Noélia Ribeiro - 10 pra quem é 10 - Entrevista conduzida por Marcelo Mourão



Para essa segunda entrevista, que produzi para o Portal Poemas à Flor da Pele,

convidei a atarantada, escalafobética e espevitada poetaça Noélia Ribeiro!



Vamos conhecer um pouco mais sobre esta grande artista brasileira?

Noélia Ribeiro é pernambucana e mora em Brasília desde 1972. Graduou-se em Letras na UnB (Português e Inglês). Publicou Expectativa (1982), Atarantada (Verbis 2009), Escalafobética (Vidráguas, 2015) e Espevitada (Penalux, 2017). Tem poemas publicados em antologias, jornais e nas revistas digitais Mallarmagens, Germina, Acrobata e InComunidade, entre outras. Participa da antologia As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira (Arribaçã, 2021), organizada pelo poeta Rubens Jardim. Em 2017, recebeu, da SECULT-DF, o Prêmio FAC – Igualdade de Gêneros na Cultura; foi homenageada no Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, em Montes Claros (MG), e integrou a exposição Poesia Agora na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. Integra a Associação Nacional de Escritores (ANE-DF) e União Brasileira de Escritores (UBE-RJ).

1 – Como se deram os primórdios da sua escrita? Quais fatores levaram você a ser artista?

Resposta: Comecei a escrever muito nova, não exatamente em razão da leitura, mas da música. Cheguei ao Rio de Janeiro com 6 anos, e fomos morar num apartamento de um quarto, em Botafogo, minha mãe, meus irmãos e eu. Lá não havia livros disponíveis, porque não havia espaço, exceto uma coleção chamada Mundo da Criança, que trazia umas quadrinhas, que me chamaram a atenção, especialmente pelas rimas. Essa leitura me incentivou a criar minhas próprias quadrinhas. Era comum eu perguntar o nome das amigas de minha mãe para compor, na hora, uma quadrinha rimada. Além disso, ouvia música no rádio a tarde toda e acompanhava com uma bateria improvisada. Aos 9 anos, compus duas canções, a segunda foi um samba. Desse amálgama, resultou meu interesse pela palavra falada e cantada. A leitura de poetas consagrados ficou por conta da escola. Então, se eu não fosse poeta, seria compositora ou baterista.

2 - Em 1972, você, pernambucana de nascimento, saiu do Rio, foi para Brasília e chegou a participar da chamada “Geração 70” ou, como ficou mais conhecida, “Poesia Marginal” – junto a poetas como Nicolas Behr e Paulo Tovar. Fale como era essa “Geração mimeógrafo” de Brasília. Quais as diferenças entre aquela época e a cena brasiliense atual?

Resposta: Poucos anos depois que cheguei a Brasília, conheci poetas e músicos vindo de vários lugares do Brasil. Em 1978, comecei a namorar o poeta Nicolas Behr. O namoro coincidiu com o início do movimento da Geração Mimeógrafo. Foi uma época muito agitada, em que os poetas iam aos bares vender, de mão em mão, os livros que eles mesmos confeccionavam. Essa era uma maneira de dizer “não” ao mercado editorial e driblar a censura imposta pela ditadura. Ao lado dos poetas, havia um grupo chamado Liga Tripa, que se apresentava, principalmente, no Beirute, um bar frequentado por artistas e jornalistas. Hoje está tudo bem diferente, são outros tempos, mas a poesia da Geração Mimeógrafo ainda influencia muitos poetas da cidade.

3 - Você poderia citar 10 nomes que influenciaram/influenciam a sua escrita?

Resposta: Eu sou influenciada o tempo todo por tudo o que leio, ouço e vejo. Já que você pediu para citar nomes, vou citar alguns: Nicolas Behr, Alice Ruiz, Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Paulo Henriques Britto, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Leila Míccolis, Luci Collin e tantos outros escritores, além de compositores e cineastas. 4 - O Brasil sabe bastante sobre a cena roqueira da Brasília oitentista. Mas como era a cena poética brasiliense dessa mesma época? Havia intercâmbios entre poetas e músicos?

Resposta: Éramos muito unidos. Chegamos a criar uma cooperativa de músicos e poetas chamada COPPO, para organizar nossas apresentações. Aliás, a cidade era praticamente nossa, quase não havia shows de fora. A COPPO conseguiu realizar uma série de shows de música e poesia, no SESC, que foram um sucesso, com casa cheia. Havia também, mensalmente, o Concerto Cabeças, onde músicos, poetas, dançarinos e atores se apresentavam. Todos se conheciam e conquistavam juntos os espaços da cidade.

5 - Como foram as suas convivências com a turma do rock oitentista de Brasília?

Resposta: Não tínhamos uma relação muito próxima. Conhecíamos o pessoal do rock, mas eles frequentavam outros lugares. O Renato Russo aparecia aonde costumávamos ir, porque ele era interessado por tudo. Admirava os poemas do Nicolas e as canções do Liga Tripa, além de gostar de atuar em peças de autores locais.

6 - Alguns artistas mantêm suas obras, seus atos e suas falas repletos de discursos políticos, outros defendem uma separação entre suas obras e o contexto histórico-social. Em sua opinião, qual deve ser a relação entre a arte e a política? Tem como separar as duas?

Resposta: Não acredito nessa separação. Somos seres políticos. Qualquer manifestação artística é um ato político, mas isso não quer dizer que tenha de associar-se ao discurso partidário, a não ser que o artista queira. Com relação à poesia, como formadores de opinião, os poetas não podem furtar-se a discutir, de alguma forma, nosso contexto histórico-social. Tudo a nossa volta nos diz respeito. Esse negócio de ficar trancado em sua própria arte e bancar o isentão é meio esquisito.

7 – Cite 5 momentos áureos da sua trajetória artística e 5 da sua vida pessoal.

Resposta: Na minha trajetória artística, posso citar a vitória da canção Humanita Qualquer (com letra minha e música do amigo Abrahão André), no festival do colégio Elefante Branco, em 1977; o lançamento de meu livro Atarantada, que marcou minha volta à cena cultural de Brasília, em 2009; o Prêmio FAC- Igualdade de Gêneros na Cultura, que recebi da Secretaria de Cultura, em 2017; o convite para fazer parte da exposição Poesia Agora, com apresentação de trabalhos de mais de quinhentos poetas contemporâneos.

Na vida pessoal, destaco a mudança para Brasília, em 1972; a conclusão de meus dois cursos de Letras Português e Inglês), na Universidade de Brasília; o nascimento de meus filhos Nino e Alice; a minha aprovação no concurso para Taquígrafo da Câmara dos Deputados; a gravação, pela Legião Urbana, da música Travessia do Eixão, em cuja letra consta meu nome.

8 - Quais são seus próximos projetos artísticos? Poderia nos adiantar alguns deles?

Resposta: Continuar organizando e apresentando minha live A Fim de Poesia e publicar o próximo livro de poemas.

9 – Seu programa Afim de poesia é um grande sucesso nas redes sociais, principalmente no Instagram, onde ele é transmitido. Fale um pouco pra gente como tem sido, pra você, essa experiência com poetas de todas as regiões brasileiras.

Resposta: Neste momento sinistro, meu programa tem sido motivo de muita alegria. É um momento especial em que sou apresentada a diferentes estilos poéticos e sotaques. Comecei há um ano esses encontros com poetas que encontrei nas minhas andanças pelo país, mas acabei convidando também aqueles que conhecia somente de nome. Já ouvi mais de cem poetas de todo o Brasil e ainda tenho pique para ouvir muitos outros.

10 - Qual é a pergunta que você gostaria de responder e eu não fiz?

Resposta: Não me ocorre nenhuma. Estou satisfeita.

Dois poemas de Noélia Ribeiro, para uma pequena degustação de todos vocês:

DE MALAS PRONTAS

Desligar as luzes

Fechar as janelas

Trancar a porta

Abrir a bagagem do desconhecido

e desorganizar sentimentos...

Viajar é perscrutar a casa

que levamos dentro


ESCALAFOBÉTICA

Sou barco inseguro

Deste planalto sem mar,

Onde fico a reparar

Na escuridão do museu

Bêbados ambulantes

Quixotes de Cervantes

Assim como eu:

Falsa ninfa estacionada

Em pit stop do nada,

Sob o céu bordô

De uma cidade sem ética,

Que nesta noite nos reduz,

Meu inconstante amor,

A príncipe esfarrapado e

Princesa escalafobética

Onde podemos te encontrar?


Facebook: www.facebook.com/noelia.ribeiro

Instagram: @noeliaribeiropoeta

E-mail: nmariarsilva@hotmail.com

Sites: não tenho

Seus livros ou textos: (links para compra):

Espevitada (Penalux, 2017): editorapenalux.com.br ou comigo.

Os livros anteriores estão esgotados.

































































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1 Comentários

  1. Mais uma entrevista espetacular. Parabéns Marcelo, por conduzir incríveis entrevistas, e Noélia pela trajetória fascinante. Muito interessante conhecer um pouco mais sobre sua jornada.

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