Amar é mesmo uma coisa difícil.
Ama-se bichos, ama-se plantas, ama-se carros, quadros, móveis, eletrodomésticos
novos. Há quem ame o tapete fofinho, o cheiro de livro novo, um perfume ou doce
de abóbora. Esse tipo de amor tem pra todo lado, a gosto do freguês, de todo
jeito, tamanho e preço. Mas vou te contar que amar gente está cada dia mais
difícil… Ah se está!
O que mais se vê por aí são
amores sem amor, como aqueles de posse, donos um do outro tipo sequestrador e
vítima, amordaçada e obediente. Um manda, o outro acata. São “felizes” assim
nessa relação de sequestro, mesmo com a certeza de que esse contentamento tem
prazo de validade. Existe também o amor de expectativa, onde uma vez superada,
voa como mariposa pairando de flor em flor. Em outra categoria estão os amores
pífios e baratos. Dão feito chuchu na serra, e de tão ordinários, não chagam a
valer nem 1,99. Sobrevivem por interesse, sem paixão, alguns se mantêm vivos
apenas por gratidão. Tem aqueles amores de fogo, que incendeiam aldeias
inteiras, na mesma rapidez que os lagos congelam no inverno da noite para o
dia. Outros mornos e sonolentos, se rastejam sem saber pra onde ou porquê. Amor
que dura, amor que acaba, amor que nunca foi amor.
Pessoas andam por aí oferecendo
seus corações em bandeja como se fosse um petisco, pedaço de qualquer coisa.
Depois de uma provinha ainda perguntam se querem mais. Mais coração? Aceita
maminha? Coxa? Está satisfeito? Não senhor, muito obrigada.
Dizem eu te amo com a mesma
frequência que saúdam o vizinho, o porteiro, ou a secretária. Te amo virou
sinônimo de bom dia. Beijo agora é obrigação, agradecimento por um olhar vazio,
alguns minutos de falsa atenção, tapinha nas costas e meia dúzia de sorrisos
amarelos. Despir-se ficou tão normal que, se você não o fizer, será substituída
quase que imediatamente por outra carne, o que vai te render algumas horas de
terapia. E assim as pessoas vão colecionando amores, alternando corpos,
transferindo sentimentos e atribuindo novas sensações antigas à outras mãos,
outras bocas, outros e outras…
Existe um amor módico que anda
solto por aí. Vagabundo, ele para de casa em casa, feito cachorro sem dono,
morto de fome, que sabe como fazer graça para ganhar um afago. Para amores
assim, uma quentinha de ontem requentada é o suficiente. Pra quê abrir as
portas da sua casa e preparar um risoto quando o esfomeado só quer, na verdade,
um pão com mortadela? Ele não quer entrar, não quer sentar, nem beber um drink,
muito menos saber de você. Um sanduíche no banco de trás do carro é o bastante.
Aonde vamos parar com tanta
banalização de sentimentos? Por onde anda escondido o excitante mistério, a
senhora expectativa? Eu preciso entender esse novo mundo, essa nova ordem
mundial com toda a sua pressa de dar e receber. Porque não me encaixo, não
consigo e não quero. Nado contra a maré e me nego a enquadrar nesse modelo
superficial de ser, de sentir, nessa ânsia de entregar tudo à todos.
Cadê o cortejo, a arte da
conquista que faz a gente suspirar pelos cantos? Dançar agarradinho com direito
a sussurros ao pé do ouvido… Sinto falta do toque inesperado das mãos e o
desespero da indecisão de segurá-las, ou simplesmente congelar em chamas,
sentindo o coração bater tão forte que o outro poderá ouvir! Me faz falta
alguém que me escute com atenção. Quero respeito, exijo carinho, desejo mimos.
E por mais que o outro em seu patético jeito apaixonado diga coisas sem sentido
e elogios clichês, que seja bobo, vá lá, mas que seja sincero
Tem gente que não acredita em
amor verdadeiro. História pra boi dormir, dizem. Para alguns ele não existe,
salvo em filmes românticos de trágico fim, ou nas poesias que choram saudades
da amante. Há quem tenha visto, mas que depois de uns sopapos, duvida que seja
mesmo amor de verdade. Então é mais fácil duvidar mesmo, e viver com a ideia de
que tudo é passageiro, que ninguém é de ninguém, que quantidade é melhor que
qualidade.
Para reconhecer o amor, esse de
letras maiúsculas, e identificar no outro a possibilidade de ser a tua morada,
requer muito trabalho. Trabalho mental e braçal. Demanda esforço, empenho,
dedicação, e claro, a tão enigmática entrega. Porque a gente deve se doar a
quem seja digno de nos receber. Como um prêmio que só é dado àquele que tira em
primeiro lugar, uma forma de retribuir pelos seus méritos.
Aprender a amar é uma arte que só
se desenvolve com o exercício. Primeiro a gente identifica a compatibilidade de
ideias, a afinidade por crenças, gostos parecidos. Só existe empatia se houver
algum tipo de semelhança. Você se interessa, se reconhece e então as
expectativas começam a brotar. É assim que surge o amor… Tão devastador quanto
onda em dia de ressaca. Sai levando tudo, lambendo, arrastando, puxando pra
dentro das águas de fluído misterioso e energético. É isso. Assim é o amor de
verdade e todas as suas profundezas; rasgadas, doloridas, sentidas com todas as
gotas, poros, pelos e suores.
Guardemos o romantismo e as
noites de amor com luz de velas à quem mereça entrar no nosso lar. Bilhetinhos
apaixonados, olhares brilhantes e sorrisos escancarados serão entregues somente
à quem faça as pernas tremerem. Músicas serão dedicadas, assim como cada
centímetro do meu corpo será presenteado à quem demostrar vontade louca e
desvairada de estar comigo incessantemente. Segredos íntimos, confissões e
juras de amor serão destinados à quem comigo planejar o futuro e no presente
comigo estiver, realmente, presente.
Andar de mãos dadas é para
qualquer um. Trançar corações vai muito além do que entrelaçar dedos. Estar
disponível para amar e ser amado de verdade, com pureza na alma, é uma tarefa
que deve ser cumprida em dupla, porque você depende do outro e de sua
disponibilidade, seu tempo, compromisso e doação.
Taí, amar é doar o que você tem
de mais limpo e puro à outra pessoa. É escancarar portões, soltar os cachorros.
É chuva com sol e arco íris. Quando ele chegar, respire fundo, e guarde um
pouco de ar nos pulmões, porque a onda pode ser forte e te deixar sem direção.
Com a certeza de que é ele, o AMOR que está ali, mergulhe fundo, dê braçadas!
Se jogue! Pode ter certeza que vai valer cada minuto que você esperou pela onda
perfeita!
KAREN CURI
"Achei excelente este texto e resolvi compartilhar.Faço minhas as palavras da autora...Reggina Moon"
http://www.revistabula.com/3386-atencao-vendo-coracao-por-preco-de-banana/
2 Comentários
"Achei excelente este texto
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