MILLÔR FERNANDES


Millôr Fernandes (1923-2012) foi um desenhista, humorista, tradutor, escritor e dramaturgo brasileiro. Era um artista com múltiplas funções e atividades. Escreveu nas revistas "O Cruzeiro e "O Pasquim".
Millôr Fernandes nasceu no Rio de Janeiro. Filho de um engenheiro, seu nome foi registrado na certidão como Milton Viola Fernandes, mas por erro de caligrafia, ficou sendo Millôr o seu primeiro nome. O pai do desenhista morreu quando ele tinha 2 anos. A mãe dele passou a sustentá-lo junto com mais 3 irmãos.
O grande incentivador da carreira de Millôr foi o seu tio, Antônio Viola, que o levou a publicar desenhos no periódico "O Jornal". Assumiu as funções de repaginador e contínuo na revista "O Cruzeiro". Com o espaço vago da publicidade da revista, criou a seção “Poste Escrito”. Também escreveu para a revista "A Cigarra", onde ganhou um concurso de contos.
Millôr passou, em 1941, a ter uma coluna na revista "O Cruzeiro" chamada Pif Paf, onde assinava com o pseudônimo de Vão Gogo. Os seus desenhos ganharam um prêmio importante na Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires, em 1956. No outro ano, ganhou exposição individual em obras apresentadas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Em 1968, passou a trabalhar na revista "Veja". Mas foi na revista "O Pasquim", fundada por ele, que obteve grande repercussão, pois a publicação foi importante no combate à ditadura militar brasileira.
Millôr Fernandes também atuou dramaturgo e tradutor, nesta última atividade, traduziu obras de Shakespeare, Molieré, Brecht e Tennessee Williams.
Faleceu no Rio de Janeiro, vítima de parada cardiorrespiratória, em março de 2012.

Exageros de Mãe

Já te disse mais de mil vezes que não quero ver você descalço. Nunca vi uma criança tão suja em toda a minha vida. Quando teu pai chegar você vai morrer de tanto apanhar. Oh, meu Deus do céu, esse menino me deixa completamente maluca. Estou aqui há mais de um século esperando e o senhor não vem tomar banho. Se você fizer isso outra vez nunca mais me sai de casa. Pois é, não come nada: é por isso que está aí com o esqueleto à mostra. Se te pegar outra vez mexendo no açucareiro, te corto a mão. Oh, meu Deus, eu sou a mulher mais infeliz do mundo. Não chora desse jeito que você vai acordar o prédio inteiro. Você pensa que seu pai só trabalha pra você chupar Chica-Bon? Mas, furou de novo o sapato: você acha que seu pai é dono de sapataria, pra lhe dar um sapato novo todo dia? Onde é que você se sujou dessa maneira: acabei de lhe botar essa roupa não faz cinco minutos! Passei a noite toda acordada com o choro dele. Eu juro que um dia eu largo isso tudo e nunca ninguém mais me vê. Não se passa um dia que eu não tenha que dizer a mesma coisa. Não quero mais ver você brincando com esses moleques, esta é a última vez que estou lhe avisando.

Texto extraído do livro "'10 em Humor", Editora Expressão e Cultura - Rio de Janeiro, 1968, pág. 15.










Postar um comentário

2 Comentários

POEMEM-SE SEMPRE!
SEJAM BEM-VINDOS!