FERVOR INSANO
Marcia Mendes
Alguns religiosos ocupam um lugar de pretenso-saber, invadem as comunidades mais carentes da sociedade e tentam demonstrar que hábitos e crenças decorrentes da cultura afro-brasileira são fruto de feitiçaria, sodomia e luxúria. Repetição da Europa contrita do período colonial que assumindo os deveres da cristandade, arroga-se o papel de livrar índios, africanos e seus descendentes das garras do diabo. Traços do etnocentrismo enraizado, um dos responsáveis por preconceitos e intolerância.
Mais triste ainda é assistir filhos infiéis destas culturas, identificarem-se com essa lógica e transformarem-se em pregadores cruéis, opressores e castigadores. O que entrava seus olhos de verem a beleza dos movimentos culturais legítimos de nossa cultura?
Sem identidade, sem pertencimento, filhos de ninguém, os que se deixam arrastar por opressões continuadas, perdem-se de suas raízes sem serem aceitos por uma burguesia alienada, suja de europeidades próximas as marcas da escravidão e do colonialismo.
Há uma fome insaciável e insana de fartura e alegria, como se a felicidade fosse bem de compra ou troca. E é, exatamente, este apetite voraz que permeia o discurso utópico dos que insistem numa missão perversa de cristianização sem respeitarem a identidade afro-indígena que é também identidade brasileira. A globalização que nos aliena e cega nos inscreve no campo das des-humanidades. Então, eu-poeta digo assim:
"Todos!
Des-lumbrados
Des-lembrados
Des-conhecidos
De que o sol que tanto perseguem
Também os cega
Que o tanto que querem
Também os mata
Que o senhor que bajulam
Também os escraviza,
Mas seguem o propósito e o remorso
Em seus vastos e estranhos domínios."
Um fervor místico, insano e equivocado!
Marcia Mendes é psicóloga, escritora e poeta.
08/12/2013
Nota: a poesia citada é parte do poema "Todos" de autoria de Marcia Mendes
1 Comentários
É uma repetição de fatos, o preconceito está tão arraigado que as pessoas nem se dão conta, de que estão repetindo a história.Estes pregadores e des-respeitadores das humanidades será que um dia isso terá fim?
ResponderExcluirPOEMEM-SE SEMPRE!
SEJAM BEM-VINDOS!