeca Simons. Uma mulher detalhista e muito inteligente, mas que sempre tem certo receio em profanar velhas tumbas e incomodar os mortos, mas nunca recusou um convite de seu amigo e,  apesar do receio, adora realizar uma boa aventura.

A parte de segurança e organização da equipe é comandada pelo ex-fuzileiro Edgar Crown, o “homem sem medo”, como é conhecido, participou de várias guerras e foi segurança

particular do presidente do Egito, anos atrás, hoje faz parte de uma organização que presta serviços particulares, sendo um dos homens de confiança do doutor Thomas.

- Rebeca me empreste o mapa, quero ver se falta muito para chegar ao local.

- Está aqui doutor, mas pelos meus cálculos ainda temos uma hora de viagem, se o tempo ajudar, parece que vem uma tempestade.

- A tempestade não me assusta e sim o que pode ter nela.

- O que poderia ter em uma tempestade, além de areia, já que estamos no deserto?

- Você sendo supersticiosa, deveria saber que estamos no Egito minha cara e aqui tudo pode acontecer, sabe-se lá que mistérios nos aguardam na chegada. Eu nunca fui neste local e não sei se a região é inóspita e que perigos se encontram lá.

- Concordo com o senhor, mas os perigos são de natureza animal e de temperatura, nada, além disso, tirando o fato de que podemos encontrar uma tumba e isso sim, me deixa desconfortável.

- Não se preocupe, temos proteção do nosso amigo e ex-militar Edgar, que segundo falam é um homem sem medo... não é capitão?

- O medo faz parte da vida doutor, sem ele não somos homens, aquele que nega a verdade dos fatos não pode seguir em frente, eu não temo o desconhecido e sim o próprio homem, e claro, certos animais perigosos, que temos por aqui, mais o fato do Egito ser bem traiçoeiro, em termos de clima. Perdi muitos homens neste deserto.

- Concordo com você, mas não totalmente, deves sim, temer o desconhecido.

- Vou contar uma pequena história para vocês.

- Quando fiz minha primeira expedição, há uns vinte anos atrás no Nepal, encontrei algo

muito estranho naquela montanha. O frio e o cansaço mataram metade da minha equipe naquele ano, mas o que mais me assombrou foi ter encontrado uma caverna no meio da montanha e nela havia muitos ossos humanos e de animais. Parecia não ser habitada há muito tempo e depois de explorar o local encontrei algo assustador.

- O que era doutor?

- Um esqueleto com dois crânios, parecia humano, mas a formação dos dentes era diferente, pareciam presas de um tubarão, eram pontiagudos e se alinhavam de forma diferente além do formato da cabeça ser mais pontiaguda.

- E onde está esse esqueleto agora doutor?

- Infelizmente uma avalanche soterrou a caverna e fez com que tudo se perdesse, voltei lá anos depois, mas não encontrei o local.

- Que pena doutor, seria uma grande descoberta!

- Sim seria, por isso capitão não subestime o desconhecido, apenas o respeite.

- Vou lembrar-me disso doutor. Respondeu ele.

Um dos carros parou bruscamente e fez contato pelo rádio.

- Temos um problema à frente doutor.

- O que é rapaz?

- Existe uma ponte de madeira à frente e parece ser bem velha, acho que não vai aguentar o peso dos carros e do equipamento.

- Que ponte? No mapa não existe nenhuma ponte, espere estou indo até aí.

O doutor estava no terceiro carro e era o bem mais equipado.

- Meu Deus, isso não era para estar aqui! De onde surgiu essa vala no meio do nada? Parece não ter fim e não tem como dar a volta, temos que continuar a pé, não vai aguentar mesmo todo esse peso.

- Mas doutor estamos a uma hora do local, a pé vamos chegar à noite e podemos nos perder pelo caminho.

- Não tem problema acampamos a noite e seguimos no dia seguinte.

-Vamos pessoal, peguem todo equipamento teremos que seguir a pé!

- Eu não disse rapaz, esteja preparado para o desconhecido, acredita agora?

- Tudo tem uma explicação doutor e vamos achar uma.

A ponte era feita de madeira e pendurada por cordas, parecia estar ali há muitos anos, algumas partes não tinham mais madeira, teriam que ter muito cuidado, pois a queda era bem alta e fatal.

Edgar foi o primeiro a passar sem muita dificuldade.

- Podem vir está bem firme, só cuidem onde pisam.

O doutor foi o próximo a atravessar com um pouco de dificuldade, mais pela sua idade avançada e os danos no corpo deixado pelos anos de aventuras.

Aos poucos todos foram passando sem problemas, mas quando chegou a vez de Rebeca algo inusitado aconteceu, umas das cordas se soltou fazendo com que ela se desequilibrasse, ficando agarrada a uma das madeira velhas da ponte, gritou por ajuda, pois não iria aguentar por muito tempo.

- Aguente Rebeca já estou indo, vou amarrar uma corda na minha cintura e jogar para você aguente mais um pouco.

- Doutor segure minhas pernas, vou me curvar e jogar a corda.

Debruçou-se na beirada e jogou a corda em direção a Rebeca que agarrou com toda a força que tinha.

- Segure firme Rebeca, vou começar a puxar você.

- Rápido, não vou aguentar muito tempo.

Começou a puxar rapidamente até chegar perto o suficiente de agarrá-la.

- Rebeca pegue minha mão.

Com um impulso puxou ela para cima em segurança.

- Graças a Deus, achei que iria morrer.

- Você está bem, não se machucou?

-Não, estou bem, apenas minhas mãos estão um pouco doídas devido a força.

- Graças a Deus Rebeca, achei que iria perder minha melhor assistente.

- Sou a única doutor, não tem outra, você não iria ficar sem a melhor e sim sem nenhuma, mas estou bem, obrigado.

- Vamos em frente pessoal, caminhamos por uns vinte minutos, depois montamos acampamento perto daquelas pedras à frente, vai escurecer em alguns minutos e não vamos querer andar por este deserto à noite.

- Mande montar as tendas em círculo, assim ficamos protegidos e em volta do fogo.

O doutor Thomas chamou Rebeca até sua tenda para uma conversa em particular.

- Entre quero conversar com você, sobre o que aconteceu hoje, sei que foi uma experiência terrível, mas como você se sente agora?

- Estou bem, já passou o susto e não tem o que temer doutor, tudo vai ficar bem.

- Que bom ouvir isso de você, queria te perguntar algo a respeito do local da escavação. Você acha que teremos problema com os homens? Alguns são supersticiosos e talvez tenham medo de entrar no local, claro, se acharmos a entrada.

- Eu acho que não, por que temos o Edgar e ele comanda muito bem esses homens e os conhece bem.

- Tudo bem então! Tenha uma boa noite e descanse, amanhã saímos cedo.

- Boa noite doutor, nos vemos pela manhã.

Rebeca foi direto para sua tenda, mas não conseguiu dormir, muito devido ao ocorrido mais cedo, estava preocupada com as próximas horas e o que estava por vir.

O acampamento foi surpreendido no meio da noite por uma forte tempestade de areia, as tendas pareciam querer voar e não se via nada. O equipamento estava bem preso ao chão com cordas, mas mesmo assim os homens foram verificar. A tempestade durou uns 15 minutos, mas foi suficiente para deixar todos em alerta.

- Doutor é melhor juntarmos tudo e seguir viagem, antes que venha outra tempestade e a gente perca o equipamento, não sei se vai aguentar outra rajada de vento e areia.

- Está bem, juntem tudo e vamos em frente, daqui a pouco vai amanhecer mesmo.

A equipe do capitão Edgar era formada por sete homens, cinco escavadores e dois seguranças de Campo, mas ele notou que estava faltando alguém.

- Alguém viu o James? Não consigo localizar ele. Ninguém sabia do paradeiro do homem, nem onde procurar, já que estavam em um lugar aberto.

- Olhe capitão, estou vendo algo ali adiante.

- Onde? Não vejo nada.

- Parece um pedaço de cano na areia a uns dez metros. Edgar saiu correndo em direção ao objeto e começou a escavar a areia, quando encontrou o corpo de James.

- É o James, está morto, acho que um dos canos da tenda se soltou e atingiu ele em cheio, pobre homem!

- Isso não é bom sinal, disse o doutor.

- Foi um acidente doutor, não tem a ver com nenhum tipo de maldição, não quero assustar meus homens, o que faremos com ele?

- Vamos ter que deixá-lo, marque o local, na volta o levamos para que a família lhe dê um funeral decente.

- Está bem doutor, homens marquem o local, não queremos perder o caminho de vista.

No decorrer do caminho já era possível avistar as estátuas e o monumento que se agigantava à frente.

- Olhe Rebeca, conseguimos. Veja as duas estátuas conforme mostrava o mapa.

- É lindo doutor, um verdadeiro monumento da civilização antiga.

- Edgar, peça aos seus homens que marquem um perímetro seguro em volta do local.

- Certo doutor!

- Homens marquem um perímetro em volta das estátuas, vamos montar acampamento.

- Doutor, a entrada principal está lacrada, a areia está bloqueando a entrada, como vamos entrar?

- Deve ter outra entrada, esses locais foram projetados com várias saídas e algumas podem ser

secretas, temos algum tipo de carga explosiva com seu pessoal?

- Sim temos um pouco de C4, mas é perigoso pode danificar a estrutura do local e ocorrer algum tipo de desmoronamento, ainda mais se alguém estiver lá dentro.

- Temos que arriscar, não tem outra maneira.

- Procure um local que cause poucos danos e que montem as cargas para um pequeno impacto.

- Certo doutor vou providenciar, mas é sua responsabilidade se der errado.

- Não se preocupe, vai dar tudo certo, não vim até aqui para desistir.

- Encontramos um local na parede sul que parece ser ideal, já está um pouco danificado, sendo assim posso usar uma carga menor, sem muitos danos.

- Todo mundo se afaste uns vinte metros e se abaixem. Agora homens, podem detonar.

A explosão criou uma nuvem de fumaça e areia junto com pedaços de pedras que voaram em todas direções. Um dos homens foi atingido na cabeça caindo inconsciente. Edgar correu em sua direção, mas já era tarde, mais um estava morto.

- Que droga, eu mandei se afastar! O que ele fazia perto da explosão?

- Foi um acidente, não é sua culpa.

- Maldito lugar, é o segundo homem que perco em 24 horas!

- Calma Edgar, vamos ter mais cautela, a partir de agora, não queremos mais mortes, reúna os homens, vamos entrar, mas deixe dois de guarda aqui fora.

- Você dois cubram o corpo e fiquem de guarda aqui fora, qualquer problema me avise no rádio, os outros peguem o equipamento e venham comigo.

- Doutor Thomas vá à frente, já que é o mais experiente, eu sigo atrás e Rebeca, fique perto de mim.

- Não preciso de babá, já sou bem grandinha.

- Você quem sabe, só não esqueça quem te salvou na ponte horas atrás.

- Ah, meu herói, quase me esqueci deste feito, quando voltar, vou mandar fazer uma placa com seu nome.

- Estou vendo que seu sarcasmo continua intacto, mesmo neste lugar infernal.

- É sempre bom mantermos a sanidade, mesmo em ocasiões como essa.

- Malditos mosquitos! Não param de me picar e que lugar estreito!

- Doutor, tudo bem ai na frente?

- Sim me sigam, estou quase no saguão principal.

Chegando ao interior, depois de um caminho escuro e estreito todos ficaram boquiabertos com tamanha beleza do lugar, apesar das figuras mórbidas esculpidas na parede e estátuas assustadoras.

- Olhe Rebeca, essas estátuas estão colocadas em frente a essa entrada, como se fossem dois guardiões e estes desenhos na parede são diferentes e a escrita eu nunca vi.

- Doutor acho que essa não é a cripta de Ramsés e sim, um local de sacrifício e talvez os guardiões estejam aqui para manter algo ou alguém, que não deve ser solto.

- É verdade Rebeca, você está certa, não é a cripta de Ramsés e sim algo mais sinistro, mas o mapa dizia ser aqui.

- Onde o senhor encontrou este mapa?

- Achei junto ao túmulo de Imotép, há alguns anos atrás.

- Bom ele foi enterrado junto a ele, por alguma razão você não acha?

- Pode ser, mas agora que estamos aqui temos que explorar o local.

- Doutor tem duas alavancas nas estátuas, devem abrir a porta.

- Certo, peça a dois homens que girem ao mesmo tempo as duas, quando eu disser.

- Quando disser vocês girem até o final.

- Esperem, o que é aquele sinal acima da porta? Parece ser escrito em língua egípcia, diferente do resto do local, me deixa ver diz aqui:

“Aqueles que se atreverem a despertar o mal,

terão uma morte lenta e dolorosa nessa vida

“e ficarão presos pela eternidade em sofrimento.”

 

- Nossa, isso é muito revelador!

- Quer dizer que o que está ai dentro deve permanecer onde está, disse Rebeca.

- Isso é só uma frase para assustar saqueadores, não se preocupe, já vi isso em outros templos.

- Doutor, acho melhor deixar como está e irmos embora, não tenho bom pressentimento. Disse o capitão.

- Não vim até aqui para nada e além do mais, dois homens morreram e Rebeca quase se foi, vamos em frente homens, no três você baixam a alavanca. Agora!

Um barulho forte foi ouvido vindo da porta, que começou abrir lentamente, os dois homens ainda de pé sob as estátuas, olhavam distraídos, quando uma das lâminas da mão de um guardião desceu acertando em cheio a cabeça de um deles, enquanto o outro saltou para o chão desesperado.

Tentaram correr, mas a passagem se fechou antes de eles chegarem.

- E agora doutor estamos presos aqui dentro?

- Calma, vamos entrar na cripta deve haver uma passagem, como disse antes, estes lugares tem passagens secretas e vamos achá-las.

Descendo as escadas chegaram a outro salão rodeado de tochas que se acenderam automaticamente, muitas estátuas cercavam o local e no meio havia um sarcófago preto e lacrado

com correntes de aço.

- Meu Deus deve ser ele, o deus da destruição, agora me lembro de uma história que meu pai contou quando era criança, um guardião do faraó, que se apaixonou pela princesa e foi descoberto pelo próprio faraó e condenado à morte, mas ele antes de ser preso jogou uma maldição na família, que todos os filhos do rei nasceriam mortos e pragas destruiriam, quase todo seu reino. É ele meu Deus, isso é a descoberta do século.

- Rebeca me passe meu diário, preciso anotar isso.

- Sim doutor, mas não é melhor procurar uma saída primeiro, caso aconteça algo.

- Claro que sim!

- Edgar, procure uma saída com seus homens, por favor.

- Homens? Só me restou dois aqui dentro e dois lá fora, não quero arriscar a vida de mais ninguém.

- Mas sendo assim vamos ficar presos aqui e eu e Rebeca precisamos anotar tudo e procurar uma forma de abrir o sarcófago.

- Você esta louco! Não leu o que dizia na entrada e ainda quer soltar essa coisa?

- Não vou libertar, apenas coletar provas e fazer anotações, além do mais teria que saber as palavras certas do ritual para libertá-lo e não sei, fique tranquilo.

- Certo, mas não faça nada estúpido, vamos homens se separem e encontrem algo para sairmos daqui.

-Olhe Rebeca, tem uma entrada no meio, talvez uma chave abra as correntes. Mas onde pode estar?

-Talvez em outro túmulo longe daqui como o mapa.

-Ou está aqui em algum lugar.

-Achei algo senhor, parece uma entrada, mas tem um buraco no meio parece ser um tipo de mecanismo de abertura, vou tentar abrir.

- Não faça isso, gritou Edgar.

Mas já era tarde, enfiou a mão que automaticamente foi presa por algo de dentro, tentou se soltar, mas nada podia fazer.

Edgar tentava puxar o homem e também não conseguiu, enquanto isso o professor

observava de longe com preocupação.

- Minha mão está sendo esmagada, me ajude gritava ele.

Edgar então fez força e conseguiu puxar o pobre homem, mas sua mão não estava mais ali, em choque e sangrando muito, o homem desmaia.

- Doutor, preciso de ajuda.

- Rebeca, faça um torniquete no braço dele rápido, está perdendo muito sangue.

- Acho que não vai conseguir, não temos como tratá-lo aqui, ele precisa de um médico, não achamos a saída ainda, sinto muito.

- Inferno de lugar, eu não vou morrer aqui! Gritou Edgar.

- E se existir uma passagem embaixo da cripta onde está o sarcófago? Você disse que esse lugar tem passagens secretas não é doutor?

- Sim Rebeca, bem colocado, pode ser que sim, mas para isso teremos que abrir as correntes e não temos a chave.

- Eu ainda tenho C4 na mochila, pode ser que resolva, mas o local pode vir abaixo.

- É nossa única chance ou morremos aqui, de um jeito ou de outro morreremos aqui.

-Doutor e Rebeca se protejam nas estátuas.

- Você vem comigo!

Colocou o C4 e contou até dez.

O barulho foi ensurdecedor e fez algumas pedras caírem, quase vindo tudo abaixo.

- Olhe Rebeca, as correntes se soltaram.

-Vamos me ajudem aqui, vamos abrir todos juntos.  Força!

- Vejam é ele, o deus do caos, eu sabia. A múmia estava envolta em um pano preto com a sua boca exposta e lábios costurados. Seus olhos foram arrancados e seu corpo era esguio e muito magro, nas mãos segurava um amuleto preto com um símbolo, que mais parecia o de um olho, com um X no meio.

- Eles tiraram seus olhos para não ver e costuraram sua boca, para não conjurar nenhum feitiço e o amuleto é pra não enxergar o caminho de volta no pós vida, ele devia ser muito mau, para tanta proteção.

-Vamos Edgar, precisamos removê-lo, deve haver algo embaixo, mas não toquem no amuleto.

- Nada e agora?

- Espere, nós removemos a tampa e movemos o corpo, mas não todo o caixão, vamos empurrar todos para o mesmo lado com força... agora!

- Então uma passagem foi revelada abaixo da cripta, parecia uma escadaria que dava em um túnel.

- Vamos peguem as lanternas, você vai à frente, disse Edgar ao único dos guardas, que ali se encontrava.

- Cuidado e não toquem em nada, está muito escuro e escorregadio.

Rebeca sentiu algo tocar seu cabelo e começou a gritar e se debater.

- Tem alguma coisa aqui, tocou meu cabelo, o cheiro é ruim e saiu voando.

Uma nuvem negra começou a vir em sua direção e se mexia rápido demais.

- O que é aquilo? Não é fumaça, está se movendo rápido demais, todos para o chão agora!

Milhares de morcegos começaram a passar sobre eles, o barulho era ensurdecedor e o cheiro era de morte. Após alguns minutos sumiram.

- Meu Deus, de onde eles vieram? Deve ter uma saída mais a frente.

Chegaram a um local aberto com formato oval. mais parecia uma câmara secreta de sacrifícios, pois no centro tinha um altar com velas e manchas que pareciam sangue há muito derramado.

- Veja doutor era aqui que faziam os sacrifícios, imagine quantas almas aqui foram embora.

- Rebeca veja os escritos, são os mesmos de lá de cima, a língua nunca dita e nunca escrita senão aqui, é uma descoberta impressionante.

- Vamos doutor, temos que achar a saída, não podemos perder tempo, não sabemos o que pode ter mais aqui embaixo.

- Vá Edgar, eu preciso anotar isso. Rebeca você trouxe sua máquina?

- Sim doutor, vou tirar fotos.

- Tire de tudo, não perca nada.

O doutor estava tão eufórico que não pensava mais em nada, nem nos perigos que ali podiam existir.

-Tem uma luz vinda de cima Edgar, vou tentar subir.

Ao tentar escalar tocou em um mecanismo escondido na parede e lanças saíram da parede atravessando seu corpo, foi empalado vivo bloqueando o caminho para cima.

Um forte barulho foi ouvido na sala e a parede se rompeu, a sala foi invadida por muita água, que jorrava de todos os cantos.

- Rápido vamos voltar ao salão principal, disse Edgar.

Todos correram em direção ao túnel de acesso que começava a inundar rapidamente.

- Depressa doutor, me ajude a empurrar o sarcófago, vamos fechar a entrada.

Finalmente conseguiram fazer que a água não entrasse, exaustos e sem saber para onde ir.

- Pensei que iria morrer, disse Rebeca.

- Todos pensamos Rebeca, você consegui tirar as fotos?

- Sim senhor, consegui.

- Não acredito que o senhor está preocupado com isso agora doutor.

- Isso aqui são provas muito importantes a serem reveladas, vou ser o primeiro a achar esse lugar, imagina a repercussão.

- Vai ser o primeiro se conseguirmos sair daqui com vida, esqueceu que a única saída está debaixo d’água?

- Tente o radio e quem sabe um dos homens atenda e tenha mais C4.

- Câmbio, Edgar chamando alguém.

- Sem resposta ou temos interferência ou eles foram embora, ou estão mortos, porque tudo aqui morre.

- Quem sabe em alguma dessas estátuas tenha uma alavanca ou algo que abra a porta?

Começaram a procurar sem êxito, até que Rebeca encontrou algo.

- Veja professor aqui tem uma parte solta que parece algo a ser encaixado, talvez na porta em que o pobre homem perdeu sua mão.

- Vamos tentar, tire daí e Edgar tente encaixar na outra porta.

- Passe para mim Rebeca.

Colocou o objeto na abertura da porta e começou um ruído de engrenagens como

se algo se movesse dentro dela. A porta começou a abrir e revelou outro caminho mas eram escadas, que levavam para outro nível na parte superior.

- Depressa vamos antes que algo mais aconteça.

Subindo as escadas chegaram a outra câmara mortuária, mas essa não tinha sarcófagos e todos os corpos estavam deitados em mesas de pedra e cobertos com um lençol branco.

- Esses devem ser os corpos dos trabalhadores que morreram aqui ou dos guardiões, veja tem uma abertura logo acima, pegue a corda Edgar e tente laçar aquele pilar logo acima.

Edgar conseguiu na terceira tentativa alcançar o pilar.

- Vou primeiro, se for seguro eu aviso, escalou a parede até chegar à abertura.

- Estou vendo o deserto doutor e não é muito alto podemos descer pela corda.

- Vá Rebeca, depois eu vou em seguida.

- Tem certeza?

- Sim pode ir, não se preocupe.

Rebeca escalou com dificuldade, mas alcançou Edgar.

- Venha doutor.

- Onde ele está? Doutor? Chamou e nada.

O professor Thomas resolveu voltar ao salão para pegar o amuleto, que tanto gostou, mesmo sabendo da sua importância de estar ali, mas não queria sair com as mãos abanando, queria sua relíquia. Quando arrancou o amuleto da múmia tudo começou a ruir e a porta se fechou deixando-o preso lá dentro.

- Professor, gritou Rebeca, sem resposta.

- Depressa Rebeca, vai tudo vir abaixo, desça na corda, rápido!

- Mas e o professor? Temos que ajudá-lo.

- É tarde demais para ele, vamos!

Conseguiram descer a tempo e correr para o acampamento enquanto o monumento vinha abaixo.

Pobre doutor ficou preso e morreu soterrado com seu precioso artefato em mãos.

- Os homens foram embora como imaginei, graças a Deus conseguimos sair, vamos Rebeca pegue suas coisas, temos que ir.

- O professor não morreu em vão, vou levar os registros e fotos para o museu e darei total crédito a ele. Merece pelo menos isso.

- Com certeza Rebeca, mas vamos sair desse lugar amaldiçoado.

Seguiram em frente sem olhar para trás.

- Que o professor descanse em paz junto as relíquias da morte.

 

 - Fim -

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