Noiva do mar,
do tempo e da tempestade. Noiva dos navegantes, do adeus e do reencontro. Porto
de todos, palco de poucos. Terra de brasileiros, espanhóis e lusitanos, do
mundo e seus descendentes, lugar de pescadores e mulheres sem dono, terra de
sonhos.
E foi assim
que se deu o nome, codinome oportuno para quem distante deslumbrasse a igreja e
as casas pintadas de branco por ordem dos governantes. Seu corpo era o cais, prêmio
para quem cruzasse o revolto encontro do sul e do norte. Uma imensa barra
itinerante com bancos de areia e forte marola. De farol e guia apenas a
esperança e é claro; as casas brancas.
Os tempos
agora são outros e o antigo cais há muito deu lugar ao novo. Do adeus, nos
restou a poesia rediviva das ruelas do centro como a Payssandú e a Travessa do
Affonso. A noiva perdeu sua timidez e lançou as águas seu abraço delineando a
barra e transformando assim, de vez, o que era uma aventura em tranqüila
travessia. Os pescadores empobreceram e lançaram seus barcos e redes aos mistérios
do Mar de Dentro e, hoje, os arrastões da praia são raros como os peixes.
Foi-se o
tempo em que os marinheiros visitavam a Giribanda para ver o requebrar manhoso
das negras e mulatas que, com cambonas de água fresca na cabeça, faziam da vida
um doce deleite. A imponente Praça Tamandaré dos nossos dias, além de guardar
os restos mortais de Bento, abriga seres e personagens noturnos; prostitutas,
michês e vagabundos.
Bem, e os
lusitanos povoeiros? Estes se recolheram no passado e ainda batem seus tamancos
de madeira e couro e ainda produzem jurupiga e vinho. Vivem na Ilha dos
Marinheiros com seus costumes e tesouros.
Os ventos
ainda são os mesmos e as ressacas ainda são tamanhas; movem as pedras e
retorcem os trilhos dos molhes, impedindo o avançar das vagonetas com suas
velas multicoloridas.
As casas
brancas são poucas para darem nome à velha dama.
Noiva do Mar,
Noiva do Mar!
Talvez pelo
branco véu de fumaça que brota desmedida das chaminés das fábricas.
Marco Araujo
2 Comentários
Querido amigo Marco Araujo, é um prazer te ler! Teu texto é de puro encantamento, um olhar perfeito sobre memórias e dias. Bjs.
ResponderExcluirMarco, meus parabéns pelo texto e postagem!!!
ResponderExcluirAbraços!
POEMEM-SE SEMPRE!
SEJAM BEM-VINDOS!