Dos puros ares de um Sicrano apaixonado (releituras de mim) Encontrei-te em um dia frio, no desvio que peguei na vida; enfim fechei a penosa ferida e a paixão tomou conta do ar. Esse ar de ingênuo sonhar penetrou pelas quentes narinas, invadiu meus pulmões, fez inflar, chegando à corrente sanguínea como um rio que desagua no mar. Não tem mais vil acordo no meu sangue que estanca; acordo da vida vazia, corto a corda da forca fria e flerto com a flâmula branca. Não se fala em outra coisa, em todos os lugares, em bares, ginásios, tablados, basílicas, praias, boates, iates, aviões ou carros. A bola gira, cabelo cai, o amor derrotado flecha no peito, faca nas costas, o bobo da corte coroado. A imagem agora clareia, braços ficam intensos e nada mais se pode fazer. Não há mais um enorme e frio buraco onde o eco cantarolava sua fala, pois ao perceber que chegaria ao profundo levantei-me dessa sala... E agora lá vem ela! Essa bela e insistente luz que entra pela janela me convidando para sair e viver. Saiu à lista dos apaixonados do ano: nem sicrano, nem fulano, meu nome estava lá. Foi magia, em primeiro lugar; quem diria – mas, por favor, não vão me alugar... Já era de praxe, peguei pesado no sentimento, amei além da imaginação. Não teve um sequer momento que eu não tenha acertado na mão. Fiz o bê-á-bá certinho, o arroz com feijão; rezei conforme a cartilha e para não perder-me na trilha segui cada pedaço de pão. Comecei como homem de lata e levei na lata, fiquei em frangalho. Nunca levei jeito pra espantalho e sobrou muita coragem para o leão. Por causa da inspiração deixei de me acabrunhar num fosso; tornei-me de cerne, carne e osso e fiz da poesia oração. Descobri a “Mãe dos libertos”; é onde tem tudo e é para quem tudo quer de bom e simples mesmo: aconchego para moleque travesso, aviso e o avesso da escuridão; tem odor de fruta madura – quiçá escultura – que ainda verde coube o flerte, e assim de repente repousa saborosamente na palma da mão. Lá tem história com nós de nostalgia – poder da cria em um belo cordão; há o vivente calor em águas de vida em intensa ventania em delirante fervor. Lá tem a avó tem a mãe tem a filha: imaculada magia – procriação. Tem afeição – júbilo – harmonia; existe o sim ao doutrinar com o “não”. Lá tem de tudo na fidúcia dos afetos que não entorta o que é reto, aos cercos dos olhos – dos certos –, segurança e abrigo; onde prevalece a bondade/bonança não há oprimido, não há opressor... Genitora dos deuses em um céu – mãe dos libertos. André Anlub É um apaixonado pelo rock, blues, jazz, café, cavalos, gastronomia, a mulher, o mar e seus frutos e a escrita; gosta de gente leal, aberta, que acerta e às vezes erra; que é o que é e faz o que vier na teia; que bebe água ou uísque ou cachaça ou café no copo velho de geleia • Autodidata nas artes, tem uma tela no acervo permanente do MAC do Senhor do Bonfim (BA) • Autor de 5 livros e coautor em mais de 50 em papel e 20 em e-book • Membro da Assoc. Cultural Poemas à Flor da Pele (RS)
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