Márcia Etelli Coelho, Presidente da SOBRAMES SP, poeta que imprime leveza ao seu cotidiano

A médica que se tornou poeta. A poesia está em sua essência  e é com muita alegria que a recebemos no grupo Poemas à Flor da Pele, ela que sempre que possível, com seu talento esteve em nossos eventos, concursos, e hoje dedica um pouquinho do seu tempo para responder a esta entrevista. Obrigada e parabéns por estar à frente da  SOBRAMES SP, desejamos muito sucesso. 

(POEMAS) 1 – Como foi que se descobriu escritora e poeta e o que é para ti o ato de criar e em que momentos a inspiração chega? O que na verdade te inspira?

Márcia Etelli Coelho:

Na década de 1990 comecei a fazer Yoga e, cada vez que havia um aniversariante no grupo, eu escrevia um cartão. Isso porque eu, apesar de médica, sempre tive uma letra bonita. Só que eu escrevia mensagens positivas que emocionavam e a satisfação era tanto para o aniversariante como para mim. Então eu ingressei em algumas oficinas literárias para aperfeiçoar o meu estilo. Gosto de escrever pela manhã e  considero o ato de escrever um complemento da minha atuação holística na área preventiva da saúde.


 (POEMAS) 2 - Quais, entre tuas obras, poemas, contos, crônicas, que criastes e que te deixam realizada por ter feito. Coloque-os aqui para nós (pode ser também links de vídeos).

Márcia:

TEXTO 1 – SAPIÊNCIAS

Se eu soubesse prever o futuro
estaria contigo mais vezes.
Um abraço apertado no escuro,
dissipando os hostis interesses.

Se eu soubesse dançar uma salsa
mostraria o convite da festa.
O chamego e depois, uma valsa,
novos passos, ensaios, orquestra.

Se eu soubesse manter o segredo
desse azul escondido em teus olhos
caberia ao destino outro preço
bem menor que os apuros de abrolhos.

Se eu soubesse enxergar o mistério
dos teus lábios carnudos, carmim,
poderia formar um império
com o sonho esquecido por mim.

Se eu soubesse que o fim dessa tarde
sopraria no vento a esperança,
tentaria inverter a saudade
e trazer-me de volta, criança.

Mas o tempo escapou a galope
e pra mim só restou uma prece.
Resgatar a promessa da sorte,
ser feliz sem pressa... Ah! Se eu soubesse...


TEXTO 2-  IMORTAIS

Os sonhos não morrem...
                                
Enfrentam entraves do corpo e da mente,
superam barreiras que o destino não viu.
Dissolvem a angústia de uma alma dolente
que assombra a saudade com o que desistiu.

O tempo sustenta o correto caminho,
reverte as vertentes, destaca os sinais.
Em grupo é mais fácil, melhor que sozinho.
Partilha que soma, duplica e refaz.

Sonhar acordado, recanto da lida,
restaura a energia do mundo real.
Um simples desejo, ilusões, fantasia,
a louca utopia da paz mundial.

Os sonhos são sopros do que o íntimo almeja,
divina alavanca, esperança motriz.
Diversos formatos, a mesma viceja:
ingênua querência de ser mais feliz.

No embalo da vida, se a dança termina,
o sonho rodeia, escolhe outro par.
Orquestra se afina e fascina a menina
que apanha os anseios espalhados no ar.

A menina sou eu... E eu ainda acredito
nas setas brilhantes dos meus ideais.
Por pura magia refletem no escrito
enredos e cenas, alegres finais.

Quando hoje as sombras enfim se enternecem,
estando a um passo de abrir os portais,
descubro que os sonhos até adormecem,
porém, de teimosos, não morrem, jamais.


TEXTO 3- VESPERTINO
  
Sou crepúsculo...
Eu não tenho brilho nem mesmo carinho.
O Sol se afastou e procura outro lar.
Mas sei que as estrelas estão a caminho.
Será que demoram? O jeito é esperar.

Eu sou transição, meio tom, incerteza.
Nem dia nem noite, nem claro ou escuro.
Luz tênue que aos poucos revive a beleza:
mesclar o passado com livre futuro.

A tarde despede-se em mim sem alarde.
Para onde ela vai não há como saber.
Em sua intenção tinjo o céu de saudade,
recolho as histórias, aprendo a só ser.

O tempo comprova que tudo é passagem.
Se a vida é finita o que importa é o agora.
Crepúsculo eu sou, transitória miragem.
Nostálgico sei que também vou embora.

Tão próxima noite no fim desse dia.
Sozinho eu estou... Desisti de um império.
Então eu acolho, na prece, Maria.
Momento de paz, insondável mistério...


(POEMAS) 3 – Fale de suas obras, (coloque aqui imagens dos livros), momentos da criação e informe como adquiri-los (pode ser também links de vídeos).

Márcia:

Sou autora dos livros:

Andarilho - Em Busca de se Encontrar: Editora Scortecci (2003)  –  Composto por poemas que apresentam identidade própria e, se lidos em sequência, relatam uma estória evolutiva, não em termos de ação, mas sim de sentimentos.
Rastros na Areia: Editora Scortecci (2008)  –  O que deveria ser uma simples viagem de descanso marca para sempre a vida de uma jovem executiva. Um suspense espiritualizado e intimista que acrescenta mensagens importantes para vencer os desafios do dia a dia.
Corpo Espelho D´Alma: Editora Mentes Raras (2010)  –  Com visão holística da saúde, esse livro explica a analogia dos sintomas com determinadas características psicológicas promovendo orientações práticas para melhorar a qualidade de vida.
Os Apóstolos do Zodíaco: Editora Scortecci (2010)  –  Livro que revela a inusitada interpretação do grande mural “A Última Ceia” no qual Leonardo Da Vinci retratou cada apóstolo com as características correspondentes a um signo astrológico.
“Entre o Laço e os Nós”: Editora Scortecci (2011)  –  Poemas que se encadeiam em envolvente sequência, decifrando os sentimentos de uma mulher que busca um novo sentido para sua vida.
Indeléveis Inspirações: Rumo Editorial (2015) – Contos, crônicas e poesias.

Vendas dos livros pela internet: rumoeditorial.boxloja.com



(POEMAS) 4 – Quais artistas e poetas que são tua referência? Cite livros e coloque um poema aqui que achar interessante para o leitor.

Márcia:

Acho que comecei a gostar de poesia ouvindo as letras das músicas de Chico Buarque. Na literatura eu me encanto com Cora Coralina e Manoel de Barros.
Na prosa, Monteiro Lobato.
Um livro em prosa que cada vez que leio me acolhe com novas percepções é o “aparentemente infantil” Pequeno Príncipe.
Gostaria de citar um poema do genial médico escritor Guimarães Rosa que ele escreveu quando estava no terceiro ano da Faculdade de Medicina. Na época, a Tuberculose era endêmica e gerava muito medo e  preconceito.

POEMA REPORTAGEM
GUIMARÃRES ROSA

O trem estacou, na manhã fria,
num lugar deserto, sem casa de estação:
a parada do Leprosário...

Um homem saltou, sem despedidas,
deixou o baú à beira da linha,
e foi andando. Ninguém lhe acenou...

Todos os passageiros olharam ao redor,
com medo de que o homem que saltara
tivesse viajado ao lado deles...

Gravado no dorso do bauzinho humilde,
não havia nome ou etiqueta de hotel:
só uma estampa de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro...

O trem se pôs logo em marcha apressada,
e no apito rouco da locomotiva
gritava o impudor de uma nota de alívio...

Eu quis chamar o homem, para lhe dar um sorriso,
mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,
como quem não tem frente, como quem só tem costas...


(POEMAS) 5 – O que você diria para um artista ou escritor está iniciando sua vida artística e/ou literária?

Márcia:

Tenha paciência e disposição para aprender os conceitos técnicos de sua arte e a partir daí solte  sua criatividade, sendo autêntico e procurando um estilo próprio.
Participe ao máximo de eventos, divulgue, deixe as pessoas conhecerem o que você tem a oferecer.


(Poemas 6) O que você tem a dizer ao grupo de poetas, de Poemas à Flor da Pele, que você faz parte, que há mais de 10 anos reúne–se e luta pela arte e poesia.

Márcia:

Conheci uma parte do grupo na Comemoração dos 10 anos em Porto Alegre e a sintonia foi total. Que possamos continuar levando  para pessoas emoções positivas, reflexões e momentos de leveza e de encantamento, pois é justamente nesses tempos de crise que a poesia se torna ainda mais necessária.

(Poemas 7) Fale como você se divide em suas atividades profissionais e poéticas.

Márcia:

Realmente é difícil conciliar os atendimentos médicos com os cuidados familiares e os escritos. Às vezes preciso me dedicar mais a um setor, outras fases são mais tranquilas. Ser autônoma ajuda na flexibilidade, mas nem sempre consigo escrever como desejaria, principalmente porque no início desse ano de 2017 assumi a presidência da SOBRAMES SP e estamos com muitos projetos de interação com outras Entidades Literárias.  Mas tem valido a pena.



Agradeço a atenção Poeta!
Entrevista à Soninha Porto
heisoninha@gmail.com 

51- 82230759 (TIM)

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