Eu, a pedra e a estrada - Marco Araujo


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O menino andava por uma estranha estrada, estrada no meio do nada, sem princípio, fim, cor ou curva. Ao norte e ao sul eu procurava e, nenhuma paisagem, além do menino que andava. Tentei alcançá-lo em vão, sucumbiu, sumiu-se. Abandonado, respirei fundo e continuei a trilha. Caminhei e caminhei e caminhei e, assim, quase em êxtase, deslumbrei uma pequena pedra; uma pedra em meio aquele nada. Agora era eu, a pedra e a estrada.

Pedra quebra a tesoura, tesoura corta o papel, papel embrulha a pedra. Era assim a velha brincadeira. Como num jogo, segurei a pedra e arrisquei um pensamento: - um lago margeando a estrada. Um sonho dentro do sonho e uma atitude anunciada; a pedra encontrando a água. Nada, não havia nada, apenas o sorriso do menino que, também do nada, ressurgira lépido. Seus olhos indicavam a mão que segurava a pedra e, suplicante, esperava. Sem palavras, atirei a pedra.

Os sonhos encerram visões sem tempo e acredito na possibilidade de ser nossa melhor vivência. Um mundo de alternativas onde passado, presente e futuro convergem promovendo um turbilhão de ondas que rebentam e transmutam na consciência. A poesia justificando a condição humana de compactuar com o universo em todas as dimensões. Pedra, papel, tesoura. A velha brincadeira que, ao contrário do sonho, resume o círculo da vida que, implacável, condena, julga e aprisiona o homem a seu próprio destino.

A pedra cortou aquele nada e, do nada, mais um dia de loucura.

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3 Comentários

  1. Fantástico! Lindo! Que loucuras nos levam os nossos pensamentos, não cabe estranheza, cabe viajar neles, demais amigo!

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  2. Excelente texto!Parabéns!.....

    "A poesia justificando a condição humana de compactuar com o universo em todas as dimensões."

    Abraços!
    RMoon

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