

O edifício da faculdade de medicina de London University, como é chamada, ficava em uma área afastada da cidade, construída estrategicamente para evitar que seus alunos escapassem em busca de diversão.
A finalidade de sua instalação era formar os melhores médicos do país e para isso acontecer as distrações eram proibidas durante o ano letivo, todos eram internos e só podiam sair das instalações, em casos de emergência médica ou familiar.
Era comandada por mão de ferro pelo médico e cirurgião plástico William Brown, famoso por ganhar vários prêmios na área da medicina e um dos pioneiros no transplante de coração, escrevera vários livros de anatomia e medicina legal.
Era um homem de poucas palavras, mas muito exigente com todos, já passava dos sessenta anos, mas ainda mantinha certo ar jovial, foi casado duas vezes e tem uma filha e dois netos, mas devido ao tempo que dedica à faculdade, quase não os vê.
O professor Oliver Smith é o principal educador
no local, dono de um curriculum invejável é muito admirado pelos seus alunos, se formou muito cedo e trabalhou em vários hospitais de Londres, até ser convidado para lecionar na London University.
Ele escreveu um livro de muito sucesso sobre a mente humana e seus mistérios, é neurocirurgião e quando jovem trabalhou em uma clinica de cirurgia plástica. Nunca parou de estudar e hoje é um dos educadores mais respeitados de Londres.
Na London University apenas vinte alunos são selecionados durante o curso, é uma regra que vem desde sua inauguração e que é seguida à risca nos dias de hoje, são os vinte melhores que irão levar seu nome além dos seus portões, alguns vem de famílias ricas e tradicionais.
Tem aqueles que entram por mérito e vem de classes mais baixa como Edward Morris um aluno exemplar, vindo de uma família pobre e sem recursos, que conseguiu uma bolsa de estudos por ser o primeiro de sua classe, além de dominar com facilidade várias técnicas da cirurgia vascular, isso chamou a atenção do professor Oliver que o convidou para ingressar em London University, logo que o conheceu, fazia uma palestra sobre anatomia humana num Hotel de Londres e o jovem rapaz o surpreendeu com seu conhecimento e habilidade, suas perguntas quase o deixavam sem respostas.
Como em toda universidade havia o grupo daqueles que se achavam acima dos outros, os ricos e pretensiosos, que achavam que todos deveriam estar a seus pés.
A mente por trás desse grupo era chamada de Mark Thompson, o tipo arrogante que todos odiamos em nossas vidas, vindo de uma família muito rica e tradicional em Londres, nunca precisou de esforço para ter o que queria e mesmo não sendo um gênio nos estudos conseguiu uma vaga devido à contribuição generosa, em dinheiro de seu pai para London University.
Mark tinha implicância diária com Edward, sempre fazia piadas a respeito de sua origem e adorava fazer pegadinhas sem graça, era sempre advertido pelo professor Oliver, mas acabava se safando devido ao seu sobrenome de classe alta.
A universidade era apenas frequentada por homens, apenas três mulheres trabalhavam no local, uma faxineira e duas cozinheiras todas com idade acima de cinquenta anos, mais uma estratégia do diretor William a fim de evitar qualquer tipo de envolvimento com os alunos, que não os desviassem dos estudos.
Além das funcionárias mulheres o complexo ainda contava com um zelador faz tudo chamado apenas de Senhor D, seu nome era Draggot, mas ninguém conseguia pronunciar direito, qualquer problema ele era chamado para solucionar, era um homem quieto e de aparência estranha, falava muito pouco e seu passado era um mistério, fora contratado de última hora devido à aposentadoria do zelador anterior.
Chegou certo dia no portão pedindo emprego e nunca mais saiu de lá, com a urgência da vaga não foi checado seus antecedentes e nem sua origem familiar.
- É um crime! Gritou Oliver ao entrar na sala do diretor William.
Ele estava tomando um café, enquanto lia seu jornal e quase derramou tudo em sua roupa, tamanho o susto que levou.
- Que aconteceu professor? O senhor quase me mata de susto.
- Foi na quadra de esportes diretor, está toda inundada.
- Inundada como, algum vazamento?
- Um dos canos se rompeu e agora mais parece um pequeno lago do que uma quadra de esportes, como farei com alunos e suas atividades esportivas senhor?
- Tenha calma meu amigo, chame o Senhor D e peça que conserte o problema imediatamente. Diga para ele deixar um aviso na porta para que ninguém acesse o local até tudo estar resolvido.
- Sim senhor, vou chamá-lo agora e desculpe interromper sua leitura.
Saiu às pressas a procura do Senhor D.
Oliver procurou o Senhor 'D' em todos os lugares, mas não o encontrou, até que lembrou que ele tinha o vício de fumar e o único lugar permitido era no pátio da universidade.
Senhor D estava encostado em um pilar perto da escada, entre uma baforada e outra, e olhava para todos os lados como se estivesse desconfiado de algo.
- Senhor D finalmente achei o senhor.
Oliver estava ofegante de tanto andar as pressas pelo prédio.
- Preciso recuperar o fôlego, me dê um minuto. Senhor D.
O zelador ficou olhando para Oliver com ar de desconfiança.
- Agora sim já posso falar, ainda bem que não tenho o vicio de fumar se não já estaria morto a essa hora, preciso que o senhor vá até o ginásio consertar um vazamento de água, o lugar está parecendo um lago, só faltam os peixes. Disse com um sorriso torto.
Senhor D acenou com a cabeça e saiu em direção ao ginásio, Oliver gritou em sua direção antes de entrar no prédio.
- O diretor pediu que colocasse um aviso na porta para ninguém acesse o local, não esqueça.
Já passavam das 7 horas e a primeira aula do dia iria começar, mais uma vez Oliver saiu às pressas em direção ao prédio, não queria dar maus exemplos aos seus alunos chegando atrasado à classe, passou em sua sala rapidamente para pegar um livro e seus óculos, pois na pressa acabou esquecendo em cima da mesa e sem eles era quase cego.
Quando chegou à classe todos os alunos já estavam sentados, Mark fazia piadas e apontava em direção a Edward, enquanto todos riam, que estava quieto e roendo as unhas, uma mania que tinha desde criança.
O professor Oliver bateu com sua régua na mesa e pediu silêncio.
- Alguns de vocês já devem estar sabendo a respeito do incidente no ginásio de esportes, tivemos um pequeno vazamento e vocês não poderão usar o local por alguns dias, já está sendo feito o conserto
nesse momento.
Alguns alunos começaram a falar ao mesmo tempo e a sala virou um burburinho de palavras sem se entender.
- Silêncio! Gritou Oliver, batendo sua régua mais uma vez na mesa.
- Já disse que está sendo resolvido, não é motivo para alarde agora, além do mais vocês podem usar o pátio para se exercitar. Bom já foi dado o recado, agora vamos à aula de hoje, quero que abram o livro na página 52, onde diz técnicas cirúrgicas.
- Edward leia o primeiro parágrafo para a classe.
Edward leu o conteúdo como se já estivesse familiarizado com o assunto.
- Professor aqui onde diz que a técnica deve ser aprimorada com a prática e os anos de experiência,
não especifica o tempo necessário para atingir a perfeição.
- Isso vai depender de cada indivíduo, exige muita prática e disciplina, um erro pode ser fatal e colocar sua carreira ladeira abaixo.
- O senhor já cometeu algum tipo de erro em sua carreira professor? Perguntou Mark Thompson.
- Não e nem poderia, se isso tivesse acontecido eu não estaria aqui agora, seria um médico de plantão
em um hospital público de Londres. Hoje vamos ao laboratório aprender um pouco mais dessa técnica, peguem seus livros e me sigam.
Edward foi o destaque na aula prática, com muita técnica e precisão, o fato deixou Mark bem irritado devido às atenções não serem todas para sua pessoa.
Na saída da aula fez uma piada sem graça e acabou deixando Edward bem irritado.
- Você muito bem hoje Edward!
- Foram os anos de prática na fazenda onde seu pai trabalhava com porcos. Disse Mark.
Todos riram, menos Edward que se virou para Mark com fúria em seus olhos e disse:
- Eu nunca trabalhei com meu pai, muito menos cheguei perto de um porco, a diferença entre eu e você não é o dinheiro, e sim uma coisa chamada inteligência, ela não se pode comprada com dinheiro nenhum no mundo, certas pessoas já nascem com ela, o que não é o seu caso.
- Você está me chamando de burro, seu pobretão!
Partiu para cima de Edward, mas o professor Oliver o segurou mantendo a ordem. Mandou que todos fossem em direção à próxima aula em silêncio.
No fundo do corredor Senhor D observava atentamente o ocorrido, o professor Oliver notou sua presença e o chamou com um aceno de mão.
- Senhor D como está o ginásio, já resolveu o problemas?
Senhor D falava baixo e era um pouco gago.
- Não se... senhor... aaa... ainda falta, mas em dois dias vai estar pronto eu prometo.
- Eu espero que sim, não vou aguentar esses garotos mimados me incomodando o dia todo, nos vemos por aí Senhor D e qualquer novidade me avise, passar bem.
O diretor William ficou sabendo do pequeno incidente na saída do laboratório, então pediu que Oliver aplicasse um castigo para aqueles envolvidos, Oliver imediatamente chamou Mark Thompson e Edward Morris em sua sala.
- O motivo de vocês dois estarem aqui eu não preciso explicar, mas como o ocorrido chegou até os ouvidos de nosso diretor, eu não tenho escolha a não ser dar uma punição aos dois.
- Mas não é justo professor, eu não fiz nada e além... foi interrompido por Oliver.
- Sem desculpas meu caro, você sabe bem o que fez, assim como Edward também, os dois irão hoje
após as aulas até o ginásio ajudar o Senhor D na limpeza do local, tem muita água na quadra e bastante trabalho a se fazer, não quero desculpas nem atrasos, estamos combinados cavalheiros. Os dois concordaram balançando a cabeça.
Na saída Mark prometeu a Edward que esse castigo teria consequências para ele.
- Fique esperto, sua hora vai chegar! Disse ele.
Edward ficou olhando enquanto ele caminhava em direção à sala, mas não disse nada. Às 17h30min os dois chegaram ao ginásio e foram falar com o Senhor D. Ele olhou para os dois e apontou para um balde e panos no chão.
- O que faremos com isso? Perguntou Mark.
Senhor D, com dificuldade explicou.
- Passem o paapaaa... nooo. Com esforço conseguiu falar, passem o pano no chão e sequem a água.
Edward não pensou duas vezes e já foi pegando um pano e balde, já Mark ficou retrucando com Senhor D.
- Eu nunca limpei nada em minha vida e não vai ser agora que vou começar.
Senhor D o olhou com raiva nos olhos, em seguida segurou seu braço com força e disse:
- Você está aqui de castigo e vai fazer o que eu mandar, seu dinheiro não vale de nada para mim nem seu nome pomposo, então cale a boca e comece a trabalhar, não gaguejou em nenhum momento.
Mark com cara de espanto se afastou e começou a secar o chão sem dar uma palavra.
À noite como de costume Oliver antes de dormir fazia sua ronda pelos corredores da universidade, queria ter certeza de que todos estavam em seus quartos dormindo, pois em várias ocasiões pegou alguns alunos perambulando pela noite e aprontando pegadinhas com os colegas.
Sempre checava todos os quartos antes de terminar sua ronda, mas nessa noite um deles estava vazio, era o quarto de Daniel Jones, filho de um deputado muito famoso.
Oliver ficou furioso e sua lanterna começou a falhar, batia com raiva até que voltou a acender, quando iluminou o corredor, que dá acesso ao ginásio notou o que o chão estava molhado e havia pegadas perto da porta, que deveria estar fechada naquela hora, quando tocou na maçaneta ela se abriu com facilidade, o local estava bem escuro e sua lanterna não iluminava como queria, tentou o interruptor, mas a luz não acendeu, o chão ainda estava molhado e escorregadio, pensou nos alunos e na tarefa que lhes foi dada, acho que fizeram corpo mole pensou.
Quando direcionou a luz para o meio da quadra notou um vulto sentado em uma cadeira, perguntou quem estava ali naquela hora, mas ninguém respondeu, chegou mais perto e levou um susto impulsionando seu corpo para trás e esbarrando em um balde fazendo com que caísse no chão, ficou um pouco molhado e sua lanterna começou a falhar novamente, após bater com raiva ela voltou a funcionar.
- Maldita lanterna! Pensou ele.
Chegou mais perto e iluminou o tal homem na cadeira, para seu espanto era Daniel Jones.
- Meu Deus ele esta morto! disse em voz baixa.
O corpo estava sentado em uma cadeira com as mãos amarradas nos apoios e tinha os antebraços abertos como se fossem dissecados, os olhos estavam abertos e presos com afastadores, um dreno estava conectado ao seu pescoço fazendo com que seu sangue escorresse até um recipiente de vidro no chão, a visão era aterradora até mesmo para alguém experiente como o professor Oliver, ao lado do corpo em uma pequena mesa usada em cirurgias havia um bisturi, uma tesoura e pequenos algodões com sangue.
Oliver saiu correndo em direção ao corredor e sem fôlego parou, colocou suas mãos nos joelhos e começou a vomitar, estava ofegante e não sabia o que fazer. Subiu um lance de escada com muita dificuldade e bateu na porta do quarto do diretor William. Depois de insistir a porta se abriu e o diretor com cara de sono apareceu perguntando.
- O que foi agora Oliver, mais um crime.
- Sim senhor, um crime, mas desta vez é de verdade. Estava ofegante e fez sinal com a mão pedindo um segundo de descanso.
- Fale homem, não tenho a noite toda.
- É Daniel Jones senhor, ele está morto, na verdade ele foi assassinado, seu corpo está lá no ginásio.
- O que você está dizendo é verdade, você não está alucinando professor
- É verdade Senhor, venha comigo que vou lhe mostrar.
- Espere vou trocar de roupa, um minuto.
Os dois saíram em seguida em direção ao ginásio, chegando lá o diretor William não acreditou no que viu.
- Meu Deus quem faria uma coisa dessas com esse rapaz? Se isso cair nas mãos de algum jornal estamos acabados.
- Não temos como esconder um crime desse senhor, temos que chamar a polícia.
- Você tem razão não podemos esconder algo tão monstruoso, vou ligar para o capitão Hastings e Oliver não alerte os alunos, deixe que saibam apenas pela manhã.
“Eddie Mase investiga”
O capitão Hastings foi acordado no meio da noite com seu telefone tocando sem parar, deu um pulo da cama e correu em direção a sala para atender.
- Quem será à uma hora dessas? Pensou.
- Capitão Hastings, quem fala?
- Boa noite capitão, é o diretor William, desculpe incomodar à uma hora dessas, mas temos uma emergência, houve um crime em minha instituição e preciso da polícia aqui.
- Que tipo de crime o senhor poderia especificar? Perguntou.
- Um assassinato de um aluno senhor, a cena é horrível e não sei o que fazer.
- Fique calmo que vou mandar meus homens até aí não fale com mais ninguém até eles chegarem, vou mandar meu melhor homem, ele se chama Eddie Mase fique tranquilo.
O telefone tocou na casa de Eddie no momento em que estava lendo um livro sobre crimes não resolvidos, estava sem sono e decidiu ler até ficar cansado.
- Eddie Mase, quem fala?
- Eddie é o capitão Hastings, acordei você?
- Não senhor, eu estava lendo um livro, aconteceu algo?
- Sim temos um crime na London University, preciso que você vá para lá agora.
- Sem problema senhor, me arrumo em um minuto, alguém mais vai estar lá além do pessoal da universidade?
- Não Eddie, apenas você e se quiser leve seu assistente, aquele rapaz magrelo que não sai de perto de você.
- Sim senhor, vou passar em sua casa antes de ir, boa noite e pela manhã eu informo o andamento do caso.
Mase bateu na porta da casa de Peter, mas não teve resposta, insistiu mais um pouco até que ouviu uma voz sonolenta.
- Quem é a essa hora, será que ninguém dorme nessa cidade?
Abriu a porta e ficou espantado ao ver Mase em sua porta.
- Eddie... o que aconteceu para você me acordar a essa hora?
- Rápido Peter vista uma roupa e venha comigo, temos um crime para investigar na London University.
- Claro senhor, em um minuto estarei pronto, quer entrar?
- Não, espero você na carruagem, não demore.
Os dois chegaram à universidade e foram recebidos pelo diretor William Brown, que estava visivelmente abalado e os levou direto a cena do crime.
- Boa noite cavalheiros, sou o diretor William Brown.
- Eddie Mase e meu assistente Peter.
- Me acompanhem, vou levá-los até ao ginásio, já chamei o Senhor D para consertar o problema da luz, mas muito cuidado ao entrar, o chão está escorregadio devido um vazamento de água.
- O senhor pode conseguir duas lanternas diretor, está muito escuro aqui.
- Vou pedir que o professor Oliver traga, só um minuto.
- Cuidado onde pisa Peter, o chão está escorregadio.
- Aqui está senhor Mase, sou Oliver o professor, fui eu que encontrei o corpo, quando fazia a ronda noturna.
- O senhor chegou a ver alguém saindo daqui antes de entrar?
- Não senhor não tinha ninguém, apenas umas pegadas e o chão molhado.
- Pegadas Peter, não percebemos isso quando entramos devido ao escuro.
- As pegadas só estavam na porta senhor, foi como se alguém limpasse tudo ao sair deixando apenas umas poucas marcas no chão.
- Seria de propósito, disse Mase.
Eddie se aproximou do corpo e notou que o chão estava seco em sua volta.
- Não era para estar tudo molhado por aqui professor? Perguntou.
- Sim senhor, quando cheguei aqui tropecei em um balde e cai no chão, e estava bem molhado.
- Mas parece que alguém andou secando o chão nesse meio tempo, talvez quisesse esconder algo ou alguma pegada incriminadora, ilumine aqui Peter do pescoço, hum... algo me diz que enquanto o assassino fazia os cortes a vitima ainda estava viva.
- Mas se estivesse viva ela gritaria alertando a todos senhor.
- Não se ela estivesse sob efeito de algum sedativo paralisante Peter, veja como olhos foram deixados
abertos com esses ganchos, o assassino queria que sua vítima visse e sentisse tudo enquanto trabalhava.
- Mas que crueldade senhor! Que tipo de monstro faria uma coisa dessas?
- Estamos diante de alguém frio e motivado, veja os cortes Peter, ele sabia o que estava fazendo e o dreno no pescoço perfeitamente colocado, tudo foi feito com a maior precisão possível.
- Mas qual a causa da morte senhor, perda de sangue?
- É uma delas Peter, não sou médico, mas deu tempo de ele trabalhar no corpo antes da vítima desmaiar e vir a falecer, foi uma morte cruel Peter.
- Senhor Mase esse é nosso zelador Senhor D, ele vai consertar o problema da luz. Senhor D acenou com a cabeça e se dirigiu a caixa de luz, em pouco tempo já estava funcionando. Com a luz ligada Eddie pode perceber alguns detalhes no corpo.
- Veja Peter os olhos da vítima, ainda dá para notar que seus olhos estão virados para baixo, esse foi o momento de sua morte, ainda se nota certo brilho no rosto talvez sejam lágrimas de dor enquanto
era mutilado.
- Que crueldade Senhor Mase! Disse Peter.
- Preciso que você colete esse material e leve até a central, vou ligar para o legista vir buscar o corpo
e pela manhã vou interrogar os alunos e funcionários, posso passar a noite aqui Senhor William?
- Mas é claro que sim, temos um quarto de hóspede.
Na manhã seguinte os alunos foram acordados com a notícia, alguns não acreditavam no que estava acontecendo.
Mase pediu ao diretor para interrogar todos na biblioteca a fim de ter mais privacidade;
- Sem problemas, concordou.
- Peter mande entrar o Senhor Edward.
- Bom dia Edward, pode se sentar.
- Bom dia senhor, eu sou suspeito de algo? Perguntou.
- Calma meu rapaz, ainda nem começamos, todos são suspeitos até que se prove o contrário, você não concorda comigo rapaz.
- Até certo ponto sim, mas eu não matei o Daniel.
- Por isso você está aqui. Daniel, você conhecia bem a vítima?
- Não muito apenas das aulas, não tinha uma amizade com ele se é que me entende, alguns alunos não gostam muito de mim, pois venho de uma classe baixa, sou bolsista.
- Hum... Muito bem, então você deve ser um aluno exemplar, e ontem à noite não notou nada ou ouviu algo fora do normal?
- Não senhor, eu costumo pegar no sono bem rápido, porque estudo demais e à noite estou muito cansado.
- E você saberia me dizer se alguém teria motivos para matá-lo?
- Não que eu saiba senhor, ele era uma pessoa tranquila e se dava bem com quase todos, acho que motivos não teriam.
- Me diga meu caro, por que você fica roendo suas unhas, é um cacoete? Perguntou.
- Sim senhor, tenho essa mania desde criança.
- Pois bem Edward, obrigado pelo seu tempo pode ir.
- Com licença senhor, passe bem.
- Bom Peter, ele não me disse nada além do que eu imaginei, isso vai ser mais complicado do que eu
esperava.
- Eu imagino senhor, posso mandar entrar mais alguém.
- Sim, pode chamar o professor Oliver. O professor Oliver entrou na sala e parecia bem nervoso a ponto de Eddie lhe oferecer um copo de água.
- Professor tome um gole de água e se acalme, só vamos conversar, disse Mase.
- É a situação detetive, me deixa nervoso a ponto de surtar, eu nunca passei por isso em toda minha carreira, e ainda com um menino tão jovem.
- Eu entendo tudo que está passando, mas me diga esse menino tinha inimigos na escola, ou alguém que não gostasse dele? Perguntou.
- Que eu saiba não senhor, era um menino bom e muito aplicado.
- O senhor não acha estranho o assassino ter usado técnicas de medicina para matar a vítima, técnicas
precisas para ser exato, além do fato de ter usado um sedativo paralisante, deixando a vítima consciente durante seus atos monstruosos, somente um homem familiarizado com a ciência médica poderia saber tais métodos, o senhor não acha professor?
- Concordo plenamente com o senhor, é trabalho de um profissional, mas não quer dizer que seja alguém de nossa universidade. Eddie levantou a sobrancelha com um olhar de suspeita falou.
- Sim concordo a certo ponto, mas é muito suspeito isso acontecer em uma universidade de medicina, quem se daria ao trabalho de vir até aqui para cometer um crime? Ou o nosso assassino frequenta esses corredores ou se esconde nas sombras.
- Seria algum tipo de vingança, um mal entendido talvez. Disse Oliver.
- Isso veremos meu caro, ainda tenho muito trabalho a fazer. Pode ir professor se precisar do senhor mando lhe chamar.
- Peter estou meio confuso agora, algo não está se encaixando nesse drama todo, preciso me aprofundar mais no assunto e tentar enxergar através dos olhos do assassino, vamos parar por uns minutos os interrogatórios, preciso ver a cena do crime novamente acho que deixei algo passar.
Eddie Mase voltou à cena do crime e nela apenas a cadeira ainda estava no lugar, o local já estava seco e sem nenhum vazamento. Ficou parado por um instante observando a cadeira e o chão à sua volta, então se dirigiu a Peter e disse:
- Peter veja que não tem arranhões no chão, nem rastros de pegadas, ele colocou a cadeira cuidadosamente aqui e apagou seus rastros, ele com certeza pegou sua vítima no quarto enquanto dormia e o sedou, depois trouxe para o local do crime em silêncio e como não poderia gritar enquanto era mutilado, foi fácil terminar o serviço, trancou a porta por dentro para que ninguém entrasse de surpresa, nosso amigo está se escondendo nas sombras Peter e vou fazer com que ele venha para a luz, mais cedo ou mais tarde, caro amigo.
Preciso falar com o tal Senhor D, ele tem total acesso a esse local e pode me dar algumas pistas, vou voltar com o interrogatório Peter, peça para ele
me encontrar em 5 minutos na biblioteca.
Eddie estava revisando os dois primeiros depoimentos quando Peter entrou com o Senhor D na sala, parecia bem acuado e desconfortável com a situação.
- Pode se sentar meu amigo, preciso fazer algumas perguntas, nada demorado, por que chamam você de Senhor D? Perguntou Mase.
- Eles acham meu nome difícil dede... sse... pronunciar... começou a gaguejar.
- Entendo. E você está há muito tempo trabalhando por aqui?
- Não senhor, comecei esse ano, na verdade em março desse ano, fiquei no lugar do antigo zelador porque ele se aposentou.
- Notei que sua gagueira não é tão frequente.
- Não senhor, somente no inicio até conhecer a pessoa, é um tipo de nervosismo, que me segue desde pequeno, preciso me concentrar nas palavras.
- Hum, entendo, e você é o único que tem acesso ao ginásio ou todos podem acessar o local.
- Não senhor, todos tem acesso, e como estava arrumando o vazamento deixei a porta apenas encostada nessa noite, caso o diretor fosse dar uma olhada no andamento do trabalho.
- Você conhecia a vítima Senhor D?
- Não senhor, somente de vista porque não tenho contato com os alunos, falo apenas com o diretor e o professor chefe, senhor Oliver.
- Muito bem... Você tem algum tipo de formação, estudou em algum colégio ou faculdade?
- Não senhor, não terminei meus estudos porque tinha que trabalhar.
- O senhor notou algo de diferente nos alunos nos últimos dias, pode ser algo que viu nos corredores
ou até no pátio enquanto estava trabalhando? O senhor fuma?
-Sim fumo, mas o que tem a ver com o crime o fato de eu fumar?
- Nada não, só curiosidade, o senhor pode ir e obrigado pelo seu tempo.
- Peter tem algo de errado com esse cavalheiro, no dia do crime quando cheguei ao ginásio senti um leve cheiro de tabaco, como se alguém tivesse fumado horas antes naquele local.
- Mas isso quer dizer o quê, senhor Mase?
- Quer dizer que nosso assassino é fumante, o que pode diminuir a lista de suspeitos.
- Mas o professor Oliver também fuma senhor.
- Mais um ponto para nós Peter, aos poucos vamos diminuindo a lista até chegar ao nosso homem. Peter mande entrar Mark Thompson.
- Seja bem vindo meu caro, pode sentar. Seu nome vem de uma família muito tradicional de Londres
Correto?
- Sim senhor, meu pai é um homem de muitas posses e com grande influência política.
- Muito bem, mas me diga algo que eu não sei, talvez eu refaça a pergunta.
Mase anotou algo em uma folha e leu em voz alta.
- Caro diretor William Brown, gostaria que meu filho Mark ingressasse em sua instituição ainda nesse ano, ele é um rapaz responsável e de muito caráter, não é um dos melhores da classe, mas se for preciso darei uma bela contribuição para sua instituição.
- Então meu rapaz, estou vendo que sua entrada aqui não foi por méritos seus, não concorda?
- O senhor não me conhece para dizer uma coisa dessas, entrei nessa instituição por méritos meus
e não por causa de um bilhete inventado.
- Não se irrite rapaz, o bilhete está assinado pelo seu pai, veja aqui embaixo a assinatura.
Eddie virou a folha em direção a Mark que olhou e deu de ombros.
- Não significa nada para mim, é apenas meu pai sendo ele mesmo.
- Me diga caro amigo, seu colega Daniel era próximo de você?
- Não fazia parte de meu grupo de amigos, tinha um jeito meio afeminado e não gostava de esportes.
- Não era o tipo de amizade que costumo cultivar em minha vida.
- Você fuma senhor Mark?
- Não senhor, é um vício nojento.
- Me confirme se estou errado, fiquei sabendo que você tem um pouco de dificuldade em se relacionar com o seu colega Edward, isso é verdade?
- Correto senhor, ele é uma pessoa arrogante e acha que sabe mais que os outros.
- Não foi o que fiquei sabendo, bem pelo contrário, você que tem fama de ser arrogante com seus colegas.
- Não é verdade senhor, sou uma pessoa difícil de lidar, mas depois de me conhecerem as opiniões mudam com certeza.
- Muito bem, terminamos por aqui e se precisar eu volto a chamá-lo, obrigado pelo seu tempo.
- Vamos encerrar por hoje Peter, preciso falar com o legista e saber se tem algo a mais nesse crime que deixei passar, informe ao diretor que encerramos por hoje, vou até a central falar com o capitão e depois ligo para o legista.
“Apresentando Louise Bonnet”

Depois de um dia longo e cheio de pontas soltas, tudo que Eddie Mase queria era relaxar em sua confortável cadeira e botar os pensamentos em ordem, mas uma surpresa o aguardava em sua sala.
Ao chegar à sua sala notou que uma mulher loira de meia-idade o aguardava no pequeno sofá de visitas. Seu nome era Louise Bonnet detetive da polícia francesa, era uma mulher na casa dos 50 anos, mas de aparência bem jovial, tinha cabelos loiros e usava um coque preso a um belo arranjo
em forma de coração, um pouco magra para os padrões de Londres, mas de sorriso carismático.
- Bom dia em que posso ajudá-la senhorita?
- Bonjour monsieur, me chamo Louise Bonnet e sou da polícia francesa, você deve ser o famoso detetive Eddie Mase.
- Sim madame, sou eu mesmo, em que posso ajudá-la?
- Eu fui convidada pelo capitão Hastings para fazer um intercâmbio entre nossos escritórios, saber um pouco como a polícia de Londres trabalha e ao mesmo tempo compartilhar um pouco de minha
experiência na área de investigação.
Eddie Mase mexeu a boca para o lado e levantou um pouco sua sobrancelha direita, parecia meio sem graça naquela hora.
- Fiquei sabendo que você tem um caso de assassinato em andamento.
O capitão Hastings entra na sala com um sorriso no rosto e uma xícara de chá em uma de suas mãos.
- Vejo que já se conheceram, trouxe um chá para você madame.
- Obrigado capitão, não precisava.
- Que nada, aqui em Londres tratamos nossos convidados como se fossem da família, não é Eddie?
- Sim senhor, com certeza, mas me diga, a senhorita vai participar da investigação ou só vai ficar como observadora?
- A princípio ela vai observar como trabalhamos por aqui, mas depende de você Mase pedir ajuda ou não, Louise é uma das melhores detetives da polícia francesa, seria de grande ajuda nesse caso, e por falar nisso como estão as investigações, algum suspeito?
- Ainda não senhor, comecei a interrogar os alunos nessa manhã e não tenho nada de concreto ainda.
- Me avise se tiver algum avanço e Louise fique à vontade para me procurar a hora que precisar.
- Oui Monsieur, muito agradecida.
- Estou indo falar com o legista, gostaria de me acompanhar mademoiselle Bonnet?
- Mas é claro que sim, com muito prazer!
- Os corpos trazidos para cá ficam no subsolo e lá faz muito frio, você não quer um casaco?
- Não precisa estou acostumada com esse tipo de situação, o frio não me preocupa.
- Bom dia senhor, essa é a senhora Louise Bonnet da polícia francesa e está aqui como nossa convidada, o que temos de novidades hoje?
- Bom senhor Mase, é mais ou menos o que o senhor já sabe, cortes precisos e técnica apurada de
um cirurgião, o sangue foi todo drenado como o senhor já sabe e o veneno paralisante ainda não
descobri o nome, com certeza ele estava vivo durante todo o ato de tortura, uma morte bem cruel de uma mente doentia.
- Bom então partimos do início novamente, se aparecer algo a mais me informe meu caro.
- Posso dar minha opinião senhor Mase? Perguntou Bonnet.
- Mas é claro madame, sou todo ouvidos.
- E se o assassino for alguém de fora da universidade, um ex-aluno ou funcionário querendo
algum tipo de vingança, o que o senhor acha?
- Seria muito óbvio madame e no mais ele seria reconhecido assim que pisasse no local,
- Mas se for alguém que há muito tempo esteve fora, hoje teria outra aparência.
- Muito bem pensado madame, vou terminar de interrogar todos e depois fazer uma busca por ex-alunos e funcionários.
Enquanto se dirigia à sua sala, Eddie encontrou Peter no corredor apressado com seu bloco de anotações em mãos.
- Senhor Mase estava à sua procura, o diretor William ligou e pediu que o senhor fosse imediatamente à universidade, um dos alunos desapareceu.
- Isso é intrigante Peter, vamos imediatamente. Peter esqueci-me de apresentar, essa é Louise Bonnet da polícia francesa, ela vai nos ajudar com o caso.
- Muito prazer madame.
- Não precisa me chamar assim, apenas Louise está bem?
Quando chegaram à universidade foram direto à sala do diretor, lá estava o professor Oliver e parecia bem agitado.
- Bom dia cavalheiros, essa é minha colega Louise Bonnet da policia francesa.
- Muito prazer em conhecê-la, disse William.
- E esse é o professor Oliver Smith, famoso cirurgião e professor da universidade, o que aconteceu de fato diretor, quem é o tal aluno que sumiu?
- É Mark Thompson detetive, após o senhor sair voltamos às atividades, mas ele não compareceu
a aula e até agora não foi visto.
- E quando ele foi visto pela última vez, alguém sabe me dizer?
- Não senhor, todos estavam no saguão, mas ninguém viu Mark sair, ele simplesmente sumiu.
- O que acha mademoiselle? Perguntou Mase.
- Ele pode ter sido vítima do assassino ou está escondendo algo e não quer ser notado.
- Mas eu o interroguei e ele foi bem convincente no seu depoimento.
- Às vezes isso não quer dizer nada, tem muitas pessoas com habilidades de enganar até um bom policial como o senhor.
- De fato você pode ter razão, ele é um rapaz muito esperto e gosta de ser o centro das atenções.
Mase notou em cima de uma mesa um cinzeiro com restos de cinza, então olhou para o diretor William e disse:
- Me diga senhor William, o senhor tem o vício de fumar?
- Apenas um charuto de vez em quando, porque a pergunta senhor Mase?
- Nada não, apenas curiosidade. Na verdade notei que o senhor possui um cinzeiro em sua sala o que me levou à pergunta, que na verdade é irrelevante.
Louise olhou para Mase com uma cara de quem
estava perdida sem saber onde ele queria chegar.
- Se me dão licença cavalheiros vou até à biblioteca analisar os depoimentos, se Mark aparecer peça que venha falar comigo, passem bem.
Mase se dirigiu à biblioteca e no caminho encontrou Senhor D trocando uma lâmpada no saguão, não se conteve e perguntou:
- Desculpe interromper seu trabalho senhor D, mas teria um minuto de sua atenção.
- Sim senhor, pode falar já estou terminando por aqui.
- Essa é minha colega Louise Bonnet da França.
Senhor D acenou com a cabeça sem dizer nada, estava acuado e de ombros baixos como um cachorro sem dono.
- O senhor está sabendo do desaparecimento de Mark Thompson correto?
- Sim estou a par da situação, mas não o vi desde o dia do interrogatório.
- Eu fiquei sabendo que ele estava ajudando o senhor no ginásio, correto?
- Sim ele estava cumprindo uma punição do diretor, mas foi somente por um dia ele e o outro rapaz que não lembro o nome.
Louise resolveu intervir na conversa com uma pergunta inusitada.
- O senhor acha que Mark pode ser o nosso assassino devido ao seu sumiço?
- que a senhora está me pergutan... dododo... isso... começou a gaguejar novamente.
- Nada não, só queria sua opinião já que o senhor esteve com ele no dia do crime.
- Não posso responder esse tipo de pergunta, não sou qualificado e os detetives devem julgar se é ou não e não um homem sem cultura como eu.
- Bom, obrigado pelo seu tempo Senhor D, passe bem. Disse Mase.
Enquanto se dirigiam à biblioteca, Louise fez uma observação que deixou Mase intrigado.
- Esse indivíduo que falamos há pouco está escondendo algo, seu jeito de falar e sua gagueira são um disfarce, já vi casos como esse em que o assassino cria uma personalidade alternativa para esconder sua real face, acredite Mase tem algo errado nesse homem.
Bem colocado minha cara amiga, vamos observá-lo mais de perto a partir de hoje.
Mase não sabia se interrogava os outros funcionários primeiro ou fazia uma busca em toda universidade à procura de Mark.
- Estou indeciso em relação à atitude que devo tomar Louise, continuo os interrogatórios ou peço uma busca pelo aluno Mark Thompson, o que você acha?
- Acho que devemos ter outro tipo de abordagem. E se você não interrogasse mais ninguém, no momento? Poderíamos criar uma dúvida na cabeça do assassino, fazê-lo pensar que estamos sem pistas no caso, isso daria um pouco de confiança a ele fazendo com que talvez se exponha um pouco e acabe cometendo algum tipo de erro.
- Não é uma má ideia minha querida, acho que esse é o caminho.
Mase comunicou ao diretor que iria parar as investigações até que Mark fosse encontrado e que voltaria no dia seguinte.
À noite o professor Oliver resolveu fazer uma ronda mais ampla pelo pátio da universidade, queria encontrar alguma pista que levasse até Mark, tinha vontade de ser detetive desde pequeno, mas pela vontade de seu pai acabou virando médico.
Não encontrou nada e resolveu voltar ao seu quarto, tudo estava calmo até o momento que ouviu um barulho vindo da sala de estudos de anatomia, o lugar estava escuro e Oliver acabou batendo em uma mesa e machucando sua perna, quando se abaixou para ver o machucado sentiu uma leve picada em seu pescoço, em seguida alguém tapou sua boca e acabou desmaiando devido à substância contida no pano em sua face.
“Caça aos ratos”
No dia seguinte pela manhã Eddie lia seu jornal e tomava uma xícara de café, quando o telefone tocou, era o diretor William que não trazia boas notícias.
- Eddie bom dia, é o diretor William, preciso que venha imediatamente para cá o professor Oliver sumiu.
- Como assim sumiu diretor? Ele talvez tenha saído cedo sem avisar.
- Ele nunca faz isso detetive, se tem que sair ele avisa aos alunos que a aula será mais tarde, mas desta vez nada foi dito e todos estão preocupados.
- Esse crime já esta virando um jogo de caça aos ratos, mais um desaparecido e nenhum corpo muito suspeito, estarei aí em uma hora diretor, fique tranquilo que vamos achá-lo.
Quando Mase chegou encontrou os alunos no saguão conversando baixinho como se suspeitassem de algo, alguns olhares de reprovação e outros de pouco caso.
Mase passou por entre eles e foi direto à sala do diretor William. Mas ele não estava, Edward surgiu em seguida na porta e foi logo informando a situação para Eddie.
- O senhor não está sabendo o que aconteceu?
- Sei sim, o professor Oliver sumiu, é claro.
- Ele está morto detetive. Disse ele diretamente a Mase.
- Morto? Mas como é possível eu falei há pouco com o diretor e ele me disse que estava desaparecido?
- Fizemos uma busca hoje cedo e o encontramos no laboratório, estava em cima de uma mesa com um lençol, é onde fazemos aulas práticas senhor e é só seguir o corredor até chegar a uma porta com vidro, o diretor está lá.
Mase sai às pressas e quase esbarrou no Senhor D, que estava saindo de uma sala, ele o olhou de canto de olho e fez um sinal com a cabeça.
Sem bater na porta foi entrando e ficou surpreso ao encontrar Louise Bonnet no local.
- Como você chegou aqui antes de mim Louise?
- Na verdade eu não fui embora, sim eu fui embora, mas voltei porque esqueci minha bolsa na biblioteca, então encontrei com o diretor William que me ofereceu um quarto já que era tarde e aqui
estou eu. Sorriu para Eddie.
- Muito bem então, o que você descobriu minha cara? Perguntou Mase.
- Bom o corpo estava coberto com um lençol e colocado estrategicamente para ser achado pelos
alunos, já que a primeira aula do dia seria prática, o padrão é o mesmo do outro crime, com um detalhe a mais, seu coração foi removido cirurgicamente e colocado no peito daquele manequim usado em estudos, bizarro não é monsieur?
- Meu Deus ele está ficando ousado, realmente se trata de uma mente perturbada!
- Ou duas meu amigo, não podemos descartar um ajudante nesse caso.
- Por que você acha isso Louise.
- Por que este caso foi um pouco mais complicado e uma pessoa só não conseguiria fazer tudo sozinha, em todas as cirurgias existem mais de um médico e seus auxiliares e esse crime foi praticamente uma cirurgia, veja o afastador e os cortes precisos no peito, ele teve tempo suficiente para um serviço limpo e perfeito, os olhos não foram deixados abertos, veja a expressão de dor no rosto e note que eles estão pressionados com força, ele estava consciente e sentiu tudo como o outro rapaz, desta vez não drenou o sangue, como no outro crime por isso nota-se respingos em todo lugares, continuo achando que um segundo homem participou do crime.
- Muito bem observado minha cara, mas onde isso tudo nos leva, seria Mark Thompson seu ajudante ou o próprio assassino?
- E o zelador estranho? Ele também é um suspeito e deve ser investigado mais de perto.
- Sim com certeza, vou pedir ao departamento que descubra tudo sobre ele, se estiver escondendo algo vamos descobrir.
Mase se voltou para o manequim e começou a observar o coração e os detalhes lhe chamaram a atenção, então pediu para Louise uma pinça e começou a mexer no órgão até encontrar uma pequena cavidade no meio do mesmo.
- Veja Louise, existe um corte feito bem aqui, deixe ver se consigo encontrar algo.
Com a pinça Mase acessou o interior do coração e tirou um pequeno pedaço de papel.
- Veja Louise nosso assassino deixou um bilhete, abra com cuidado.
No bilhete escrito em tinta de caneta dizia:
A MEDICINA DEVE SER LEVADA A OUTRO NÍVEL E EU ESTOU ACIMA DE VOCÊS.
Na parte de baixo um PS dizia:
“Se você se acha inteligente detetive me encontre antes da próxima vítima”.
Estava sem assinatura.
- Agora ele está nos desafiando minha cara, virou realmente uma caça aos ratos.
- Ele praticamente nos desafiou Mase e deixou bem claro isso e não vai parar por aí.
Mase voltou para a delegacia e pediu a ficha do Senhor D e descobriu que ele fora um ex-aluno da universidade no passado, tinha sido expulso por ser pego fazendo sexo com outro aluno no banheiro, depois de um tempo teve crises de identidade e acabou internado em uma instituição para doentes mentais, mas saiu neste ano sem problema algum.
Preciso falar com o diretor William.
Fez uma ligação para a faculdade e pediu para o diretor William o encontrar na biblioteca, em meia hora, junto com o Senhor D.
- Peter tente contato com a família de Mark Thompson e peça algumas informações pessoais sobre ele e pergunte se ele tinha um melhor amigo, antes de ingressar na faculdade.
- Sim, senhor Mase.
Em meia hora já estava de volta à universidade e foi direto para a biblioteca onde já o estavam aguardando.
- Bom dia cavalheiros, tenho novidades no caso e isso envolve o senhor D.
Ele olhou direto para Mase com espanto.
- O que eu tenho a ver com isso senhor? Sou só um zelador.
- Não fique na defensiva meu caro, ainda nem comecei.
Louise chegou em seguida e pediu desculpas, pois tinha ido ao banheiro.
- Perdão cavalheiros, mas fiz uma parada no banheiro antes de vir, coisa de mulher.
- Nossa nem percebi na minha pressa que você tinha sumido Louise! Mas isso não vem ao caso e o que descobri hoje muda um pouco a nossa investigação, o senhor sabia que o Senhor D já foi aluno desta instituição diretor?
- Estou surpreso com essa informação detetive.
- Ele foi expulso sem completar os estudos devido a um fato inusitado acontecido em um dos banheiros, mas o que me deixa intrigado é de ele ter voltado para cá, como um total desconhecido, o que você me diz sobre isso senhor D, ou melhor, chamando James Norton?
- Eu posso explicar tudo detetive, eu só voltei para esse lugar porque não tinha para onde ir, meus pais não me queriam de volta por causa do meu passado e se dissesse quem eu realmente sou não iria conseguir o emprego e acabaria morando na rua, por isso inventei esse nome e a tal gagueira, mas não sou assassino e nem terminei os estudos, por isso nem saberia como usar um bisturi sem fazer um estrago.
- Você não teria nenhuma razão para se vingar de ninguém daqui presumo eu?
- Não senhor na minha época o diretor era outro e o professor Oliver foi o único que ficou a meu favor, eu não teria motivo algum para matá-lo e o pobre rapaz eu nunca vi na minha vida.
- Bom entendo sua colocação, mas você ainda é um suspeito e não pode sair dessas instalações até que se encerre o caso.
- Bom diretor voltamos à estaca zero, mas ainda temos uma carta na manga e ela vai se revelar muito em breve.
- O que seria detetive? perguntou Louise.
- Pedi a Peter que entrasse em contato com a família de Mark Thompson e logo teremos respostas esclarecedoras, sem corpo não há crime minha cara e se Mark sumiu e não quer ser encontrado? Essa é a pergunta que me fiz nos últimos dias.
- Mas é claro Mase, ele pode ser o assassino e estar agindo nas sombras, como numa caça aos ratos, brilhante monsieur.
Peter ligou para a sala do diretor e pediu para falar com Eddie.
- Senhor Mase, tenho uma descoberta reveladora.
- Fale Peter e não me esconda nada.
- Descobri que Mark tinha um amigo de infância, um amigo pobre que se tornou seu melhor amigo, mas depois com o tempo se separaram e depois de alguns anos voltaram a estudar juntos, e adivinha
onde senhor Mase, na London University.
- Mas espere um pouco Peter se esse amigo era pobre então só pode ser Edward.
- Exatamente senhor, Edward é o melhor amigo de Mark.
- Mas Mark odeia Edward, a não ser que os dois estejam agindo juntos.
- Tem mais uma coisa senhor Mase, a mãe de Edward disse que ele costumava dizer que iria mudar os rumos da medicina e viria a se tornar famoso com seus feitos.
- É isso Peter pegamos nosso assassino, na verdade nossos dois, se confirmar essa história com Edward, obrigado Peter fez um ótimo trabalho.
- E agora senhor Mase como vamos pegar os dois juntos, se confrontarmos Edward ele pode alertar
Mark e ambos fugirem juntos.
- Eu sei minha cara, mas qual seria a motivação dos dois e porque o professor que tanto era estimado
por todos?
Foi combinado que ninguém comentasse o assunto com Edward, a fim de deixar tudo às cegas para os dois, até o Senhor D concordou em ficar de olho em Edward.
“Armadilha para ratos”
Eddie Mase estava com tudo armado para pegar o assassino ou ambos, mas ainda faltava a isca viva, ou melhor, quem seria a vítima?
Após conversar com Louise decidiu que o diretor William seria a tal vítima, como se em uma noite mal dormida saísse para caminhar pela universidade, Eddie ficaria escondido nas sombras e Louise em um dos quartos só esperando seu sinal, há muito não usava seu revólver, ganho de presente do capitão Hastings pela sua promoção, esperava não ter que usá-lo, mas se fosse preciso não pensaria duas vezes.
Eram exatamente 12h30 minutos, quando o diretor William apareceu no saguão com seu roupão azul e chinelos com meias, parecia meio preocupado, mas não queria estragar o disfarce, caminhou até a porta principal e ficou olhando para a rua através do vidro.
Um barulho de porta se abrindo foi ouvido e Eddie ficou alerta em seu esconderijo embaixo da escada principal, era Edward e parecia estar com pressa indo em direção à biblioteca.
Mase fez sinal para o diretor ficar onde estava e se dirigiu lentamente para a biblioteca, chegando lá não encontrou ninguém, mas onde ele pode ter se metido se a única saída seria passando por ele, em seguida Louise apareceu na porta, Mase olhou para ela e deu de ombros.
- Ele simplesmente sumiu minha cara.
- Mase observe com outros olhos o local, veja nas estantes se tem alguma coisa diferente ou fora do lugar.
- Você quer dizer que existe uma passagem secreta nessa sala?
- Provavelmente sim.
Mase começou a olhar por todos os lados, até que viu um livro fora do lugar e resolveu colocá-lo
em sua posição normal, quando de repente a parede de livros se abriu revelando uma escada para o subsolo da universidade, um lugar que não existia até então na cabeça de Mase.
- Veja Louise é uma passagem secreta e a escada vai em direção ao subsolo, aposto que vamos encontrar nossos suspeitos lá embaixo.
- Cuidado Eddie pode ser uma armadilha.
- Eu sei, mas estou preparado, trouxe minha arma e está carregada, fique atrás de mim Louise.
A escada estava bem iluminada com lampiões na parede e à medida que desciam, o caminho ficava mais estreito, quando chegaram ao final havia um corredor que dava para uma sala cheia de aparatos médicos, como se fosse uma clínica clandestina, discutindo sobre uma mesa de autópsia estava Edward e Mark Thompson, pareciam discordar de algo e estavam bem irritados. Mase não conseguia ouvir o que os dois discutiam, então resolveu entrar na sala e pegar os dois ao mesmo tempo. Louise ficou para trás observando.
- Alto lá cavalheiros, disse ele.
Mark tentou correr, mas Eddie apontou sua arma para ele que automaticamente levantou suas mãos, enquanto Edward começava a roer as unhas de nervoso.
- Vejo que os cavalheiros andaram muito ocupados esse tempo todo, Louise pegue uma corda e amarre as mãos dos dois. Depois de os suspeitos contidos Eddie começou a questionar os motivos de tais crimes.
- Me digam por que dois jovens promissores entrariam para o mundo do crime?
- Temos nossos motivos, disse Mark.
- E quais seriam eles meu caro, e por que o professor Oliver que era tanto estimado por vocês?
- Ele era um hipócrita, seus métodos eram ultrapassados e sua técnica também, ele não deixava que a gente evoluísse como médicos, sempre podando nossas opiniões, merecia morrer sem coração e com muita dor.
- E você Edward concorda com seu amigo?
- Concordo plenamente com ele, apesar de eu ser um dos melhores alunos, ele ainda tinha dúvidas
se eu seria um bom médico, uma vez me disse que se eu não me sentisse à vontade com seus métodos, que mudasse de curso ou faculdade, era um completo idiota.
- E por que matar o jovem Daniel?
- Ele foi apenas um chamariz, como uma entrada em um cardápio sofisticado, onde o prato principal
seria o último ato.
- E quem seria o prato principal?
-Se não fosse por você e sua investigação, com certeza o diretor William.
- Mas por que ele afinal?
- Ele é a pior espécie de gente que existe, acha que está acima de todos com seu ar arrogante e aqueles charutos fedorentos, merecia morrer, se não fosse você.
- Me intriga o fato de vocês serem dois jovens inteligentes a ponto de fazer algo tão estúpido,
colocando suas vidas fora para alimentar seus egos feridos, o que seu pai dirá sobre isso Mark?
- Ele não se importa comigo e muito menos minha mãe, eles só pensam em suas vidas cheias de
amigos falsos e promessas vazias.
- Mas me digam o real motivo desses crimes, não pode ser apenas o que me contaram.
- Somos como deuses da medicina, queríamos mostrar que éramos capazes de fazer algo que fizesse as pessoas pensarem, algo inovador e que no futuro seríamos lembrados como aqueles que foram além de suas conquistas, claro que a gente não contava com alguém como você em nosso caminho, disse Mark com ar de deboche.
- No inicio vocês me enganaram direitinho, essa estratégia que usaram fingindo ser inimigos funcionou bem, até certo ponto.
- Como você descobriu que éramos nós?
- Na verdade foram seus pais que nos ajudaram, através deles descobrimos que você tinha um amigo de infância, um amigo pobre na verdade e que foi ajudado por você a entrar nessa universidade e a nossa cara colega aqui me alertou, de que não tinha apenas um assassino e sim, dois e depois de descartar o Senhor D, sobrou vocês e o seu maior erro foi desaparecer nas sombras, depois disso foi só ligar um ao outro e pronto, dois ratos na mesma gaiola.
- Agora me acompanhem cavalheiros, a polícia já deve estar no saguão à espera de vocês, espero
que pensem bem no que fizeram e nas consequências.
Mase se dirigiu ao saguão principal onde lá estava o capitão Hastings junto ao diretor e alguns policiais.
- Aqui estão nossos dois ratos capitão, presos em sua própria armadilha.
- Bom trabalho senhor Mase e mademoiselle Louise, foi de grande ajuda espero.
- Com certeza capitão é uma ótima detetive e contribuiu muito para resolvermos esse caso.
- Merci senhor Mase, mas o crédito é todo do senhor, eu apenas dei um toque feminino, mas quem resolveu o caso foi o senhor.
- Obrigado minha cara.
- Espero que tudo isso não suje o nome de sua instituição diretor William, disse Hasttings.
- Eu também espero que não senhor, agradeço muitos aos detetives e a policia de Londres, agora preciso de um novo professor, vou sentir falta de Oliver ele era um grande homem e que Deus o tenha.
Antes de ser levado Mark olhou para trás e disse algo em direção ao diretor.
- Ainda vamos nos ver de novo diretor, pode esperar que seu dia vai chegar.
- Não ligue para ele diretor, vai ficar por muito tempo na cadeia e se sair vai estar velho demais para fazer algo de ruim, agora preciso ir e fazer meu relatório, passem bem cavalheiros, disse Mase.
- Eu vou com você senhor Mase, amanhã vou pegar o trem de volta à Paris, tenho um caso para investigar por lá.
- Então vamos minha amiga, disse Mase, com a mão no ombro de Louise.
O crime teve uma repercussão enorme na mídia devido o local ser um dos mais respeitados de
Londres e por ser dois de seus melhores alunos, os criminosos, o que tornou o crime internacional, sendo divulgado em vários países, como matéria de capa.
Louise se despediu do capitão Hastings e foi com Mase para a estação, não queria perder o trem, pois precisava estar bem cedo em Paris.
- Bom minha querida colega chegamos ao fim, foi um prazer ter sua companhia, mesmo que por um
tempo bem curto, espero poder trabalhar com você novamente.
- Eu também gostei muito de fazer parte dessa investigação, você é um homem de muito caráter
e um ótimo investigador, quando quiser me visitar em Paris é só me ligar que as portas estarão
sempre aberta para você.
- Com certeza eu irei minha querida, seu trem já vai sair e tenha uma ótima viajem de volta.
Mase beijou a mão de Louise e disse adeus. Ela embarcou no trem e acenou com a mão dando adeus.
Eddie ficou parado na estação até o trem sumir, depois seguiu seu caminho e antes de embarcar em
sua carruagem disse com um sorriso no rosto:
- Que criatura fascinante é você Louise! E que venha outros casos...
Fim
1 Comentários
Intrigante!Muito bom mesmo!
ResponderExcluirPOEMEM-SE SEMPRE!
SEJAM BEM-VINDOS!