A BOA NOVA

O menino-Deus nasceu para vir ao encontro dos homens, e, sempre que uma criança nasce, nela está contida toda a esperança de renovação, de um mundo melhor. 
Mas qual é essa boa nova que o menino veio trazer às pessoas de boa vontade? 
Para entendermos o contexto da boa nova temos que regressar na história. Mais precisamente nos primórdios da criação, quando Adão e Eva escolheram não se deixar conduzir pelo seu espírito perfeito e resolveram buscar o conhecimento fora de si. Simbolicamente é isso o que a maçã representa. Desde então o homem esconde-se de si mesmo e não se encontrando, morre... Morre a cada momento que deixa de ouvir as inspirações de seu espírito e passa a consumir “as maçãs” que os outros lhe oferecem. 
Quando permite que o que os olhos viram e os ouvidos ouviram acertem diretamente, como flechas envenenadas, o coração. E o coração machucado turva os pensamentos, macula-os, escraviza-os. O espírito embota. Então chega a boa nova, libertadora, que proclama: - Enxergue-se como a suprema criação! A maior manifestação de amor! Não coma “as maçãs” que te oferecerem. Quem foi que disse que não dá? Quem foi que disse que você não pode? Quem disse que você é doente? Quem disse que você precisa ser usado pelas coisas ao invés de usufruir delas? Quem disse que você precisa esmolar amor, atenção, carinho, afeto? Quem disse que você tem que ter milhões de diplomas para ser sábio? Quem disse que o outro é que tem que determinar sua vida, seus sonhos, suas aspirações? 
Olhe para dentro de você! Porque tudo o que você precisa está ai! Um reino inesgotável de energia, de força, de inspiração, aspirações e sonhos! Desperta tu que dormes! Ressuscita tua vida, tua esperança e teus sonhos. E que nada te impeça de manifestar sua grandeza! Que você possa encontrar-se novamente com quem és! Permita que Deus expresse-se ao mundo através de você! 
Eis que o poeta é o primeiro a abraçar essa boa nova! Rebela-se contra tudo o que o mundo exterior lhe apresenta, cerrando os ouvidos para palavras que como água salobra, não geram vida, bem como os olhos para a feiura diante de si. 
E volta-se para o coração. 
Mas não esse coração humano. Volta-se para dentro de si. Encontra-se. 
Torna-se um dos amigos mais íntimos de Deus, pois quando o Criador quis se manifestar ao mundo, escolheu a alma do poeta... Os sonhos do coração de Deus expressam-se no coração do poeta onde os segredos mais ocultos são revelados. As alegrias e tristezas são confessadas nesse templo divino até que finalmente as emoções de Deus se derramem em versos. E ele docilmente se deixa conduzir tal qual a pena que sua mão sofregamente segura, na ânsia de que tudo tome a forma de poesia. Os olhos de sua alma contemplam recônditos esquecidos, que ora extasiam sua alma com os mais belos sentimentos, ora obriga sua voz a clamar por justiça. 
Se a dor o mata como veneno são seus versos o antídoto. 
Se o amor o consome como fogo são suas palavras que incendeiam o papel. 
Se o mundo destila palavras como fel, sua poesia terá o mais doce sabor. 
Se for necessário falar a favor do silêncio dos inocentes e oprimidos, sua escrita será o grito. 
Suas lágrimas serão o reflexo da comoção de uma alma que se encanta com as coisas mais singelas, mais lindas e importantes do mundo. 
Como a delicadeza de uma flor, a beleza de um sorriso de criança, a grandeza de um pequeno gesto de amor. 
A profunda emoção carregada em suas estrofes tem a sublimidade de Deus. 
Quando inicia sua escrita, sente como se fosse tocar os céus. Entra num estado único de contemplação e amor. E no momento que cria torna-se uno e em perfeita conjunção de seu ser com a criação divina. Entra em gozo e rejubila porque novamente o paraíso se faz presente. 
Grita, ri, liberta-se. Ressuscita! 
Tudo no poeta, como em Deus, é intenso. Ama intensamente, sofre intensamente, se revolta intensamente. 
Não há nada nele que seja metade. Não há meios termos. Meias palavras. 
Ou melhor. Há algo que é metade. 
Uma metade dele é o que sente. A outra é a que escreve. E no final de sua vida, a sua obra, sua poesia e suas palavras formarão o poema de Deus... Until last moment.

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15 Comentários

  1. Maravilhosa mensagem, principalmente nestes breves momentos que restam de 2013. Que renasçamos sempre com nossa poesia! Bem-vinda querida Soira!

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  2. Obrigada Mi. Um elogio desses de uma critica literário ganhei o dia!

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  3. Wau! Fiquei impressionada, quanta sabedoria!

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  4. Minha amada Celly! Vc enxerga a sabedoria que está em seu interior!
    Muito obrigada!

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  5. Um belo discurso de forte sabedoria. Certamente, duma pessoa com suas experiências de vida indubitáveis. É sempre bom encontrar textos como estes em meio a tanta balela que encontramos neste mundo. Amiga Sóira, avise-me, por favor, sempre que parte de sua sabedoria for publicada. Abraços e, sucesso! Sempre!

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  6. Grata pela sua mensagem Fernando! e pelo apoio!

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  7. Helder Filipe Monteiro27 de dezembro de 2013 às 00:27

    Um belo e atento retrato sobre a presença de Deus no Mundo onde traz até nós sobre a forma do Eterno Viajante, que é cada poeta. Senti-me encantado e maravilhado com tão belo texto. Parabéns poetisa

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  8. Parabéns e obrigado por tão lindo texto, menina Sóira. Felicidades!

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  9. Oi Soira,
    tudo bem?
    Esse é o primeiro texto de sua autoria que leio. E para minha surpresa, tive a sorte de ser logo um com uma mensagem inspiradora. Muito lindo!!!
    Adorei quando falou: E o coração machucado turva os pensamentos, macula-os, escraviza-os.
    Quando estamos magoados, nos fechamos para o mundo, construimos muros ao nosso redor, não nos abrimos para a vida.
    Adorei.
    Beijinhos.
    Cila- leitora voraz
    http://www.cantinhoparaleitura.blogspot.com.br

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