PÉS DESCALÇOS

Dariely de Barros Gonçalves

Estamos todos muito cansados. Nossos corpos e mentes estão fatigados, exauridos, extenuados. Nossos olhos precisam vislumbrar outras paisagens. Nossos sentidos necessitam outras experiências. Nosso ser carece da satisfação de outras vontades. Nosso espírito, aprender a abrir mão de alguns tipos de esperança para elencar e fortalecer outros mais possíveis, viáveis, primazes.

Não é falta do que fazer. Não é ausência do que querer. Ao contrário, o ócio e a inércia não têm espaço entre nós. Os desejos nunca estiveram tão vivos, latentes. Também não é a ausência de proximidade. Mesmo que de forma distinta, estamos profundamente ligados. Afora o cheiro, o toque, as sensações provocadas pela presença, os sentimentos estão ali. Inteiros, intactos. Provavelmente, mais intensos, até.

Talvez a falta de estímulo pela repetição exaustiva de algumas tarefas; a ausência de uma perspectiva concreta, real; o medo constante; a constatação de indiferenças, injustiças e contrastes; a perda de interesses, pertences, pessoas tão caras; o enorme vazio, paradoxalmente, cheio, repleto, transbordante pode estar a gerar esta sensação de esgotamento não só dos nossos corpos, mas, também, das nossas almas e mentes.

É como carregar um peso além das nossas forças ou perfazer uma longa distância, a pé, sem o calçado adequado. Ter a impressão de ir muito além dos próprios limites e saber que ainda há um fardo excessivo a levantar, um monte muito alto a escalar, um extenso trajeto a percorrer.

É forçoso avançar um passo de cada vez. Não tentar vislumbrar o cenário muito adiante. Perceber o entorno e verificar que existem cargas maiores, montanhas mais íngremes, pés descalços, cabeças e físicos mais debilitados, enfermos e distâncias maiores a vencer.

Então, anime-se! Dê graças, prossiga. Renove-se, refaça a bagagem, o trajeto, o destino. Tente, experimente. Só não deixe de seguir sempre em frente. E nunca, jamais deixe de caminhar.


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2 Comentários

  1. Ânimo para prosseguir, sem esmorecer, sem perder a fé, bárbaro Dariely!

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  2. Não dá para desistir as coisas boas levam tempo. Parabéns Dariely pela belíssima construção poética. Teu texto é alimento pede recolhimento e reflexão. E compensa !

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