10 pra quem é 10
Entrevistas conduzidas por Marcelo Mourão
Na estreia dessa nova seção do Portal Poemas à Flor da Pele, convidamos o multitalentoso artista Jorge Ventura.
Jorge Ventura é poeta, escritor, editor, ator, jornalista e publicitário. Tem 9 livros publicados, incluindo um E-book, em coautoria com a poeta Val Mello, e um estudo jornalístico, em coautoria com o roteirista/ ilustrador Paulo Chacon. Sua obra também pode ser encontrada em dezenas de coletâneas nacionais e estrangeiras. Tem poemas vertidos para os idiomas inglês, francês, espanhol, italiano e grego.Ele é também presidente da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro), vice-presidente da ABLAP (Academia Brasileira de Letras e Artes pela Paz), diretor suplente da UBE – RJ (União Brasileira de Escritores) e um dos integrantes do grupo Poesia Simplesmente. Premiado como melhor autor e melhor intérprete em diversos concursos literários.
Vamos conhecer um pouco mais sobre
este grande artista brasileiro?
1- O que veio primeiro em tua vida, a comunicação social, a literatura, as artes cênicas ou todas essas juntas? E o que te levou a fazer arte?
Resposta: A palavra é a minha pedra gênesis. Ela sempre me seduziu, desde cedo. E da palavra me tornei ator, poeta, jornalista e publicitário. Se fosse pôr na ordem, seria assim: artes cênicas, comunicação social e literatura. Hoje, consigo estabelecer uma forte convergência reunindo essas áreas. Para dar conclusão à pergunta, o que me levou a fazer arte foi a absurda necessidade de me expressar.
2- Em teu ponto de vista, escrever
é um dom ou consequência de muita leitura, estudos, transpiração?
Resposta: Escrever para mim é um dom. Um dom de ser humilde para entender que é preciso muita leitura, muito estudo, dedicação e constante inquietude na condição de um eterno aprendiz. A aptidão ajuda, mas não é tudo. Só a transpiração conduz o caminho de um bom escritor.
3- Poderias citar 10 nomes que
influenciaram/influenciam as tuas obras artísticas?
Resposta: Apesar de eu ter o costume de sempre valorizar e dar as devidas deferências a poetas contemporâneos, amigos ou conhecidos meus, cujas obras acabam me chamando a atenção e, de alguma forma, me influenciando ou me inspirando no meu fazer poético, sempre digo que dois nomes consagrados, e suas respectivas poéticas, me formaram como homem pensante, sendo determinantes para a minha vida e dedicação à literatura. Nos anos 1980, posso afirmar que foram os divisores de água para mim: o poeta português Fernando Pessoa (e todos os seus heterônimos) e o poeta brasileiro, maranhense, Ferreira Gullar. Esses me “orientam” até hoje, seguidos por João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Manoel de Barros, Mario Quintana, Cecília Meireles, Florbela Espanca e Hilda Hilst.
4- Fale um pouco sobre teus
trabalhos de idealizador/produtor/apresentador de saraus.
Resposta: Este período assombroso e pandêmico pelo qual passamos nos impediu de muitas realizações que somente seriam bem-sucedidas no campo presencial. Porém, o campo virtual nos apontou novos caminhos e vem nos deixando aprendizagens – penso eu, de forma irreversível para o tempo futuro. Passamos por uma adaptação natural, tivemos de estudar mais as ferramentas da internet e suas plataformas digitais até nos prepararmos para as palestras, reuniões, seminários, conferências e as populares lives de saraus e lançamentos de livro. Nesse sentido, continuo buscando ideias para dinamizar cada vez mais as apresentações on line da Apperj e da Ventura Editora.
5- Como é ser o editor de vários
escritores brasileiros atualmente? Nos fale um pouco das tuas experiências à frente
da Ventura Editora.
Resposta: A minha experiência como editor me traz um gradativo amadurecimento. Engana-se quem pensa que o poeta/escritor, por ser exatamente poeta/escritor, se mantém afável e despretensioso na oportunidade de publicar sua obra. O comportamento é outro. Pode ser iniciante, pode ser autor tarimbado, principalmente o premiado, todos exigem o melhor do editor para com seus respectivos trabalhos. Mas isto não me surpreende, ao contrário, me torna ainda mais responsável pelo sucesso do livro a ser editado. Faz-se necessária uma relação franca, de intensa troca, para que se possa corresponder aos anseios e interesses. Em quase seis anos de existência, com mais de sessenta títulos publicados, certamente, tenho muita história para contar.
6 - Alguns artistas mantêm suas
artes, seus atos e suas falas repletos de discursos políticos, outros defendem
a “arte pela arte”, ou seja, uma separação entre suas obras e o contexto
sociopolítico. Em tua opinião, qual deve ser a relação entre as artes e a
política?
Resposta: O posicionamento ideológico é um exercício de cidadania e compete a todos da sociedade que ocupam as mais diversas áreas profissionais. No caso de quem está no segmento artístico-poético não deve ser diferente. Em tese, o poeta sempre desempenhou esta função social por meio de suas obras. Arte que é arte, poesia que é poesia, deve provocar, instigar, incomodar, denunciar, conscientizar, fazer de alguma forma que o leitor/a leitora reflita sobre aquilo que está sendo proposto. Essa reflexão, certamente, resulta em uma reação, uma atitude, uma mudança de pensamento ou hábito. A arte tem o dever de documentar a história do homem e do mundo a sua volta. E isso não invalida o trabalho dos poetas mais líricos. Se for um poema de amor, você deve se sentir mais crente no amor; se for um poema de humor, deve se sentir mais alegre para enfrentar o dia. O importante é esse resultado. Entretanto, é preciso o devido cuidado para não misturar os canais. A poesia e a arte como um todo não podem estar somente focada nesse fim. Para isso, existe a arte engajada que cumpre, perfeitamente, o propósito. Muitas vezes um poema sobre a folha e a joaninha só quer passar essa relação pueril e nada além.
7 – Cite 5 momentos áureos da tua
trajetória artística e 5 da tua vida pessoal.
Resposta:
Na trajetória artística:
1 – Meu primeiro personagem protagonista no teatro: João Grilo, da peça O Auto da Compadecida, em 1980.
2 – O lançamento do meu primeiro livro,
Turbilhão de Símbolos, em 2000.
3 – O marco de 1.000 apresentações
cênico-poéticas pelo Brasil, em 2010.
4 – O sucesso do lançamento do meu
livro Palavra & Poesia, em Belém
do Pará, em 2019.
5 – O reconhecimento e a repercussão do
meu trabalho à frente da Apperj.
Na vida pessoal:
1 – O nascimento do meu filho, em 1991.
2 – A conclusão da minha pós-graduação
em marketing, em 2005.
3 – Minha primeira viagem à Europa,
sozinho, com uma mala cheia de esperanças, nos anos 1990.
4 – Receber
uma foto autografada, com dedicatória, de Adam West, o “Batman da TV”, em 2012.
5 – A formatura do meu filho Pedro, em
Artes Plásticas e Educação Artística, pela UFRJ, em 2019.
8 - Qual são teus próximos projetos
artísticos? Poderias nos adiantar alguns deles?
Resposta:
Citarei os projetos editoriais/literários:
1 - A reedição do meu quarto livro de poemas, publicado em 2015 e premiado pela ABRAHQ, O ReVerso do Morcego, já à venda nas redes sociais.
2 – O desenvolvimento de um livro infantil, ainda sem título definido.
3 – O lançamento de um livro de poemas cômicos, bem-humorados, em coautoria com Antonio Gutman e Dalmo Saraiva (in memoriam), que servirá de tributo a este grande artista e amigo que nos deixou. Título da obra: “Trio Patinhas Two em... Um escracho lírico!”
9 – Nos conte um pouco sobre o teu
trabalho como presidente da Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio
de Janeiro (Apperj).
Resposta: Na função de presidente, ouço toda a diretoria, antes de tomar uma decisão. Venho aos poucos imprimindo a marca de minha gestão, renovando o quadro de associados, abrindo oportunidades para todos os poetas, artistas, produtores e ativistas culturais, grupos e coletivos de poesia. Em razão da pandemia, alguns projetos se tornaram inviáveis, contudo, conduzo lives de palestras e oficinas on line, com a participação de professores e convidados especiais, além do nosso sarau Te Encontro na Apperj, apresentado regularmente a cada bimestre.
10 - Qual é a pergunta que gostarias
de responder e eu não fiz?
Resposta: Todas as que foram formuladas me foram significativas e espero ter correspondido às expectativas do entrevistador e público leitor.
Dois poemas
de Jorge Ventura, para uma pequena degustação de todos vocês:
ORIGAMI
quando a ideia me perturba
entre
o barulho e o silêncio
tudo
é um só contrassenso
que
inocência ou culpa
virá
em vão me julgar
neste
papel tumular?
reparto
em dobras meus textos
discursos
e manuscritos
(de
abismos e de delírios)
nas
páginas, palimpsestos
reparto
também a folha
metade
doutra metade
do que é múltiplo e arte
e antes que a ideia se recolha
e
a angústia vire bolha
e
o papel retorne seda
nas
dobraduras das letras
o
verso assim se desdobra
pois
toda palavra é obra
pra
muito além do poema
De Água para Vinho
Chego a saciar a sede ao beber tua noite.
Vinho
tinto e rascante nas lentes da taça!
De
alegria e carne exponho a boca cheia.
Todos
os teus desejos são minha graça.
Mordo
as horas, mastigo o tempo.
Descubro
em cada gole o teu segredo.
Não
querias um Deus junto a ti para brindar?
Alguém,
de entre mitos, escolhido a dedo?
Tim-tim!
Ouço o tilintar de nossos corpos,
volúpias
derramadas (tua e minha).
A
língua saboreia livre sem tomar fôlego.
Os
mágicos prazeres vêm das vinhas.
Uma
nova safra nasce neste instante.
Velho
moinho em que fui trigo e ora pão,
te
dou sustento à luz do deslumbramento.
Apresento
o milagre da transformação!
Faço
da farra e do amor o meu banquete.
Celebro
a vida à mesa farta (uvas e nacos).
Nada
mais sagrado, nada mais profano:
o
Zé-ninguém de ontem é hoje o teu Baco!
Onde podemos te
encontrar?
Facebook: Jorge Ventura Ator e Poeta
Instagram: @jorgeventura4758
E-mail: jorgeventura@terra.com.br
Sites: www.jorgeventura.com.br (em reestruturação)
Seus livros ou textos: (links para compra):
Gênero Poesia:
Palavra & Poesia – Prêmio Lêdo Ivo – UBE/RJ (venda pelos contatos acima)
O ReVerso do Morcego – Edição Comemorativa (venda pelos contatos acima)
Gênero Humor / Aforístico
Trio Patinhas Two em ... Um escracho lírico! (pré-venda pelos contatos acima)
8 Comentários
Parabéns, Marcelo Mourão pelo ótimo projeto. E meu carinho e grande admiração pelo poeta Jorge Ventura. Um querido amigo com quem já estive em alguns projetos muito vitoriosos e com qual certamente desejarei contar sempre que puder e a agenda dele permitir. Já o vi brilhar muito em Bienal, em teatros, no palco, nas praças, no auditório Magalhães Jr. da Academia Brasileira de Letras... É um super artista. Grande abraço e parabéns.
ResponderExcluirBacana, Erivelto! Você é super especial para todos nós também. Abração
ExcluirParabéns Marcelo pelo maravilhoso projeto! Parabéns à Poemas à flor da pele! Parabéns ao querido Jorge Ventura! Muito especial essa entrevista! Belíssimo trabalho!
ResponderExcluirEuridice Hespanhol
Obrigado, Eurídice! Que bom ver a nossa amizade crescer a cada dia mais.
ExcluirMeu Deus Marcelo, que sensacional a tua escolha!
ResponderExcluirSou fã de carteirinha de Jorge Ventura, ele é um grande agitador da Poesia, um grande nome da nossa modernidade, adoro!
Perfeita a entrevista!
Parabéns aos dois por nos trazer ideias tão instigantes que nos levam a novos pensamentos.
Uma honra receber os dois em nosso Portal, estamos de portas abertas! Meu grande abraço!
Que bom que gostou, Soninha! Fico feliz!
ExcluirQue entrevista maravilhosa, Marcelo e Jorge Ventura, ambos me causam admiração.
ResponderExcluirParabéns!
Obrigado, Denisinha, amiga de longa data!
ExcluirPOEMEM-SE SEMPRE!
SEJAM BEM-VINDOS!