
Chego aqui fortalecido por um encontro de minha modesta condição de calouro com um gran mestre nessa disciplina artística que é a produção literária. Encontrei-o em domínio público acessível ao olhar interessdado nestas vias virtuais. Com ele artistas inesquecíveis.
Embora milite há muito em favor do novo autor, tenho que ressaltar o valor e a grande contribuição desses que fizeram consagrar nossa literatura no país e no mundo. Capaz de transubstanciar o papel escrito em vivificante matéria do saber, esses autores imortalizaram histórias, personagens cenários e conceitos. De alguns desses até hoje temos nos apropriado.
Atualizo aqui a leitura de um desses grandes mestres, seu nome: Bruno Seabra.
Leitura obrigatória aos poetas, contistas e novos autores em geral. Melhor ainda se o leitor fizesse de sua extensa contribuição literária um estudo, seja do seu processo de produção como da OBRA em si. Leitura aprazível e coberta de registros estéticos, sociais, comportamentais, históricos etc.. Por isso sempre defendo que estejamos, ao produzir nossos trabalhos, lançando sempre esse olhar sobre o universo que nos cerca. Um olhar que o escritor nos empresta em sua leitura.
Observemos esse belo trecho do poema " LUCRÉCIAS":
I
"NÓS E VÓS
Amo-vos a todas vós,
Raparigas1, porque nós
Dos quinze aos vinte solteiros,
Borboletas dos rosais,
Somos todos bandoleiros,
Como foram nossos pais,
Depois de nossos avós.
Amai-me, pois, todas vós,
Porque, afinal como nós
Dos quinze aos vinte solteiras,
Lindas flores dos rosais,
Sois tão boas bandoleiras,
Como foram vossos pais,
Depois de vossas avós.
Agora... casando nós,
Bem como casando vós..."
Fonte: Domínio Público
O poeta é um observador da vida, do cotidiano e descreve o ciclo de convenções comportamentais no âmbito das relações interpessoais. Vislumbra-se por seu olhar a cultura de época. Na OBRA descreve a estruturação familiar mantida pelo vínculo matrimonial e a sujeição do indivíduo a padrões convencionais. Cabe aqui, desse modo, uma análise interdisciplinar, em que o estudo literário do discurso e da estética da OBRA ganhe realce em seus aspectos sociológicos, psicológicos e históricos.
Ao lidar, por exemplo, com os aspectos psicológicos e comportamentais da sociedade que descreve, vê-se o destaque que dá a figura feminina através da linguagem e expressões metafóricas "Borboletas dos rosais", "bandoleiras". A imagem que sugere a disposição para a experimentação, a inquietude e insaciedade das jovens, bem como dos próprios rapazes. É uma leitura que permite o estudo dos grupos, aqui numa relação de submissão à família:
"Como foram vossos pais,
Depois de vossas avós.
Agora... casando nós."
Fonte: Domínio Público
Temos aí uma estruturação do estrato social, sua divisão e hierarquia, o que caracteriza um rico subsídio para a composição do estudo antropológico e sociológico de sua geração.
Ao autor valeram menções de honrosa críticas e análises com a do próprio Machado de Assis que tomei aqui em fragmento:
"Abrangendo mais espaço do que a brochura do Divã, os versos do Sr. Dr. B. Seabra respondem a diversos ecos do coração ou do espírito do poeta. A esta vantagem do Sr. B. Seabra junte-se a de haver no poeta brasileiro certos toques garretianos mais pronunciados do que no poeta portuense. Demais, o livrinho de Soromenho era um desenfado; o livro do Sr. B. Seabra é um ensaio, uma prova mais séria para admissão no lar das musas."
Diário do Rio de Janeiro. Crítica Literária de Machado de Assis, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938.Publicado em 30/06/1862.
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